quinta-feira, 25 de maio de 2017

Face em queda. Deletei

É hora de sair do Facebook e da internet?

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Aos poucos, movimentos e pessoas cogitam deixar a rede, que parece reduzir-se a espaço de espionagem, entretenimento vulgar e mentiras. Mas haverá uma alternativa ético-política a esta atitude?
Por Angus Harrison | Tradução: Inês Castilho
É hora de proclamar: a internet deixou de ser divertida. Como todos os bons casos de amor, começou emocionante. Costumávamos ficar acordados até tarde e rir juntos. Agora, porém, apenas nos ajuda a discutir/brigar por mais tempo. Os longos verões ociosos de Albino Black Sheep [um site de animação interativo, famoso nos anos 2000] e Chris Crocker [um ator-celebridade na internet, nos EUA, a partir de 2007] transformaram-se num inverno sempre cinza de big data bilionários e torturas ao vivo. Vivemos sob espionagem, incapazes de concentração, não estamos presentes, não conseguimos dormir – não podemos sequer atravessar mais a rua. É a razão pela qual você não consegue terminar um livro e as lojas de departamento já sabem que está pensando em comprar um processador de alimentos. Muito embora – assim como em tantos relacionamentos abusivos –, ele suga nossa energia e nos exaure, mas não conseguimos largá-lo.
O pior é que sabemos disso tudo. Você provavelmente não precisa de outro livro, outra manchete inflamada, outro podcast para detalhar as várias formas como seu celular está arruinando a sua vida. Ainda assim, a despeito de tudo, parecemos capazes de seguir o tema somente até a metade. Já diagnosticamos o problema, mas para uma geração que se orgulha de ser “antenda”, estamos confusos para apresentar uma solução à questão mais universalmente disseminada de nosso tempo.
Fracassamos em solucionar o problema principalmente porque não sabemos por onde começar. Da forma como a vemos, a internet é como um sistema que dá suporte à vida. Decidir um dia arrancá-la de nossas veias nos deixaria freneticamente ofegantes, antes de mergulhar num abismo solitário. Não podemos voltar a um mundo sem ela. Poderíamos deletar todos os nossos contatos, mas como descobriríamos se fomos convidados para uma festa de aniversário?
A continuidade desta decadência não é inevitável. Afinal, os smartphones têm apenas uma década, e a rede mundial, apenas 25. O que consideraramos como o início do declínio pode ser visto, no futuro, como um período de ingenuidade tecnológica – o período antes de descobrirmos o que estávamos preparados para sacrificar, e o que queríamos em troca. A tecnologia, é claro, molda o futuro, mas é também totalmente concebível que haja uma luta para redefinir o papel que ela desempenha em nossa vida.
Mudanças pequenas, porém significativas, já estão acontecendo. Os responsáveis por definir as políticas públicas estão discutindo se os smartphones têm ou não lugar na sala de aula; os restaurantes estão proibindo-os nas mesas de jantar e as empresas estão pedindo que sejam deixados fora das salas de reunião. A batalha entre casas de música e smartphones é longa e célebre – a empresa de tecnologia Yondr criou até mesmo estojos de celulares, para deixá-los mudos quando as pessoas entram em auditórios que são “zonas livres de telefone”. Desde março deste ano, digitar dirigindo custa ao motorista uma multa de quase R$ 1000 no Reino Unido. Em todos os aspectos da vida pública, a onipresença da tecnologia está sendo desafiada.
Individualmente, também temos enfrentado o problema. A ideia de uma “detox digital” tem tanto tempo quanto o Blackberry. Em sua forma clássica, ela baseia-se em retiros idílicos, livres de telefone, mas a maioria das organizações também promovem modos de estabelecer, no mundo real, uma relação positiva com a tecnologia. Quanto contatei Tanya Goodin, fundadora da organização de detox digital “Tempo de desconectar” [Time To Log Off] , sobre seus retiros, ela disse que eram semelhantes a outros tipos de reabilitação: as pessoas sabem que têm um problema e pedem ajuda. “No fim, quando lhes damos os telefones de volta, sempre dizem que não querem”, conta, rindo.
É crucial para o sucesso da detox digital o fato de se casar com as esferas da tecnologia e a florescente indústria de bem-estar. Com o crescimento da popularidade de aplicativos de atenção plena como o Headspace [“Espaço Mental”] a moda da meditação trouxe consigo um intenso interesse nos benefícios de ficar livre do telefone. Há agora – de certa forma ironicamente – uma variedade de aplicativos voltados a ajudar as pessoas a usar seus fones e computadores produtivamente – desde o SelfControl [“Autocontrole”] , que permite bloquear certos sites por algum tempo, até o StayOnTask [“Permaneça na Tarefa”], que apenas cutuca você para verificar se está evoluindo com aquilo que deve, supostamente, fazer. O Vale do Silício liderou essas iniciativas, ao ser pioneiro na ideia de um “dia sabático digital” – insistindo em que os empregados adotem, no fim de semana, um de descanso diante da tecnologia.
Individualmente essas políticas, tendências e modinhas não chegam a fazer uma revolução. Apesar disso, elas sugerem um potencial. Até agora são ideias díspares, tendências ao léu à espera de que um movimento intelectual mais amplo as recolha. Cada vez mais, as ideias sobre adição à tecnologia tornaram-se assuntos comuns nas conversas. Publicações que vão do Guardian ao Breitbart publicaram artigos que ligam solidão e mídias sociais. Deixar de usar as redes sociais, temporariamente ou para sempre, tornou-se uma decisão menos estranha para os jovens.
“Não estou no Facebook” costumava ser coisa de hipster — mas torna-se, cada vez mais, uma preocupação geral. Em 2013, o número de adultos que disseram ter-se afastado do Facebook, ao menos temporariamente, chegou a 61%. À medida em que a rede social continua a não levar a sério suas políticas de privacidade, o terreno para um êxodo contínuo torna-se mais fértil. É totalmente plausível, se não lógico, imaginar que o abandono das mídias sociais pode transformar-se numa contracultura.
Há algo transgressor em ser uma pessoa jovem em 2017 e voltar as costas ao celular. Em seu livro Solidão, o escritor canadense Michael Harris considera viver sem a constante distração das mensagens como um despertar espiritual que está para acontecer. Ele define a reflexão interior como uma arte; uma disciplina que precisa ser cultivada num mundo estruturado contra ela. “A palavra é radical”, diz ele pelo Skype. “Você precisa sentir-se à vontade com certo grau de aspereza se pretende retirar-se da cultura de grupo.”
O livro de Harris não é moralista; ao contrário, ele relança pequenas mudanças no estilo de vida como parte de uma luta para reconquistar o senso de identidade. Por exemplo, conta Harris, adiar o momento de abrir pela primeira vez seu celular, dando-se o máximo de tempo no início do dia antes de entrar na nuvem. É um gesto pequeno, mas uma espécie de mudança prática que mostra como o controle pode ser retomado. “São formas de fazer a curadoria de nossas horas”, explica. “Penso que é indicativo do nível de adição em que estamos metidos. Não basta fazer uma detox digital para resolver o problema. Estamos tão mergulhados que temos de lutar contra isso diariamente, se não a cada hora.”
