quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Perfil Infantil


Perfil Infantil




 Impressiona a quantidade de notícias diariamente veiculadas sobre violência contra crianças e adolescentes. Jornais impressos, emissoras de rádio e programas de tv abordam o tema diariamente, por alguns anos, e , ao que parece, o problema persiste e os crimes, que deveriam diminuir com as "denúncias" da grande mídia , vem aumentando.  O número de crianças desaparecidas vem crescendo, e a maioria jamais é encontrada. As motivações para o rapto de crianças não são discutidas na mídia, assim como a provável existência de quadrilhas que atuam no ramo, também são ignoradas pela imprensa. Raptadas para sofrerem violência sexual, para o trabalho escravo em locais distantes da cidade onde residem,  para a retirada de órgãos que irão salvar vidas de endinheirados, para o tráfico internacional de pessoas, para sacrifício em práticas de seitas religiosas e outros fins, as crianças são um alvo fácil para o crime organizado , para a propaganda midiática, para os conteúdos das emissoras de tv.
A grande mídia reproduz com sensacionalismo e superficialidade o desaparecimento de crianças, assim como também o faz sobre as práticas de pedofilia e abuso sexual que as crianças sofrem. A repetição , quase que diária do tema na mídia, sem que medidas para atacar o assunto sejam implementadas e apresentadas, acaba banalizando o assunto, que é grave, transformando-o em algo corriqueiro, inserido na violência social. Para o consumidor de informação fica a sensação que " é assim mesmo", " vida é assim mesmo", " a violência existe, fazer o quê ?, "o mundo é assim mesmo", tá tudo meio maluco", " é a falta de deus nas pessoas" e outras observações similares que atestam o fato como corriqueiro. A questão, porém, não se limita aos crimes e quadrilhas que atuam. Uma criança , ou adolescente, oriunda de uma família com recursos financeiros e que necessite passar por um transplante de um determinado órgão terá, que esperar na fila para um transplante, assim como uma criança de origem pobre. Aí entram as quadrilhas oferecendo órgãos para um transplante imediato, em clínicas médicas, com médicos prontos para o serviço. Tudo , claro, por um preço que as famílias endinheiradas podem pagar. Pouco, ou quase nada, se ouve ou lê de críticas a essas práticas, inclusive de Instituições religiosas, já sobre o aborto... O mesmo se aplica quando crianças e adolescentes são enviadas para trabalho forçado e escravo  em negócios agropecuários ou até mesmo em fábricas terceirizadas, em diferentes países,para produção de produtos de consumo de grande visibilidade. Esse assunto raramente, o trabalho escravo, é abordado na grande mídia com denúncias, investigações, cobranças e nomes de empresas de grande ou pequeno porte que se utilizam dessas práticas. Há , de forma clara e inequívoca, na grande mídia, principalmente nas grandes emissoras de tv, globo, band, rede tv, sbt, record, principalmente  mas não as únicas mídias, uma blindagem protetora para grandes empresas, para o grande capital, para o sistema financeiro, para os crimes da indústria médica e farmacêutica. O foco, nessas emissoras, de crimes recaí em pessoas pobres onde todo o rigor da lei deve ser aplicado. Assim sendo,  e assim se comporta a grande mídia, o público que se alimenta dessas mídias tem uma visão equivocada da realidade e, principalmente, um profundo sentimento de negação de seus iguais, pois os criminosos apresentados são pessoas idênticas a esse público, que ele, público, rejeita e se rejeita, desejando querer ser outra coisa que ele jamais será vivendo, dessa forma , em profundo desgaste com a própria estima. Uma matéria -prima perfeita para desvios de conduta futuros, para entrar no crime, para praticar atos de violência e selvageria. Um indicativo claro, e inequívoco, desse comportamento pode ser observado através das palavras que as pessoas deixam escapar, de forma verdadeira e sem manipulações, por vontade própria, reflexo de suas percepções, manifestações de seus sentimentos, opiniões assimiladas de um rebanho cognitivamente dilacerado: " esse país é assim mesmo", "aqui nada funciona", "nós somos tudo uma merda", " aqui ninguém faz nada certo", " bom é a europa e os eua", " aqui é tudo subdesenvolvido",  " povo atrasado",  " povinho que não é nada" e outros mais. Adicione-se a esse caldo outras matérias-primas oriundas da indústria do entretenimento é aí teremos a fórmula perfeita para criação de toda sorte de pessoas desajustadas e comprometidas com a barbárie, a crueldade,a violência, ou ainda como representou o personagem de Marlon Brando no filme Apocalipse Now, a expressão viva do horror. A estratégia não poderia ser mais diabólica. Acabar com os pobres, negros, índios, idosos, amputados, pessoas com necessidades especiais, loucos, opositores do sistema, e todos aqueles que não sejam ricos e enquadrados na lógica decadente mais ainda dominante no mundo. A criminalização e prisão , por qualquer delito, ou até mesmo por opinião contrária,  deve ser uma constante por parte dos órgãos governamentais.  Enquanto isso o mundo do entretenimento estimula nas pessoas , no público, os mesmos desejos que ele diariamente acusa como criminosos . Um exemplo que ilustra bem o tema é a tv globo, principal braço de desajuste, deseducação e desinformação  da sociedade brasileira. Alguns exemplos:
- durante décadas o principal programa voltado para crianças foi apresentado por apresentadora devidamente vestida, com pouca roupa, para estimular outros desejos, mesclando no inconsciente do público o universo infantil com a sexualidade;
- a novela voltada para adolescentes da emissora, usa e abusa de cenas picantes de relacionamento amoroso entre adolescentes, com os envolvidos , quase sempre com rosto de meninas em corpo de mulher;
- a vinheta que abre as transmissões do desfile das escolas de samba, apresenta uma mulher negra, com rosto de adolescente de 15 anos, totalmente nua,
- e ainda, para terminar mas sem esgotar os exemplos, a grande discussão por conta da escolha da personagem Gabriela, na novela da emissora. A atriz escolhida foi duramente criticada pelos executivos da emissora por não apresentar uma aparência de menina, que seria desejável para o papel, Segundo os executivos da emissora, a atriz escolhida tem aparência de mulher adulta, o que não é desejável para o publico.
