quinta-feira, 13 de julho de 2017

O casamento de Pachamama com Gaia

O encontro feliz da Pachamama com Gaia

Zaffaroni rastreia o surgimento do projeto civilizatório e o faz com grande riqueza bibliográfica

Leonardo Boff *

Quero apresentar um livro que sairá brevemente traduzido no Brasil A Pachamama e o ser humano (Ediciones Colihue 2012) de Eugenio Raúl Zaffaroni bem conhecido no Brasil nos meios jurídicos. É um reconhecido magistrado argentino, ministro da Suprema Corte de 2003 a 2014 e professor emérito da Universidade de Buenos Aires.
O presente livro se inscreve entre as melhores contribuições de ordem ecológica e filosófica que se tem escrito ultimamente. Ele se situa na esteira da encíclica do Papa Francisco, também argentino, Laudato Si,sobre o cuidado da Casa Comum (2015). Zaffaroni aborda a questão da ecologia integral, em especial da violência social e particularmente contra os animais com uma informação admirável de ordem científica e filosófica.
O mais importante do livro é a crítica ao paradigma dominante, surgido com os pais fundadores da modernidade do século XVI e XVII que ex abrupto introduziram uma profunda cissura entre o ser humano e a natureza. O contrato natural, presente nas culturas desde tempos imemoriais, do Ocidente e do Oriente, sofreu um corte fatal e letal.
A Terra deixou de ser a Magna Mater dos antigos, a Pachamama dos andinos e a Gaia dos contemporâneos, portanto algo vivo e gerador de vida, para ser transformada numa coisa inerte (res extensa de Descartes), num balcão de recursos colocados à disposição da voracidade ilimitada dos seres humanos. Clássica é a formulação de René Descartes: o ser humano é o “maître et possesseur” da natureza, vale dizer, é o senhor e dono da natureza. Ele pode fazer dela o que que bem entender. E o fez.
A cultura moderna se construíu sobre a compreensão do ser humano como dominus como senhor e dono de todas as coisas. Estas não possuem valor intrínseco, como vão afirmar mais tarde a Carta da Terra e com grande vigor a encíclica papal. Seu valor reside apenas em poder estar a serviço do ser humano.
O projeto é o do poder entendido como capacidade de dominação sobre tudo e sobre todos, a partir de quem mais poder possui. No caso, os europeus que realizaram a aventura do submetimento da natureza, da conquista do mundo, da colonização de inteiras nações, do genocídio, do ecocídio e da destruição de culturas ancestrais. E o fizeram usando a força brutal das armas, da espada e também da cruz. Hoje em dia com armas, capazes de extingir a espécie humana.
Zaffaroni rastreia o surgimento deste projeto civilizatório e o faz com grande riqueza bibliográfica. Enfrenta com coragem e com grande liberdade crítica os presumidos corifeus do pensamento moderno como Hegel, Spencer, Darwin e Heidegger. Restrinjo-me às críticas que faz ao Hegel do Geist (espírito). Com sua filosofia-ideologia tornou-se o expoente maior do etnocentrismo. Herbert Spencer com seu biologismo estabeleceu a raça branca como superior e todas as demais tidas como inferiores, o que acabou por legitimar o colonialismo e todo tipo de preconceito.
Zaffaroni aborda a questão do animal visto como sujeito de direitos. Enfatiza eie:”ao nosso juízo, o bem jurídico no delito de maus tratos a animais não é outro que o direito do próprio animal a não ser objeto de crueldade humana, para o qual é mister reconhecer-lhe o caráter de sujeito de direitos”. O autor é duro na constatação “de que nos convertemos nos campeões biológicos da destruição intra-espécie e nos depredadores máximos extra-espécie”. Sua proposta é clara:”Somente substituindo o saber do dominus pelo de frater podemos recuperar a dignidade humana” e sentirmo-nos irmados com os demais seres.
A América Latina foi a primeira a inaugurar um constituionalismo ecológico, inserindo nas constituições do Equador e da Bolívia os direitos da natureza e da Mãe Terra. Anteriormente, e também por primeiro, foi o México. a introduzir em sua constituição em 1917 os direitos sociais. Zaffaroni faz a apologia das virtuadalidades criadoras de harmonia do ser humano com a natureza que a visão andina do “bem viver e conviver”(sumac kawsay) comporta; também de Gaia, a Terra como um super-organismo vivo que se auto-regula para sempre produzir e reproduzir vida. A Pachamama e Gaia são dois caminhos que se encontram “numa feliz coincidência do centro e da periferia do poder planetário”. Ambos são portadores de esperança de uma Terra, Casa Comum, na qual todos os seres são incluídos. Eles nos libertarão das ameaças apocalípticas do fim de nossa civilização e da vida.
Zaffaroni nos traz uma brilhante e convincente perspectiva, crítica severa por um lado, mas cheia de esperança por outro. Vale lê-lo, estudá-lo e incorporar em nossa compreensão sua visão de uma ecologia holística e profundamente integradora de todos os elementos da natureza e do universo.