Isso remete a um debate longo e urgente que ainda não tivemos, adequadamente, em nossa sociedade – para a qual cultivar um relacionamento saudável com seu celular é tão importante quanto usar camisinha ou comer verduras. “Se você olha para a cultura alimentar dos anos 1950 e 1960 na América do Norte, encontra uma superabundância de comida”, continua Harris, “mas sem que estivéssemos atentos ao que comíamos. Mas à medida em que os níveis de diabetes e obesidade aumentaram, tivemos de parar e pensar. Da mesma forma que não vamos comer comida industrializada no jantar toda noite, para o resto da vida, estamos começando a dizer: qual é uma dieta saudável de mídia?”
Para isso, é necessário que as pessoas comecem a pensar sobre o uso da tecnologia como questão de saúde púbica – algo não tão difícil de imaginar. Em alguns países, já há campanhas para tornar saúde mental um tema obrigatório nas escolas; o controle do uso compulsivo das mídias sociais é uma extensão lógica disso. Basta observar a crescente popularidade dos exercícios de meditação nas escolas para ver como as ideias sobre bem-estar podem se tornar efetivas.
Richard Graham é um psiquiatra de crianças e adolescentes. Há cerca de doze anos, começou a lidar com casos sem precedentes de jovens sofrendo de problemas de saúde mental em razão do uso excessivo de tecnologia. Em 2010, lançou o primeiro serviço especializado do Reino Unido para adição em tecnologia, e desde então tornou-se uma referência em dependência e reabilitação. Diz concordar que nossa relação com a tecnologia é problemática, mas tem menos certeza de que estamos chegando ao ponto de virada. “Não acho que sabemos quais os nossos limites, ainda”, explica. “Comecei numa era de uma única plataforma, agora há muitas. Está tudo muito confuso, e muito mais complexo.”
Graham crê que as gerações atuais têm de pensar seriamente sobre nosso futuro relacionamento com a tecnologia. Não pensa que a abstinência seja o caminho a seguir, mas que o foco deve ser equipar a próxima geração para “desenvolver a internet de forma ética”. Contudo, concorda que uma mudança cultural é de alguma forma provável. “Espero ver tribos que seguirão esse caminho”, sugere, “com pais buscando escolas onde o smartphone é proibido no maternal”.
Convencer as pessoas de que usar o Twitter em excesso não é bom para elas pode não causar, provavelmente, nenhuma reação substancial. Até bem recentemente, o dano era quantificado como pessoal – medo de usar muito o seu celular relacionado ao seu bem-estar. Mas o contexto está mudando. De vazamentos de informações de alta inteligência a captura generalizada de dados, nossa relação obsessiva com as telas assumiu de repente uma dimensão política. Sugestões de que os celulares ouvem conversas tornaram-se rumores comuns e as expressões “noticias falsas” e “pós-verdade” entraram em nosso vocabulário. Pouco a pouco, uma desconfiança da tecnologia transitou do distópico para o dia a dia.
Seja na campanha pelo Brexit, ou simplesmente para vender seguros de carro, a exploração de nossos dados expôs a desregulamentação assustadora da internet. As corporações sabem o que você quer comprar antes mesmo que faça uma busca no Google, e os governos são capazes de obter fotos íntimas de seus cidadãos, ou diretamente ou por meio de empresas de segurança privada. Seja o que for que tenhamos aceito, ao criar nossas contas de Facebook, certamente não é mais o que acontece.
Porém, quanto mais as redes, os governos e as corporações mostram-se cúmplices de manipulação, menos desejável torna-se possuir uma conta no Facebook. Politizar nossa relação com a tecnologia será provavelmente o melhor caminho para a mudança. Serviços de criptografia como o Signal podem não parecer interessantes agora, mas posicionam-se como ferramentas com as quais as minorias podem proteger-se nos EUA de Trump, e assumem novos e poderosos significados. De repente, um aplicativo desconhecido pode tornar-se uma fonte nova e possante de empoderamento.
As sementes para isso já estão sendo cultivadas – na reação contra o compartilhamento dos humores de seus usuários, feita pelo Facebook e as corporações. À medida em que o mundo começa a fazer mais perguntas sobre o papel desempenhado pela tecnologia na recente campanha eleitoral dos EUA, e mais genericamente sobre quanto o uso excessivo da internet facilitou o Estado de vigilância voluntária, parece inevitável que as pessoas comecem a se questionar se vale a pena submeter-se a isso, em troca dos grupos de conversa.
O momento que vivemos é mais ou menos aquele em que o vegetarianismo encontrava-se há uma ou duas gerações. Especialistas começavam a nos dizer que carne faz mal à saúde e ao ambiente, mas éramos tão carnívoros que se tornava difícil enxergar a vida sem proteína animal. Aos poucos, com cada produto feito de tofu e cada documentário revelador, o vegetarianismo tornou-se uma contracultura. Dadas as ramificações mentais e éticas de nossa atual relação com a tecnologia, movimentos semelhantes são muito plausíveis. É capaz até de acharmos mais fácil; não estamos lutando há séculos contra o consumo de carne. Faz menos de 20 anos.
Ou então, veja o que ocorreu com o tabaco. Há apenas uma geração, era possível fumar num restaurante. Agora, é improvável que muita gente fume em seus próprios carros. Passamos por um lento processo de educação e persuasão, mas finalmente nossa cultura mudou. Os elementos para uma relação saudável com a tecnologia também estão aí.
Vários autores já levantaram a hipótese de uma reação neoludista à automação da indústria. Em artigo para o New Statesman em 2014, Bryan Appleyard via o “Ludismo, na prática e na teoria, de volta às ruas”, traçando uma linhagem que vai do anarquista norte-americano Ted Kaczynski, conhecido como Unabomber, aos taxistas parisienses que vandalizaram os veículos da Uber.
Em 2013, o economista Paul Krugman escreveu para o New York Times um artigo intitulado “Simpatia com os Ludistas”, em que liga os trabalhadores têxteis do século 19 à força de trabalho de hoje, que enfrenta um futuro de redundância, à medida em que a automação vem desempenhando papel cada vez mais central na produção – algo que George Monbiot explorou recentemente quanto à educação.
O conflito entre trabalho e tecnologia é considerado inevitável por muitos. Porém, num mundo de captura de dados e adição à tecnologia, em que as linhas entre produção e consumo tornam-se cada vez mais borradas, torna-se mais premente expressar um equivalente sociocultural dessa tensão. Não se trata de dizer “a tecnologia é ruim”. Antes, trata-se de influenciar os modos pelos quais ela se desenvolve – um progresso democratizante, digamos.
Não se trata de penar que pessoas irão um dia levantar-se da cama e jogar fora seus celulares. A reação provavelmente não se expressará na depredação de lojas da Apple por estudantes politizados, ou por cultos livres de tecnologia estabelecendo-se fora das cidades. Na verdade, ela pode simplesmente não acontecer. Apesar disso, parece razoável acreditar que, quanto mais essas ideias crescem no consciente coletivo – quanto mais pessoas se dão conta do quanto sacrificam em troca de conveniência –, mais provavelmente se entregarão aos ecos daquela revolta tão popular para assumir o controle novamente
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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sábado, 20 de maio de 2017

