quinta-feira, 20 de junho de 2013

Um Outro Mundo é Possível

O Movimento Passe Livre e a política na Era Informacional

19/06/2013 | Publicado por Renato Rovai em Geral


O que está acontecendo nesses últimos dias no Brasil não é novo. E não pode ser pensado a partir das mesmas lógicas e padrões da sociedade industrial. É preciso buscar entender o tempo que estamos vivendo, como as dinâmicas de relação e poder se estabelecem e quais as novas demandas e padrões de luta. Não são questões fáceis e nem ensejam respostas precipitadas. O jogo é muito mais complexo no modelo atual.
Há alguns anos venho conversando sobre redes com diferentes grupos. E, entre outras coisas, tenho afirmado que estamos vivendo numa mudança de era. Estamos passando da Era Industrial para a Era Informacional. Isso tem levado a grandes transformações na economia, na cultura e também na política.
Quando migramos da sociedade agrícola para a industrial, isso já ocorreu. Foram grandes as transformações e enormes as resistências. Houve quem preferisse destruir as máquinas do que tentar entender suas possibilidades e potencialidades. Hoje a mesma coisa está ocorrendo. A sociedade em redes não permite respostas analógicas. E os partidos e movimentos tradicionais de esquerda ainda resistem em entender esse novo processo. Não entenderam que na sociedade em redes uma das grandes crises se dá em relação às organizações intermediárias. A indústria cultural foi uma das primeiras a ser afetadas por esse fenômeno. As gravadoras de música, por exemplo, tentaram resistir a ele com a criminalização do que chamavam de pirataria. Tiveram que mudar a estratégia e perderam muito espaço. Na indústria da informação está ocorrendo o mesmo. Boa parte dos grandes grupos desse setor está ruindo porque decidiu enfrentar as mudanças e não buscar se adaptar a elas. Na política, os partidos são as organizações intermediárias. São as gravadoras da indústria da música. E as pessoas que estão nas ruas não querem ser representadas por eles. Querem se representar. É uma crise da democracia representativa, para a qual ainda não se tem respostas nem soluções. E para ser franco, poucas pistas.
De qualquer forma, a resposta tradicional a isso é a de que esses movimentos negam a política. Essa é uma daquelas respostas simples que não dialogam com o problema. Entre outras coisas porque nunca se discutiu tanto questões da política como nesses anos de redes em redes.
E essas redes nascem nas ruas e se articulam na internet. Nascem na internet e se manifestam nas ruas. Elas não são produzidas em escala industrial e nem em linhas de produção. E nelas há forças centrais, mas não há um centro. E as forças centrais podem inclusive ser contraditórias.
É preciso pensar em movimentos e não num único movimento. Movimentos que em alguns momentos podem se juntar a partir de uma sensação de que algo precisa mudar. E de alguma forma é isso que parece estar acontecendo no Brasil dos últimos dias.
Geração Facebook e Passe Livre – Há um bom tempo que representantes de movimentos tradicionais de esquerda dizem frases como: “essa galera do Facebook não sai do sofá”. E além de não participar dos debates que acontecem na internet, deslegitimam aqueles que o fazem. A geração Facebook já havia saído do sofá em alguns países. E agora resolveu sair do sofá no Brasil questionando, entre outras coisas, a política tradicional.
Antes de entrar no debate propriamente dito do que é participação política na dinâmica de redes, um parênteses. O Facebook é uma plataforma, como foi o Oktuk, que hoje é um cemitério de perfis. O Facebook em breve será substituído por outra plataforma, mas as redes que nele se articulam não mais se dissiparão. Essas redes são anteriores a internet. Elas são espaços de esfera pública. Na França da revolução burguesa, os cafés de Paris faziam esse papel. Nas greves dos ABC do fim da década de 70, as comissões de base organizavam o chão da fábrica e o Sindicato dos Metalúrgicos era o principal aglutinador daquele movimento que vinha debaixo. E ao mesmo tempo o Sindicato se articulava com outros sindicatos do Brasil e do mundo construindo uma rede de lutas que foi fundamental para, no Brasil, derrotar a ditadura.
Nas novas dinâmicas de rede o que está ocorrendo é que essas organizações tradicionais preferiram o velho ao novo. Negar a rede parece ser uma forma de se defender do novo. É um equívoco brutal.
Isso não tem a ver diretamente com o Movimento Passe Livre, mas tem. O Passe Livre já há algum tempo se articula e debate a questão do transporte público no Brasil. Seus líderes, basta assistir às entrevistas que têm concedido, sabem do que falam e têm bem clara sua pauta. Nos últimos anos esse movimento já vinha crescendo, tanto que nas últimas manifestações contra o governo Kassab, houve forte repressão e, inclusive, vereadores petistas que atuavam com o momento foram agredidos.
A primeira ação do MPL no governo Haddad também foi grande, mas dessa vez havia uma insatisfação generalizada e difusa contra uma outra série de coisas. Há gente contra a realização da Copa no Brasil, movimentos sociais indignados com o governo Dilma pela ausência de interlocução, grupos de direita doidos para acabar com o PT, gente da periferia de São Paulo que não suporta mais a ação policial repressiva, outros contra a PEC 37 etc. Quando o MPL resolveu continuar na rua, as redes sociais que estão na internet, em especial no Facebook, começaram a aderir a essa luta. E buscaram reconstruir sua narrativa. E isso, neste exato momento, está em disputa.
O MPL diz que a pauta é a tarifa. E faz muito bem em fazer isso. Mas também é fato que nas conversas de rede esse, neste momento, não é o ponto de pauta mais prevalente. Muita gente tem dito que a luta é por direitos e não por vinte centavos. E outros já querem o impeachment de Dilma.
Não foi diferente no Egito, na Tunísia, na Espanha e nem no Ocuppy Wall Strett. De novo, não existe movimento, mas movimentos. E neste novo contexto as pautas estarão sempre em disputa quando o povo for às ruas. Às organizações intermediárias, enquanto a democracia representativa resistir, restará a possibilidade de tentar dialogar com a parte das ruas que tiver apreço pela democracia. E lutar para que o processo democrático não seja dinamitado. E nem em relação a isso há garantias quando existe disputa. Movimentos podem começar de um jeito e terminar de outro.
A disputa é política – Há risco de que esse movimento iniciado pelo Passe Livre seja capturado pela direita? Claro que sim. Não os líderes do Passe Livre, que parecem bem mais preparados do que a média dos políticos tradicionais. Mas as ruas podem fugir do controle.
Há risco que vem venha a ocorrer um processo de Ciberturbas, como caracteriza David Ugarte? Algo como ocorreu em Paris na revolta das periferias? Claro que sim. E em alguns cantos isso já começa a dar sinais concretos.
Mas há também a possibilidade enorme de se avançar e de o Brasil dar um passo mais largo no sentido de ampliar seus canais democráticos. Mas para isso será necessário passar a entender a política de forma dialógica e não analógica. E passar a fazer a política com seus instrumentos e não na base da planilha. A tecnocracia substituiu o deus mercado no Brasil. Antes tudo se resolvia na lógica do mercado. Hoje na base das planilhas. Os movimentos sociais estão enfraquecidos e muitos deles por compromissos com o atual governo têm abdicado das lutas. Enquanto isso novos movimentos têm surgido a partir de outras dinâmicas e criado novos paradigmas de participação. Os caminhões de som se tornaram coisas do passado. E a parte mais raivosa da direita já percebeu isso.
Segue, na sequência, um estudo  produzido pela Interangentes, dirigida pelos sociólogos Sérgio Amadeu e Tiago Pimentel. A partir dele é possível verificar como as conversas de rede foram mudando de lugar nos últimos dias. Nos primeiros dias havia uma grande dispersão, mas o MPL era um dos nós principais das conversas. Depois o Anonymous ganhou protagonismo. E nos últimos monitoramentos alguns grupos de direita ampliaram muito sua participação. Se não houver disputa nas ruas e nas redes, esses grupos podem capturar boa parte dessa luta.
Na Era Informacional a fragmentação não está em disputa, ela é um dado de realidade. O que está em disputa é a política, que não está sendo praticada na sua essência nem pelos governos que se dizem com viés de esquerda e nem pelos movimentos tradicionais de esquerda. A política como um espaço de construção de um mundo melhor e de diálogo. A política como espaço de transformação da realidade.
E quando falta política, a violência prevalece. E os riscos passam a ser grandes.
Estudo da Interagentes
Para proceder a análise das redes durante os principais momentos das manifestações contra a redução da tarifa dos transportes públicos, a Interagentes coletou dados do Facebook e plotou em grafos. Para isso, aplicou filtros que permitem, a partir da relação de cada ator com os demais, calcular os “nós” mais centrais no debate.
Os grafos abaixo representam dados das redes entre as 16h e 0h de três diferentes dias. Os dias  são a quinta-feira (13), marcada pelos confrontos entre manifestantes e policiais, a segunda-feira (17), dia da grande manifestação dos 100 mil, e a terça-feira (18), em que diversas outras manifestações tiveram lugar, inclusive a que culminou em depredação da Prefeitura de Sâo Paulo.
A análise dos grafos sugere que ao longo desses dias houve um expressivo aumento da quantidade de emissores envolvidos, bem como do número total de pessoas.
Em uma análise prévia do dia 13 a Interagentes detectou um padrão de liderança distribuída, que pode ser verificado nesta análise que apontou grande aprovação ao movimento. Ainda que não fosse o maior nó de rede, a página Passe Livre São Paulo ocupava um papel de destaque naquele momento. No decorrer das manifestações seguintes a página Passe Livre São Paulo vai perdendo cada vez mais a sua centralidade no debate até quase dissolver-se no curso do(s) movimento(s).
A tendência parece indicar que o MPL configura-se hoje como propositor orignal, mas já sem o caráter de principal articulador. Ao mesmo tempo em que aumenta a quantidade de pessoas envolvidas outros grupos tendem a se apropriar das conversas sobre as manifestações. E a influenciar na sua agenda. É o caso de diversas páginas que levantam a pauta da ‘corrupção’ e o anti-petismo, entre outras coisas.
Alguns grupos ligados aos Anonymous, no entanto, parecem conservar sua relevância no debate público das redes.
Grafo dia 13
Grafo dia 13 – Principais “nós” de rede:
1. AnonymousBR
2. Anonymous Rio
3. Passe Livre São Paulo
4. Quero o Fim da Corrupção
5. AnonymousBrasil