* Leonardo Boff é filósofo, teólogo e professor aposentado de Ética da UERJ

Fonte: CARTA MAIOR
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... seguia em sua bicicleta pela orla da praia. Uma rua de terra batida de pouco movimento de veículos, em um dos lados algumas residências e do outro a praia, cujo acesso se dava de maneira direta ou através de pequenas trilhas entre a vegetação, pequenos arbustos típicos de região de restinga, onde proliferavam cactus e algumas árvores frutíferas como pitangas e acerolas. Seguia em direção ao oeste em um final de tarde, com o sol frontal. Parou e recolheu algumas pitangas, fruta de alto teor de vitamina C. Consumiu algumas, sem antes esfregá-las em sua camisa pra tirar o excesso de poeira. Ainda como sol em final de tarde levou a bicicleta para a praia, em local de frente para a rua que dava acesso a sua residência. Apoiou-a na areia, certificando-se de que estava firme, e sentou-se na areia da praia para observar o mar, sempre diferente a cada dia, fosse em cor, movimento, odor ou som, no entanto, sem jamais de deixar de ser o mesmo, seu confidente fiel naqueles dias em que estava separado de Pachamama. Fascinado pelo mar não se cansava em contemplá-lo em sua beleza, força e grandeza. Foi do mar que surgiu a vida na Terra, a Gaia, e em seguida se imaginou um peixe, ou como praticara em seu arsenal de psicotecnologias vivenciava outras formas animais em seu ser através de contato com o sistema límbico. Sorriu com aqueles pensamentos que lhe conferiram uma imagem de peixe. Mudou de posição, deitando-se na areia com as pernas flexionadas e as solas de seus pés no chão, apoiando as duas mãos por baixo de sua cabeça. Do mar passou ao céu, sempre próximos na linha do horizonte, inseparáveis, assim como em sua vida com Pachamama. Fitando um azul infinito ao som e aroma do mar permitiu que seus pensamentos divagassem, sentindo a linha do horizonte, seu corpo e sua mente como um todo integrado e interdependente. Sabia que corpo e mente não eram campos distintos, mas complementares, interdependentes, como sinaliza a nova Física. Essa interdependência também lhe parecia coerente com a comunicação a distância, pois a matéria, seu corpo, interage com as formas de pensamento que lhe são enviadas, energia. Em sendo verdadeiro, pensou cada ser humano seria parte apenas de um grande Ser,  A Humanidade, um grande corpo onde todas as partes estariam em constante interação, naturalmente interdependentes, e não isoladas como se acredita ainda que sejam. O conceito de humanidade enquanto um corpo único pode ser algo revolucionário, imaginou, enquanto desviava seu olhar para uma pequena aeronave que cruzava o céu. Ao mesmo tempo, a Teoria de Gaia, que contempla a interdependência de todas as formas de vida na Terra, daria suporte ao conceito de humanidade enquanto um corpo vivo.
Levantou a cabeça, olhou o mar, e voltou a deitar-se, olhando para o azul infinito. Pensou que o mundo seria completamente diferente em todas as dimensões da vida e ainda, a forma de organização social do mundo como se conhece atualmente estaria em sentido oposto a de um mundo em que se provasse a humanidade enquanto um grande e único corpo. Desta forma, o conceito que emergiu no final da década de 1970, ou seja, que não mais existiria sociedade e apenas indivíduos estaria totalmente equivocado, uma vez que as partes, as pessoas, não existiriam totalmente isoladas, indivíduos, pois seriam sempre interdependentes, em todas as dimensões, inclusive a social. Esse aspecto de cooperação estaria em harmonia com a Teoria de Gaia, que sem cooperação a vida na Terra seria inviável e impossível. Assim sendo, pensou, o mundo atual estaria em descompasso com a própria vida na Terra, o que em tese poderia explicar o crescimento de todo tipo de conflitos e a catástrofe ambiental que se aproxima, fruto de um processo de competição pela força. Com o sol saindo de cena, levantou-se, pegou a bicicleta e caminhando pensava no tão esperado dia em que Gaia e Pachamama selariam a união...