O Poder nas ruas

O poder está nas ruas. E a legitimidade também: Diretas, já!

Reordenar a sociedade a partir de agora é uma tarefa que só a rua poderá exercer integralmente, devolvendo-lhe a prerrogativa das urnas

por: Saul Leblon


O Brasil adormeceu nesta quarta-feira, 17 de maio de 2017, sem saber as respostas para muitas das perguntas essenciais cobradas pelo passo seguinte de sua história.

Mas a principal delas para ir direto ao ponto --dispensando-se o retrospecto da implosão da frente golpista, com as gravações de pedidos de propinas feitas aos donos do JBS por Aécio Neves e Michel Temer— é saber se a mobilização popular será capaz de pr...eencher o vazio vertiginoso que se abriu agora não apenas na cúpula política, mas na estrutura do poder na sociedade.

As instituiçõesque dão coesão a uma sociedade fundada em conflitos de interesses agudos, como é o caso da brasileira, cujos abismos de desigualdade são sabidos, estão no chão.

Não há legitimidade no parlamento.

O judiciário tornou-se a armadura desfrutável do assalto das elites contra as urnas, na farsa de um impeachment – confirma-se agora-- arquitetado com uma escória a soldo.

A mídia foi a voz da exortação e da institucionalização desse esbulho.

Como será o amanhã de uma nação na qual o amálgama político foi destruído em nome do combate à corrupção. E sob esse biombo faiscante operou-se a virulenta destituição de direitos arduamente conquistados em um século de lutas democráticas?

O conservadorismo está na defensiva.

A plutocracia perdeu seu manto moral.

Desnudou-se como uma reles devoradora de libras de carne humana barata.

Moro e seus promotores terão que se explicar: por que nunca –nunca- abriram o foco para a tempestade que ora desabou, sobre as suas cabeças inclusive?

O contato mais próximo do califado de Curitiba com o assunto ‘Aécio Neves’ está documentado na série de fotogramas de sorridente cumplicidade entre o presidente nacional do PSDB e o juiz Sergio Moro.

Da mídia é suficiente dizer que sem ela o golpe teria sido impossível, assim como inviável a preservação da capatazia que ora sucumbe às gravações.

Reordenar a sociedade a partir de agora, portanto, é uma tarefa que só a rua poderá exercer integralmente, devolvendo-lhe a prerrogativa das urnas.

As sirenes da história anunciam confrontos intensos no front.

Não existe uma fórmula macroeconômica autossuficiente –seja a do golpismo, ou uma de ‘esquerda’ -- para tirar o Brasil do plano inclinado em que se encontra.