Grafo dia 17
Grafo dia 17 – Principais “nós” de rede:
1. AnonymousBrasil
2. AnonymousBR
3. A Verdade Nua & Crua
4. Movimento Contra Corrupção
5. Quero o Fim da Corrupção
Grafo dia 18
Grafo dia 18 – Principais “nós” de rede:
1. AnonymousBR
2. AnonymousBrasil
3. Movimento Contra a Corrupção
4. Anonymous Brasil
5. Anonymous Rio


Uma boa análise do Rovai e da REVISA FORUM que desde o início da década de 2000 veem debatendo a emergência da sociedade em rede.
 
Assim sendo não concordo com a maioria esmagadora dos comentários na grande imprensa de que todos foram pegos de surpresa.
Na REVISTA FORUM, em CARTA MAIOR, em BRASIL de FATO, no OBSERVATORIO DA IMPRENSA, DIPLO, o assunto tem sido debatido com frequência há mais de uma década.

Ao citar essas mídias ,falo de uma imprensa antenada com a realidade.
Já a grande imprensa, igualmente ao naufrágio do titanic que simbolizou o  final da  belle époque, diante da revolução do M 0,20 parece que naufragou de vez, faliu com seu discurso anacrônico.
Como o setor da sociedade que se apresenta como mediador dos assuntos de interesse, não deixa de ser um mico gigantesco ler e ouvir nos grandes veículos de mídia que todos foram pegos de surpresa.
E o que dizer dos institutos de pesquisa de opinião  que não conseguiram detectar essa "energia" em suas pesquisas ?
Um outro aspecto interessante foi um comentário, em minha opinião preciso e antenado, de um dos secretários diretos da Presidência da República ao afirmar que as manifestações são fruto do processo de inclusão social que vive o Brasil nos governos Lula e Dilma, o  que tem viabilizado à populacão a aquisição de equipamentos de informática.
Assim sendo, a onda mundial chegou por aqui e os vinte centavos foram a gota d´agua para a explosão de um sentimento que em essência revela a insatisfação pela ordem mundial vigente.
Assim como os manifestantes de outros países ( M 15, occupy, e outros) o M 0,20 reproduziu, em grande parte, as mesmas insatisfações ouvidas nas manifestações em outras partes do planeta.

A sociedade em rede não só é uma realidade como deseja um outro mundo.


" na internete os donos somos nós, os usuários. As informações veiculadas pela grande  imprensa são apresentadas através de um filtro político, doutrinário e comercial. Na internete produzimos , nós mesmos , os conteúdos , debatemos os assuntos e formamos nossa opinião"

trecho de um livro que escrevi em 1995.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Passe Livre Para Todos


O Protesto

 E tudo começou por causa do aumento de 0,20 centavos na tarifa dos ônibus do transporte público da cidade de São Paulo.
Hoje, 19.06.13, dia de futebol do Galvão na globo,  fica uma dúvida se todas as pessoas que estão nas ruas nas manifestações, lá estão por causa do aumento das passagens do transporte público. Certamente que não.

A Polícia

O mundaréu que se vê nas ruas ultrapassou, em muito, os vinte centavos de aumento.
Por outro lado, todo esse povo é um retrato da sociedade.
Em uma sociedade, uma pequena parcela desta, apenas uma pequena parcela, vive à margem dessa sociedade. E por viverem à margem, são os marginais, delinquentes ou  não.
Nos estádios de futebol o mesmo acontece com o público.
Nas manifestações que acontecem também se vê o mesmo.
A sociedade perfeita não existe, é uma utopia.
Logo se conclui que os 100 mil que estão nas ruas, motivados por uma causa que não necessáriamente é única,   pode ser considerado como uma amostra da sociedade.
Em sendo assim, uma minoria  destoa do objetivo da manifestação. Sempre foi assim ao longo do tempo, é assim atualmente, e sempre será assim.
Até aí nada de novo.
É dever dos ógãos de segurança pública zelar pela segurança da população que expressa seu direito de se manifestar.
Infelizmente não é o que se vê.
Ou a polícia se apresenta para bater no povo, ou ela se ausenta das ruas.
Tudo isso é sintomático. Revela uma polícia  que não evoluiu , um aparato policial dos tempos da ditadura militar, onde reprimir o povo em seus direitos era a regra. Revela mais ainda, a politização dos governos estaduais, principalmente do estado de São Paulo, que parece desejar o caos total para capitalizar dividendos políticos nas próximas eleições.
Retirar praticamente todo o efetivo policial das ruas de uma cidade, é de uma irresponsabilidade gigantesca.
Esse é um aspecto que pôde ser observado nas manifestações do Rio de Janeiro e de São Paulo e remete a todos a refletir sobre a necessidade de uma nova polícia e de novos órgãos de segurança pública que sejam voltados para a maioria da população  e não como  a policia atual, corrupta, marginal, aliada do crime organizado, que para justificar sua existência perante a sociedade apenas prende e mata pobres.

A Imprensa Mutante

Um outro aspecto foi a mudança radical na cobertura dos protestos pelos grandes veículos da imprensa e da mídia em geral.
No início, toda a grande imprensa e seu apararto midiático liderado por fascistas como Datena e Jabor , exigia , com toda a encenação teatral , que os órgãos de segurança pública agissem com força e violência contra os manifestantes , que em sua maioria eram chamados de vândalos e bandidos pelos veículos da grande imprensa.
Os protestos cresceram e a imprensa recuou.
Esse recuo nada mais foi que um ajuste para o que , agora, assistimos na cobertura dos grandes meios de comunicação.
Antes contrários aos manifestantes, hoje a grande imprensa e seu aparato midiático se coloca cínicamente ao lado deles, enaltecendo  a liberdade, a democracia e o direito de se expressar livremente. 