Nas outras emissoras citadas, da mesma forma ou de outras formas  similares, a estratégia é sempre a mesma contribuindo para que o público adquira, incorpore, assimile e pratique perfis de crianças, que irão se manifestar em todas as dimensões da vida daquelas pessoas.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Rio Zona Norte - 5 O Sucesso de Maria das Graças

  O Sucesso de Maria das Graças



Em mais um dia, como em todos os outros dias da semana, Maria das Graças , pontualmente às seis horas da manhã aguarda, de pé em uma fila, o coletivo que a levará para seu trabalho. Jovem, bonita, simples, de bom astral, paupérrima e vivendo na baixada fluminense, ficará por volta de uma hora no ônibus até chegar no seu local de trabalho, no bairro da Penha, zona norte da cidade do Rio de Janeiro.  Na plenitude de seus vinte anos de idade, a jovem  que deixou sua cidade natal e sua família no interior do estado de Tocantins ainda com dezessete anos fugindo da pobreza extrema para tentar a sorte na cidade maravilhosa, alimenta sonhos, planos e esperanças de uma vida melhor. Uma vida que ela vê, ouve , diariamente nas mídias, como sendo o ideal para qualquer pessoa que queira ser feliz e alcançar o sucesso. Vivendo em uma pequena casa de apenas um cômodo , em que paga aluguel  e sobrevive com o salário mínimo que recebe pelo trabalho de operária em uma fábrica de roupas esportivas, espera um dia ser uma vencedora, uma mulher chique, bem cuidada e se possível famosa como os exemplos de seus ídolos das novelas e programas de tv, que saíram de baixo, lutaram e alcançaram o sol. Nem sempre, mesmo chegando com antecedência na fila do ônibus, Maria das Graças consegue fazer a viagem sentada, confortável, ainda que os coletivos não tenham ar condicionado e o calor na região  costuma ser infernal mesmo nas primeiras horas do dia, o que , por vezes, faz com que chegue ao local de trabalho já cansada. Responsável e dedicada, nos dois anos em que trabalha na fábrica jamais chegou atrasada ou foi repreendida por mau comportamento ou qualquer infração no seu trabalho. Cumpre, diariamente, de segunda a sábado, uma jornada de doze horas de trabalho, das sete horas da manhã às sete da noite, tendo quinze minutos antes de iniciar o trabalho para um lanche, uma hora para o almoço, e mais quinze minutos na parte da tarde para outro lanche. A fábrica é terceirizada de uma gigante transnacional de material esportivo que tem alguns de seus ídolos como garotos propaganda de seus produtos. A maioria das operárias é de mulheres, jovens, com o mesmo perfil de Maria das Graças. O trabalho é extremamente cansativo, repetitivo e as condições do local são totalmente inadequadas, no tocante a temperatura ambiente, o calor é constante,  as instalações, as cores da edificação e equipamentos, excesso de ruído e condições mínimas de segurança. Os sanitários não tem uma higiene adequada e os aspectos ergonômicos para  execução do trabalho baseiam-se em improvisações. As equipes de operárias são divididas, no local de trabalho, em estações onde dez meninas realizam tarefas de corte e costura de tecidos. Para cada estação existe um supervisor que fiscaliza , em tempo integral, o trabalho e a produção das meninas, não permitindo qualquer tipo de conversa que possa levar a uma interrupção no ritmo de produção. Saídas para o banheiro são acompanhadas por uma supervisora , exclusiva para esse fim. As meninas só podem conversar um pouco, nos horários de lanche, e no tempo que sobra da hora de almoço, que aliás é oferecido no restaurante da empresa  e descontado no salário das operárias.  Muitas operárias preferem trazer o almoço de casa, não apenas para economizar o almoço da empresa, como também pela péssima qualidade das refeições oferecidas. A empresa , sequer disponibiliza um local para que as operárias possam aquecer suas marmitas. Maria das Graças tornou-se uma referência na sua estação,ou seja no seu grupo de dez operárias. Sempre feliz, esbanjando simpatia e acreditando na vida, sua presença quebra, pelo menos em parte, o clima de terror dentro daquela fábrica . Entoando canções, em voz bem baixa mas percebidas pelas outras nove enquanto realiza suas tarefas, cria uma atmosfera de paz e otimismo que ajuda a superar a dura realidade em que vivem.  Nos horários de  lanche e almoço, sempre pode ser vista como o centro das atenções para as nove da estação, que se encantam e adquirem forças com o alto astral de Maria das Graças. Na hora em que deixam a fábrica, já do lado de fora, conversam rapidamente antes que cada uma tome seu destino. Nesse momento, como de costume , Maria das Graças é vista , no centro da roda  e as demais sorrindo , felizes com suas histórias. Em um outro dia, o coletivo que conduzia a jovem para o trabalho quebrou durante o percurso, o que fez com que Maria das Graças tivesse que aguardar um outro coletivo e com isso chegasse atrasada, pela primeira vez em dois anos, no seu trabalho. Antes de assumir seu posto na estação, foi chamada pela gerência e advertida que caso o atraso se repetisse seria demitida por justa causa. Ainda foi informada que os setenta minutos de atraso daquele dia seriam descontados de seu salário. Não se abateu, assumiu seu posto e realizou suas tarefas com as competência e dedicação costumeiras. Conversou com as nove da estação, que ficaram revoltadas com o tratamento