(O deputado Marco Feliciano faz serviço de sopro no pixuleco de Lula. Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados)
Convidados a comparecer à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que
apura os crimes na internet, o chefão dos Revoltados Online, Marcello
Reis, e a advogada Beatriz Kicis se cercaram de uma claque barulhenta de
cerca de 70 pessoas para fazer exatamente o que fazem na internet:
dizer barbaridades, disparar clichês contra a esquerda e zoar qualquer
opinião divergente.
Pouco antes de a audiência começar, jovens de 20 e poucos anos
ligados aos Revoltados Online e ao Movimento Brasil Livre conversavam
animadamente com os deputados Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, com quem
tiravam selfies. Bolsonaro fazia piadas machistas, citando “Kid
Bengala” e coisas do gênero. Incrivelmente, as moças do grupo riam. Não
se sabia ainda se Jean Wyllys, do PSOL, autor do convite, iria
comparecer. Ele não foi.
“A ‘menina’ ainda não chegou”, disse Marcello a um correligionário,
se referindo ao deputado, que é ativista homossexual. “A ‘noiva’ sempre
chega atrasada”, disse outro membro do grupo. “Deve estar se maquiando”,
falou Bolsonaro. Risos. Feliciano, de topete alisado e com mechas
loiras, tentava decifrar a frase de Simone de Beauvoir que caiu na prova
do ENEM, “não se nasce mulher, torna-se mulher”. “Então mulher existe
ou não existe?”, dizia. Risos.
Alguns meninos do grupo, todos brancos (à exceção de Fernando
Holiday, que chegou no final), usavam cabelos compridos, com rabo de
cavalo, e brincos – moderninhos na aparência, conservadores na essência.
Resolvi perguntar a Bolsonaro o que ele, que preza tanto pela
“masculinidade”, achava dos penteados de seus fãs. “O que vale é se ele
vai olhar pro lado, se está defendendo ideologia de gênero ou não. Isso
aí é moda. Tá pensando que eu sou tão quadrado assim?”
“Ideologia de gênero”, aliás, é o novo mantra dos reaças. Beatriz Kicis, que tem vídeos no
youtube
ao lado de seu ídolo, o pseudofilósofo Olavo de Carvalho, só fala
nisso. “A doutrinação ideológica é feita desde o primário. Tem até
banheiro com ideologia de gênero! O que é isso? Onde estamos?”, disse
Beatriz, fazendo metáforas ao estilo dona-de-casa. “É a mesma receita de
Cuba e da Venezuela, é o mesmo bolo que vai sair daí. Desarmam a
população, sexualizam as crianças, tiram a autoridade dos pais com essas
leis da palmada, criam pequenos comunistas! Estamos perto de virar uma
Venezuela!”
Essa é outra obsessão de Beatriz, a “transformação” do Brasil em um
país “comunista”, “totalitário”. Para ela, a luta contra a corrupção não
é tão importante, “mas a corrupção servindo de meio para o Estado
totalitário” que acusa o PT de estar instalando por aqui. “Vou continuar
lutando contra o Foro de São Paulo de manhã, de tarde, de noite e de
madrugada!”, discursou, para delírio geral.
Neste momento, o deputado Sandro Alex, do PPS paranaense, sub-relator
da CPI, fez questão de se certificar se os Revoltados estavam de fato
online. “Estão transmitindo pela internet?” Sim, estavam. Era a vez de
Marcello Reis falar. Ele contou que criou o canal em 2000, para, afirma,
“rastrear pedófilos”, após a filha ter sido vítima de abuso. “Depois de
2010 é que os seguidores começaram a levar para a política. Eu não era
politizado”, disse.
Em seguida, defendeu-se por ter postado no Facebook uma acusação
infundada contra o deputado petista Paulo Pimenta, acusando-o de ser
proprietário da boate Kiss, que pegou fogo matando 242 pessoas em 2013.
“Foi outro administrador que colocou no ar, eu estava viajando. Excluí o
post depois de 5 minutos e até podia ter pedido desculpas, mas o
deputado me chama de neonazista só porque sou desprovido de cabelo”,
pilheriou. Gargalhadas da claque. Curiosamente, Marcello voltou a
atribuir a “outro administrador” da página os demais conteúdos
polêmicos, como a defesa do uso de armas de fogo.
Para mostrar que é “vítima” do ódio, o líder dos Revoltados Online
exibiu um áudio onde é chamado de “filho de uma puta soviética”. “Recebo
milhares de ameaças de petistas todos os dias”, afirmou. No entanto, ao
ser questionado pelo deputado Esperidião Amin sobre o autor dos
xingamentos, Marcello se contradisse. “Não, esse daí não é petista.” Nas
considerações finais, ele começou a inflar um boneco de Lula em plena
mesa, no que foi impedido pela segurança, mas logo contou com o auxílio
de Feliciano e dos Bolsonaros, pai e filho, para o serviço de sopro.
(Bolsonaro pai e Bolsonaro filho com a boca no pixuleco)
Não fosse pelo deputado Paulo Pimenta, que estava presente, os
Revoltados sem causa ficariam sem o contraditório. Pimenta afirmou que
Marcello Reis não é apenas o líder de um grupo anti-corrupção na
política. “Estou convencido que se trata de uma organização que já
cometeu um conjunto de crimes graves, inclusive tirar dinheiro de
pessoas inocentes”, acusou. “Eu o processei, mas até hoje a Justiça não
conseguiu notificá-lo porque ele muda de endereço.”
A claque de bolsomitômanos “defensores da liberdade de expressão” não
permitia que o deputado falasse, gritando, vaiando e emitindo sons como
“Hummmm”. O mesmo aconteceu quando Alice Portugal, do PCdoB baiano,
usou o microfone. Com Bolsonaro, ao contrário, urravam: “Mito! Mito!”
Triste dia para a Câmara: o circo terminou com o grupo pulando como
hooligans
no plenário da Comissão e entoando um “hino antibolivariano”. O que
tinha de ser esclarecido não ficou: afinal, o que fazem os Revoltados
Online nas redes é só “liberdade de expressão”? Julgue você mesmo no
vídeo abaixo.
Detalhe: após a audiência, o grupo se dirigiu para o gabinete da
presidência da Casa. Sim, os “anticorrupção” continuam apoiando Eduardo
Cunha
Fonte: SOCIALISTA MORENA
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