Passe Livre e Justiça Social
 
E aí entra um outro aspecto das manifestações.
Mergulhada em um transtorno obsessivo e compulsivo na tentativa de desgastar e até mesmo derrubar os governos de Lula e Dilma, independente dos erros e acertos destes governos, a grande imprensa vê nos protestos uma excelente oportunidade de mais uma vez manipular a opinião pública, distorcer os fatos e até mesmo, em parceria com governos politicamente afins, propagar a violência e o caos nas ruas das grandes cidades.
Foram raras as ocasiões, se é que existiram, que o noticiário da grande imprensa abordou  a questão da redução do valor das passagens do transporte público. 
Tarifas de transporte  público gratuitas, ou mesmo com valores bem abaixo dos atuais, significa uma discussão sobre elementos inseridos em uma lógica de  justiça social.
O transporte, a educação e a saúde públicas de qualidade são direitos de todos, conforme contemplado na constituição cidadã do Brasil, de 1988.
Esse aspecto não é debatido nos meios de comunicação, já que a maioria dos veículos de mídia  é alinhada e  defensora de uma lógica em que esses serviços devem ser tratados como mercadoria, motivo de lucro e acumulação incessante.

Política e Políticos 

Assim sendo, pois é assim que se apresenta, a grande imprensa hoje posando ao lado dos manifestantes traz em seus panfletos políticos impressos, também conhecidos como jornais diários, notícias de que a motivação principal dos manifestantes seriam os políticos e os partidos políticos, ignorando a legitimidade da demanda do passe livre e, com isso, tentando embolsar a manifestação para atender seus interesses políticos. Não faltam artigos, demonizando os políticos e principalmente os partidos políticos presentes  com bandeiras nas manifestações.
Cabe ressaltar, que independente do caráter apartidário da manifestação, o que os manifestantes fazem nas ruas é política e, mais ainda, toda a pauta de reivindicações do movimento será apresentada e discutida com as autoridades e a decisão será sempre política.
A sociedade sem política não existe, é uma utopia e, mesmo as utopias mais avançadas como o auto governo exigem o exercício diário da política.
Talvez os manifestantes estejam insatisfeitos com  os políticos e a forma de fazer política atuais. De fato , muito deve ser melhorado neste campo, a começar pelo financiamento de campanhas, onde políticos recebem fortunas de empresas privadas para se elegerem e , quando eleitos, defenderem os interesses dessas empresas. Tudo isso é uma caixa preta para o cidadão, que a grande mídia também oculta pois é , enquanto um segmento endinheirado , grande beneficiária desse modelo. Com esse modelo, as assembléias legislativas são espaços para grandes lobbies conduzidos e defendidos por políticos eleitos pelo povo, que durante suas campanhas obviamente não apresentam e muito menos dizem quem os financia. Pelo contrário, ainda se apresentam com um discurso em favor dos mais pobres e etc...
Logo a política é essencial assim como os partidos políticos. O que está em jogo é o fazer política, que entendo deve ser transparente, com a pariticipação direta da sociedade na discussão da aplicação dos recursos públicos e na fiscalização da aplicação desses recursos.

Democracia Participativa

Estamos falando de mais Democracia, precisamente de Democracia Participativa em lugar da Democracia Representativa atual, que parece que esgotou seu repertório.
Por outro lado é importante citar, que a democracia participativa exige a organização da sociedade em comitês e grupos com atuação responsável e direta nos assuntos referentes aos bairros, vilas, cidades , estados e mesmo em assuntos em interesses nacional.
Nada disso interessa aos veículos da grande imprensa, pois sabidamente são avessos a participação popular na discussão dos principais temas da sociedade, e ainda trabalham diariamente para despolitizar a população e a política.
Ainda sobre os partidos políticos, independente do caráter apartidário das manifestações, os partidos que participam das manifestações - PSol e PSTU - são historicamente partidos de luta ao lado do povo. Não se vê bandeiras desses dois partidos em campanhas organizadas por governos, como foi o caso da campanha dos royalties do petróleo aqui no Rio e também nas palhaçadas de movimentos como Cansei, organizada pela imprensa. Estranho seria encontrar bandeiras de PSDB, por exemplo, nas manifestações atuais. Aí, sim, poderíamos chamar de oportunismo. Quero ainda citar que não sou eleitor desses dois partidos , apenas reconheço que estão sempre presentes nas lutas do povo.

Construção de um Golpe 

Voltando ao nosso tema, sem  que jamais tenha sido deixado de lado, podemos afirmar sem medo de acertar que a grande imprensa e todo o seu aparato midiático mergulhou no movimento do Passe Livre carregada com uma lógica de manipulação. Ontem, 18.06.13, proliferaram nas emissoras de tv, imagens e reportagens de manifestantes que em nada representavam a principal pauta do movimento. Na tv bandeirantes, sempre sob o comando do manipulador Datena, uma faixa portada por um manifestante com dizeres contrários a corrupção, mereceu generosos minutos de exposição da emissora e comentário do apresentador em apoio aos dizeres da faixa e , claro, críticas aos políticos. Passe  Livre ? Nada
Justiça Social ? Nada
Nas outras emissoras, globo, sbt, rede tv e record, a estratégia foi a mesma. Os repórteres dessas emissoras deram  generosos destaques as entrevistas com manifestantes que tivessem um discurso contrário ao governo federal, a ponto de a emissora Record News apresentar uma manifestante que vive há décadas em Portugal, dizer que a culpa é da Presidenta Dilma. Como se sabe as entrevistas com manifestantes não vão ao ar ao vivo, são escolhidas a dedo.
Ŧambém foram divulgadas , com generosidade, fotos e imagens de artistas de tv presentes nas manifestações. Na maioria dos casos, os artistas reproduziam o discurso de seus patrões. E ainda, sem querer esgotar o assunto mas revelando um sintoma altamente conservador e aliado dos meios de comunicação,  Caetano Veloso disse apoiar os manifestantes.
É sabido que quanto mais as manifestações durem, maiores serão as infiltrações cada vez mais organizadas de grupos interessados em ações de caráter político, que venham a produzir conteúdos de interesse, prévio ou não, dos grandes meios de comunicação.
Que fique bem claro, os manifestantes não são bandidos, mas também não são membros de Opus Dei ou da TFP ( Tradição Família e Propriedade).

A Pauta de Reivindicações

Certamente as lideranças do movimento irão apresentar às autoridades uma pauta com as reivindicações. Interessante seria  como também desejável, que a justiça social norteasse toda a pauta. Assim não só o transporte coletivo de qualidade com tarifa justa, mas a educação, a saúde gratuita e de qualidade sejam inseridos. Ainda mais, uma reforma política parece inadiável, assim como uma reforma agrária que permita garantir trabalho, renda e dignidade no campo para as pessoas , contribuindo não apenas no crescimento da agricultura familiar ( aquela que produz o que vocẽ come) mas na produção de alimentos saudáveis.
Neste momento, de consolidação e avanços, importante também a democratização dos meios de comunicação com uma nova lei e regras para o setor.
Uma mídia plural e democrática, onde exista espaço para livre expressão de todos os segmentos da sociedade, também parece inadiável.
Espaço esse onde os jovens também poderão falar de si mesmos , produzindo e divulgando seus conteúdos com seu próprio olhar, e não como acontece hoje no oligopólio midiático, onde o jovem é retratado por um olhar que não é o seu, e mais, carregado de esteriótipos e propostas para uma cidadania alienante.
Talvez um dos recados das ruas seja:
"Não somos autômatos consumistas"






































terça-feira, 18 de junho de 2013

1 milhão



Página no Facebook pede desculpas pela confusão e pede 1 milhão de pessoas nas ruas
Página no Facebook pede desculpas pela confusão e pede 1 milhão de pessoas nas ruas.
 