O que existe é uma derrocada vergonhosa do conservadorismo que amplia o espaço para o debate das reformas verdadeiramente indispensáveis à destinação social do desenvolvimento. A saber:

-uma reforma política para capacitar a democracia a se impor ao mercado;

-uma reforma tributária para buscar a fatia da riqueza sonegada à expansão da infraestrutura e dos serviços;

-uma reforma do sistema de comunicação para permitir o debate plural dos desafios brasileiros –que, insista-se não se resolvem sem ampla e permanente renegociação.

O Brasil será aquilo que a rua conseguir que ele seja. E o momento nunca foi tão propício para escrever isso no asfalto e nas praças de todo o país.

A legitimidade das ruas precisa ser exercida.

Urgentemente.

Só as lideranças populares tem condições hoje de falar à população em um palanque.

O conservadorismo usará o palanque privado da Globo para barrar o escrutínio da sua crise nas urnas.

A ocupação das ruas definirá quem é a liderança popular hoje no Brasil capaz de devolver credibilidade à política e seriedade à repactuação do desenvolvimento, arrebatando assim o apoio indispensável de setores da classe média democrática para levar a nação às urnas e retomar o fio de uma construção interrompida --mais uma vez-- pela violência política conservadora

Fonte: CARTA MAIOR

Hipnose

Livro desmistifica a prática da Hipnose

No imaginário popular, disseminado pelos filmes hollywoodianos, a hipnose é algo místico, mais próxima dos shows de mágica. O que poucos sabem é que a técnica tem um cunho terapêutico, inclusive é reconhecida pelos conselhos de Medicina, Psicologia, Odontologia e Fisioterapia. E é justamente para descontruir os mitos que envolvem a técnica, que será lançado no dia 25 de maio, às 19h, na Livraria da Travessa (Barra Shopping), o livro “Hipnose: Aplicações práticas”.

A publicação que leva o selo da Conquista Editora tem como objetivo apresentar ao leitor as diversas teorias distintas sobre o tema, e de como a sua aplicabilidade vem ajudando de forma significativa a vida de pacientes que buscam também a superação de problemas de ordem psicológica. A obra também auxilia a desenvolver autossuficiência ensinando técnicas de auto-hipnose, programando âncoras ou sinais que ele possa utilizar para empoderamento pessoal, resiliência, segurança, relaxamento, e qualquer outro estado capacitante desejado. E reforçando continuamente
comportamentos (e, caminhos neurais) construtivos
.

A publicação que será lançada dia 25 de maio conta com o selo da Conquista Editora e tem como principal foco trabalhar a mente de forma simples com a ajuda das técnicas e suas aplicações

O livro conta com a coordenação editorial de Renan Almeida e coautoria de renomados especialistas (hipnoterapeutas), que discorrem sobre a capacidade de sermos hipnotizados e de como a utilização da ferramenta pode ajudar a escanear o cérebro a fim de um entendimento maior e mais aprofundado da natureza humana.

Para Bárbara Chagas, diretora da Conquista Editora, a maneira como a mente humanafunciona sempre intrigou aos leigos e pesquisadores. Entre as descobertas, a hipnose é uma das que mais aguçam a curiosidade humana e o livro vem justamente mostrar como a utilização dessa prática como ferramenta pode provocar verdadeiras mudanças, reprogramando a mente para superar limites.

“Ainda há muita controvérsia no que tange a aplicação da hipnose, não só pela precariedade de publicações científicas na área, mas também, pelas exibições de hipnose de palco ou de rua, que embora sejam realizadas com o propósito de entretenimento, trazem uma ideia equivocada do que seria a hipnose e contribui para manutenção dos mitos relacionados a esta prática. Especialmente a partir desse ponto é que considero a obra importante, pois ela desmitifica todas essas ideias”, ressalta Bárbara.

Sobre a Conquista Editora


Especializada em publicação de livros para o desenvolvimento pessoal e profissional, a mesma promove, produz e comercializa obras de autoria e coautoria, em que se tornou referência por gerar notoriedade, reconhecimento, realização pessoal e profissional aos escritores. De acordo com Barbara, esse material é feito de maneira sustentável, difundindo conhecimento, cultura, educação e entretenimento. "Visamos a construção do ser humano e a superação das expectativas de todos da equipe, clientes, parceiros, fornecedores, distribuidores e da sociedade", comenta. Mais informações no http://conquistaeditora.com.br