dado a menina, já que não tivera nenhuma culpa ou  responsabilidade pelo que tinha ocorrido. Maria das Graças não comprou a revolta, preferiu esquecer o assunto e conversar sobre a novela das nove que ela tanto adorava e não perdia um capítulo. Reunidas na porta da fábrica, já na saída para casa nem parecia que a jovem tinha sido advertida, ameaçada de perder o emprego e ter sua ficha manchada. No dia seguinte, pontualmente as seis horas da manhã, lá estava a jovem embarcando no coletivo que o levaria para seu trabalho. Não poderia imaginar o que aconteceria na viagem. Desta vez, sentada no banco ao lado da janela, sonhava e fazia planos caso ficasse rica. Tinha certeza que ficaria, era uma questão de tempo, pouco tempo. E foi em puco tempo que tudo mudou dentro coletivo. Dois homens armados anunciaram um assalto, isso em um ônibus cheio, porém não lotado, mas com pessoas de pé. A menina entrou em pânico e ficou paralisada, era a primeira vez que vivia a experiência, de que já tivera conhecimento pelos programas de tv que tanto adorava e  os tinha como referência. O passageiro ao seu lado, um senhor também ficou imóvel. De repente, um passageiro reagiu e sacou uma arma , dando início a um tiroteio dentro do coletivo. O passageiro ao lado da jovem tentou se proteger rapidamente, jogando a parte de cima de seu corpo, o tronco, quase que no colo de Maria das Graças. Terminado o tiroteio e  tendo os assaltantes sido imobilizados, o passageiro ao lado de Maria das Graças estava imóvel, já morto, com um tiro na cabeça que acabou servindo como um escudo para o peito da jovem, o  provável destino daquele projétil. A menina , com a roupa já suja de sangue do senhor morto, tentava sair do local, o que conseguiu com a ajuda de outro passageiro e  a ação de alguns policiais que passavam pelo local e prederam os assaltantes. Traumatizada, porém sem ferimentos, conseguiu sair do coletivo,e com as roupas sujas de sangue, foi para seu trabalho, desta vez chegando quase que na hora do almoço, por causa dos tramites legais que acompanham casos como este. As nove da estação ficaram chocadas com a história contada pela jovem e deram todo apoio , carinho a atenção na tentativa de amenizar o trauma da menina. Não faltaram abraços e beijos para acalmar a querida amiga. Entretanto, a gerência chamou Maria das Graças para se explicar do segundo atraso, agora de  quatro horas, em dois dias seguidos. A jovem, com as provas do terror em suas roupas, explicou todo o ocorrido e ainda indicou a delegacia onde se processou o registro de ocorrência com o seu nome. De nada adiantou. Maria das Graças foi demitida por justa causa, sem direito a nenhuma indenização. As nove da estação, quando souberam da demissão da amiga ficaram ainda mais revoltadas, mas nada puderam fazer a não ser chorar e consolar a jovem, que apesar de perder o emprego não demonstrava irritação, revolta ou tristeza. O pior ela já tinha passado, ou pensou que tinha sido o pior. A tristeza tomou conta das nove , não mais teriam a alegria de Maria das Graças, uma igual a elas, para amenizar o terror daquela fábrica. A jovem foi para casa, fora um dia estressante, deitou na cama e dormiu sem se preocupar com horário. Mesmo assim acordou cedo no dia e seguinte e começou a pensar em conseguir trabalho. Antes disso teve tempo para fazer o que não fazia nos dias de trabalho, foi a padaria, no mercado fazer umas comprinhas e ainda fez uma aposta em uma casa lotérica. Cantando , a jovem não perdeu tempo nem se lamentou. No dia seguinte, bem cedo, já estava em uma agência de empregos se candidatando a um novo emprego. Preencheu fichas, fez entrevistas e conseguiu um emprego de balconista em uma lanchonete  na Gávea, zona sul do Rio de janeiro. Deveria começar em três dias, porém a aposta de loteria que fizera no dia anterior mudou totalmente sua vida. Acertou as dezenas premiadas e ganhou uma quantia que lhe garantia a independência financeira. Maria das Graças explodiu em felicidade. Sorria, cantava, chorava sozinha em sua casa, mostrando toda sua beleza. Nada falou sobre o prêmio, nem para vizinhos ou com as nove, amigas da estação que não via desde o dia em que fora demitida. Com a quantia ganha a jovem, esperta e segura voltou para sua cidade natal , no interior do estado de Tocantins. Lá, com o auxílio da família, aplicou o dinheiro em imóveis, comprou uma casa nova para ela e os pais , e garantiu a independência financeira para a família. Tinha agora, como renda, de suas aplicações dez vezes o salário que recebia na fábrica. Era uma vida confortável para eles. Passaram seis meses de sua saída da fábrica e Maria das Graças tinha outra aparência. Usava roupas  idênticas aos personagens de suas novelas favoritas, comprova produtos de beleza e fazia os tratamentos de beleza sugeridos pelos comerciais de tv. Estava ainda mais bonita e radiante. Resolveu ir ao Rio de janeiro, para passeio, e aproveitou para visitar as nove da estação na fábrica do terror. Planejou chegar na fábrica no final do expediente pois poderia encontrá-las no lugar de sempre, ao lado , porém, não muito distante, do portão principal. E assim aconteceu. Avistando as nove da estação. acenou , esbanjando a mesma alegria , simpatia  e simplicidade de costume, que em nada mudaram com a mudança de sua condição financeira. As nove se aproximaram, não acreditando no que viam, e ficaram perplexas quando souberam de toda a história contada por Maria das Graças. Após ouvirem tudo foram se aproximando da jovem e inicialmente, sem nada combinar, começaram a rasgar sua roupa, agredí-la com socos e pontapés. A jovem , indefesa, estava quase desmaiando, semi nua, foi jogada ao chão, pisoteada e com uma pedra, uma das nove bateu em seu rosto até afundar a face e o crãnio, quase que esmagando. Outra, arrancou-lhe os olhos com as mãos enquanto as demais com pedaços  de pau tentavam furar seu corpo no abdômem.  Saciadas, as nove se retiraram, sem falar uma palavra uma com as outras e deixaram o corpo de Maria das Graças, mutilado, sem vida ao lado do portão principal da fábrica do terror.