Fez a diferença

Globo censura Chico Buarque para proteger a Lava Jato

13 DE JULHO DE 2017 POR LUCIANA OLIVEIRA


247, Paulo Moreira Leite

Como é natural diante de fatos de grande repercussão, na manhã de hoje os leitores do Globo puderam conhecer a opinião de artistas e intelectuais sobre a condenação de Lula a 9 anos e seis meses de prisão. A relação inclui, entre vários nomes, o teatrólogo José Celso Martinez Correa, a atriz Silvia Buarque, os cineastas Luiz Carlos Barreto e José Padilha. Mas falta a opinião de um dos mais conhecidos artistas brasileiros: Chico Buarque de Hollanda.

Consultado no fim da tarde de ontem sobre a possibilidade de dar sua opinião sobre o caso, Chico pediu tempo para pensar. Após alguns minutos, redigiu uma declaração e, por email, autorizou a assessoria a enviá-la ao jornal.

“O Globo faz a diferença”, escreveu Chico. E acrescentou, para não deixar dúvidas: “Quero que publiquem”.

Para quem não conhece o universo Globo, cabe uma explicação. A frase de Chico Buarque era uma ironia. Associava o Prêmio Anual do jornal, “Quem faz diferença” com o tom da cobertura dedicada à Lava Jato, na qual o Globo se destacou por um alinhamento automático com Sérgio Moro e a força-tarefa do Ministério Publico.

Em março de 2015, quando a Lava Jato se encontrava em seu primeiro ano, Sérgio Moro recebeu o Faz Diferença na versão máxima — Personalidade do Ano “Nós ficamos felizes porque é um reconhecimento da qualidade do trabalho”, declarou Sergio Moro, numa pequena fala de agradecimento. No editorial de hoje, o jornal analisa a sentença de 9 anos e meio de prisão em tom de celebração: “Depois de ter passado incólume pelo mensalão, montado pelo lulo-petismo no primeiro mandato, Lula não está conseguindo escapar do petrolão”.

O que ocorreu a seguir é um mistério. Conforme o 247 apurou junto a pessoas familiarizadas com o caso, a frase de Chico Buarque foi enviada à redação — mas não foi publicada. Não têm dúvida de que a declaração foi devidamente recebida.

Para o próprio Chico, o gesto constitui uma tremenda indelicadeza. Ele atendeu a um pedido feito pelo jornal e não teve direito sequer a nenhuma explicação. Para o público, foi uma forma de censura.

Os leitores do Globo foram impedidos de saber que, na opinião de uma personalidade influente na cultura do país, como Chico Buarque, o Globo “fez diferença” na produção da sentença de 9 anos e seis meses contra Lula. Com a sutileza que caracteriza tantos de seus versos, era uma forma de lembrar o papel do monopólio dos meios de comunicação — onde as Organizações Globo têm um lugar de liderança absoluta — no emparedamento do mais popular presidente de nossa história republicana. Foi uma forma do jornal se proteger de uma crítica — com a autoridade de Chico Buarque — a sua cobertura.

Procurada pelo 247, a direção do Globo informou que não iria comentar o caso.

Fonte: Blog da Luciana Oliveira
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Globo condenou Lula, mas não irá condenar milhões de brasileiros.
Aconteceu, ontem, 12 julho, e hoje, dia 13, a população começa a entender e digerir o real significado da sentença. Certamente os golpistas mergulharam o país em tempos sombrios e a reação acontecerá, e espero que seja de fato uma reação que faça a diferença.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Futuro em construção, Perigo e oportunidade

O futuro não é a escravidão, idiotas!

POR FERNANDO BRITO · 12/07/2017



Fonte: TIJOLAÇO
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Marta, Cristovam e a geração perdida de velhos do Brasil

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Os pobres de direita não entendem

12 DE JULHO DE 2017 POR LUCIANA OLIVEIRA


Quando digo que luto por justiça social e que os mais pobres precisam de mais atenção, tem gente que acha que me refiro aos que vivem nas periferias, nos bolsões de misérias.

Os pobres de direita não conseguem entender que apoiam mais estado pra menos. Que não há liberdade entre quem concorre com sob as regras da filhadaputagem, que privilegiam quem tem mais dinheiro.

Nem com as maiores empresas do país envolvidas em escândalos colossais de corrupção, conseguem enxergar quem são os ricos e por que são ricos.

Fonte: Blog da Luciana Oliveira
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Essa semana está um filme de ficção: o cara da mala solto, Aécio inocentado e LULA condenado. Já pode subir os créditos ?