Fonte:: JORNAL DO BRASIL


Ecossocialismo. O caminho

Löwy: História, razões e ética do Ecossocialismo

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Por que reorganizar a produção e o consumo, em bases não-mercantis. As divergências em relação ao “capitalismo verde” e ao “socialismo” burocrático. A luta para superar o sistema não precisa esperar pela conquista do poder. Marx, um produtivista?
Por Michel Lowy, em entrevista a Miguel Fuentes | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Marc Chagall
O sociólogo e filósofo Michael Lowy, uma das referências mais importantes do pensamento anticapitalista, concedeu há poucos dias entrevista sobre o perigo crescente da crise ecológica e sua importância como problema estratégico central para o marxismo.
Refletindo sobre uma série de questões tais como as mudanças climáticas, o ecossocialismo e os desafios do movimento revolucionário durante as próximas décadas, as ideias deste intelectual constituem um claro chamado de advertência. Segundo ele, dependerá da capacidade que tenham as organizações de esquerda para integrar esses debates em seus seus respectivos eixos estratégicos, a possibilidade (ou não) de enfrentar o último desafio programático da revolução socialista: o perigo do colapso da civilização e da extinção humana, ou melhor, nas palavras de Lowy… a ameaça de um ecossuicídio planetário.
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TEXTO-MEIO
O que é o Ecossocialismo e quais suas referências?
O ecossocialismo é uma alternativa radical ao capitalismo que resulta da convergência entre a reflexão ecológica e a reflexão socialista (marxista). Sua premissa fundamental é que a preservação de um ambiente natural favorável à vida no planeta é incompatível com a lógica expansiva e destrutiva do sistema capitalista. Não se podem salvar os equilíbrios ecológicos fundamentais do planeta sem atacar o sistema, não se pode separar a luta pela defesa da natureza do combate pela transformação revolucionária da sociedade.
Existe hoje uma corrente ecossocialista internacional que, por ocasião do Foŕum Mundial de Belém (janeiro de 2009), publicou uma declaração sobre as mudanças climáticas, assinada por centenas de pessoas de 45 países. Entre seus precursores se encontram figurais tais como Manuel Sacristán (Espanha), Raymond Williams (Inglaterra), André Gorz (França), James O’Connor (Estados Unidos), e entre seus representantes atuais estão o coautor do “Manifesto Ecossocialista Internacional” (2001) [1] Joel Kovel (Estados Unidos), o marxista ecológico John Bellamy Foster (ibidem), o indigenista peruano Hugo Blanco, a ecofeminista canadense Terisa Turner, o marxista belga Daniel Tanuro, e muitos outros.
O ecossocialismo dissocia-se de dois modelos inoperantes: 1) A ecologia conformista, que adapta suas propostas ao mercado e busca desenvolver um “capitalismo verde” — quer dizer, uma ilusão nefasta ou, em muitos casos, uma mistificação. 2) O pretendido “socialismo real” (da falida URSS, China etc.), o qual não foi mais que uma caricatura burocrática do socialismo baseada numa imitação servil do aparato técnico capitalista e num produtivismo antiecológico tão destruidor da natureza como seu equivalente ocidental.
O ecossocialismo propõe uma reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo baseado em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a defesa do equilíbrio ecológico. Isso significa uma economia de transição ao socialismo, na qual a própria população – e não as “leis de mercado” ou um Birô Político autoritário – decidam, num processo de planejamento, as prioridades e os investimentos.
Esta transição poderá conduzir não só a um novo modo de produção e a uma sociedade mais igualitária, mais solidária e mais democrática, mais também a um modo de vida alternativo, uma nova civilização ecossocialista para além do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade, e da produção ao infinito de mercadorias inúteis. O “Bem Viver” da tradição indígena das Américas é uma importante fonte de inspiração para esta alternativa.
Quais são os principais aportes do Ecossocialismo à teoria marxista e à prática das organizações de esquerda?
Muitos ecologistas criticam Marx por considerá-lo produtivista. Tal crítica nos parece completamente equivocada: ao fazer a crítica do fetichismo da mercadoria, é justamente Marx quem coloca a crítica mais radical à lógica produtivista do capitalismo, a ideia de qua a produção de mais e mais mercadorias é o objeto fundamental da economia e da sociedade.
O objetivo do socialismo, explica Marx, não é produzir uma quantidade infinita de bens, mas sim reduzir a jornada de trabalho, dar ao trabalhador tempo livre para participar da vida política, estudar, brincar, amar. Para tanto, Marx proporciona as armas para uma crítica radical do produtivismo e, particularmente, do produtivismo capitalista. No primeiro volume de O Capital, Marx explica como o capitalismo esgota não só as forças do trabalhador, como também as próprias forças da terra, esgotando as riquezas naturais. Assim, essa perspectiva, essa sensibilidade está presente nos escritos de Marx. No entanto, não foi suficientemente desenvolvida.
É verdade, entretanto, que alguns escritos de Marx, e sobretudo de Engels (o Anti-Dühring, por exemplo) propõem que a tarefa de uma revolução seria unicamente mudar as relações de produção, que se converteram em travas ao livre desenvolvimento das forças produtivas. Cremos que, desde uma perspectiva ecossocialista, necessita-se de uma visão muito mais radical e profunda do que deve ser uma revolução socialista. Trata-se de transformar não só as relações de produção e as relações de propriedade, como a própria estrutura das forças produtivas, a estrutura do aparato produtivo. É preciso que aplicar ao aparato produtivo a mesma lógica que Marx pensava para o aparato de Estado a partir da experiência da Comuna de Paris quando ele dizia o seguinte: “os trabalhadores não podem apropriar-se do aparato do Estado burguês e usá-lo a serviço do proletariado, não é possível, porque o aparato do Estado burguês nunca vai estar a serviço dos trabalhadores. Então, trata-se de destruir esse aparato de Estado e criar outro tipo de poder”.