Caras de Pau

Caras de Pau




Tem início, na tv, a propaganda eleitoral. Pelo que se vê , logo no início,  vai ser grande o carnaval.
As emissoras de tv, sempre democráticas, disponibilizam tempos iguais para os candidatos. Respeitável público, abrem-se as cortinas para o primeiro ato. Na rede tv satisfaction, os tempos para entrevista e as perguntas foram as mesmas para todos os candidatos. Na globo old fashion os tempos foram os mesmos para todos, já as perguntas levaram em conta a orientação política da emissora. É o circo da democracia midiática, a liberdade total e equilibrada,  na produção de informações  relevantes para todas as caras. A ilha da credibilidade e da verdade continua cercada , por todos os lados, por falsas democracias, mentiras despudoradas e interesses empresariais. Inatingível para a maioria de caras mortais.  No circo das ilusões transgressoras, o trapézio é o destino para os que buscam a verdade.   Na avenida do Brasil democrático, distante, porém não diferente, da ilha da credibilidade, ficção e realidade fantasiosa forjam verdades absolutas, inequívocas, inquestionáveis. A mulher cospe fogo e o palhaço informa ao público a próxima atração. Na passarela dos delírios, onde a cultura popular explode por todos os poros, o palhaço simula um enredo. A fama da cultura transgressora, dá lugar, no picadeiro, para uma cultura de fama, fugaz, sem rosto e repleta de caras. As celebridades levam a lona ao êxtase, sem levar o êxtase fútil que proporcionam às lonas. O picadeiro se expande, e vai para as ruas, em um cortejo de democracia, cultura , transgressões e, principalmente, interesses comerciais controladores, manipuladores, verdadeiros. Arrancam-se as cortinas para o segundo ato. O circo é pequeno, não mais comporta  a força da cultura eletromagnética, desfila para o mundo revelando sua cultura, sua arte e , principalmente seu produto disponível para venda. Na antropofagia transgressora e cultural, artistas, oportunistas, mendigos , socialityes ,ladrões, jornalistas, caras, celebridades, cervejas, refrigerantes e emissoras de tv, se devoram na passarela do Brasil, onde nem sempre, ou quase sempre o que está escrito  vale, pois é astutamente manipulado, direcionado. Na ilusão do carnaval das verdades ocultas, o povo e a cultura são os que menos ganham, quando ganham algo. A propaganda eleitoral, seus candidatos, as emissoras de tv  proporcionam meios e discutem as prioridades para a vida de todas as caras da passarela Brasil. No decorrer do segundo ato, o delírio vai construindo , de forma sólida, uma cadeia produtiva , econômica e cultural  que alimenta bocas, de caras famintas por toda sorte de alimentos e moedas, gerando milhões e milhões de reais para a economia. A platéia se levanta, bate palmas e canta. As imagens do grande circo profano e místico correm por todas as latitudes e longitudes , revelando os diferentes temas, seus atos e principalmente seus produtos. O circo ganha dimensões gigantescas, não há mais lona para indicar seus limites, se reproduz por outras latitudes e faz crescer os olhos para aqueles que nada tem de saudáveis atitudes. O palhaço, de câmera em punho e microfone entre os dentes, lidera o espetáculo para que todas as caras possam ver e se ver no picadeiro da passarela Brasil. Chama o público, bate com as mãos, dança, vende cerveja, cobra ingresso , escolhe enredos, define  resultados e cria novas caras, que criarão outras caras que em breve não serão lembradas nem como caras. Do primeiro ato de limites, ao segundo de expansão, chega-se ao terceiro, de resultados. O picadeiro da passarela Brasil não mais cabe no próprio Brasil, uma boa palhaçada, ou boa propaganda, pode render muitos frutos, desde que os recursos para o gigantesco espetáculo, de fontes governamentais, , não sofram qualquer tipo de restrição garantindo, desta forma, um retorno fantástico para os donos ocultos do grande circo. Começou o terceiro ato. Candidatos a prefeito, emissora de tv, gente do carnaval, artistas, vagabundos , vagabundas, criminosos, moradores de rua, jornalistas, políticos, empresários, veados, putas, leprosos, lucianos hucks, e toda a fauna manifesta sua opinião. Deve a prefeitura financiar um enredo para a passarela dos delírios transgressores, ou seja dinheiro público, que visa fazer propaganda de um produto de um conglomerado de mídia ? E se esse produto for do conglomerado que detém a exclusividade dos direitos de transmissão do delírio circense ?  Em se tratando de uma manifestação cultural poderosa, com origem no povo, estaria o conglomerado midiático tentando minimizar a força dessa cultural, mercantilizando o delírio ?

