sexta-feira, 17 de maio de 2013

Apocalipse Neoliberal

Eduardo Guimarães: JN transforma notícia boa em desgraça

publicado em 16 de maio de 2013 às 16:47

Por que fracassará o terrorismo econômico do PSDB e da mídia
por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania
No mesmo dia do mês passado em que o país recebeu uma excelente notícia sobre a sua economia, o Jornal Nacional a transformou em notícia ruim de forma a não destoar do noticiário maníaco-depressivo com que a mídia de oposição ao governo federal vem tentando convencer o país de que estamos à beira da ruína econômica.
Em 25 de abril último, o site da Presidência da República anunciava que o Desemprego no Brasil em março fora “O menor da série histórica iniciada há 12 anos”, segundo IBGE. A notícia foi publicada às 16:02 hs. Às 21:12 hs., porém, o site do Jornal Nacional reproduzia manchete que fora vocalizada minutos antes pelo âncora Willian Bonner: “Taxa de desemprego no Brasil sobe para 5,7% em março”.
O cidadão que só se informou sobre o assunto através do principal telejornal da Globo certamente ficou achando que a situação do emprego piorou no país, sobretudo se só assistiu à “escalada” (o que seja, o anúncio das principais notícias do dia) que o casal de apresentadores do informativo Global apresenta no início de cada edição.
Mesmo que o telespectador do JN tenha assistido à curta notícia sobre o desemprego que Bonner veiculou pouco depois e não apenas à manchete durante a “escalada”, se não entender de economia deve ter ficado com a impressão de que a notícia era ruim.
Veja, abaixo, a íntegra do texto que Bonner recitou.
“A taxa de desemprego subiu para 5,7% em março. Mesmo assim, o resultado foi o melhor para o mês desde 2002, quando o IBGE passou a utilizar a metodologia de pesquisa atual. Número de pessoas empregadas no país ficou estável. Mas, em São Paulo, houve queda de 1,3%, devido, principalmente, a demissões na indústria”
A notícia, como foi dada pelo JN, induz o público a erro. A notícia era – e continua sendo – excelente. Desde que o IBGE começou a apurar o desemprego no Brasil com nova metodologia – o que ocorreu em 2002 –, março de 2013 teve a taxa mais baixa em relação a todos os outros meses de março desses 12 anos.
Realmente o desemprego em março subiu em relação a fevereiro – foi de 5,7% no mês passado e de 5,6% no mês anterior. Contudo, relevar na “escalada” do telejornal uma alta de 0,1 ponto de um mês para outro é uma evidente manipulação da notícia.
Mas o pior é que, apesar de Bonner ter informado, muito rapidamente, que 5,7% foi a menor taxa de desemprego para um mês de março, ele fechou a notícia com um dado irrelevante sobre a redução do emprego em São Paulo.
Ora, por que o desemprego de São Paulo? E o dos Estados em que caiu acima da média nacional, por que não citar? Como se vê, é uma mera escolha que a redação do JN fez ao contrapor duas “más” notícias a uma boa.
Essa tática já fora usada no mês anterior. Na mesma época do mês de março, a Globo também veiculou que o desemprego “subiu” em fevereiro, quando, na verdade, aquele mês também teve a menor taxa para um fevereiro desde 2002, sempre segundo o IBGE.
O terrorismo com que Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja e seus satélites tentam piorar a percepção da sociedade sobre a situação econômica do país valendo-se de artifícios desonestos como esse supracitado é tão escandaloso e tem um viés político-eleitoral tão claro que na edição da Folha de quinta-feira 16 de maio o dito “decano do colunismo político nacional”, Janio de Freitas, perdeu a paciência.
Apesar de alguns blogs já terem reproduzido essa coluna de Janio, antes de prosseguir na análise reproduzo-a também (abaixo) não só para quem não leu em outra parte, mas para ilustrar o absurdo de uma campanha literalmente terrorista e mentirosa com que esse setor da mídia tenta influir na política brasileira em favor dos partidos de oposição a ela aliados.
FOLHA DE SÃO PAULO
16 de maio de 2013
Janio de Freitas
O terrorismo do noticiário econômico martela; não sei dizer se o governo está aturdido com isso
Liguei o rádio no carro. Entrou de sola: “é crucial e não é bom!”. Um susto. O que seria assim dramático? A caminho do almoço, o susto devorou o apetite. Claro, era mais um dado da realidade terrível que o Brasil vive. As vendas no comércio de varejo, no primeiro trimestre ou lá quando seja, caíram a barbaridade de 0,1%.
O comércio vendeu, no período, menos R$ 0,10 em cada R$ 100. Pois é, crucial e nada bom.
Os preços, como o seu e o meu bolso sabem, vêm subindo à vontade há tempos, o que fez com que o comércio precisasse vender muito menos produtos para completar cada R$ 99,90 do que, na comparação com o passado, precisara para vender R$ 100. Mas, na hora, não tive tempo de salvar o apetite com esse raciocínio, porque à primeira desgraça emendava-se a notícia de outra. A queda desanimadora nas vendas para o Dia das Mães, comparadas com 2012: queda de 1%.
É preciso lembrar o quanto os consumidores encararam em aumentos de preços de um ano para cá? O comércio brasileiro está lucrando formidavelmente, com o maior poder aquisitivo das classes C, D e E, aplicado na compra dos tênis aos eletrodomésticos, dos móveis às motos, quando não aos carros.
O terrorismo do noticiário e dos comentários econômicos martela o dia todo. Não sei dizer se o governo está aturdido com isso, como parece das tão repetidas quanto inconvincentes tranquilizações do ministro Guido Mantega. Ou se comete o erro, por soberba ou por ingenuidade, de enfrentar a campanha que está, sim, fazendo opinião.
Daí que me permito duas sugestões, se v. quer elementos para formar sua própria opinião. O primeiro é a leitura, disponível no site da Folha (folha.com/no1278158), de um artigo muito importante, publicado no caderno “Mercado” de terça-feira. Seu autor é Bráulio Borges, mais um economista que escreve em português (um dia chegaremos à primeira dúzia).
Em “Pós-crise de 2008, debate mundial começa a reavaliar velhas ideias’”, Borges mostra que as cabeças mais relevantes da “ciência econômica” estão derrubando as teses de política econômica ainda predominantes e adotadas pelos economistas e outros contra as linhas básicas da política econômica no Brasil.
A outra sugestão é para que v. comece bem as quartas-feiras. Se lhe ficam ainda reservas vindas de longe, releve-as e leia os artigos em que Delfim Netto tem dito muito do que precisa ser dito para fazermos ideia de onde e como estamos, de fato. Descontados, pois, terrorismos e eleitorismos. Ou, no caso, são a mesma coisa?
E como crucial vem de cruz, não se esqueça: enquanto o papa Francisco não chega, reze pelos nossos comerciantes, para que recuperem suas perdas.
Janio acha que a campanha terrorista praticada pelo jornal para o qual escreve e pelo resto desse setor da imprensa de forma a ajudar a oposição nas eleições do ano que vem “Está, sim, fazendo opinião”, ou seja, está convencendo a sociedade de que o país vai muito mal, obrigado.
Além disso, o “decano do colunismo político nacional” também afirma que essa desinformação estaria tendo sucesso por “Soberba ou por ingenuidade” do governo Dilma Rousseff.
Concordo com Janio quando se queixa do imobilismo do governo diante de uma campanha imoral de desinformação que está sendo martelada sem parar pelas empresas de comunicação já mencionadas. Contudo, tenho minhas dúvidas de que tal campanha esteja funcionando.
Além da quase inacreditável boa situação do emprego no Brasil em um mundo em que o desemprego campeia e convulsiona sobretudo os países mais desenvolvidos e ricos, a renda das famílias e sobretudo dos trabalhadores não para de crescer.
Um dado até mais importante do que o nível de emprego crescente é o crescimento do rendimento médio do trabalho apurado pelo IBGE nas seis regiões metropolitanas em que o instituto atua – Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
A Pesquisa Mensal de Emprego – PME do IBGE revela que o rendimento médio do trabalhador deu um salto do ano passado para cá. De fevereiro de 2012 para fevereiro de 2013, os salários efetivamente recebidos (o valor líquido que chegou às mãos e bolsos do trabalhador) continuaram crescendo.
Entre 2012 e 2013, os empregados dos setores público e privado tiveram, em média, seus rendimentos aumentados de R$ 1.703,80 para R$ 1.840,20, o que representa um crescimento salarial de 8% (!).
A tese do governo Dilma, com a qual concordo em parte, é a de que o que o brasileiro sente no bolso anularia o que a mídia lhe diz sobre sua situação.
Apesar de o Jornal Nacional e o resto da mídia oposicionista pintarem um país em ruínas, hoje há emprego para quem quiser trabalhar e os salários não param de subir, apesar de quedas sazonais serem apresentadas como “Tendência de interrupção do processo de valorização monetária da mão-de-obra no país”.
Entende-se a aflição de Janio de Freitas. É duro para um sacerdote do bom jornalismo como ele ver seu ofício ser cotidianamente estuprado por empresários de comunicação que há muito abandonaram a missão de informar, convertendo seus veículos em agências de propaganda político-ideológica.
Todavia, terrorismo macroeconômico e midiático não é novidade no Brasil. Foi praticado antes contra o governo Lula e em condições até mais favoráveis para os terroristas midiáticos
A atual crise econômica internacional estourou em 2008, quando os EUA deixaram o banco dos irmãos Lehman quebrar. O desemprego no Brasil, então, chegou a subir por dois ou três meses. A investida midiática foi pior, mas não funcionou porque faz tempo que os brasileiros deixaram de acreditar no Jornal Nacional e cia. Ltda.