Essa lógica tem de ser aplicada ao aparato produtivo que deve ser, se não destruído, ao menos radicalmente transformado. Este não pode ser simplesmente apropriado pelas classes subalternas, e posto a trabalhar a seu serviço, pois necessita ser estruturalmente transformado. Por exemplo, o sistema produtivo capitalista funciona com base em fontes de energia fósseis, responsáveis pelo aquecimento global – o carbono e o petróleo. Um processo de transição ao socialismo só seria possível quando se der a substituição dessas formas de energia por energias renováveis — por exemplo a água, o vento e, sobretudo a energia solar.
Por isso, o ecossocialismo implica uma revolução do processo de produção, das fontes energéticas. É impossível separar a ideia de socialismo, quer dizer, de uma nova sociedade, da ideia de novas fontes de energia, particularmente do calor – alguns ecossocialistas falam já de um “comunismo solar”, pois entre o calor, a energia do Sol, o socialismo e o comunismo haveria uma espécie de afinidade eletiva.
Mas não basta transformar o aparato produtivo e os modelos de propriedade, é necessário transformar também o padrão de consumo, todo o modo de vida em torno do consumo, que é o padrão de capitalismo baseado na produção maciça de objetos artificiais, inúteis e perigosos. Por isso trata-se de criar um novo modo de consumo e um novo modo de vida, baseado na satisfação das verdadeiras necessidades sociais, algo completamente diferente das supostas e falsas necessidades produzidas artificialmente pela publicidade capitalista. Dele se depreende pensar a revolução ecossocialista como uma revolução da vida cotidiana, como uma revolução pela abolição da cultura do dinheiro e da mercadoria imposta pelo capitalismo.
O ecossocialismo não é só a perspectiva de uma nova civilização, uma civilização da solidariedade – no sentido profundo da palavra, solidariedade entre os humanos, mas também com a natureza –, é também uma estratégia de luta, desde já, aqui e agora. Não se trata de esperar até o dia em que o mundo se transforme, mas de começar desde já, agora, a lutar por esses objetivos. Trata-se de promover a convergência, a articulação entre lutas sociais e lutas ecológicas, as quais têm o mesmo inimigo: o sistema capitalista, as classes dominantes, o neoliberalismo, as multinacionais, o FMI, a OMC. Os indígenas da América Latina, desde as comunidades andinas do Peru até as montanhas de Chiapas, estão na primeira linha de combate em defesa da Mãe Terra, da Pachamama, contra o sistema.
Noam Chomsky tem afirmado nos últimos anos que a crise ecológica é mais importante que a crise econômica [2]. Qual sua opinião sobre essa frase?
Estou inteiramente de acordo com Chomsky! A crise econômica é grave, porque serve às classes dominantes, ao capital financeiro, para aplicar suas receitas neoliberais, agravando o desemprego, destruindo conquistas sociais, privatizando os serviços públicos etc. Mas a crise ecológica é algo muito mais importante e muito perigoso, porque ameaça as condições de vida da humanidade no planeta.
A que se você refere quando fala de um possível ecossuicídio planetário?
A civilização capitalista industrial moderna é um trem suicida que avança, com rapidez crescente, em direção a um abismo: as mudanças climáticas, o aquecimento global. Trata-se de um processo dramático que já começou, e que poderá levar nas próximas décadas a uma catástrofe ecológica sem precedentes na história humana: elevação da temperatura, desertificação das terras, desaparecimento da água potável e da maioria das espécies vivas, multiplicação dos furacões, elevação do nível do mar – até que Londres, Amsterdã, Veneza, Xangai, Rio de Janeiro e demais cidades costeiras fiquem debaixo d’água. A partir de um certo nível de elevação da temperatura, será ainda possível a vida humana neste planeta? Ninguém pode responder com segurança a esta pergunta.
O dito ecossuicídio planetário é uma situação hipotética, ou uma possibilidade concreta para as próximas décadas?
Cientistas como James Hansen – durante muitos anos o climatólogo da NASA, nos EUA – explicam-nos que as mudanças climáticas não se desenvolvem de forma gradual, mas sim com saltos qualitativos. A partir de um certo nível de aquecimento – 2 graus centígrados além das temperaturas pré-industriais – o processo se tornará irreversível e imprevisível. Isso pode acontecer nas próximas décadas, sobretudo se se confirmam uma série de evidências científicas recentes: derretimento do gelo dos polos mais rápida do que o prevista; maciças emissões de metano (um gás com muito maior efeito de aquecimento do que o CO2) pelo derretimento do permafrost na Sibéria, Canadá etc. Ninguém pode prever quando se dará a inversão, e portanto não têm sentido as previsões que se referem ao ano 2.100.
Uma série de cientistas começaram a alertar sobre uma grande crise planetária no caso de que o aquecimento global supere os 2 graus centígrados, produzindo com ela uma importante quebra nos sistemas agrícolas. Ideias semelhantes têm sido discutidas no âmbito dos estudos energéticos, projetando-se a possibilidade de uma crise estrutural próxima do capitalismo como produto do esgotamento do petróleo e dos combustíveis fósseis (fenômeno conhecido como Peak Oil). [3] Como se relacionaria a ideia do perigo de um ecossuicidio planetário com a possibilidade de um fenômeno de colapso capitalista, aquele como consequência do avanço da crise ecológica no futuro próximo?
Em primeiro lugar, não tem sentido discutir o Peak Oil como se fazia ainda há alguns anos. O problema não é o esgotamento do petróleo, mas que há muitas reservas de petróleo e carvão. Se elas forem queimadas, o aquecimento global será inevitável e catastrófico.
Pois bem, a crise ecológica, por si mesma, não leva a um colapso do capitalismo. O capitalismo pode sobreviver nas piores condições energéticas e agrícolas. Não há menhum mecanismo automático que leve a um colapso capitalista. Haverá crises terríveis, mas o sistema encontrará alguma saída, em forma de guerras, ditaduras, movimentos fascistas etc. Assim foi nos anos 1930 e assim pode ocorrer no futuro. Como dizia Walter Benjamin: “o capitalismo nunca vai morrer de morte natural”. Se queremos por um fim no sistema capitalista, isso só será possível por um processo revolucionário, uma ação histórica coletiva anticapitalista. O capitalismo só desaparecerá quando suas vítimas se levantarem contra ele e o eliminarem.