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Caminho é o Ecosocialismo

O Caminho é o Ecosocialismo





Com o capitalismo vivendo sua crise mais grave, a grande mídia procura reforçar suas teses de uma sociedade pragmática, sem ideologias, onde o sucesso individual deve ser  a única motivação de vida para as pessoas. Tem sido assim nos últimos quatro anos, desde  que a crise  surgiu, visivelmente, no ano de 2008. Para tanto essa mídia de propaganda procura ressaltar as desvantagens das ideologias, chamada por ela de sonhos,  sem mencionar ou aprofundar um debate sobre a barbárie que se instalou no mundo com a supremacia do capitalismo , principalmente a partir da década de 1990. A nova crise agrega novos elementos , como a  crise ambiental que acaba colocando em xeque  os meios de extração, produção, distribuição e consumo, em um sistema onde  prevalece uma economia virtual predatória  que em nada contribui para um equilíbrio e ainda agrava os problemas socioambientais. "Coincidentemente" esse discurso aparece no momento em que se inicia a propaganda eleitoral gratuita , no rádio e tv, por conta das eleições municipais de outubro, eleições essas que a grande mídia aposta metade do que sobrou de  suas fichas, a outra metade que sobrou foi para o chamado mensalão, na tentativa  de conseguir plantar a oposição em prefeituras chaves para o processo eleitoral de 2014.  São Paulo, assim sendo, se tornou o carro chefe, o último trem, o último centavo, os segundos de acréscimos de uma partida de futebol, o último mexilhão da porção à vinagrete em uma mesa de quatro pessoas, a última chance de estupro em reality show da globo, a luz amarela que aparece no sinal de trânsito, a visita da saúde para quem está no leito da morte , tudo para tentar manter um ideário que agoniza no mundo,  que tem sido ao longo de dez anos repaginado no Brasil e que em alguns países da América do Sul encontra-se em avançado processo de superação.  Com uma retórica colegial e infantilizante, essa mídia vai buscar nas transformações sociais dos anos da década de 1960, a matéria prima para sustentar suas frágeis teses. Isso me remete a um momento na França de Sarkosy, em um passado bem próximo logo após sua eleição, que ao debelar uma profunda crise nos arredores de Paris, afirmou que 1968 tinha se encerrado. Uma realidade poderosa assola a direita mundial. Por aqui não é diferente, a grande imprensa insiste em comparações infantis, de épocas diferentes, com novas ideologias. A artimanha visa despolitizar a política, tenta mostrar que o exercício da política deve privilegiar os técnicos, o administrador competente, que a política é um erro a ser superado e que ideologias são sonhos irreais. Nesse folhetim de segunda os alvos são os partidos de esquerda, principalmente o PT e o Lulupetismo, expressão que pode ser compreendida com a adequação feita pelo PT-governo no caminho de uma sociedade menos injusta, menos desequilibrada, menos idiota. Ao se apropriar do passado, a grande imprensa tenta reescrever a história, em contextos incompatíveis, ignorando as ameaças que pairam sobre o planeta. Foi nos anos da década de 1960 que surgiu o movimento ambientalista com todo o arcabouço de estudos  que apontavam para graves problemas que atualmente se manifestam com mais e mais intensidade.  Ancorado por uma nova visão da ciência que contempla a interdisciplinaridade  nas abordagens científicas,  o equilíbrio socioambiental somente será possível através da cooperação justa e mútua em concordância com preceitos científicos e a ascenção de um novo socialismo torna-se uma realidade, não apenas lastreado pelo conhecimento científico, mas como o caminho justo para a maior de todas as utopias, o equilíbrio. Interessante , que neste aspecto, a grande imprensa mundial e a direita ignoram o conhecimento científico e a técnica, fazendo uso desses apenas quando de seu interesse, como para demonizar a política e políticos. Mesclando rock 'roll, sexo e drogas, temas que a grande mídia alimenta na sociedade e também deles se alimenta, os artistas de rock são figurinhas carimbadas com presença na grande mídia, uma vez que já foram cooptados e são úteis para formar novas gerações de rebeldes enquadrados na lógica do pensamento consumista. O mesmo não acontece com com outras expressões genuínas de nossa cultura, como o samba , por exemplo, onde a maioria da mídia dominante ainda alimenta forte preconceito e rejeição, principalmente para os artistas que não se curvam ao figurino bovino dominante.  Assim sendo, teremos a campanha do candidato Serra ao melhor estilo Jimy Hendrix, fumando um baseado e fazendo o gesto paz e amor, sendo apoiado por outro não menos cooptado como o companheiro Gabeira, do verde neoliberal, com direito a passeata de artistas da tv globo gritando pela paz, tudo isso ao som de Rolling Stones e Titãs. Podes crer ! Do outro lado temos o candidato do PT a prefeitura de SP, um jovem, incentivador do multiculturalismo, defensor das liberdades de expressão e religiosa e comprometido com uma ideologia que tem sido bem sucedida no país, mesmo que repaginada. Esperamos que não só Hadad, mas todos os candidatos de partidos progressistas  tragam um debate com propostas sintonizadas com a ideologia de seus partidos, visando , com seus futuros governos, transformar a realidade de nossas cidades tendo em vista os grandes desafios e mudanças estruturais que se fazem presentes, apontando para a qualidade de vida, com profundas intervenções na mobilidade urbana, priorizando o saneamento, a educação e saúde pública de qualidade, construindo, dessa forma, no local onde de fato as pessoas vivem, o caminho sólido para o ecosocialismo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A Mídia Brasileira e a Terra do Pateta