Horror ! Horror ! Horror!

Assim o coronel Walter Kurtz, personagem de Marlon Brando no filme Appocalipse Now, definia a guerra do Vietnã e sua opção em meio a babárie em que se encontrava.

Terror ! Terror! Terror !

Assim a grande imprensa brasileira, seu aparato midiático e os partidos de oposição aos governos democráticos e populares do PT,  vem se comportando  na tentativa suicida de  manipular, distorcer e omitir os fatos relevantes para a população
.
Ignorância! Ignorância! Ignorância !

Assim é , ainda, o estado da arte de uma significativa parcela fascista da classe média alta brasileira, mantenedora do terror, terror, terror.

Violência! Violência! Violência!

É o desejo maior da Ignorância para assaltar o poder.
Desejo alimentado diariamente pelo Terror, terror, terror, através de preconceitos de classe e  de exaltação da cultura fútil consumista da Ignorância.

Resistência! Resistência! Resistência

É o caminho diário, árduo, dos defensores da democracia e do estado de direito que alimentam, diariamente com infornações relevantes e fidedignas pela internete,  uma parcela consciente da população.

Informação! Informação! Informação!

São os gritos diários  de homens e mulheres, trabalhadores, cidadãos, por conteúdos densos  de esclarecimento, cultura e análise crítica, acerca dos assuntos de importância que são apresentados voláteis, etéreos, fluidos nos grandes meios de comunicação e informação.

Democracia! Democracia! Democracia!

É o grito diário das ruas digitais contra o assalto e a investida da pultocracia ( representada pelo terror, ignorância e violência )  em seu projeto fascista e totalitarista para o país e para  o mundo.

Horror! Horror! Horror!

Situação atual emergente e preocupánte nas cidades brasileiras quanto a escalada da Violência, violência, violência no tocante a crimes bárbaros ( estupros, latrocínios, racismo, etc..) em crueldade, assim nas telas de tv como nas ruas.
Os cadáveres expostos, pendurados em árvores, recepcionam o visistante  em meio a dança das autoridades locais, que assistem, em extase, o decepar da cabeça de uma vaca.


 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Seja Realista. Exija o Impossível

Maio de 68: 45 anos depois
Não conhecemos alternativas globais e as que se ensaiaram fracassaram, mas temos que introduzir uma lógica diferente ao capitalismo para conseguir o máximo de felicidade coletiva e de autonomia pessoal. Como já viam bem os jovens de Maio de 68, o que nos oferece o sistema é um engano: uma satisfação aparente através do consumo.

Luis Roca Jusmet - Rebelión


Quando acabou o Maio de 68? Foi o que perguntaram a Daniel Blanchard, agudo observador e participante em ditos acontecimentos. Em Junho de 68, afirmou. A resposta tinha algo de brincadeira e algo de verdade: a energia se perdeu em grande parte quando acabou a mobilização.

Sabemos que foi o sintoma de uma transformação a longo prazo. O primeiro aspecto que reivindicavam era o fim das instituições hierárquicas. A sociedade era muito autoritária em todos os âmbitos da vida cotidiana, da família (patriarcal) até a política (o Presidente de Gaulle ou seu revés, o PC francês) passando, é claro, pelas instituições educativas. Podemos perguntar-nos agora se nestes quarenta e cinco anos ganhamos algo neste sentido. A resposta é ambígua, ambivalente.

Jacques Lacan dizia que passamos do Discurso do Amo ao Discurso Universitário. Já não são poderes autoritários, personalizados, patriarcais. São poderes tecnocráticos, de especialistas e gestores, de avaliadores anônimos. Gilles Deleuze falava da passagem da sociedade disciplinar à sociedade de controle. Michael Foucault foi quem trabalhou mais, embora tenha morrido a meio caminho. Entendeu que as sociedades disciplinares que havia estudado em seu célebre texto Vigiar e Punir estavam se transformando em formas de governos que exerciam o poder indiretamente. Nikolás Rose o desenvolveu mais em seus estudos sobre neoliberalismo social. Vargas Llosa, que é um liberal conservador, dizia que o Maio de 68 tinha provocado a crise de valores e autoridade que vivemos. É verdade. O patriarcado caiu e com ele a autoridade, tal como nos mostrava o psicossociólogo Gerard Mendel em sua excelente análise histórica da autoridade. Quando cai o patriarcado na sociedade moderna, a autoridade em todos os âmbitos cambaleia. A sociedade é hoje mais liberal em todos os aspectos, isto é o que se ganhou: direitos da mulher, das crianças, dos homossexuais, das minorias raciais e étnicas...

O outro aspecto que reivindicavam era a felicidade, a alegria. Contra as paixões tristes, contra o mal-estar, contra a infelicidade. Aqueles jovens viam (víamos) que a forma de vida de nossos pais, que a geração que herdávamos não era uma sociedade de pessoas felizes. E que o consumo como expectativa só gerava insatisfação. A felicidade, já o sabemos, é uma cosa muito complexa e que só pode ser medida em termos subjetivos (objetivá-la é um dos aspectos da biopolítica, que também nos diz como ser felizes). Mas aquelas pessoas não pareciam muito felizes e queríamos outra vida, tentá-la de outra forma. Talvez tivesse algo de ingenuidade porque, como dizia o velho e sábio Freud, a civilização comporta repressão e, portanto, mal-estar e ninguém está disposto a negar as vantagens de um mundo civilizado. Mas ainda aceitando isto podíamos aspirar certo grau de felicidade e não nos conformar em sermos vítimas de costumes e de uma maneira de viver com a qual não nos identificávamos. Podemos nos perguntar também se quarenta e cinco anos depois, nas chamadas sociedades avançadas, somos mais felizes. E eu também diria que não. A sociedade cada vez parece produzir mais infelicidade e a depressão tem características de praga social, acrescentada a outras como a anorexia, os vícios... Parece cumprir-se a fatal profecia de Nietzsche, quando dizia que o que chegaria se não éramos capazes de transformar os valores, era o niilismo do último homem. Aqui Nietzsche afirmava uma questão central que era que, para viver intensamente, para querer viver, temos que aceitar a dor e a morte. E não aceitamos nem uma coisa nem a outra, pelo qual nos transformamos, cada vez mais, em indivíduos que o único que querem é não sofrer e negar a própria finitude, a própria morte. E o preço é viver no mínimo e guiados por uma sociedade que cada vez nos oferece mais serviços para ser um rebanho que tem a vida cada vez mais regulamentada e que vai dos objetos tecnológicos até o turismo de massas, que por outra parte criam cada vez novas e maiores obrigações para todos os que compomos, queiramos ou não, este rebanho.

Podemos pensar então que o que vale a pena recolher daquele movimento é a luta pela autonomia e a luta pela felicidade. Isto, queiramos ou não, não é apenas incompatível com o autoritarismo ou com os costumes repressivos, uma vez que, como bem nos lembra Zizek, agora o imperativo é que temos que gozar. Com o que é realmente incompatível é com o capitalismo. Já sei que não conhecemos alternativas globais e as que se ensaiaram fracassaram, mas temos que introduzir uma lógica diferente a ele para conseguir o máximo de felicidade coletiva e o máximo de autonomia pessoal. Como já viam bem os jovens de Maio de 68, com suas consignas anticapitalistas, o que nos oferece o sistema é um engano: uma satisfação aparente através do consumo que não é felicidade e um individualismo que não é autonomia real.