Moro quer deixar Lula uma década na prisão para matar sua vida política: sem provas, juiz condena ex-presidente a 9 anos e seis meses


Fonte: CARTA MAIOR
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Um dia horrível para a maioria da população brasileira, ainda que muitos que irão sofrer com as medidas aprovadas estejam comemorando.
O futuro inexoravelmente está associado a evolução.
Não se pode pensar em futuro, não se pode pensar em evolução se as novas medidas trabalhistas colocam você, que se encontra junto com a maioria na pirâmide acima, como um potencial explorado pelo capital, um potencial neoescravo do século XXI. Não se pode pensar em futuro, quando os defensores de tais medidas as justificam em nome de algo inexistente, como por exemplo, o darwinismo social, onde através da força todos lutam contra todos. Não se pode pensar em futuro se a tão enaltecida forma de organização social atual em grande parte do mundo - onde estão inseridas a economia, a política, as relações interpessoais... - caminha na contramão, em sentido contrário a evolução da ciência, do conhecimento científico que de forma clara e cristalina aponta que na natureza a vida existe em função da cooperação, da interdependência, e que o que prevalece é o mais hábil e não o mais forte. Não se pode pensar em futuro se a organização social vigente no mundo é contra vida, destrói formas de vida, inviabiliza o meio ambiente e possui um arsenal bélico capaz de se auto destruir. Não se pode pensar em futuro com bilhões de pessoas passando fome, não tendo onde morar e lutando por água. O futuro a que se referem os defensores do neoliberalismo e das tais reformas aprovadas, é um futuro de extinção em massa, de todas as espécies, principalmente a humana, que na lógica desse sistema se auto escolhe para desaparecer em função das supostas incapacidades de cada um, como por exemplo, ser pobre, negro, indigente, sem qualificação, velho, viciado em drogas, indígenas, humanistas, defensores dos direitos humanos, favelados, doentes mentais, pessoas com necessidades especiais e a maioria das mulheres. Um mundo atual em que o sistema dominado pelo dinheiro flerta com a eugenia, e reconhece, mas não diz, que o planeta deve ser habitado por no máximo 3 bilhões de pessoas. Esse futuro, que agora é enaltecido e comemorado por muitos inclusive por aqueles que nele não teriam futuro, não existe, não tem futuro, e assim se manifesta no presente como uma forma de os mais ricos acumularem ainda mais riqueza, pois sabem, que tarde ou cedo, o mundo o rejeitará para todo e sempre. O futuro que agora se manifesta é a expressão maior da ganância de poucos, que sabem que no verdadeiro futuro que se avizinha a realidade será bem diferente. Assim sendo, os velhos de ideias, jovens ou velhacos como os parlamentares citados acima, justificam o futuro através de uma economia possível em lugar de uma economia justa, pois o possível é maleável, dirigido por eles mesmos que sabem que com suas ideias jamais terão um lugar no futuro e, assim sendo, agarram-se de todas as formas aos holofotes que lhes dão míseras e derradeiras visibilidade em suas pobres vidas. O féretro do futuro é conduzido por essa gente,velha de ideias, que também não deseja o futuro de Lula, condenando-o sem provas e absolvendo outros colecionadores de fartas provas criminosas. Além da economia possível, o futuro sem futuro instituiu a justiça possível, singular, maleável. Não se pode falar ou mesmo pensar em futuro sem Democracia - com D maiúsculo - plena, com ampla participação de toda a sociedade, aqui entendido como pessoas reais, vivas, com necessidades reais. Não se pode pensar em futuro se esse futuro é dominado, dirigido, apenas, pelo poder do dinheiro, dos interesses corporativos, do lucro parasita para poucos, do enriquecimento sem trabalho. Não se pode falar em um futuro definido, pois jamais existirá com tal, e o futuro , de fato, se faz, se forma, ganha contornos nítidos através da criação das pessoas. Criar o futuro, agora, ou vários futuros é dever de todos.
A prisão de Lula, mesmo que o ex-presidente possa apelar da sentença em liberdade para ser julgado em segunda instância, coloca em cena um novo momento para o país, que certamente viverá dias de muita luta nesse presente em crise para um futuro morto. A crise, Wei chi em mandarim que significa antes da conclusão, é um momento de perigo, mas também de oportunidade.

Este pode ser considerado um texto profético, uma vez que a função das profecias não é como se imagina predizer o futuro, mas sim, construí-lo.