A Mídia Brasileira e a Terra do Pateta





Na grande imprensa brasileira , e na mídia de uma maneira geral, é proibido falar mal dos EUA. Neste mês de agosto já foram três os casos de atiradores em cidades daquele país que causaram a morte de dezenas de pessoas.  Um tema repleto de ingredientes para análises que não aparece na mídia e, quando aparece,  tem sido tratado superficialmente, de forma simplória, com "especialistas" sem liberdade de opinião que sempre reduzem as barbáries a atos de pessoas desequilibradas. Estão em cena elementos como a facilidade que  qualquer cidadão tem para a adquirir uma arma de fogo, o constante incentivo a toda sorte de comportamento violento e agressivo produzido pela indústria cultural dentre outros fatores.  Outro assunto tabu na grande mídia brasileira diz respeito ao desenvolvimento de armamentos com alta tecnologia de robótica, que os EUA vem utilizando em uma crescente assustadora para matar pessoas inocentes, criminosos , suspeitos de terrorismo, ativistas de direitos humanos, ou mesmo pessoas que possam gerar uma  antipatia a primeira vista aos operadores de tais barbaridades tecnológicas. Para isso se utilizam da cyber espionagem, de aviões não tripulados com mísseis, nanorobôs de disseminação microorgânica, nano equipamentos de escuta e geração de imagens, micro fontes de radiação ionizante, dentre outras tecnologias. Um cardápio repleto de elementos para se entender a ofensiva imperialista, autoritária, sem precedentes nem nos delírios de Hittler, mas que na grande mídia brasileira, quanto tratado, aparece com tonalidade romântica/evolutiva/tecnologica, ao melhor enredo de guerras nas estrelas, por exemplo. Um outro assunto que  não pode ser abordado na mídia das seis famílias, diz respeito as epidemias do "admirável mundo  contemporâneo", como o sedentarismo, obesidade, estresse, desalinhamentos cognitvos, que no caso da terra do super-homem e  homem aranha vitimam a maioria da população daquele país, tendo como princípios organizadores os hábitos de vida, estilos de vida, fontes de informação diária, falta de contato com a realidade interna de cada um, alimentação industrializada pobre em nutrientes, cultura de massa infantilizante e idiotizante, sucesso enquanto acumulação máxima material, etc... Ainda, um outro assunto diz respeito a um dos principais pilares da propaganda capitalista do país livre, que é a própria democracia.  No país das liberdades plenas , só podem almejar a participação, com chances reais, em um processo eleitoral  os grandes endinheirados. Dois partidos, que mais se parecem como gêmeos siameses, trocam o poder para que os interesses das corporações que comandam o país, possam ser atendidos, em função do tempo de acumulação de riqueza disponibilizado para cada grupo. Ainda , no país livre, qualquer cidadão americano pode ser preso baseado apenas por suspeitas subjetivas sem qualquer acusação formal e sem direito a defesa. O pior , entretanto, para os cidadãos americanos ou de qualquer parte do planeta, é a autonomia do estado americano para decidir matar quem bem entender. Mais uma vez um cardápio repleto de ingredientes para análises sobre o ocaso da democracia na terra da estátua da  liberdade do sistema financeiro. Todos esses temas , e outros mais , são tratados de forma enviesada pela mídia brasileira das seis  famílias.  Essa mesma mídia, que defende a democracia e a liberdade de expressão, tem por princípio talhar as informações, retirando das mesmas não apenas rebarbas, mas conteúdos significativos e relevantes para a informação em um regime democrático. Essa mesma mídia das seis famílias  comporta-se como um polo de disseminação , divulgação e defesa  da cultura  do país da mulher maravilha, reproduzindo as mesmas opiniões da mídia dominante da terra do mickey mouse.  Se não bastasse , a mídia brasileira ainda incorpora, através de seus conteúdos, a estratégia do país das estagiárias no tocante as  sucessivas tentativas para impedir que o Brasil, e também todos os países emergentes, possam se desenvolver, em ciência, tecnologia, cultura, conhecimento, e com isso alcançar uma maior autonomia em todos os ramos do saber.  A firme crença americana de que o mundo não pode mais comportar novos países com o mesmo grau de desenvolvimento dos EUA em áreas sensíveis para uma soberania plena, também é incorporada e assimilada pela mídia das seis famílias brasileiras que não poupa  recursos e esforços para perseguir governos trabalhistas e progressistas, sendo que , se necessário for, organizar ações para derrubar tais governos, como ocorre no Brasil e em outros países da América  latina. Assim sendo, a informação por diferentes pontos de vista  fica profundamente comprometida, e , o povo brasileiro, ainda, é obrigado a engolir a s medíocridades midiáticas produzidas, ou melhor, reproduzidas pela mídia das seis famílias.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Rio Zona Norte - 4 Os Ariostos da Consolação