Em todo caso, vale a pena não esquecer e procurar algo melhor do que o que temos. Estes valores dos quais falo, não esqueçamos, sim são mostras do Progresso, que não é outra coisa que o que ganhamos coletivamente em felicidade e em liberdade. É incompatível com o capitalismo.

Nestes momentos de crise, tentemos recuperar algo desta luta pela autonomia e pela felicidade que não passe por querer recuperar o consumismo.

Não esqueçamos tampouco que, como dizia Claude Lefort, também vinculado ao movimento, que as duas saídas ao vazio de poder das sociedades tradicionais são a democracia e o totalitarismo. São as duas opções que hoje podemos ver mais claras na crise que vivemos, do Estado oligárquico liberal que nos geriu todos esses anos.

Não esqueçamos também, que o capitalismo sobreviveu perfeitamente a esta crise de autoridade. Tudo que é sólido se desvanece, dizia Marx, referindo-se ao capitalismo. Equivocaram-se os que diziam que a crise da família patriarcal autoritária seria o fim do capitalismo. O capitalismo sobrevive com casais gays, com mulheres emancipadas e muito mais. É a lógica do aumento incessante do capital e da mercantilização generalizada o que o define. E se adapta muito bem às mudanças sociais. Não será isto o que o matará.

Tradução: Liborio Júnior

Fonte: CARTA MAIOR



Uma aula para Lobão


 Fonte :Jornal do Brasil  Wander Lourenço*

No bojo das transformações políticas referendadas pela Semana de Arte Moderna, quatro décadas após Machado de Assis proclamar a independência literária do país às margens do Ipiranga comMemórias póstumas de Brás Cubas, os impropérios atávicos deste rebelde e prodigioso discípulo de Antônio Carlos Jobim e Caetano Veloso, arrebatam-me a citar o compositor Heitor Villa- Lobos e a suaBachiana n. 5. Em se tratando de elaboração de cunho musical, é imprescindível afirmar que a combinação antropófaga entre a obra erudita de Bach e o esboço de brasilidade retratado pela composição brasileira deságuam no cerne do conceito modernista idealizado por Manuel Bandeira, Oswald e Mário de Andrade. Inclusive, foi o próprio Bandeira quem levou pelas mãos o autor deMacunaíma ao boêmio reduto do Estácio para conhecer o processo de criação do harmônico canibalismo representado pelo samba de Ismael Silva e Noel Rosa. Anos mais tarde, a Pauliceia Desvairada se identificaria com a tangência do alaúde de Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini.
A absurda dificuldade de compreensão do insurrecto e arlequinal Lobão, no entanto, faz-me recordar um entrevero protagonizado por Ariano Suassuna e Chico Science. O mestre paraibano, profundo pesquisador da cultura popular nordestina, implicara com as experiências rítmicas aventadas por Chico Ciência, conforme o alcunhara, pelo viés de indigesto estrangeirismo a se iniciar por um movimento intitulado Mangue beach, que se arvorava a misturar a mitológica guitarra elétrica de Jimi Hendrix com a sanfona, o triângulo e a zabumba de Luís Gonzaga ou Capiba, através de folclórico rock in roll, frevo, música eletrônica e maracatu atômico de Mautner. Ao que lhe responder, o músico com invulgar sapiência, que ele, Chico Science, era apenas um discípulo que se inspirou no mestre da Farsa da boa preguiça, quando Suassuna propôs um rendez-vous de Baco entre a literatura de cordel e a dramaturgia de Plauto, Terêncio, Gil Vicente, Racine, Shakespeare e Maquiavel, entre o prosaico percurso picaresco de João Grilo e Chicó, o auto medieval e a comédiadell’arte.
É preciso explicar ao anjo rebelado da burguesia que a genialidade de Heitor Villa-Lobos (quiçá, plural de Lobão?) se posiciona no cerne de uma original manifestação de hibridismo cultural, que precederá o affair tropical, idealizado pela confessional Vida bandida, entre a bateria da Mangueira e o Brock dos anos 80, consiste meramente em reproduzir a estética modernista de cunho antropófago capitaneada por Mário de Andrade, assim como a bossa nova de Jhonny Alf, Vinicius de Moraes, Tom, Bôscoli, Lira, Menescal e João Gilberto, a Tropicália do macunaímico Jorge Ben, Gilberto Gil, Caetano, Torquato Neto, Capinam, Mutantes e Tom Zé, a Jovem Guarda de Roberto e Erasmo Carlos e da metamorfose sem rótulo de Raulzito Seixas, Novos Baianos e, enfim, Sérgio Sampaio, que, ao botar o seu bloco na rua, poderia substituir o mote, há quem diga pela indagação de Noel Rosa a Wilson Batista, ao entoar o antológico “Quem é você que não sabe o que diz?”.
* Wander Lourenço de Oliveira, doutor em letras pela UFF, é escritor e professor universitário. Seus livros mais recentes são ‘O enigma Diadorim’ (Nitpress) e ‘Antologia teatral’ (Ed. Macabéa). -wanderlourenco@uol.com.br



O caro leitor tem dois belos textos para saborear e refletir.

De alguma forma, tavez até muitas, os textos de hoje tem algo em comum.

Em essência ambos abordam questões  de metamorfoses, rompimentos e criações de estéticas dissidentes ao satatus quo.

Maio de 1968 ( seja realista. exija o impossível )  , independente de seus 45 anos que não  necessáriamente é uma data redonda, tem sido abordado , e atacado, com frequência neste início de século XXI.

Lembro de uma frase do ex-presidente francês, Nicolás Sarkosy, que ao assumir o cargo de presidente, em uma de suas primeiras declarações, afirmou que seria o fim de 68.

Qual o por quê de tanta obsessão se nada , na ocasião , foi mencionado sobre o histórico maio francês ?

O mesmo agora, e sempre, tem sido observado com críticas, sempre oriundas do satus quo e até mesmo por rebeldes burgueses cooptados para tal finalidade,  sobre sementes que deram fruto com os movimentos e transformações  sociais  gerados nos anos da década de 1960.

Esses setores retrógrados, e ainda dominantes,  insistem em divulgar por todos os meios que vivemos ainda como nossos avós em sociedades  conservadoras.

Tudo isso vem sendo feito e divulgado, ad nauseum,  sem que se faça nenhum movimento nas sociedades na direção de defender ou reafirmar os valores de 68.

Estranho, não é, caro leitor ?

Para o leitor atento, fica claro que um fantasma de transformações sociais habita os salões da burguesia mac feliz, principalmente nas noites neoliberais já que nem sempre se vê mágica no escuro.

A busca da felicidade, ou o despertar daquilo que sempre existiu, deve ser algo externo as pessoas, pois o satus quo não comporta a multidisciplinaridade, quer seja em uma estética antropófaga ou científica.

Na realidade conservadora a suposta felicidade é mensurável, e tem enderêço onde se pode adquirir.

Entretanto, na realidade emergente a fome de múltiplas conexões e misturas apontam um novo caminho, quer seja na ciência, nas artes, na política, nas relações sociais.

O consumo é agora, e é consciente.

O todo é bem maior que a soma da esquerda, com a  direita e com o centro.

Talvez isso explique o lulismo.
 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Comando PIG


 

Depois de comando vermelho, terceiro comando e amigos dos amigos, uma nova organização criminosa aparece organizada em todo o território nacional , inclusive com ramificações em outros países da América do Sul.

É o comando PIG espalhando terror através de seus jornais, revistas , emissoras de tv , portais, blogues e sites.

Flagrados na tentativa de explodir o Brasil e ferrenhos defensores de doações do patrimônio do povo à empresários ( Maracanã, petróleo, hidroelétricas , etc...),o comando PIG tem sido apontado como o principal suspeito de forjar supostos  problemas na estrutura do estádio de futebol Engenhão.

O principal objetivo da suposta ação terrorista é fazer com que o clube Botafogo, que atualmente administra o estádio, abandone a administração para que os empresários ligados ao comando PIG possam , então, assumir mais um patrimônio do povo brasileiro.