Assim na Novela como no Senado

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O assunto do dia, hoje, é a aprovação da reforma trabalhista no Senado e a luta das Senadoras para evitar esse assalto aos trabalhadores. No jornal O Globo, o protesto das Senadoras é citado , em primeira página, como um 'momento Venezuela no Brasil'. A pressa que o governo do golpe e seus apoiadores tem em aprovar essas ditas reformas é algo que chama a atenção de todos. São temas polêmicos, direitos trabalhistas e aposentadoria, que a população deveria ser consultada para opinar, pois afeta diretamente a vida de todos. No entanto, nada disso aconteceu, e as ditas reformas vem sendo votadas e empurradas na marra. Cabe lembrar, que as tais reformas não faziam parte da agenda do governo Dilma, escolhido pelo povo em voto direto e livre. Quando em prática, os trabalhadores serão explorados ainda mais, pois seus direitos serão flexibilizados. Seja um empreendedor e vá a luta, é o lema do golpe ultraneoliberal. Se é assim, resolvi ter um blog, próprio, para publicar assuntos de interesse geral, e quem sabe, arrumar uma graninha com a audiência qualificada que me acompanha diariamente. Trabalhando para meu blog, assisti-analisando um capítulo da novela Malhação da TV Globo, ontem, dia da votação no Senado contra o trabalhador. E o trabalhador assaltado no mundo da cultura e valores neoliberais estava lá, na novela voltada para um público adolescente, que a emissora pretende globalizado enquanto consumidor. Um personagem aparentando 15 ou 16 anos, entra em uma bar, que vende sanduíches, possivelmente na cidade de São Paulo e pede um milk shake, bebida das cadeias de fast food, globalizadas. Nas cidades brasileiras, naturalmente, os jovens pedem açaí, sucos de frutas naturais ou saladas de frutas. No intervalo comercial da novela, uma cadeia de fast food oferecendo hamburguers. Os anunciantes e a trama se misturam. O mesmo jovem, pratica um ato de vingança contra o proprietário do bar, vangloriando-se de seu feito por ter causado um prejuízo financeiro ao proprietário. A vingança incentivada enquanto um valor no mundo dos valores neoliberais, do empreendedorismo individual, do prejuízo financeiro. Ainda na trama, dois personagens de meninas adolescentes, na faixa de 17 anos, se rebelam contra a proposta da escola onde estudam de colocar catracas na entrada, por motivo de segurança e vigilância, já que as catracas registrariam as pessoas que por ali passariam. Resolvem convocar seus colegas para uma assembléia onde pretendem detonar a ideia da catraca, no entanto, enquanto discursavam para os colegas, uma outra colega resolve filmar tudo e denunciar à direção da escola. Na trama, um incentivo ao dedodurismo entre jovens para minimizar ou eliminar possíveis lideranças. A escola. possivelmente de classe média, não tinha , pelo menos na cena da assembléia, nenhum estudante negro. Por outro lado , em outra cena, uma escola pobre, onde funcionários e proprietários colocavam baldes para evitar alagamento do piso por conta de vazamento de água no teto, alguns funcionários e alunos eram negros. No mundo do empreendedorismo, onde o que vale é o lucro, o trabalhador não tem mais direitos. O diretor da escola branca justifica as catracas como medida de segurança contra violência, que segundo o diretor irá agradar os pais dos alunos, que comentarão com outros pais de possíveis alunos, aumentando os lucros da escola. O lucro se sobrepõe aos demais valores e direitos de liberdade e humanismo, em uma escola para adolescentes no folhetim da televisão, na votação do Senado que trucida com os direitos dos trabalhadores.

terça-feira, 11 de julho de 2017

O Justiceiro mora no sul

O show dos juízes obcecados

O filme A Conexão Francesa mostra como a mídia fabricou um herói de ocasião vendendo a imagem do juiz que 'procura a vitória da Justiça contra o crime'.
Léa Maria Aarão Reis*


Marselha, 1975. Época de ouro da fascinante cidade que então cintilava com o brilho da droga consumida livremente. A máfia corsa se instalara nas entranhas da sociedade, da polícia e do Ministério Público e o temido padrinho napolitano Gaëtan ‘Tany’ Zampa comandava o esquema milionário do crime com ramificações nos Estados Unidos, o principal cliente. O porto da ‘capital mundial da heroína’ era o entreposto livre que recebia morfina da Turquia, processava a heroína e exportava a carga em containeres destinados ao porto de Nova Iorque sem que ‘Tany’ fosse molestado.

É nesse cenário que surge o juiz de instrução Pierre Michel, de 38 anos, vindo da cidade de Metz, antes um juiz de menores e recém promovido a juiz do crime organizado.

Na cena inicial do filme A Conexão Francesa (La French Connection, de 2014*), inspirado no que se passou na realidade, durante fim da década de 70 e começo dos anos 80 nessa importante escala européia da droga (Marselha era praticamente governada pela máfia), fica claro que o conflito pivô da trama será entre o herói – o juiz - e o criminoso intocável que faz tremer até os investigadores.