É isso aí, pessoal.
Vamos colocar 1 milhão nas ruas do Rio.
Cuidado com a grande imprensa, liderada por globo e cia.
No início das manifestações vocês eram tratados por globo como bandidos e vândalos.
Depois essa imprensa pediu para a polícia sentar o cacete em vocês.
Depois a imprensa viu que a violência da polícia não pegou bem, teve a reprovação da população , e assim fez algumas crítica à polícia.
Depois da passeata de ontem a grande imprensa ficou assustada com a força do movimento, e, pelo que se vê em globo, eles agora querem ficar ao lado do movimento.
Em breve a cafetina globo vai escolher uma musa para o movimento e convidá-la para o programa do Faustão.
Não entrem nesse canto da sereia da imprensa , que agora, aprova o movimento.
Transporte público gratuito e de qualidade é possível.
A vida não pode ser uma mercadoria.
 
 


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Somos Todos Indignados

Eles são todos nós

Por Luciano Martins Costa em 17/06/2013 na edição 750
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da IMprensa, 17/6/2013

A revista Época tenta decifrar o movimento que toma as ruas de algumas cidades brasileiras com a reivindicação do transporte gratuito. “Quem são eles?”, pergunta o título na capa. No interior da revista, a reportagem fala de tudo, mas não entrega o que promete: textos e imagens repetem parte dos fatos relatados pelos jornais ao longo da semana e apresentam perfis variados de ativistas entrevistados durante as passeatas. Não há o rigor de uma pesquisa, um quadro esclarecendo dados demográficos dos participantes, nem mesmo um texto explicando quem são os líderes do movimento.
Se a reportagem de Época tem um mérito, ele está presente num rodapé de página dupla, em dois gráficos que mostram o custo do transporte público em São Paulo e no Rio de Janeiro, em comparação com outras metrópoles pelo mundo afora, bem como o peso comparativo desse custo sobre os salários médios dos brasileiros.
Mas até nesse quesito faltam dados importantes, como a porcentagem dos usuários de ônibus que têm vale transporte pago pelo empregador, os que pagam as passagens com desconto e os que arcam com a tarifa plena com seus próprios recursos diretos.
Provavelmente não é apenas por falta de interesse ou capacidade de investigação que a revista (onde supostamente repórteres e editores têm uma semana inteira para refletir sobre os dados disponíveis) não consegue traçar um cenário minimamente satisfatório de uma situação que preocupa grande número de seus leitores.
O texto manifesta três intenções muito claras: demonstrar que a maioria dos ativistas é formada por jovens universitários de classe média (não a classe emergente, mas aquela que tem uma renda mais elevada) e destacar a participação de militantes de partidos esquerdistas de pouca expressão eleitoral. A terceira intenção é mostrar que o aumento de 20 centavos no preço das passagens não pode ser a causa dos protestos.
Essa análise é baseada no fato de que a nova tarifa ficou abaixo da inflação no período e que há outros objetivos, ainda que obscuros, a levar manifestantes para as ruas. Ao conectar os dados numéricos sobre inflação e tarifa a técnicas de guerrilha supostamente usada nas passeatas e encerrar o parágrafo com declaração de um suposto integrante de grupo anarco-punk, a revista tenta demonizar todo o movimento.
O mal-estar difuso
Interessante que a revista Época precisou de seis jornalistas e pelo menos um editor para condensar e repetir informações e opiniões que já haviam sido publicadas pelos jornais ao longo da semana. Textos mais interessantes haviam sido ofertados pela Folha de S.Paulo,O Estado de S. Paulo e o Globo no sábado (15/6) e no domingo.
A diversidade dos manifestantes era clara, por exemplo, na reportagem da Folha intitulada “Ato contra tarifa une punks a ativistas do ‘paz e amor’”. O Globo já havia dado uma ideia dessa diversidade presente nas passeatas ao entrevistar uma das coordenadoras do movimento, uma jovem universitária que trabalha como garçonete. O título dessa reportagem do jornal carioca responde melhor à questão que a revista Época propõe mas não resolve: “Podemos ser qualquer pessoa”, diz a jovem.
De fato, a principal característica do movimento que sacode o marasmo deste Brasil que encontrou o caminho do bem-estar econômico é o fato de que ele representa a soma de todas as angústias e a sensação generalizada de incompletude provocada pela sociedade contemporânea. Se há um princípio gerador dos descontentamentos, ele pode ser identificado no esgotamento da democracia representativa como forma de organização política da sociedade.
Essa sensação engloba desde a feminista madura que participou das barricadas de 1968 até o jovem esquerdista que imagina estar produzindo uma revolução ao ver aberto o caminho para seu impulso de rebeldia – que tanto pode nascer de uma profunda consciência de cidadania como pode ser alimentado pelo furor de seus hormônios.
O problema é que entre eles e a Polícia Militar podem estar postados militantes de partidos inexpressivos que precisam exibir suas bandeiras às câmeras da mídia – e os saudosistas da ditadura militar que encontraram um abrigo na secretaria particular do governador Geraldo Alckmin, de onde podem planejar intervenções explosivas em meio à multidão. Não se trata de uma metáfora, mas de uma possibilidade real.
Na manifestação planejada para a tarde de segunda-feira (17/6) em São Paulo, o entendimento entre autoridades e líderes do movimento, que tira das ruas a tropa de choque, pode reduzir os riscos de violência, mas eles não deixam de existir.
Sentimentos difusos produzem as manifestações, mas interesses objetivos e concretos podem se apropriar delas. Ainda estamos lidando com o mal-estar na civilização, as instituições do sistema político e econômico não são capazes de responder às demandas da cidadania e essa simples verdade daria uma resposta mais completa à pergunta da revista Época: “Quem são eles?”
– Eles são todos nós.


Eles são todos nós e eles estavam lá, naquele início de 2003, em Brasília, na maior festa na praça que foi pensada e construída para o povo.

Eles estavam lá, conscientes ou não do conteúdo da Carta ao Povo Brasileiro ( compromisso com fundamnetos econômicos vigentes na época) que Lula e o PT assumiram, em 2002,  ainda antes das eleições.
 
Eles estavam lá, nos jardins , nas ruas , no banho no  lago, que a revista Isto É, em matéria de capa,  rotulou como um Woodstock a brasileira.

A esperança vencia o medo e os povos da America do Sul emitiam sinais de mudança.

Passaram-se dez anos, conhecidos na História instantânea como Os anos do Povo.

O Brasil mudou, a América do Sul também mudou, mas diferentemente de outros países da região, o Brasil foi o país que governado por partido de esquerda, menos se descolou do ideário retrógrado e nefasto do neoliberalismo.

Ainda assim, principalmente devido ao enorme e histórico atraso do país no campo social, os governos do PT conseguiram diminuir  a selvagem desigualdade, redistribuir renda e gerar empregos.

Dez anos depois, o povo volta às ruas.

Eles querem mais.

Querem mais avanços.

Vinte centavos de aumento nas passagens, mesmo que o governo aceite rever o aumento, não vai parar essa onda de indignação.

No OBSERVATORIO DA IMPRENSA, de hoje, Alberto Dines  escreveu que o pavio anda curto, no mundo e também no Brasil.

De fato, vinte centavos é apenas o início.

A insatisfação é bem maior.

Eles rejeitam esse modelo de mundo, onde tudo é mercadoria.

E o papel da grande imprensa, como sempre acontece quando se vê ameaçada em seus ideários, é o papelão de sempre.

Ontem, domingo de futebol no país penta campeão mundial, a rádio CBN, do grupo globo,  sempre que noticiava sobre as manifestações da semana atribuia as mesmas somente, e tão somente, a indignação de alguns grupos pelo aumento das passagens.

A intenção da grande imprensa em reduzir as motivações das manifestações é sintomática.