Uma célula do comando PIG, mais precisamente o telejornal terrorista RJ TV, da tv globo, está empenhado na defesa da privatização do Maracanã, o que irá beneficiar grupos  ligados ao comando.

Cabe lembar ao caro leitor, que a privatização do Maraca será por  35 anos, e que a empresa vencedora pagará, ao estado do RJ, algo próximo de 6 milhões de reais por ano, além dos custos de manutenção do estádio.

O leitor sabe que já foram gastos mais de 1 bilhão de reais nas obras do Maraca, dinheiro público.

A empresa que vencer a privatização, pagará, em 35 anos, pelo "aluguel" do estádio, algo em torno de 20% do custo da reforma.

Segundo informações da  ID -Inteligência Digital -, organização que monitora as ações do comando PIG, os supostos problemas do Engenhão seriam para retirar o Botafogo da administração do estádio.






 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Quando um Ato de Terror é Apenas um Tiroteio

Polícia divulga vídeo que mostra um dos suspeitos do tiroteio em Nova Orleans

  • Recompensa para quem informar pistas dos criminosos será de US$ 10 mil
  • Ataque em desfile do Dia das Mães deixou ao menos 19 pessoas feridas
O Globo (Email · Twitter)
Com agências internacionais
Publicado:
Atualizado:

NOVA ORLEANS - A polícia americana divulgou nesta segunda-feira um vídeo captado pelas câmeras de segurança mostrando um dos suspeitos do tiroteio ocorrido durante um desfile do Dia das Mães, em Nova Orleans. O ataque na tarde de domingo deixou ao menos 19 pessoas feridas. Nenhum suspeito foi preso, mas a polícia procura por três pessoas que estariam envolvidas no ataque. O FBI afirmou não ter qualquer indicação de que o episódio seja um ato terrorista. A recompensa para quem informar pistas dos criminosos será de US$ 10 mil.
Segundo o último informe policial, dez homens, sete mulheres e duas crianças ficaram feridos no incidente - alguns baleados e outros machucados depois de caírem em meio à confusão. Cerca de 300 pessoas estavam no local, assistindo à tradicional parada de jazz na cidade.
De acordo com informações do canal local WWLTV, nove pessoas foram levadas ao Hospital Universitário por equipes de emergência, oito com ferimentos de tiros. Três pessoas estariam em estado crítico. Pelo menos cinco delas teriam se machucado ao tentar fugir do local.
No domingo, o superintendente da polícia de Nova Orleans, Ronal Serpas, informou que um dos suspeitos é um homem de pele escura, entre 18 e 24 anos de idade, com cabelos curtos. Ele vestia uma camisa branca e shorts jeans. As autoridades acreditam que os suspeitos tenham trabalhado juntos, usando ao menos duas armas.
A polícia acredita se tratar de violência de rua e pediu a ajuda das pessoas que estavam no desfile para identificar os atiradores através de fotografias ou qualquer informação sobre os suspeitos, que foram vistos fugindo em direção à Claiborne Avenue.
Não é a primeira vez este ano que a cidade registra um episódio de violência durante uma parada. Cinco pessoas ficaram feridas após uma festa em homenagem a Martin Luther King Jr. No carnaval, outras quatro foram baleadas num tiroteio no bairro francês.

Feira de armas tem como público-alvo jovens e crianças
Observando as principais notícias na grande imprensa nesta segunda-feira de 2013, 13 de maio, vejo que o caro leitor, e os consumidores de notícias, continuam escravos de um jornalismo cada dia mais limitante, superficial e totalmente direcionado para os interesses políticos, doutrinários e econômicos desses veículos de mídia.

Revirando o lixão de informações da mídia dominante no país, surge a notícia na maioria das mídias, sobre mais um atentado nos EUA.

Dessa vez, em que não foi muito diferente de outras vezes, algumas pessoas se aproveitam de um evento em espaços públicos, com grande concentração de pessoas , para explodir artefatos ou sair atirando com armas de fogo.

O resultado é sempre o mesmo:
dezenas ou centenas de pessoas feridas, outros tantos mutilados, e claro, mortos.

O novo atentado aconteceu no domindo, ontem,  por ocasião de uma parada em comemoração ao dia das mães.

O anterior aconteceu em Boston, em uma comemoração com direito a uma prova de maratona no atletismo, mas por ocasião do dia do patriota.

Os dois em um intervalo de um mês.

Patriotismo e mães devem irritar segmentos da sociedade americana.

O que chama a atenção, em todo o lixão da grande imprensa, é a declaração do FBI de que este último atentado do dia das mães, não foi um ato terrorista.

Nenhuma mídia no lixão, se preocupou em questionar ou refletir sobre o terror, independente se acontece por motivações políticas internacionais, domésticas, ou mesmo fruto de uma violência urbana patológica.

A grande imprensa apenas reproduziu a informação do FBI de que o atentado de ontem não teve motivações terroristas, estando o mesmo inserido na violência "normal e corriqueira" dos grande centros urbanos.

Cita , ainda, o FBI, que esses atentados são comuns e acontecem regularmente nos EUA.

Toda essa "informação" é uma violência, um ato de terror contra todo e qualquer cidadão que tenha , ao menos, um QI 50.

O caro leitor, inteligente e atento , deve estar se perguntando qual o diferença entre o terror que explode um artefato e leva a tragédia e a dor à várias famílias e  o terror que sai atirando com arma de fogo e produz a mesma tragédia e dor.

Não existe diferença, ambos são atos de terrorismo, ambos não avisam quando vão atacar, o que irão atacar, como irão atacar.

Ambos tem o objetivo de causar o pânico, o terror nas populações.

A diferença que salta aos olhos e interessa ao estado americano, e por consequência interessa a grande mídia do Brasil, é que o terror da bomba, supostamente organizado e executado por pessoas muçulmanas é uma ameaça aos valores americanos, um risco para a soberania daquele país.

Em assim sendo deve ser evitado e atacado, mesmo que justifique a redução dos direitos dos cidadãos e , até mesmo, ações militares para invadir outros países que supostamente estariam contribuindo para a barbárie ao retirar a vida de pessoas inocentes.

O caro leitor deve ainda se lembrar, pois aconteceu em abril deste ano, da cobertura midiática na perseguição dos bárbaros que explodiram a bomba de Boston. 

Também se lembra das imagens das vítimas mutiladas e o do sofrimento dos familiares dessas vítimas.

Claro, foi um grande espetáculo,  onde rios de lágrimas sinceras correram pelos olhos de espectadores por todo o mundo.

Já o atentado terrorista de ontem, ao que parecenão foi executado por algum muçulmano mas os prováveis culpados devem ser americanos pretos ou de origem latina, por exemplo, o que terá o destaque do lixão midiático como tal.

Nesse lixo de informação nehuma reflexão sobre uma violência patológica em um país onde 90% da população é propietária de , pelo menos, uma arma de fogo.

E mais ainda, pois pelo que se pode concluir sobre as informações fornecidas pelo FBI, o terrorismo é aquilo que nós, os americanos, desejamos que ele seja, independente se pessoas morrem com frequência vítimas de atos de terror nas cidades da América livre.

Voltando para a país do cruzeiro, nossa grande mídia não questiona  nem muito menos faz qualquer tipo de reflexão sobre uma cultura que se pretende hegemônica e que , a cada dia, vai se revelando violenta e doentia.

Cabe ainda lembrar que os valores americanos são predominantes nas grades das emissoras de tv do Brasil.

Assim sendo, venho lembrar ao caro leitor, para assinar a proposta popular de  democratização dos meios de comunicaçãoo do Brasil, de maneira a garantir um equilíbrio na produção de conteúdos e que nossa cultura e valores tenham  espaço garantido nas mídias.

Participe!

Assine!