Marx afirmou no Manifesto Comunista que a história da humanidade foi até hoje a história da luta de classes, e que esta luta terminou sempre com a vitória de uma classe sobre outra… ou então “na destruição das classes em conflito”. Em nossos dias, mais de um século e meio após aquela afirmação, uma equipe de pesquisadores financiados parcialmente pela NASA divulgou um estudo no qual se sugere, entre outras coisas, que a combinação dos efeitos das mudanças climáticas e dos níveis de concentração extrema de riqueza, assim como também de uma futura escassez de recursos em nível mundial estariam a ponto de produzir a ruína da civilização contemporânea. [4] Poderíamos hoje dizer que a sincronia entre as crises ecológica, econômica e social constituiria a materialização histórica daquela possibilidade prevista por Marx em torno de uma possível autodestruição das classes fundamentais do capitalismo?
Creio que se trata de realidades distintas. A concentração extrema de riquezas não conduz à “destruição das duas classes de luta”: é simplesmente a vitória de uma das classes, a burguesia financeira parasitária contra as classes subalternas…
Pois bem, a crise ecológica pode, sim, ter como resultado a ruína da civilização atual e a autodestruição das classes da sociedade moderna, segundo a previsão de Marx. Se se permite ao capitalismo destruir o planeta, todos os seres humanos serão vítimas. Mas a mentalidade dos capitalistas, em particular a oligarquia fóssil – os interesses da indústria do carbono, do petróleo e suas associadas da eletricidade, do transporte, da indústria química etc – poderia ser resumida com a famosa frase do rei francês Luís XIV: “Depois de mim, que venha o dilúvio”.
Durante as primeiras décadas do século XX, algumas importantes figuras do marxismo tais como Lenin, Trotsky ou Gramsci tiveram de enfrentar os horrores das Guerras Mundiais e do Fascismo. Em nosso caso, em troca, pareceria que temos diante de nós um horizonte destrutivo muito superior ao que ditos revolucionários poderiam ter sequer imaginado. Um exemplo disso pode ser visto nos efeitos hipercatastróficos que podem chegar a ter as mudanças climáticas, assim como também no começo do que algumas importantes referências científicas denominaram como a sexta extinção maciça de espécies. Outra denominação em voga deste fenômeno é a do Antropoceno e sua possível relação com um fenômeno de extinção iminente da própria espécie humana. [5] É correto, para você, afirmar que nos encontraríamos às portas de um salto destrutivo inédito da dinâmica capitalista?
Há um consenso crescente entre os cientistas de que entramos numa nova era geológica, o Antropoceno, uma era na qual a ação humana – na verdade, a civilização capitalista industrial moderna – determina os equilíbrios do planeta, inicialmente o clima. Uma das características do Antropoceno é o processo da sexta extinção maciça das espécies, que já começou.
A elevação da temperatura global acima de 2 graus centígrados terá sem dúvida efeitos “hipercatastróficos”, que não se podem comparar com outros eventos históricos (guerras etc.), mas somente com eventos de outras eras geológicas quando, por exemplo, a maioria das costas dos continentes atuais estava sob o mar.
Não creio que se possa afirmar que a extinção da espécie humana seja “iminente”. É um perigo real, uma ameaça, mas para as próximas décadas.
Há mais de um século Rosa Luxemburgo lançou uma das talvez mais obscuras advertências da tradição marxista: isto é, sua famosa frase “Socialismo ou Barbárie”. No caso de Walter Benjamin é igualmente conhecida sua advertência em torno da necessidade de “cortar o pavio antes que a fagulha chegue à dinamite”, em alusão à possibilidade de um “fim catastrófico” (negativo) do desenvolvimento capitalista. Hoje, já passado mais de um século no qual o capitalismo seguiu impondo sua vontade às expensas de toda a humanidade… é possível dizer que a barbárie triunfou… ou então que se encontraria perto disso?
A barbárie ainda não triunfou. Tampouco sabemos se se encontra perto de fazê-lo. Tudo depende da capacidade de resistência das vítimas do sistema: quer dizer, também de nós. O fatalismo é um erro político. Como dizia Gramsci, precisamos de pessimismo na razão e de otimismo na vontade.
Nas últimas décadas, algumas das ideias-força mais importantes que a intelectualidade capitalista integrou em seu programa ideológico foram aquelas em torno dos conceitos de “fim da história”, “fim da luta de classes” e “fim da classe trabalhadora”. Deixando de lado o evidente triunfalismo capitalista que acompanhou o desenvolvimento de tais ideias, estes conceitos podem hoje ser considerados, diante do possível ecossuicídio planetário? O “fim da história” é hoje um perigo real?
O possível econssuicídio planetário é um perigo real, mas nada tem a ver com os discursos ideológicos do “fim da história” ou da luta de classes, que proclamavam a eternidade do capitalismo neoliberal. Ao contrário, a luta de classes é o método para por fim à dinâmica autodestrutiva do capital.
Como podemos pensar essa situação a partir do marxismo e nos preparar para um cenário de crise com uma dimensão possivelmente muito superior à que o campo das lutas sociais enfrentou nos últimos séculos?
O marxismo nos permite compreender a natureza destrutiva do capitalismo, sua tendência inexorável à expansão perpétua, e portanto sua contradição com os limites naturais do planeta. O marxismo nos permite colocar nas vítimas do sistema, nas classes e grupos oprimidos e explorados o sujeito possível de uma transformação anticapitalista. Finalmente, o marxismo nos propõe, com o programa socialista, os fundamentos de uma alternativa radical ao sistema. Mas, sem dúvida, como expusemos acima, necessitamos de uma reformulação ecossocialista das concepções marxistas.
A Revolução Social é uma política anticapitalista que coloque a expropriação da burguesia e a tomada do poder pelos trabalhadores como um passo necessário para deter o desastre que se avizinha, ou para nos preparar para resistir ao colapso?