Os sempre  prestativos especialistas da grande imprensa ( cientistas socias e cientistas políticos) não deram as caras na mídia por esses dias.
 
Aliados aos partidos de oposição e defensores de idéias retrógradas e fracassadas, a grande imprensa sabe que está distante de um alinhamento com as manifestações no país, e teme que o governo do PT, mesmo também sendo alvo dos manifestantes, possa entender a situação, cooptar a insatisfação popular e redirecionar o país no caminho de uma democracia plena e socialmente justo.

A revista veja, em sua capa desta semana, não se arrisca em identificar os manifestantes, mas sugere uma pauta de reivindicações voltada, apenas, para atingir o governo federal.

Indícios de medo.
 
Não é mais a mobilidade das pessoas nas grandes cidades que está em jogo.

Enquanto existirem jovens ( não necessariamente de idade mas principalmente de idéias) lutando por sociedades mais justas, humanizadas e democráticas o povo estará sempre ao lado deles. 

Eles são todos nós.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Globo e o Povo, Nada a Ver

Hostilizado, repórter da Globo deixa protesto sob escolta no RJ   

Portal TerraAndré Naddeo  
Um repórter da TV Globo foi hostilizado e teve de ser escoltado por seguranças da emissora para não ser agredido na noite desta quinta-feira durante o protesto contra o aumento da tarifa de ônibus no Rio de Janeiro. Vandrey Pereira foi cercado por manifestantes, que arremessaram  um saco de lixo e diversas pedras contra o jornalista, que escapou ileso. "Por razões de segurança, vou ter que sair", disse o repórter, ao ser escoltado por dois seguranças.
Insatisfeitos com a forma como a TV Globo vem cobrindo o movimento, os manifestantes hostilizam os profissionais da emissora desde o início do ato desta quinta-feira. "Ei, Globo, vai tomar no c...", gritavam, enquanto uma repórter da emissora realizava uma entrevista. Os insultos também foram dirigidos ao comentarista global Arnaldo Jabor, que criticou veementemente o movimento em recente comentário no Jornal da Globo.
Repórter da Globo é hostilizado
Repórter da Globo é hostilizado
"Vem, vem para rua, vem contra o aumento..." e "O povo na rua, Cabral a culpa é sua" eram alguns dos cantos gritados pelos manifestantes, em meio a críticas expressas ao prefeito Eduardo Paes. Com os rostos cobertos com máscaras, dois integrantes do Movimento Anonymous Brasil, que declaradamente invadiu alguns sites do governo, declararam apoio in loco ao movimento. "O que os veículos de imprensa deixam de lado nós estamos fazendo pela sociedade."

As empresas globo estão sentindo na pele, não em pesquisas frias e manipuladas, o que a populção pensa sobre elas.

Em um passado distante, quando do suicidio de Getúlio, o povo foi para a porta do jornal o globo  e apedrejou as instalações do jornal pela campanha violenta e mentirosa que o veículo terrorista dos marinhos fazia contra Getúlio.

Ontem, o repórter mauricinho do RJ TV, telejornal que manipula e omite informações referentes a cidade e ao estado do Rio de Janeiro, teve que sair correndo do local das manifestações para não ser alvo dos manifestantes.

Hostilizado e xingado, o jornalista da globo, assim como as empresas globo, fazem parte do escopo de tudo aquilo que a população não mais aceita e clama por mudanças.

O ônibus da globo foi ocupado por um povo alegre e contente , que atropela indiferente todo aquele que tentar impedir seu caminhar.
 

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Quem Sabe Faz a Hora

Sugiro ao caro leitor a leitura atenta dos três artigos a seguir. Certamente existe muito em comum entre as três abordagens, o que pode apontar para as motivações dos protestos, assim como sobre novos caminhos a percorrer.

 

 1 - Raízes da privatização do Maracanã e do Pacaembu

Um sentimento de tristeza invade aqueles que sinceramente se preocupam com os destinos de nosso futebol. Talvez uma das primeiras medidas que virá seja a mudança do nome dos locais, para oferecer a contrapartida de imagem para alguma megacorporação que participe financeiramente do empreendimento.

Ao longo das últimas décadas a sociedade tem experimentado um processo crescente de generalização dos movimentos de mercantilização. Tudo - literalmente tudo - deve acabar se transformando em mercadoria. E essa tendência vai desde os serviços públicos até as relações pessoais, passando por um sem número de aspectos de nossa vida em sociedade. Cada vez se torna mais extenso o rol das relações que passam a ter o seu custo calculado, o seu preço determinado e as suas condições de transação estipuladas. Vivemos em um mundo onde cada gesto parece fazer parte de um contrato onipotente, com um conjunto de regras a serem bem observadas. Em geral, discorrendo sobre custos e benefícios.

A generalização das formas capitalistas de organização da sociedade amplia os horizontes de acumulação. Do ponto de vista geográfico, a globalização se encarrega de incorporar novas áreas, países e regiões ao padrão hegemônico da economia dos tempos de hoje. Do ponto de vista estrutural e institucional, cada vez mais formas de sociabilidade são transformadas em espaços de produção e de acumulação de capital. Isso vale, por exemplo, para atividades culturais, uma vez que para a maioria dos indivíduos resta apenas a postura do consumidor a pagar por um espetáculo de música, a comprar livros como produtos baixados da internet, adquirir os ingressos para a sessão de cinema ou pagar pelos tíquetes de acesso ao museu. O mesmo raciocínio se aplica às atividades de lazer, pois a tendência agora é de se pagar para usufruir de espaços como parques públicos, jardins zoológicos, jardins botânicos e similares. As atividades esportivas, sejam elas como praticante ou como espectador, tampouco escapam à lógica mercantil e tudo passa a ser determinado por critérios como renda, preço, demanda e oferta. Paga-se tanto a mensalidade da academia de ginástica quanto a do canal de esportes da TV a cabo.

Mercantilização e futebol
Para um país com as características como a do Brasil, o futebol termina por se converter em elemento de sincretismo dessas 3 características: i) esportiva; ii) cultural; e iii) de lazer. E o processo de mercantilização passa a dominar o conjunto das relações no âmbito do universo dessa modalidade, que veio importada da Inglaterra, saudado pelos antigos radialistas como o “esporte bretão”. Pode-se afirmar que o futebol é um retrato bastante adequado da realidade social e econômica de nosso país. Ele escancara os abissais desníveis de renda entre indivíduos e grupos sociais realizando o mesmo tipo de tarefa. Sob o falso manto do discurso a respeito da “igualdade de oportunidades”, fica evidente que apenas uma fração mínima dos meninos e jovens de talento futebolístico consegue construir uma carreira profissional. E nessa busca de trajetos exitosos, os ganhos ficam quase todos retidos nas mãos de atravessadores e aproveitadores.

A mercantilização no interior do mundo futebolístico é uma constante. A começar pelo próprio ator fundamental - figura sem a qual nada pode ocorrer - o jogador. Eles são “comprados” ou “vendidos” como simples mercadorias, cujos preços são cotados em mercados de esfera nacional ou internacional. Assim, a cada semana são quebrados recordes e mais recordes a respeito dos valores milionários envolvendo as negociações dos contratos dos jogadores – expressos em dólares, em euros, em ienes ou em reais, se a compra-venda ocorrer entre clubes brasileiros. Procedimento semelhante ocorre nas transações envolvendo os passes dos treinadores das equipes, que também perambulam pelos continentes em busca de maior remuneração e reconhecimento.