Divulgue!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Globalização da Barbárie

Fraudes no leite revelam falhas de empresas no controle de qualidade Fonte: BRASILDEFATO.COM.BR

'CUSTO BRASIL': A SOLUÇÃO É ASIÁTICA? 
Um incêndio matou sete pessoas num prédio de 11 andares da fabricante de vestuário Tung Hai Group , em Bangladesh, nesta 5ª feira. Grande exportadora de suéteres e jerseys, a empresa tem entre seus clientes algumas das maiores redes varejistas ocidentais. O incêndio é o quarto desastre de grandes proporções em fábricas de vestuário em Bangladesh, desde dezembro. Em abril, o desabamento de um condomínio vertical de tecelagens e confecções, na região metropolitana de Dacca,  chocou o mundo. No início desta semana, as autoridades locais informaram que 800 operários teriam morrido. Ontem, 5ª feira, as equipes de resgate chegaram aos porões dos edifícios: descobriram mais  100 corpos. O negócio têxtil  no entroncamento Índia/Bangladesh  rende US$ 20 bilhões anuais  em exportações; gera 3 milhões de empregos . O setor é considerado um titã  naquilo que alguns analistas enchem a boca e reviram os olhos antes de escandir em tom de admoestação ao Brasil:  ‘com-pe-ti-ti-vi-da-de' . É isso que queremos ser? Uma sucursal das linhas de montagem asiáticas, onde se confunde eficiência com extração impiedosa da mais-valia e as  relações e trabalho são pouco mais que um gigantesco moedor de carne humana? C0mo o Brasil poderá competir sem se pautar pela fita métrica conservadora que equipara competitividade a salários de US$ 40 por mês?
Fonte: CARTAMAIOR.COM.BR
 

>>A rede da fé e do dinheiro
>>Propaganda enganosa

Por Luciano Martins Costa em 10/05/2013 no programa nº 2059 |
Fonte: OBSERVATORIODAIMPRENSA.COM.BR

Procon faz operação em garagens de empresas de ônibus no Rio 

Fonte: JB.COM.BR

 

Luciana quer debater projeto popular de regulamentar comunicação 

Fonte: VERMELHO.ORG.BR

Doença renal misteriosa da América Central pode estar ligada a agrotóxicos

Pesquisas realizadas paralelamente em El Salvador e no Sri Lanka trazem resultados semelhantes em relação ao uso dos mesmos produtos
Fonte: BRASILDEFATO.COM.BR



Todas as notícias acima são de hoje, 10.05.13, e estão disponíveis em sites e portais da imprensa alternativa, com exceção do JB.

Na grande imprensa, nada, ou quase nada, aparece sobre os temas.

O caro leitor atento já percebeu que todas tem algo em comum.

O lucro máximo, independente das práticas, mesmo que para isso as empresas coloquem em risco a vida das pessoas e se utilizem de trabalho escravo, norteia o noticiário.

Os incêndios na fábricas têxteis da Ásia, fábricas que se assemelham a campos de concentração, mataram centenas de operários, ou escravos, impedindo que suas famílias recebam a renda de seus salários, 40 dólares por mês , e como isso fiquem impedidas de comprar os alimentos necessários para sobreviver, mesmo que seja um litro de leite contaminado com ureia e formol.

Desesperados e desamparados, os familiares das vítimas dos campos de concentração têxtil, recorrerão ao auxílio da fé, e, para tanto, frequentarão igrejas e templos, onde os pastores orientarão as desesperadas famílias  no caminho da prosperidade.

Para tanto, as famílias sem amparo, deverão fazer sexo com os religiosos para que possam purificar seus corpos e encontrar o caminho do sucesso, além, claro, de fazer doações às igrejas para que possam seguir no seu papel social.

As desesperadas famílias, vivendo em áreas remotas, se utilizam do transporte coletivo  para participar dos encontros religiosos.

Como o preço das passagens é elevadíssimo, em muitas ocasiões tentam negociar com os condutores dos veículos viagens gratuitas, o que acarreta mais problemas para as pessoas.

Os ônibus não passam por manutenções adequadas e periódicas o que tem acarretado frequentes acidentes , onde familiares de pessoas mortas nos campos de concentração têxtil e fiéis as orientações dos pastores da salvação, acabam morrendo.

Impossibilitados  de viver como operários, e também traumatizados com as situações que vivenciaram ao longo dos anos que trabalharam nos campos de concentração têxtil, alguns sobreviventes dos incêndios optaram por retornar para o interior e trabalhar na agricultura, como fizeram seus antepassados.

Trabalhando para grandes corporações agrícolas, já que as terras de seus antepassados foram todas adquiridas pelas corporações, manuseiam diariamente uma enorme gama de produtos tóxicos usados como defensivos agrícolas, contra pestes, nas gigantescas e melancólicas paisagens das áreas plantadas.

Independente do continente onde trabalham, já que os pesticidas são fabricados por apenas poucas corporações e distribuídos em todo o mundo, os trabalhadores do campo que sobreviveram aos incêndios nos campos de concentração têxtil e seguem disciplinadamente as orientações dos pastores de sua religião e que ainda não sofreram acidentes no transporte coletivo, agora também adquirem doenças letais em decorrência do uso excessivo e indiscriminado de substâncias altamente tóxicas que matam as pestes e contaminam os alimentos que vão para as prateleiras dos supermercados das cidades e que  a maioria dos trabalhadores do campo não pode comprar.

Assim como não podem comprar os produtos têxteis, muitos de marcas famosíssimas, que ajudaram a fabricar com um salário de 40 dólares por mês

 

 
Assim como não podem pagar as passagens de ônibus para frequentar , diariamente, a igreja que os salvará da tormenta.

Felizmente, ainda sobra uns míseros trocados para comprar o leite contaminado com ureia e formol para as crianças e um tempinho para assistir as maravilhas da propaganda sobre o  mundo civilizado que aparece nas telinhas dos aparelhos de tv.


O caro leitor percebeu que o texto acima retrata uma realidade fictícia, mas que em nada difere da realidade de muitas localidades da atualidade.

Os acidentes com trabalhadores da indústria têxtil que aconteceram por esses dias na Ásia era uma tragédia anunciada.

Por mais de uma década que já se tem conhecimento das precárias condições de trabalho dessas fábricas  que mais se assemelham a campos de concentração.

A jornalista, escritora e ativista dos direitos humanos, a canadense Naomi Klein, esteve em vários países da Ásia investigando as condições de trabalho nas fábricas têxteis.

Seu trabalho investigativo rendeu um livro - No Logo - onde relata os horrores e a violência que sofrem os trabalhadores, além das péssimas condições das instalações, no tocante a segurança e higiene.

A maioria dos produtos por lá fabricados são de grandes marcas, tanto no campo esportivo quanto no vestuário, que serão vendidos em sofisticadas lojas de grandes shopping centers em todo o mundo.

É a tão elogiada competitividade do capitalismo hegemônico, onde os trabalhadores não tem nenhum direito trabalhista.

Em uma passagem de seu livro, a escritora relata caso de mulheres que chegaram a dar a luz no local de trabalho, impossibilitadas pelos gerentes de se ausentarem de seus postos.

Casos de abortos também foram relatados, além de violências físicas que muitos trabalhadores sofreram.

Diante dessa realidade, como falar em controle de qualidade dos produtos nas empresas ?

O controle da qualidade dos produtos ou mesmo o compromisso com a qualidade nas empresas, não pode ser eficaz em ambientes que agridem os trabalhadores e que ainda não oferecem as mínimas condições de trabalho decente, e mais, a qualidade deve ser uma política da empresa, em todos os aspectos e não apenas na verificação de atendimento dos produtos às especificações técnicas de fabricação.

A obsessão pelo lucro máximo acaba sempre por comprometer a qualidade
.
A ureia e formol no leite não são apenas exemplos de práticas fraudulentas.

Nesse caso o consumidor é totalmente ignorado para que poucos possam lucrar mais.

Se Qualidade pode ser definida como satisfação do consumidor, como deve se sentir um consumidor que ao adquirir um litro de leite descobre que também está bebendo ureia e formol ?

Ou ainda, ao comprar um par de tênis famoso, como se sente o consumidor ao saber que aquele produto foi fabricado por pessoas em situação de escravidão ?

Como o caro leitor notou , a qualidade é percebida e pode variar de pessoa para pessoa , em um mesmo produto.

É provável que algumas pessoas , na intenção de defender a barbárie mundial vigente, gostem de leite com ureia e admirem seu par de tênis que foi confeccionado por escravos.

Infelizmente, nas grandes mídias nada se falou ou se fala sobre as condições de trabalho dos trabalhadores das indústrias têxteis asiáticas.

Por outro lado, essas mesmas mídias que se calam diante da barbárie, são , talvez, os maiores veiculadores de  propaganda desses produtos, o que rende, para as mídias, generosas receitas.