“Quem ousaria dizer o nome de Zampa?” diz um agente policial. Duelo um pouco mais sofisticado que a disputa mortal entre mocinho e bandido dos texto_detalhes americanos.

Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos de Nixon se iniciava a ‘’guerra total contra as drogas’’ com a DEA, a Drug Enforcement Administration, a pleno vapor trabalhando com a justiça francesa.

Em certo momento do filme, um padrinho americano comenta, rindo, com o chefão napolitano, em uma conversa dentro de um carro rodando pelas ruas de Manhattan. ”Aqui, rapaz, todos consomem drogas. Jovens, velhos, marginais, gente honesta, estudantes, profissionais, até os policiais. E aos risos: “Depois ospoliciais querem nos prender, ora.”

O juiz Michel chega para desmontar o mega esquema criminoso nesta produção franco-belga inspirada em fatos reais. Logo descobre que os assassinatos e os crimes de roubos, extorsão e chantagem de Zampa são difíceis ou impossíveis de provar. A unidade policial responsável pela investigação do tráfico de heroína, acomodada e liderada pelo capitão Aimé-Blanc nunca apresentava alguma coisa significativa para relatar.

Uma das principais figuras que chefia o esquadrão da divisão de narcóticos - Pierre Michel também constata - é o comissário Ange Mariette, líder de um bando de oficiais corsos corruptos que constam da folha de pagamento de Zampa. Sempre o avisam sobre o que rola nas investigações programadas.

La French Connection não é um filme empolgante do ponto de vista cinematográfico. A narrativa vai e volta, às vezes anda em círculos com situações já digeridas, clichês, e previsíveis sequências de perseguições, traições, mortes, contravenção.

Ele é precioso para (re)conhecermos a correlação do duelo desfechado por um juiz obcecado por punir e vencer a qualquer custo o mafioso napolitano, quarenta anos atrás, na França, e o que assistimos estarrecidos, na Justiça do Brasil de hoje.

O juiz travestido de herói pela mídia acaba por sofrer um colapso emocional, a mulher o abandona e a sua obsessão – é quando o filme começa a ficar interessante – de deter Zampa o leva a entender que, para obter resultados, deve mudar seus métodos na cruzada contra a figura emblemática.

Zampa passa a ser para ele um desafeto. Vencê-lo se torna imperativo pessoal; não só o fruto da Justiça acionada.

À medida que a narrativa vai avançando, até mesmo o aspecto físico dos dois, o do juiz interpretado por Dujardin e o de Gaëtan (o ator Gilles Lellouche) começa a se assemelhar de tal modo sugerindo um jogo de espelhos, de alter egos, entre os dois. O bandido procura sobreviver e escapar da sanha do juiz temerário que ignora sua obrigatória imparcialidade para apanhá-lo através dos seus ‘métodos’: ações e vigilância ilegais.

“Prenda a todos. Mesmo que não haja nada contra eles,” ordena o magistrado ao grupo de agentes que saem para uma ação, se referindo aos criminosos.

“Não podemos prender com boatos, falatórios, fofocas, com o dizem que,” alertam os amigos. ‘’Você quer transformar Marselha em uma Suíça?’’

Durante os interrogatórios de testemunhas detidas para averiguação ele grita: ”Aqui você não temdireitos!” E quando vai à Nova Iorque é festejado pelos agentes da DEA que o saúdam como o ‘’cowboy francês.”

Durante um interrogatório de mafioso a quem procura convencer a delatar o chefe, ele propõe: ”Você terá toda a proteção da Justiça se delatar. Mando você e sua mulher para o Canadá.”

Ápice da perseguição, neste ponto o duelo chegara à TV, na época o mais avançado canal de comunicação de massa disponível. A mídia fabricara um herói de ocasião vendendo a imagem do juiz impoluto, aquele que ‘’procura a vitória da Justiça contra o crime. ’’

Deslumbrado com a súbita notoriedade, Pierre Michel cede à sedução da fama e adota um dos lemas preferidos dos narcisos onipotentes que negam a realidade: “Nada é impossível.”

O filme do marselhês Cédric Jimenez contextualiza com mão leve o caso Pierre Michel. Refere-se à primeira vitória eleitoral de François Mitterrand, em 1981. Na sequência, o seu Ministro do Interior, Gastón Deferre, polêmico ex-prefeito de Marselha na ocasião, abrigara, como assessor, no seu gabinete da prefeitura, o irmão de um gangster do bando de Zampa.