O mundo futebolístico e os recursos milionários

Ora, um setor que movimenta recursos dessa monta só se viabiliza com a existência de fontes de financiamento e de fornecimento de fluxos de dinheiro para manter tamanha máquina em funcionamento. As receitas provêm, em grande parte, das campanhas publicitárias e da propaganda associadas às imagens dos jogadores e dos times junto ao grande público. Há fortes indícios de que esquemas ligados às máfias globalizadas e à lavagem de dinheiro em esfera internacional estejam também fortemente envolvidos na atividade futebolística. Os valores bilionários permitem a difusão das imagens por todos os espaços dos meios de comunicação: televisão, rádio, internet, jornais impressos, revistas especializadas em esportes ou não, propaganda de rua, etc. E nesse jogo tudo é objeto de comercialização: empresas aéreas, bebidas alcoólicas, veículos, produtos eletrônicos, empresas de telefonia, artigos esportivos, cartões de crédito, refrigerantes, artigos masculinos, bancos, propaganda governamental, entre tantos outros.

Quem assiste a uma emissão desse gênero pela TV fica impressionado com a capacidade criativa dos geradores de espaços para publicidade. Vale tudo! Imagens virtuais criadas por recursos tecnológicos, dando a falsa impressão de suportes para marcas conhecidas no gramado. Os corpos dos jogadores tomados por propaganda em cada milímetro quadrado da camiseta, do calção, da meia, da chuteira, quando um ou outro não termina exibindo uma camiseta agradecendo a alguma entidade divina pelo gol que acabou de marcar. Os treinadores e os integrantes da comissão técnica também são chamados a colaborar com seus uniformes. Vale lembrar, além disso, que todas as entrevistas devem ser realizadas com os indivíduos voltados de costas para painéis recheados com logotipos de todos os patrocinadores. Os árbitros também são obrigados a fazer publicidade, com renda revertida para as respectivas federações ou confederações. Até mesmo a bola é objeto de disputa intensa entre os concorrentes em busca por espaço visual.

Futebol: poder, dinheiro e comunicação
A ampliação do processo de mercantilização conta com forte apoio dos Estados nacionais e de seus governos, em especial aqui no Brasil. Futebol é sinônimo de poder e de dinheiro. Futebol rima com popularidade e ascendência sobre parcela expressiva da população. O coquetel para o uso político está pronto! Clubes de futebol contam incentivos de toda ordem, inclusive a isenção de impostos e da contribuição previdenciária. As contas das associações, federações e confederações esportivas em geral são sabidamente verdadeiras caixas-pretas, e os escândalos que surgem periodicamente funcionam como prova desse tipo de descontrole e foco de corrupção. Aliás, nesse quesito as entidades vinculadas ao futebol merecem destaque especial.

Com todo esse esquema montado, surgem também os mecanismos de exploração da divulgação das imagens pelo veículo ainda mais utilizado: a televisão. E aqui os escândalos são ainda mais evidentes. O país onde o futebol é tão popular se permite aceitar regras em que haja monopólio de transmissão de imagens, com evidência de manipulação de horários e datas de certames para favorecer as condições de audiência da rede controladora. A coisa chega a um limite tão assustador em que a própria transmissão de jogos da seleção brasileira seja submetida a tal excrescência. Tudo se calcula com base em contratos milionários, com direitos a terceirização, sempre de acordo com o cálculo financeiro embutido. Um absurdo completo! Qualquer jogo da seleção é patrimônio da União e a obrigação do Estado é deixar a imagem aberta e livre para quem quiser transmitir!

A privatização dos estádios
E finalmente chegamos à cereja do bolo. Dadas as raízes de todo esse processo de mercantilização, agora vem à tona um fenômeno carregado de forte significação. Trata-se da privatização daquilo que ainda restava como resquício simbólico da presença pública no futebol brasileiro. Sua história tem uma relação profunda com o estádio que foi durante décadas - e ainda continua sendo - o símbolo desse esporte. O Maracanã foi especialmente construído para a Copa do Mundo de 1950, evento que o Brasil acolheu. Desde sempre foi um espaço quase-sagrado para todo tipo de jogos: seleção brasileira, campeonato regional e campeonato nacional. Foi concebido como um espaço público e foi mantido como instituição sob responsabilidade do Estado. Leitura semelhante pode ser feita com relação ao estádio do Pacaembu, em São Paulo. Inaugurado uma década antes que o gigante carioca, desde 1940 ele carrega na própria estrutura a marca de “estádio municipal”, pois sempre pertenceu à Prefeitura de São Paulo.

Não por acaso essa tendência privatista se confirma no ano da Copa das Confederações e no que precede a Copa do Mundo. A postura de completa submissão do governo brasileiro face aos mecanismos criminosos do submundo das entidades nacionais e internacionais do futebol opera como uma espécie de chancela às falcatruas e de porteira aberta para esse jogo de vale-tudo. Ora, o governo aceitou todas as condições para trazer os eventos para cá, a ponto de enviar ao Congresso Nacional um conjunto de medidas que criavam um vácuo jurídico em nossa legislação para o período das competições organizadas pela FIFA. Entre tantos casos, registre-se a autorização excepcional de propaganda de bebida alcoólica e a mudança nas regras para meio-ingresso.

Em meio a esse verdadeiro tsunami com raízes na mercantilização, os 2 estádios símbolos da história de nosso futebol serão privatizados. No caso carioca, a decisão foi por oferecer a um amigo do rei a gestão de um estádio novinho em folha, todo reformado com recursos públicos. Ou seja, a oferta de uma máquina azeitada e em condições de arrecadar receitas por décadas. Em São Paulo, a Prefeitura do PT toma iniciativa idêntica, talvez inspirada pelo sugestivo exemplo do Governador Cabral do PMDB.

Um sentimento de tristeza invade aqueles que sinceramente se preocupam com os destinos de nosso futebol. Talvez uma das primeiras medidas que virá seja a mudança do nome dos locais, para oferecer a contrapartida de imagem para alguma megacorporação que participe financeiramente do empreendimento. E também a mudança do substantivo “estádio”, pois isso representaria o atraso, nos traz à lembrança décadas de presença pública na atividade esportiva. Não! Agora o símbolo da pseudomodernidade é chamar o espaço de “arena”, tal como começa a se generalizar pelo mundo afora. Termo que tão bem sintetiza tudo o que existe de mercantil, de financeiro e de espoliador no padrão empresarial do futebol contemporâneo.

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.
Fonte: CARTA MAIOR

2 - Sopro de primavera antes da   festa da Fifa

A indignação, sobretudo da juventude, aumenta na proporção inversa da falência da política tradicional, que virou uma despachante de interesses privados incapaz de responder aos problemas da população
14/06/2013