Nas propagandas de roupa ou material esportivo  que o caro leitor assiste nas emissoras de tv, não aparecem as mulheres trabalhadoras que pariram, abortaram, ou até mesmo morreram por conta da violência no trabalho.

De certa forma, ou de todas as formas, toda propaganda é uma enganação, a ponto de programas de tv de cunho religioso prometerem a salvação, quando na realidade os fieis são obrigados a manter relações sexuais com o pastor.

O caso do evangélico tântrico aconteceu no Rio de Janeiro e, para surpresa de muitas pessoas, o pastor que foi preso ainda é defendido e elogiado por muitas pessoas, principalmente políticos eleitos pelo povo e com assentos no congresso nacional.

No universo da realidade surrealista, um dos defensores do pastor tântrico, é um deputado, também evangélico, que preside a comissão de direitos humanos e minorias da câmara dos deputados.

A qualidade desapareceu, não só dos produtos , mas também do noticiário das grandes mídias.

Nessa corrida insana por mais lucros, os ônibus do transporte coletivo da cidade do Rio de Janeiro, a cidade maravilha, veem cometendo atrocidades com a população e ainda matando pessoas quase que diariamente.

As empresas de transporte coletivo ignoram a legislação  e algumas, que são muitas, não permitem a gratuidade do transporte para idosos e crianças da rede pública de ensino, chegando ao ponto de não parar nos pontos ,quando solicitado por essa parcela da população que tem o transporte gratuito assegurado por lei.

A propósito, lei que não é cumprida pelas empresas de transporte coletivo, diante das evidências diárias, de domínio e conhecimento  de toda a população, mas que não recebe o tratamento adequado nas mídias de grande porte.

Fatos criminosos de domínio público são ignorados pela justiça enquanto fatos sem provas específicas são apresentados como de domínio de pessoas acusadas injustamente.
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Enquanto isso, corporações que fabricam pesticidas usados na agricultura estão matando trabalhadores rurais em escala globalizada.

Casos de doenças renais raras em trabalhadores de El Salvador e Sri Lanka tem em comum o contato , exposição e manuseio de produtos químicos altamente tóxicos usados na agricultura.

E ainda admitir que as grandes plantações do agronegócio são direcionadas, na maioria, para a fabricação de rações que vão  para a engorda do gado, aves e suínos.

A carne animal, bem nutrida, será saboreada pelos mesmos consumidores que compram os caros produtos têxteis em sofisticadas lojas de shopping centers.

E as grandes mídias nada apresentam sobre esses temas , afinal, segundo a maioria das propagandas de produtos e serviços veiculadas nas emissoras de tv ,vivemos em mundo civilizado, feliz, democrático e próspero para todos.


 


 

 

 


 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Legalize

Ativistas pedem a Dilma descriminalização de drogas no Brasil
Em carta enviada à presidenta, ao Congresso e ao STF, especialistas e ativistas manifestam-se contra projeto que endurece as políticas proibicionistas e de encarceramento da “guerra” contra as drogas
Da Redação 

Congresso Internacional sobre Drogas reuniu cerca de 700 participantes, entre representantes de movimentos da sociedade civil, de universidades e do governo (Foto: Antonio Cruz/ABr)
Um grupo de ativistas e especialistas que participaram do Congresso Internacional Sobre Drogas, realizado em Brasília entre os dias 3 e 5 de maio, vão entregar uma carta à presidenta Dilma Rousseff, ao Congresso Nacional e ao STF (Supremo Tribunal Federal) cobrando a elaboração de política antidrogas que não seja focada em ações proibicionistas.
Uma das principais críticas do grupo refere-se ao Projeto de Lei 7.663/ 2010, de autoria do deputado Osmar Terra (PMDB), que pretende aumentar a pena mínima para traficantes de drogas e prevê a internação compulsória de dependentes. De acordo com o documento, o PL fere direitos constitucionais e representa um retrocesso no debate sobre a questão das drogas. A carta ainda pede que o STF considere incontistucional a penalização do porte de drogas para uso pessoal, descrita no Artigo 28 da Lei Antidrogas.
“Constatamos a falência do modelo proibicionista, nos preocupa que o PL do Osmar Terra aponte na direção contrária, em particular, priorizando a internação forçada, que a própria ONU [Organização das Nações Unidas] declara como sendo tortura. Consideramos inadmissível que o governo da presidenta Dilma, que tem um histórico de defesa dos direitos humanos, admita que isso venha a ocorrer”, afirmou o neurocientista Sidarta Ribeiro, integrante da comissão científica e organizadora do Congresso Internacional sobre Drogas. Para ele, o debate sobre drogas foi “rebaixado” pela falta de argumentos dos defensores de medidas proibicionaistas.  “A única maneira de proteger a sociedade é com informação, isso só se consegue com regulamentação, com transparência. Na obscuridade da proibição isso é impossível”, ponderou.
“O proibicionismo fracassou, aumentou a violência. Não há justificativa para proibição, é tudo baseado em falácia. Eles não têm argumentos, mas têm a anuência dos desinformados”, defende Ribeiro.
Leia a íntegra da carta: 
Carta de Brasília em Defesa da Razão e da Vida
O Congresso Internacional sobre Drogas: Lei, Saúde e Sociedade foi realizado entre 3-5 de maio de 2013 no Museu da República em Brasília para fomentar o diálogo sobre o tema das drogas. Nós, participantes do Congresso e signatários desta carta, constatamos que a política proibicionista causa danos sociais gravíssimos que não podem persistir. Não há evidência médica, científica, jurídica, econômica ou policial para a proibição. Entretanto identificamos alarmados um risco de retrocesso iminente, em virtude do projeto de lei 7663/10, de autoria do Deputado Osmar Terra (PMDB/RS), atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, relatado pelo deputado Federal Givaldo Carimbão (PSB/AL). Entre vários equívocos, o projeto prioriza internação forçada de dependentes químicos. Vemos com indignação que autoridades do Governo Federal se pronunciam a favor dessa prática. Conforme apontado pelo relator especial sobre tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes junto ao conselho de direitos humanos da Organização das Nações Unidas, a internação forçada de dependentes químicos constitui tortura. Tendo em vista a trajetória política, compromisso com os direitos humanos e experiência pessoal em relação à tortura da Presidenta Dilma Roussef, é inadmissível que o Governo Federal venha a apoiar a internação forçada. Entendemos que a aplicação dessa medida no Brasil atual representa a volta da política de higienização e segregação de classe e etnia.
Mesmo em suas versões mais brandas, o proibicionismo infringe garantias fundamentais previstas na Constituição da República, corrompe todas as esferas da sociedade, impede a pesquisa, interdita o debate e intoxica o pensamento coletivo. A tentativa de voltar a criminalizar usuários e aumentar penas relacionadas ao tráfico de drogas é um desastre na contramão do que ocorre em diversos países da América e Europa, contribuindo para aumentar ainda mais o super-encarceramento e a criminalização da pobreza. A exemplo das Supremas Cortes da Argentina e da Colômbia, é preciso que o Supremo Tribunal Federal declare com urgência a inconstitucionalidade das regras criminalizadoras da posse de drogas ilícitas para uso pessoal. Em última instância, legalizar, regulamentar e taxar todas as drogas, priorizando a redução de riscos e danos, anistiando infratores de crimes não-violentos e investindo em emprego, educação, saúde, moradia, cultura e esporte são as únicas medidas capazes de acabar efetivamente com o tráfico, com a violência e com as mortes de nosso jovens. É um imperativo ético e científico de nosso tempo, em defesa da razão e da vida humana.


Essa política de endurecimento contra as drogas é um tremendo retrocesso.
O caro leitor sabe, e sabe muito bem, que as pessoas usam drogas porque elas são vendidas, se pode comprá-las.
Sejam elas, as drogas, legais ou não, elas são vendidas e todos conhecem os locais de ponto de venda.
As tão faladas cracolândias, locais onde se compra e consome a "droga da morte", são, quase que diariamente, apresentadas nos programas de tv.

O espectador,  o que não é burro e que ainda não pirou diante da tv,  deve achar todo esse falatório sobre o endurecimento contra as drogas algo no mínimo estranho.

Como pode uma atividade ilegal e criminosa, como as cracolândias, existirem a céu aberto às margens de avenidas movimentadas aos olhos de todos os transeuntes ?

Um local de venda e consumo de drogas de conhecimento de toda a população, inclusive da polícia, funciona normalmente durante anos, vinte e quatro horas por dia.