 Os Ariostos da Consolação





Ariosto Bonifácio Saraiva, ou apenas Ariosto para todos de sua rede de contatos, é um cidadão de classe média, confortável, morando no bairro da Consolação, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Funcionário público, casado com Angelina, vive em uma bela casa em uma tranquila rua daquele bairro. Pai de Ariosto Bonifácio Saraiva Filho, que é apenas conhecido carinhosamente como Ariostinho ,é tido por todos no bairro como um homem sério e dedicado a sua família. Assim como  a maioria dos moradores do local frequenta a missa de domingo, junto com Angelina e Ariostinho. Angelina, que com o tempo engordou bastante, é uma dona de casa e mãe exemplar, entretanto tem , vez por outra, crises de raiva, que acabam sobrando para Ariosto. Em algumas ocasiões a vizinhança viu Ariosto saindo correndo de casa para fugir da fúria de Angelina. Paciente e dedicado, Ariosto sempre evita qualquer assunto que possa irritar Angelina. Ariostinho, que já está com 17 anos, é um menino comportado, estudioso e obediente. Angelina não permite que Ariostinho brinque na rua com os meninos do bairro, de maneira que sua vida se resume a escola, os cursos de idioma, as aulas de música e ainda as aulas de judô, essa última por influência de Ariosto,  apesar das  negativas de Angelina , discussões e ameças de surras no pobre homem. Já próximo de conseguir sua aposentadoria, Ariosto faz um horário bem flexível na repartição onde trabalha, sobrando um bom tempo ao longo do dia para outras atividades, sem  o conhecimento de Angelina. Sai cedo de casa e retorna sempre ao entardecer, no mesmo horário, com seu terno impecável e pacotes e sacolas de mantimentos. Ao longo do dia, durante anos, Ariosto aproveita a flexibilidade do horário parta se distrair em cassinos clandestinos, pontos de jogo do bicho , e rodas de carteado em casas de aposentados. Preocupado com com blindagem que Angelina impõe a Ariostinho, Ariosto , em cumplicidade com filho, passou a levar o menino  para algumas rodas de jogo e outras coisas mais. Quando Ariostinho completou 16 anos, Ariosto levou o garoto para conhecer um bordel, e ser inciado por uma das meninas da casa, que Ariosto conhecia bem pois era assíduo frequentador do local. A cumplicidade dos dois é total. Ariosto compreende e concorda com a dedicação de Angelina no tocante a uma boa formação profissional para o filho, mas entende , também, que conhecer a vida real  é fundamental  para o menino. Ariostinho, por sua vez, gosta, e muito, das saidinhas que faz com o pai sem o conhecimento da mãe. Entretanto, num dia em que Ariosto participava de um jogo de roleta em um cassino clandestino sua sorte não o ajudou. Uma batida policial no local fechou o cassino e levou todos que estavam no local para a delegacia. Felizmente, naquele dia Ariosto não tinha a companhia do filho. Quando a polícia chegou o pobre homem tentou fugir pela janela e acabou se machucando feio na queda, fraturando a perna direita. Ariosto, por estar ferido, foi levado para um hospital público onde passou por uma cirurgia  e ficou internado, devendo, quando se recuperasse comparecer a delegacia para  para depoimentos . A polícia avisou  a família, no caso Angelina,  que em total descontrole se dirigiu para o hospital. Chegando lá ,mesmo vendo Ariosto deitado com a perna engessada e pendurada, Angelina não se conteve e passou um interrogatório no pobre homem, que, assustado, imobilizado, respondia a Angelina dizendo que apenas se distraia nas horas livres e que não tinha nada demais no que fazia. Angelina não suportou a conversa de Ariosto e partiu pra cima do homem com tapas  e socos  que só foram interrompidos com a chegada de uma enfermeira que passava pela porta do quarto no momento. Apesar de evitar uma tragédia, a enfermeira não pode evitar que a violência de Angelina caussase uma fratura no braço direito do pobre Ariosto. Agora, além da perna direita imobilizada, Ariosto tinha o braço também engessado. Até então Angelina nada sabia que Ariostinho também participava das jogatinas com Ariosto. Em casa, conversando com o filho, e com a astúcia natural de mãe, percebeu que Ariostinho também estava envolvido com o pai. Ariostinho não resistiu a pressão e confessou que apenas em algumas ocasiões, acompanhou o pai nas jogatinas das tardes.  Angelina se transformou em uma fera. No dia seguinte, quando foi a padaria, não se conteve e contou as histórias do marido. A notícia correu rápido e todos no bairro já comentavam as aventuras de Ariosto com o jogo. Até mesmo motoristas e trocadores da linha de ônibus 422, que fazia ponto final em uma rua paralela a que Ariosto morava comentavam o fato, já que Ariosto usava o coletivo diariamente para ir para o trabalho.