Daniel Cassol

A história se repete. Em Porto Alegre, a primeira reação da parcela graúda da imprensa foi desqualificar os protestos contra o aumento da passagem de ônibus e inflacionar os episódios de vandalismo, ignorando a motivação dos que se manifestavam. Só que a cada novo ato havia mais gente na rua, mesmo com o aumento da repressão policial. Até que a parcela graúda da imprensa resolveu tentar entender porque os jovens estavam se manifestando, para não ficar falando sozinha. Já era um pouco tarde.
Em São Paulo, na noite desta quinta-feira, vivia-se ainda a fase em que a parcela graúda da imprensa fala sozinha e mostra que não enxerga um palmo a frente do nariz. A Polícia Militar instala o caos, prende pessoas por porte de vinagre, agride jornalistas, atira balas de borracha contra quem está ajoelhado pedindo calma. Mijam sobre as pessoas e a imprensa diz que é chuva. Mas o protesto foi maior, a população se indignou com a violência e a cobertura já mudou.
Os discursos foram parecidos, repetiram-se as polêmicas sobre os limites dos protestos, como se fosse possível organizá-los como se organiza uma quermesse. Em Porto Alegre, a Justiça acabou determinando a suspensão do aumento, a prefeitura acatou a decisão e as manifestações, em parte, arrefeceram. Em São Paulo pode acontecer o mesmo, mas isso já não é mais importante. O alto custo e a má qualidade do transporte coletivo nas grandes cidades viraram mero detalhe nessa história.
As manifestações, que se iniciaram pela causa específica do aumento da tarifa do transporte coletivo, têm como pano de fundo esse processo que vai tornando as cidades cada vez mais hostis para as pessoas. Gentrificação, elitização, higienização, cada um nome dá o nome que quiser. As cidades estão se tornando lugares onde trafegam carros, se erguem empreendimentos imobiliários, os pobres são mandados para longe e tudo o mais é proibido. As pessoas estão se sentindo sufocadas e a reação óbvia é que cada vez mais estão indo para as ruas – a maior arquibancada do Brasil.
A truculência com que agiu a Polícia Militar de São Paulo veio mostrar que o Estado de exceção não é um exagero ideológico.  Ele ficou escancarado, como se fosse preciso, na detenção e agressão desavergonhada contra jornalistas (em tese, a polícia teria mais pudores em agredir a imprensa, mas não).  Esse Estado de exceção faz, inclusive, com que as manifestações ganhem novo significado. E tudo isso tem a ver com a Copa do Mundo e com a Copa das Confederações, que começa neste fim de semana.
Porque a organização brasileira para estes megaeventos esportivos não é nada mais do que um catalisador deste processo de exclusão violenta que vem ocorrendo nas grandes cidades e sufocando as pessoas. E que vem sendo utilizada como pretexto para a limpeza social e para a implementação de várias medidas que devem ser chamadas pelo que são: autoritárias.
A tentativa de proibir o acarajé e as festas juninas foi uma brincadeira de criança. Há coisas muito mais graves avançando a passos largos em esferas oficiais. Deve ser votado até agosto deste ano um projeto de lei que pode tipificar ações de movimentos sociais como terrorismo – vinagre, então, será considerada arma química. Outra proposta em tramitação no Senado quer definir alguns tipos de crimes que não poderão ser cometidos especialmente durante o período da Copa, incluindo “limitações ao exercício do direito de greve”. Em Minas Gerais, a Justiça já proibiu a realização de dois sindicatos nestes dias de Copa das Confederações. Tudo para o país ficar pronto para a “Copa de todos”.
Por isso, não enxerga um palmo à frente do nariz quem continua achando que os manifestantes que estão aparecendo nas capitais brasileiras são vândalos sem nada melhor para fazer ou que estão simplesmente protestando pela redução na tarifa do transporte coletivo. As manifestações já não são mais – se é que um dia foram – só por causa da passagem. O que já foi chacota hoje é virtude: protesta-se contra tudo que aí está. Seja na Avenida Paulista, seja nas vilas removidas. Contra o aumento, contra remoções forçadas, contra a derrubada de árvores. As pessoas estão se manifestando, basicamente, pelo direito de viver na cidade. E quase sempre alheias aos partidos, que, assim como a parcela graúda da imprensa, não sabem o que acontece nem na própria rua.
Qualquer semelhança com o que ocorre em outras partes do mundo não é coincidência. A indignação, sobretudo da juventude, aumenta na proporção inversa da falência da política tradicional, que virou uma despachante de interesses privados incapaz de responder aos problemas da população. Há um sopro de primavera no Brasil. E até a Copa, tenham certeza, vai ser maior.
Publicado originalmente no Impedimento.org.
Fonte: BRASIL DE FATO 

3 - Em São Paulo, vinagre dá cadeia

Por Piero Locatelli em 14/06/2013 na edição 750
Reproduzido da CartaCapital, 14/6/2013; intertítulos do OI

 
Eu comprei uma garrafa de plástico de 750ml de vinagre por menos de dois reais nesta quinta-feira 13. Fui a um mercado no caminho para a manifestação contra o reajuste das passagens, que iria cobrir para o site da revista.
Explico o porquê.
Acompanhei o primeiro protesto de perto na semana anterior. Na avenida Paulista, tive contato com bombas de gás lacrimogêneo. No dia seguinte, pela manhã, tinha a impressão de que havia passado um ralador em meu nariz e em meus olhos.
No segundo protesto, na última sexta-feira (7/6), manifestantes que seguiam pacificamente foram recebidos com mais bombas na zona oeste da cidade. No meio do ato, uma pessoa só com os olhos de fora espirrou vinagre na minha camiseta, dizendo para eu respirar e me cuidar.
Foi quando descobri que o vinagre atenua os efeitos do gás lacrimogêneo. O exemplo da manifestante desconhecida me fez ser mais precavido desta vez. Nesta quinta-feira, desembarquei do ônibus em frente ao metrô Anhangabaú. Ao chegar, vi dois estudantes sendo presos. Perguntei ao policial o que eles portavam. Ele falou em “artefatos”, sem especificar. Os presos responderam que era vinagre.
Eu não sabia que o mesmo iria acontecer comigo logo em seguida. No viaduto do Chá, a caminho da Praça do Patriarca, para onde os estudantes haviam sido levados, me deparei com jovens sendo revistados. Liguei a câmera do celular para filmá-los, quando gravei o seguinte diálogo:
SD PM Leandro Silva: Tira a sua [mochila] também.
Piero: Eu sou jornalista, amigo. Você quer a minha identificação?
SD PM Leandro Silva: Não, não. Não precisa não.
Piero: Tem vinagre aqui dentro. Tem algum problema?
SD PM Leandro Silva: Tem. Vinagre tem.
Piero: Por quê?
SD PM Leandro Silva: Pode ir lá [ser revistado]
Em seguida, minha mochila foi aberta enquanto eu continuava filmando (como é possível ver no vídeo) e pedia para pessoas próximas fazerem o mesmo. Questionei algumas vezes qual lei, norma ou portaria proibiria o porte de vinagre, mas não obtive resposta.
Abuso de poder
No caminho, tive a oportunidade de ligar para uma amiga, também jornalista, que estava indo ao ato. Disse a ela que estava sendo levado à praça do Patriarca.
Em seguida, continuei gravando. Foi este meu último diálogo com os policiais antes de ser colocado contra a parede de uma loja fechada na praça:
SD PM Pondé: Tá gravando aí, irmão?
Piero: Tô. Sou jornalista, amigo.
Cap. PM. Toledo: Vinagre... Pode ficar ali com a mão para trás.
Piero: Como é que é? Eu estou sendo preso? É isso?
Cap. PM. Toledo: Pega e fica ali com a mão pra trás! Coloca a mão pra trás aí! Mão pra trás! Mão pra trás e pega a sua bolsa! Mão pra trás!
Fiquei com a cara colada contra a parede. Enquanto isso, meu gravador permaneceu ligado em meu bolso. Este é um dos diálogos captados:
Policial homem não identificado pela reportagem: Encosta na parede! (2x) Mão pra trás! Coloca a mão pra trás! Mão pra trás!
Mulher: Para de me agredir. (2x) Você é homem.
Policial homem não identificado pela reportagem: Cala a boca! (3x)
Mulher: Para de me agredir. Eu não fiz nada (3x)
Policial homem não identificado pela reportagem: Quer uma policial feminina pra te agredir? Tá com spray!
Mulher: Eu não tô com spray! (2x)
Homem (policial?): Cala a sua boca! (3x)
Na sequência, a mesma mulher detida fala baixo com uma colega:
Mulher detida 1: O que ele fez com você?
Mulher detida 2: Ele me bateu com o cassetete.
Mulher detida 1: Onde?
Mulher detida 2: Em tudo. Na minha barriga, nas minhas costas.
(...)
Mulher detida 2: Ele me bateu, ele me agrediu, eu não fiz nada. Eu tava respeitando ele (2x). Ele tem que me respeitar. Eu sou uma cidadã.
Mulher detida 1: Calma. Calma. Calma. Ele não vai te respeitar porque ele tá passando dos limites. Isso é abuso de poder. Calma.
Histórias distintas
Logo após ter sido colocado contra a parede, estive ao lado de um fotógrafo, conhecido de outras pautas. Ele percebeu os flashes na parede em que nos escorávamos, disse que havia fotógrafos atrás de nós.
Eu tentei virar para ver se havia conhecidos. Não via ninguém e era recebido com gritos de policiais que me mandavam olhar para frente novamente e “não arranjar problema”.
Na terceira vez que virei, vi ao longe outro colega. Gritei o nome dele e fui colocado novamente contra a parede. Esses jornalistas se comunicaram novamente comigo por duas vezes. Na primeira, gritaram para eu virar e tirar uma foto. Na segunda, que haviam conseguido um advogado para mim.
Fui jogado em um ônibus da Polícia. Tentei perguntar por que eu havia sido preso e para onde eu estava sendo levado. Mais uma vez, não obtive resposta.
Dentro do veículo, policiais diziam que, caso houvesse pedras, era para seguir dirigindo. As ruas eram abertas por batedores, algumas motos que seguiam à frente.
Ao meu lado estava uma menina, pré-vestibulanda, que me perguntou cochichando porque estavam tirando fotos de mim no ônibus. Eu expliquei que era jornalista e aqueles eram amigos. Ela disse que “ao menos eu ia poder escrever sobre o que aconteceu, os outros não poderiam fazer o mesmo”. Falei que estávamos presos pelo mesmo motivo.
O ônibus da polícia seguiu por um caminho longo até o 78º DP, nos Jardins. Fomos colocados em fila para a revista. Pedi para colocar a blusa e um policial negou, dizendo que dali a pouco ia “ficar quente”.
Em seguida, finalmente explicaram porque estávamos ali. A delegada dizia que não estávamos presos, estávamos “sob averiguação”. Eu não sei a diferença. Tinham me levado para um departamento policial à força e não me diziam o motivo. Os meus documentos tinham sido retidos pela polícia.
Iriam fazer um Boletim de Ocorrência para todos os presentes. Segundo disseram os policiais, todos os outros (cerca de quarenta pessoas, nas minhas contas) haviam sido levados por conta do vinagre. A exceção era um que havia sido pego com entorpecentes.
Uma vez dentro da Polícia Civil, fui bem tratado. Vários policiais me perguntavam o que eu estava fazendo com um vinagre na mão. Eu tentava explicar e eles, incrédulos, não sabiam que o problema era justamente uma garrafa de vinagre. Cerca de duas horas após ser detido, fui liberado com a chegada de advogados. Deixaram que eu levasse o vinagre.
O fato de eu ser jornalista amenizou os problemas causados pela ação da polícia. A delegada chegou a me perguntar por que eu não havia me identificado como jornalista à Polícia Civil. A minha redação me disponibilizou um advogado e tentou contatar quem fosse possível. Meus amigos e outros colegas foram solícitos, mostrando o meu caso em redes sociais. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) fez um comunicado falando da minha prisão, que foi reproduzido pelos maiores veículos do País.
Sou grato a todos eles por terem me ajudado. Só lamento que as histórias de todos os outros não tiveram a mesma conclusão. Ir e vir com garrafas de vinagre deveria ser um direito de todo cidadão.