Tempos depois, Deferre chegou a ser arrolado como testemunha em uma grande investigação sobre o caso do juiz Pierre Michel. Ao ser nomeado Ministro, ele prometeu ‘’mudanças realizáveis mais profundas’’ na Justiça. Contava com o panegírico da mídia: ”Ministros que não desistem diante de nada.”

Na caçada entre o juiz obcecado e o mafioso não houve vencedores. La French Connection finaliza anos antes de Gaëtan Zampa, na vida real, ser encontrado enforcado em sua cela, na prisão onde apodrecia.

Esta saga em Marselha do inicio da era da sociedade do espetáculo, como o escritor Guy Debord anteviu de modo brilhante, e por consequência o tempo da midiatização da Justiça e da manipulação da audiência da mídia massificada, das falsas notícias e do show de hipocrisia dos vazamentos dos depoimentos em audiências. A história dos juízes que perdem o contato com a realidade para entrar na dimensão do show. Engolfam-se na própria imagem. Passam a ser o acusador e fazem do poder de arbitrar perigosa caricatura. Perdem a serenidade, a humildade humana e se investem de onipotência semidivina. São juízes que renegam sua formação que deve ser forçosamente humanista.

O apelido do juiz francês era ‘’o justiceiro’’. Como o de Curitiba.

*Jornalista

**O filme está disponível no Now.

Fonte: CARTA MAIOR
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O Verdadeiro Monstro da Primeira Página

O verdadeiro monstro da primeira página dos jornais

É impressionante como um dos grandes filmes políticos italianos, produzido em 1972, pode muito bem explicar como funciona a mídia brasileira de hoje.

Léa Maria Aarão Reis*


Há pouco menos de meio século o cineasta italiano Marco Bellochio já dava uma aula cinematográfica incisiva, no seu filme Sbatti il mostro in prima pagina, de 1972, sobre o conluio criminoso e corrosivo criado, em tempos de crise e de decisões democráticas formais (época de eleições, por exemplo) pelos principais poderes reais que afinal regem a vida cotidiana, a sobrevivência dos cidadãos e a política: os grandes grupos econômicos, locais - hoje, também os globalizados -, a magistratura e a mídia corporativa.

Bellochio é autor de outra produção de grande repercussão no mundo inteiro, na sua época, e foi exibido no Brasil com alarde, dez anos antes, em 62, intitulado Pugni in Tasca. É um dos cem filmes italianos escolhidos para serem preservados pela Cinemateca de Bolonha, da qual ele é o presidente, e que antecipa os grandes movimentos dos estudantes, em 68. Este Sbatti il mostro teria, em tradução livre, o título de Destaque o monstro na primeira página. É um espécime exemplar e corajoso do vigoroso cinema político italiano da época, um cinema direto até hoje incomparável, e ao qual se pode assistir na internet.

A produção é estrelada pelo brilhante ator Gian Maria Volonté vivendo o editor-chefe carreirista e manipulador de um poderoso jornal de Milão. Um cão de guarda, chien de garde conforme a feliz expressão cunhada pelos franceses, a propósito dos jornalistas que se transformam em meros porta-vozes dos interesses dos patrões.

Ela é marcante na sua semelhança com o difícil momento que o Brasil vive hoje, iniciado com a vitória do Partido dos Trabalhadores, pela quarta vez reeleito, há um ano, e com a campanha deflagrada pelo segundo lugar, para enfraquecê-lo, a qualquer custo, pelo conjunto dos poderes reais regentes inconformados com a derrota nas urnas: poder econômico, policial autoritário, poder midiático e magistratura – a política a reboque.

Aprende-se no filme, com toda clareza, como se procede à manipulação escandalosa da informação nos desdobramentos de eventos locais. As famosas suítes jornalísticas produzidas, quando se deseja, para induzir leitores e eleitores a determinadas reações e conduzi-los a posições políticas convenientes e coniventes com os tais interesses antes obscuros, hoje cada vez mais escancarados.

O filme é didático, segura um ritmo empolgante, e mistura a narrativa ficcional com sequências de documentários filmados nas ruas da Itália, nos anos 70, nas campanhas apaixonadas da coligação das esquerdas contra grupos fascistas, liberais e monarquistas que procuravam chegar ao poder.

A história é esta: Rizanti é o editor-chefe-cão-de-guarda, fascista falsamente elegante, irônico, sempre vestido num paletó jaquetão/símbolo do novo rico. Dirige o dia-a-dia do Il Giornale (nome de um jornal milanês criado anos depois da estreia do filme), e decide explorar, politicamente, por determinação do engenheiro Morelli, financista que lidera grupos industriais de extrema direita, um fait divers policial – o assassinato com conotações sexuais (um fato verídico; crime que na realidade existiu), de uma garota estudante, filha da alta burguesia, Milena Sutter, ocorrido na mesma época das manifestações políticas. A vítima escolhida é um dos jovens líderes das passeatas. Preso, ele acaba vítima de uma campanha para desqualificar as esquerdas na qual é apresentado, durante semanas seguidas, na primeira página do jornal de Rizanti, como o monstro estuprador da menina. A campanha tem seu efeito e o rapaz é condenado nessa primeira página pela opinião pública. Uma condenação moral do monstro militante que vai desacreditar a candidatura das forças populares.