Se é ilegal e criminoso, por quê não foi fechado ?

Eventualmente uma "operação policial" , com grande destaque nas emissoras de tv e de rádio, é apresentada para combater o comércio da droga.

Terminada a operação, com a prisão de alguns vendedores de droga e o recolhimento de alguns usuários, sempre com enorme estardalhaço nos meios de comunicação, tudo volta ao normal no dia seguinte.

Ou seja, novos vendedores assumem o posto e os consumidores voltam para o local.

Enquanto tudo isso está acontecendo na vida real, as emissoras de tv e rádio, continuam requentando e esticando "notícias" sobre a operação do dia anterior.

Não faltam espaços para dramas de famílias que foram vitimadas pelo flagelo da droga, o que faz com que os apresentadores dos programas destilem falações de forte conteúdo emocional, revelando, ou tentando fazê-lo, o quão destrutivo é o vício, a dependência, o consumo de drogas.

Esses programas em nada contribuem para conscientizar e muito menos informar as pessoas sobre questões tão sensíveis da natureza humana, como vícios, dependências, compulsividades e obsessões, independente se sejam no consumo de drogas ilegais ou legais.

O jogo, a violência, por exemplo seguem a mesma trilha das drogas ilegais quanto aos aspectos de dependência, compulsividade, vício e  obsessão.

Mas isso jamais é abordado nas mídias e menos ainda o consumo crescente de drogas legais, com execção do tabaco que vem em queda há algumas décadas.

A questão principal das drogas ilegais é que não se combate a fonte, os grandes cartéis e, no caso de cidade como o Rio de Janeiro, os grande fornecedores.

O chamado traficante que vai preso é sempre alguém cooptado, em locais carentes da presença do estado, pelos  grandes fornecedores locais.

Aliás, raramente se houve falar na mídia da prisão de um grande fornecedor local.

E o caro leitor certamente não verá nada sobre  os barões do tráfico, pois trata-se de uma atividade que no  mundo movimenta bilhões de dólares que entram depois de lavados ,através das instituições financeiras como os bancos legais em que o caro leitor frequenta, na ciranda da gigantesca massa monetária mundial.

Ou seja, a produção, o tráfico e o comércio de drogas ilegais é um negócio gigantesco que alimenta instituições financeiras, dentre outras, e não se tem o menor interesse em acabar com isso.

Logo, meu caro leitor, o que você vê nas emissoras de tv, lê nos jornais e revistas e ouve nas emissoras de rádio, em nada contribui para a sua informação sobre o assunto e, com a repetição excessiva por esses meios, ainda contribui para estimular a curiosidade nas pessoas, principalmente os mais jovens, o que os barões do tráfico agradecem.

Cabem ainda algumas informações curiosas sobre algumas drogas:

1 - O LSD, ácido lisérgico, é uma droga sintética que foi desenvolvida por um 
       gigantesco laboratório farmacêutico, para depois cair no uso geral.

2 - O  ópio, necessário para a fabricação da heroína, teve seu cultivo quase que 
     banido no Afeganistão quando aquele país era governado pelos talibãs. O 
     Afeganistão era o maior produtor de ópio antes da chegada dos talibãs ao
     poder. Depois da queda dos talibãs, provocada pela invasão americana 
     o cultivo do ópio voltou com força total, garantindo ao Afeganistão o status      de um dos maiores produtores mundiais. Ainda, a maior parte do ópio produzido naquele país vai para os EUA,  o maior consumidor. 

3 - Os EUA são os maiores consumidores de drogas no mundo.

Quanto ao Brasil, não existem, em grande escala econômica, produtores de drogas como cocaína.

Vez por outra apenas micro refinarias da droga são fechadas. 

Toda a droga entra clandestinamente, por esquemas cada vez mais sofisticados, onde o poder econômico da atividade se impõe impedindo a repressão e apreensão. 

Em muitos países, até mesmo o poder central é dominado pelo negócio das drogas.

O caro leitor já percebeu que nada disso é abordado em profundidade nas mídias hegemônicas, e , menos ainda, um amplo programa de informação sobre todo tipo de droga, legais e ilegais.

Isso , certamente, será quase impossível de acontecer pois o lobby das gigantescas empresas de bebidas irá invibializar qualquer tentativa de educação e informação da população sobre substâncias que alteram o estado de consciência das pessoas quando ingeridas.

Resta então, o espetáculo do "combate" as drogas, da ciminalização dos usuários, e a proposta delirante e fascista de internação involuntária de usuários.

Claro,e o caro leitor já percebeu, que esse blogue é contrário, ou melhor, radicalmente contra, toda e qualquer iniciativa de internação compulsória de usuários de drogas.

É de uma hipocrisia gigantesca.

O que deve ser feito, mas a luz do foi explicado aqui parece impossível, é uma ampla campanha de educação e informação sobre substâncias que alteram o estado de consciência das pessoas, sejam essas substâncias legais ou ilegais.

Quanto a criminalização pelo porte de drogas para consumo pessoal, trata-se de outra violência que em nada contribui para o verdadeiro combate as drogas.

A ministra Gleisi deve estar com o estado de consciência alterado para defender tamanha violência contra o cidadão.


 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Globo Bocão

De onde saem as propinas?   E os outros?

Por Luciano Martins Costa em 01/05/2013 no programa nº 2052. Observatoriodaimprensa.com.br

De onde saem as propinas
Os jornais desta quarta-feira (01/05) publicam alentadas reportagens informando que, no dia 18 de abril, o presidente de honra da Fifa - Federação Internacional de Futebol - João Havelange, renunciou ao cargo honorífico para não ser punido em uma investigação sobre pagamento de propinas.
Juntamente com Ricardo Teixeira, seu ex-genro e ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, e do paraguaio Nicolás Leoz, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol e do comitê executivo da Fifa, ele é  acusado de receber propinas da agência de marketing esportivo ISL.
O caso vinha se arrastando desde a falência da ISL, ocorrida em 2001, com a descoberta, pela Justiça da Suíça, onde fica a sede da Fifa, de que a empresa havia mantido uma longa relação de negócios paralelos com a entidade, pagando propina para influenciar em decisões importantes na organização de competições internacionais de futebol.
Embora os nomes dos envolvidos tivessem sido mantidos em sigilo, a imprensa brasileira tinha informações consistentes sobre o esquema, principalmente por conta do trabalho do colunista Juca Kfouri.
O noticiário dos jornais dando conta de que Havelange havia se desvinculado oficialmente da Fifa há quase duas semanas revela pouco, muito pouco.
Revela principalmente que a entidade segue sendo uma caixa-preta a cujo conteúdo a imprensa não tem acesso.
Aquilo que é apontado como o epílogo de um processo criminal é apenas uma formalidade para colocar panos quentes em um esquema que certamente vai ter continuidade, com outros nomes na fachada.
João Havelange reinou sobre o futebol mundial por quase 25 anos, período em que o esporte se transformou em um negócio planetário de muitos bilhões.
Boa parte de seu poder se baseou na relação com a ISL, cujos proprietários são ligados à empresa de materiais esportivos Adidas.
Foi uma longa parceria, iniciada ainda nos anos 1970, e que rendeu grandes lucros para ambas as partes.
Mas junto com a grande influência, inclusive sobre as relações entre países, a Fifa também se tornou mais exposta, e as negociatas vieram à tona.
E os outros?
As reportagens publicadas nesta quarta-feira pela imprensa brasileira passam a impressão de que o futebol mundial entra agora em nova etapa, livre de trambiques.
Mas há muitas perguntas sem resposta, e o fato de a entidade se localizar no espaço nebuloso entre os negócios privados e o ambiente do Estado facilita o acobertamento de irregularidades.
Observe-se, por exemplo, que o maior volume de subornos foi pago entre 1992 e 2000, mas, como na época a Fifa não tinha um código de conduta, os pagamentos da ISL aos dirigentes eram considerados comissão por intermediação de negócios.
Estado de S. Paulo opina diretamente, afirmando que "a prometida ação para punir os responsáveis no futebol e adotar medidas exemplares contra Havelange, Teixeira e Leoz terminou em uma grande pizza".
Com as renúncias, os três dirigentes não sofrerão punição e o caso foi encerrado.
Muito provavelmente, nos próximos dias também a imprensa deixará o assunto no esquecimento, mesmo porque muitos ganham muito com a intensa movimentação financeira em torno dos campeonatos de futebol.
A análise cuidadosa dos relatos feitos pelo Estado, a Folha de S. Paulo e o Globo pode deixar o leitor curioso, por exemplo, com a falta de informações sobre o tipo de vantagens que a ISL negociou com os ex-dirigentes do futebol mundial durante todos esses anos.
Segundo a investigação, os três principais acusados receberam subornos que totalizaram entre R$ 40 milhões e R$ 45 milhões.
O que foi dado em troca?
Essa é uma informação que falta nos jornais.
Num parágrafo discretamente posicionado no meio do texto, o Estado registra: "o documento confirma que Havelange teria recebido milhões de dólares, entre 1992 e 2000, em propinas relacionadas à venda de direitos de transmissão para as Copas de 2002 e de 2006".
Ora, não é preciso ser diplomado em jornalismo investigativo para adivinhar quem pagou a propina, direta ou indiretamente.
No Brasil, até as freiras reclusas sabem quem transmite os principais eventos da Fifa e quais têm sido seus patrocinadores.
Mas isso não vai sair nos jornais.