Fonte; OBSERVATORIODAIMPRENSA

E então, leitor, gostou ?

Estamos assistindo manifestações que revelam o descontentamento da população com as políticas neoliberias dos governos.

Não está em questão se são governos de esquerda ou de direita, do PT ou do PSDB, mas sim sobre um modelo que escancara seu esgotamento pelo mundo.

As privatizações do Maraca e do Pacaembu, alardeadas pelos decibéis idiotas de Galvão Bueno e Globo como sendo parte de um processo civilizatório, se revelam exatamente o contrário.

Como bem descrito no artigo 2 acima, estamos assitindo um processo de higienização e exclusão de uma grande parcela da população, independente das ações do governo federal com programas para redução da pobreza e da miséria.

Programas, aliás, que tem adiado a entrada do Brasil no cenário dos grandes movimentos occupy e de primavera que varrem o mundo.

Nesses dez anos de governo do PT, as políticas e programas conseguiram reduzir, em parte, os profundos estragos causados pelos governos do PSDB na década de 1990, entretanto não alteraram a essência da lógica neoliberal, o que agora, também por aqui na América Latina, revela seu esgotamento.

Os manifestantes  de São Paulo, Rio e Porto Alegre, sentem-se alijados de suas próprias cidades, já que os espaços públicos e serviços essencias à população estão cada vez mais dominados por uma lógica de lucro.

O corte de uma árvore que desencadeou inúmeros protestos foi apenas a gota d'água.

Derrubam-se árvores diariamente por todos os lados, todos os dias, todos os anos.

O estado enquanto um balcão de negócios distante do povo e a democracia representativa não servem mais.

O que está nas ruas do país pode ser o início de um grito por mudanças, mas não mudanças superficiais, mudanças estruturais e de fundo.

E aí surge o papel da imprensa , na cobertura das manifestações.

Sabidamente contrária aos governos do PT, a grande imprensa , fez, faz e fará de tudo que estiver a seu alcance para desvirtuar os fatos, desinformar, omitir, e , ainda mais, incitar conflitos que possam desestabilizar o governo federal.

Não será com o retorno dos ardiptecus ramidus do PSDB e da oposição, como deseja  a imprensa que trabalha para desvirtuar os fatos,  que  as mudanças que a população deseja virão.

Pelo contrário, o retorno da oposição ao poder irá aprofundar ainda mais as tensões existentes na sociedade, aumentando toda forma de violência contra a população, seja através da adoção radicalizada do modelo economico vigente, seja atrávés da violência policial, seja através da contenção da democracia.

Como bem citou Leblon, ontem em artigo em CARTA MAIOR, a solução é mais e mais democracia , o que vai de encontro ao desejo dos manifestantes.

Para isso o governo do PT deve entender a hora, se aproximar do povo, romper com a lógia neoliberal e redirecionar a roda da História.

Caso contrário, oportunistas de plantão podem cooptar as insatisfações legítimas da população e, mesmo através da farsa democrática vigente,  levar o país para anos de retrocesso.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Irresponsabilidades

Jussara Pimenta: “Agradecemos muito à Uerj pela colaboração”

publicado em 12 de junho de 2013 às 10:33
por Jussara Pimenta, via Facebook
Como é que é? Colaboração? Como assim? Não estão pagando nada à UERJ? Ganham rios de dinheiro com a Copa das Confederações e não vai um centavo para a universidade?????? Deviam estar era pagando pela utilização do espaço PÚBLICO.
Do site do SporTV, reprodução parcial:
- O canal mais do que nunca merece o nome de “Canal Campeão”. É a abertura oficial da cobertura na Copa das Confederações e a inauguração do nosso estúdio envidraçado. Agradecemos muito à Uerj pela colaboração. Ter o Maracanã como nosso cenário, em um momento em que a Copa das Confederações se aproxima no Brasil, torna o programa muito especial – disse o apresentador do programa, Galvão Bueno.
Programa Bem, Amigos (Foto: José Geraldo/SporTV.com)
Foto: José Geraldo/SporTV.com
O cenário que abrigou o “Bem, Amigos!” nesta segunda-feira será palco também de um novo programa diário do Canal Campeão, o “Seleção SporTV”, com todos os detalhes da competição que promete mexer com o torcedor brasileiro. Por falar no cenário, ele levou cerca de dez dias para ficar pronto, mas o estúdio na Uerj começou a ser montado há um mês, e que foi colocado na cobertura de um dos prédios através de um guindaste. O departamento de projetos especiais do SporTV garimpou o entorno do estádio para encontrar o melhor local.
PS do Viomundo: Sempre estranhamos isso. Em Nova York qualquer gravação em espaço público resulta no pagamento de valor determinado à Prefeitura. O usuário arca também com os custos da hora extra de policiais, limpeza, prejuízo a lojistas, etc. Sendo a Uerj pública, deveria receber da Globo.

Não sei exatamente onde foi colocado o estúdio para que Galvão e seus comentaristas possam dizer suas bobagens.

Entretanto, dependendo do lugar, o estúdio pode afetar os equipamentos, com interferências indevidas, dos laboratórios de biologia e química.

Apenas para ter o maracanã ao fundo ,a UERJ não poderia permitir a instalação do estúdio em local que pudesse causar danos nos equipamentos da universidade.