Mas o jovem repórter Roveda, o encarregado de produzir as suítes do caso, a certa altura de suas investigações, avisa Bizanti que o verdadeiro assassino é o zelador da escola da garota. Nada a ver com o líder militante. O jornalista e o financista, no entanto, decidem continuar a farsa até, pelo menos, o resultado das eleições, que estão próximas. Decidem manter o segredo sobre o assunto e depois ver o que fazer com o ‘monstro’ oficial, detido.

Há diálogos primorosos em Sbatti il mostro. Rizanti dizendo alegremente, por exemplo, nas reuniões de pauta com os editores: ”Os protagonistas do estado de direito, afinal, são a justiça, a magistratura, a mídia, a polícia. Os trabalhadores estão fora deste jogo. ” Ou, irritado, para a sua mulher, leitora e telespectadora contumaz: ”Quando as pessoas vão entender a diferença entre aquilo que se pensa e aquilo que se diz ?” E com ironia cínica :” Milão é a capital moral do país.”

E a sua mais importante tirada, na discussão com o repórter que procura convencê-lo a parar com a farsa do ‘monstro de esquerda’. Do alto da onipotência devastadora (ela poderia ser colocada na boca de qualquer personagem jornalístico, vendido, atual): “Nós, jornalistas, não somos mais observadores; somos protagonistas; entenda que hoje a luta de classes é uma guerra. Entenda também que as pessoas leem o jornal como se ele fosse o evangelho...”

Tristes trópicos, melancólicos tempos para uma profissão e para um país em que um filme como este, de Bellochio, cai como um manto em nós. O seu recado é este: o verdadeiro monstro é Rizanti. Imperturbável monstro agindo nas capas de revistas, nas primeiras páginas e nas chamadas e escaladas, nos telejornais, e produzindo-as, diariamente, sob a máscara de ‘normalidade’. É urgente, assistir este filme. Público e estudantes de comunicação.

*Jornalista

Fonte: CARTA MAIOR
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O filme está disponível da internete, gratuito e elucidativo.

É o retrato de como trabalha a grande mídia atualmente no Brasil.

Gian Maria Volonté, brilhante ator italiano, assim como os filmes políticos italianos, fizeram a cabeça de uma geração. Aqui, no Rio de Janeiro, o cinema Paissandu, no bairro do Flamengo, exibia os filmes políticos italianos - Classe Operária Vai ao Paraíso, Mimi o Metalúrgico, Sacco e Vanzetti, Giordano Bruno, dentre outros. A geração Paissandu, como ficou conhecida, se deliciava com as obras italianas e com o chopp no Oklahoma.

Assista o Monstro e conheça Globo.


Aniquilação Biológica

Carta Maior Retweeted
DW (Brasil)

"Aniquilação biológica": 
mundo vive sexta extinção em massa - e é pior do que parece, alerta estudo.



Fonte: CARTA MAIOR
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Pinguim-imperador pode entrar em extinção a partir de 2100


Novo estudo francês mostra cenário desfavorável à espécie
Agência ANSA


Devido às mudanças climáticas, um dos animais símbolos da Antártida, o pinguim-imperador, pode ter sua última marcha em 2100, segundo informam os pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS).

A pesquisa apontou que o aumento da temperatura e o derretimento do gelo são os principais motivos da redução do número da espécie, que é o maior e mais pesado da "família". Até o final do século, é estimada que haja uma redução de 19% da população de pinguins-imperadores.

Que a espécie sofre risco de extinção, não é novidade. Mas, os pesquisadores franceses usaram um novo modelo de análise, mais complexo e que considera um número mais amplo de fatores - incluindo a maneira como os pinguins reagem às mudanças climáticas, migrando para locais mais adequados para sua sobrevivência.

Com a nova análise, os pesquisadores previram que, nos próximos 20 anos, a quantidade de membros da espécie deve ficar estável ou aumentar "levemente" se eles encontrarem melhores condições de sobrevivência.

No entanto, a partir de 2050, é previsto que o número de pinguins-imperadores diminua ano a ano, podendo a espécie desaparecer da Antártida por volta do ano 2100.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
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