Paulo Nogueira: STF paga viagem de jornalista do Globo à Costa Rica

publicado em 5 de maio de 2013 às 22:18


Barbosa na Costa Rica
por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Eis um caso inaceitável de infração de ética de mão dupla.
Um asterisco aparece no nome da jornalista do Globo que escreve textos sobre Joaquim Barbosa em falas na Costa Rica.
Vou ver o que é o asterisco.
E dou numa infração ética que jamais poderia acontecer no Brasil de 2013.
A repórter viaja a convite do Supremo.
É um dado que mostra várias coisas ao mesmo tempo.
Primeiro, a ausência de noção de ética do Supremo e do Globo.
Viagens pagas já faz tempo, no ambiente editorial mundial e mesmo brasileiro, são consensualmente julgadas inaceitáveis eticamente.
Por razões óbvias: o conteúdo é viciado por natureza. As contas do jornalista estão sendo bancadas pela pessoa ou organização que é central nas reportagens.
Na Abril, onde me formei, viagens pagas há mais de vinte anos são proibidas pelo código de ética da empresa.
Quando fui para a Editora Globo, em 2006, não havia código de ética lá. Tentei montar um, mas não tive nem apoio e nem tempo.
Tive um problema sério, na Globo, em torno de uma viagem paga que um editor aceitou.
Era uma boca-livre promovida por João Dória, e o editor voltou dela repleto de brindes caros, outro foco pernicioso de corrupção nas redações.
Fiquei absolutamente indignado quando soube, e isso me motivou a fazer de imediato um código de ética na editora.
Surgiu um conflito do qual resultaria minha saída. Dias depois de meu desligamento, o editor voltou a fazer outra viagem bancada por Dória, e desta vez internacional.
Bem, na companhia do editor foi o diretor geral da editora, Fred Kachar, um dos maiores frequentadores de boca livre do circuito da mídia brasileira.
Isto é Globo.
De volta à viagem de Costa Rica.
Quando ficou claro que viagens pagas não podiam ser aceitas eticamente, foi a Folha que trouxe uma gambiarra ridícula.
A Folha passou a adotar o expediente que se viu agora no Globo: avisar que estava precaricando, como se isso resolvesse o caso da prevaricação.
A transparência, nesta situação, apenas amplia a indecência.
A Globo sabe disso. Mas quando se trata de dinheiro seus limites morais são indescritivelmente frouxos.
Durante muito tempo, as empresas jornalísticas justificaram este pecado com a alegação de que não tinham dinheiro suficiente para bancar viagens.
Quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington. Veja o patrimônio pessoal dos donos da Globo, caso tenha alguma dúvida.
É ganância e despudor misturados – e o sentimento cínico de que o leitor brasileiro não repara em nada a engole tudo.
Então a Globo sabe que não deveria fazer o que fez.
E o Supremo, não tem noção disso?
É o dinheiro público torrado numa cobertura jornalística que será torta moralmente, é uma relação promíscua – mídia e judiciário – alimentada na sombra.
Para usar a teoria do domínio dos fatos, minha presunção é que o Supremo não imaginava que viesse à luz, num asterisco, a informação de que dinheiro do contribuinte estava sendo usado para bancar a viagem da jornalista do Globo.
Como dizia meu professor de jornalismo nas madrugadas de fechamento de revista, quando um texto capital chegava a ele e tinha que ser reescrito contra o relógio da gráfica, a quem apelar?

Onde está o dinheiro ?

O gato comeu e ninguém viu.

Cadê o gato?

O seu paradeiro está no estrangeiro, o paradeiro do dinheiro, não do gato, em paraísos fiscais.

Pois é, meu caro e atento leitor, hoje temos nos sites da internete uma notícia que flagra o presidente do STF pagando as despesas de viagens para a Costa Rica , para uma jornalista de uma das empresas da organizações globo.

O caro leitor deve estar imaginando que tipo de cobertura jornalística essa jornalista fará sobre a passagem do presidente do STF no país dos vulcões.

O quão isenta será essa cobertura na ciudad de San josé  ?

Na Costa Rica a globo teve as costas quentes, e de graça.

É ético essa postura do STF ?

E no caso das organizações globo, se é boca livre vale aceitar qualquer coisa ?

De onde saem os recursos do STF ?

Creio que dos impostos pagos pelos contribuintes.

Então o caro leitor está pagando as despesas de viagem de uma jornalista da bilionária globo  à Costa Rica.

Será que ela ficou hospedada em alguns daqueles resorts do balneário de Punta Cana ?

Certamente ficou  em hotéis de cinco estrelas, com muita festa, boca livre e sabe-se lá mais o  quê nas "horas vagas", afinal de contas o risco de uma erupção vulcânica de destruição em massa justifica todo e qualquer ôba -ôba, bunda lê, lê e salve-se quem puder.

Essa é apenas uma face das práticas estranhas que alimentam todo tipo de corrupção no país.

São muitas, as faces estranhas.

Uma outra é tratada no artigo acima do observatório da imprensa, que questiona a origem de propinas pagas a políticos e pessoas da administração pública e mesmo empresas privadas envolvidas em eventos de grande alcance.

O caro leitor sabe que as propinas são pagas pelas corporações em vários esquemas de lobby, apoios, financiamento de campanhas, interesses em matérias em pauta no congresso  e uma infinidade mais de armações.

No caso da FIFA, todos sabem qual a emissora de tv que detém a exclusividade no Brasil na transmissão dos eventos de futebol.

E essa exclusividade, com o apoio das empresas patrocinadoras envolvidas, pelo que se apresenta no artigo, foi conseguida e construída com práticas ilícitas de propina, que engordaram , e muito, as contas bancárias dos principais executivos da FIFA, CBF e outros.

O caro leitor já percebeu  que as empresas globo no primeiro caso aceitam as facilidades, e no segundo pagam para obter facilidades.

É a emissora gillete, ou barca Rio- Niterói.

O que explode para a compreensão de todos que trata-se de um comglomeado empresarial onde o vale tudo comanda as decisões, desde que vantagens financeiras sejam auferidas.

É o perfil perfeito de um predador selvagem, sem nenhum compromisso com a ética, com a informação , com o entretenimento e, mais ainda, sem compromisso com eles mesmos, pois a única direção é o lucro, independente de prejuízos que possam advir a médio e longo prazo.

Se não bastassem as incursões antiéticas em tierras calientes de centroamérica e também as armações que garantem pura emoção aos amigos da rede globo, ainda circula pela internete a notícia sobre o tal " bônus por volume", que nada mais é  do que uma expressão elegante que tem por significado a velha e surrada propina.

O elegante termo é usado pela rede globo para justificar o pagamento às agências de publicidade para que veiculem sempre mais os anúncios na emissora.

Pode ser comparado as relações de aquisição de materiais e equipamentos entre empresas, por exemplo, onde sempre rola alguma propina para privilegiar um determinado fornecedor.

Mas que o nome bônus por volume é bonito e elegante, isso  é, não é caro leitor ?

O caro leitor já pagou algum bônus por volume para algum guarda de trânsito esquecer da multinha, por exemplo ?

E assim caminham as organizações globo, com uma voracidade volumosa que abocanha tudo que encontra pela frente, por quaisquer meios, métodos e práticas, desde que, claro, o lucro esteja garantido.