Deter o desastre é uma tarefa imediata. Cada tubulação de petróleo que se interrompe, cada central elétrica de carbono que se fecha, cada mata que se protege contra a voracidade destruidora do capital, detém o desastre. Mas só será possível impedir a ruína da civilização humana destruindo o sistema com uma revolução socioecológica.
É necessário adaptar o programa e a política da Revolução Socialista diante dos novos perigos que supõe a combinação entre crise ecológica, econômica e social durante o século atual? Que elementos o Manifesto Ecossocialista nos oferece para esta tarefa?
O Manifesto Ecossocialista não tem a resposta a todas estas perguntas. Simplesmente expõe que o socialismo do século 21 tem que ser um socialismo ecológico, e vice-versa: de pouco nos serve uma ecologia que não seja socialista. Sua principal tese é que o sistema capitalista é incompatível com a preservação da vida em nosso planeta. O programa socialista tem que transformar-se em programa ecossocialista, integrando de maneira muito mais central a questão da relação com a natureza do que na tradição socialista ou comunista do século 20.
Um dos princípios fundamentais do marxismo revolucionário foi o de defender o papel da classe trabalhadora como sujeito social da Revolução Socialista. Agora, se considerarmos que um possível colapso civilizatório iminente se associaria à ruína da sociedade industrial e, consequentemente, à desintegração do próprio sujeito trabalhador em vastas regiões do planeta… é possível continuar defendendo a centralidade do movimento trabalhador na luta de classes e do projeto socialista?
A combinação das crises “tradicionais” do capitalismo e da crise ecológica cria as condições para uma ampla aliança de forças sociais contra o sistema. Potencialmente, como expunha o “Occupy Wall Street”, os 99% que não têm um interesse fundamental na manutenção do sistema, são atores possíveis para sua superação. Desde a Conferência Intergalática dos Zapatistas em Chiapas em 1996, e os eventos de Seattle em 1999, até os movimentos recentes de Indignados, vemos os primeiros elementos desta coalisão antissistêmica. Participam dela sindicalistas, ecologistas, movimentos indígenas, camponeses, movimentos de mulheres, associações cristãs, correntes revolucionárias, movimentos da juventude, associações de bairro, militantes socialistas, comunistas e anarquistas. Hoje em dia na América Latina as comunidades indígenas e camponeas estão na vanguarda das lutas socioecológicas, antineoliberais, anti-imperialistas e anticapitalistas. Mas, em última análise, a principal força desta coalizão são os trabalhadores, no sentido amplo: os que vivem da venda de sua força de trabalho, ou do seu próprio trabalho individual ou comunitário. Esta ampla classe de trabalhadores, que não deve ser confundida somente com os operários industriais, constitui a maioria da população, e sem sua ação coletiva nenhuma revolução será possível.
Outro princípio tradicional do marxismo durante o século 20 foi defender a necessidade do controle operário da produção, do planejamento mundial da economia e da distribuição socialista das riquezas como meios possíveis para satisfazer, entre outras coisas, as necessidades materiais do conjunto da humanidade. Agora, se considerarmos que a crise ecológica que se avizinha (e o tipo de quebra alimentar global que trará consigo) poderia implicar que inclusive tais medidas sejam já insuficientes (ineficazes) para dar resposta às necessidades da população mundial, isso devido à própria gravidade da crise que se avizinha e à inexistência de tecnologias capazes de assegurar uma adequada produção agrícola ante um cenário hipercatastrófico de mudanças climáticas… O que fazer? Como resolver esse aparente paradoxo no qual um setor da humanidade pareceria já estar perdido (morto) para o projeto socialista? Mas ainda… é possível resolvê-lo?
Penso ser prematuro discutir o que fazer quando o aquecimento global superar os 2 graus centígrados… Nossa tarefa nas próximas décadas é tratar de impedir isso, promovendo as lutas socioecológicas, as várias resistências anticapitalistas e a consciência ecossocialista. O objetivo é a abolição do capitalismo, o planejamento ecossocialista – em escala local, nacional, continental e, em algum momento, mundial – a distribuição da riqueza e o controle democrático (não apenas “operário”) da população sobre a produção e o consumo.
Evidentemente, é possível que sejamos derrotados e que a humanidade seja levada pelo capitalismo a uma catástrofe. Mas, no momento histórico atual, temos de levar adiante, com todas as nossas forças, este combate decisivo para evitar o desastre.
Tendo em conta a gravidade das ameaças implicadas na crise ecológica atual… por que elas têm sido tão escassamente tratadas no âmbito das organizações de esquerda?
Há várias explicações possível para a demora da tomada de consciência ecológica da esquerda:
1) O dogmatismo, a repetição do tradicional, a resistência a aceitar mudanças na teoria e na prática.
2) O economicismo, a redução da política a interesses corporativos imediatos: por exemplo “salvar o emprego”, isso sem questionar as consequências humanas, sociais ou ecológicas desses “empregos”.
3) A influência da ideologia burguesa do “progresso”, identificado com a expansão, o “crescimento” da economia, a produção de mais e mais mercadorias, e o consumismo.
4) O caráter futuro das ameaças ecológicas – colapso da civilização – em comparação com os problemas econômicos imediatos: a crise, o desemprego etc.
Notas:
[1]Nota sobre o Manifesto Ecosocialista: https://www.rebelion.org/hemeroteca/sociales/lowy090602.htm.
[2] Entrevista a Noam Chomsky: http://www.jornada.unam.mx/2015/09/12/cultura/a36n1cul.
[3] Notas complementares sobre esses temas nos siguintes links:
(1) http://www.eldesconcierto.cl/2017/03/15/manuel-casal-lodeiro-y-su-libro-sobre-la-izquierda-ante-el-colapso/
(2) http://www.eldesconcierto.cl/2017/02/24/entrevista-a-peter-wadhams-el-artico-esta-en-peligro/.
[4] Estudo cofinanciado pela NASA sobre um possível colapso capitalista iminente: https://www.theguardian.com/environment/earth-insight/2014/mar/14/nasa-civilisation-irreversible-collapse-study-scientists.
[5]Link:http://elpais.com/elpais/2015/06/19/ciencia/1434727661_836295.h

Fonte: OUTRAS PALAVRAS