- estão dizendo que o Ariosto  aprontou crocodilagem, disse o trocador
- só porque joga no bicho, replicou o motorista.
- ihhh, rapaz, e ontem deu jacaré, disse o trocador.
- com quanto, perguntou o motorista
- 2457, disse o trocador
- bom milhar, replicou o motorista demonstrando conhecimento.
Como em todo bairro de classe média da zona norte carioca a notícia corria de porta em porta. Angelina, ainda furiosa , resolveu voltar ao hospital para questionar o pobre homem. Quando entrou no quarto abriu o verbo pra cima de Ariosto que com os olhos arregalados estava em pânico. Angelina partiu pra cima do marido desferindo socos e mais socos no rosto de Ariosto que gritava por socorro. Uma enfermeira chegou ao local e , com muito sacrifício, conseguiu imobilizar Angelina, que a partir daquele dia fora proibida de visitar o marido. Ariosto teve o nariz fraturado e agora além de perna e braço tinha dificuldade para falar. Entretanto, com o passar de dois dias já sentia mais tranquilo pois Angelina não podia mais visitá-lo, Apenas Ariostinho via o pai diariamente. Quando tudo caminhava para a tranquilidade, em uma dessas ironias do destino, Luciana, a dona do bordel que Ariosto frequentava foi agredida por um freguês e teve que se internar , por  apenas um dia para recuperação. E se internou no mesmo hospital em que estava Ariosto em um quarto bem a frente do seu. Luciana era muito querida pelas meninas do bordel que, em grupo, foram visitá-la no dia seguinte. No mesmo dia Ariostinho também foi visitar o pai e , para sua agradável surpresa, se deparou com seis meninas da casa de Luciana no corredor do hospital, bem em frente ao quarto em que estava o pai. Soube que ali estavam por conta de Luciana e informou que o pai estava no quarto em frente. Ariosto , que já estava mais calmo, entrou em pânico quando Ariostinho entrou no quarto com todas as meninas do bordel. Sem poder falar direito e movendo apenas o braço esquerdo pedia para que saíssem  todas dalí o mais rápido possível. Neste momento uma enfermeira, que passava pelo local achou estranho aquela movimentação de mulheres, com roupas bem justas, saias curtas, no quarto de Ariosto. Olhou da porta para Ariosto, que disfarçando um sorriso, fez um movimento com o braço e olhos indicando serem amigas de Ariostinho. A enfermeira deu uma olhada geral, com desconfiança, claro, e deixou o local. Ariosto , em pânico total pedia para que todos saíssem, enquanto as maõs de Ariostinho, que exibia uma expressão de felicidade, cresciam para cima de uma das meninas. Uma outra menina, percebendo a aflição do pobre homem, aproximou-se da cama  e disse em total cumplicidade:
- O meu nêgo, fica calmo. Você está precisando se acalmar e relaxar
- Quer que eu quebre teu galho, perguntou olhando para a genitália de Ariosto.
O pobre homem estava a ponto de enlouquecer. Com a mão esquerda protegeu sua genitália e pedia para que fosse embora. Enquanto isso, as meninas resolveram que o melhor seria deixar Ariosto em paz, entretanto Ariostinho já estava engatando uma entrada no banheiro do quarto junto com a menina. Ariosto viu a cena, mas nada pode fazer a não ser torcer para que não chegasse ninguém naquele momento. Alguns minutos depois Ariostinho e a menina deixavam o banheiro e o rapaz demonstrava imensa felicidade. O tempo passou, Ariosto se recuperou, voltou a vida normal com Angelina e Ariostinho. O bairro da Consolação, na zona norte carioca, pode ser compreendido como um microcosmo da opinião pública de uma cidade.  Até o acidente com o pobre homem, Angelina e Ariosto construíram imagens e conceitos que formaram a opinião das pessoas do bairro sobre Ariosto. Uma opinião pública que não refletia a realidade da vida daquele homem. Com o acidente de Ariosto a opinião se  modificou, fazendo daquele homem apenas mais um mortal, igual aos demais. Patife ou canalha para os puristas, anjo ou santo para os realistas, Ariosto é apenas mais um. A história de Ariosto tem paralelos com a história da grande imprensa brasileira, principalmente no tocante aos casos chamados de mensalão e cachoeira. Durante , mais ou menos seis anos, a grande imprensa do Brasil martela diariamente a tese de que os governos populares e progressistas de Lula e Dilma, assim como parlamentares e funcionários do partido dos trabalhadores, são os responsáveis pelo maior esquema criminoso da história do país. Jornais impressos, revistas semanais, telejornais, jornais radiofônicos, parlamentares da oposição ao governo acusam o governo  de criminosos e corruptos. Todos se apresentando como paladinos da moral, da ética e da justiça, com o intuito de esculpir uma opinião pública favorável aos interesses desses setores. Entretanto, assim como aconteceu com Ariosto, um jornalista da revista Veja que se apresenta como uma mídia defensora da ética e da justiça, foi indiscutivelmente flagrado como membro de uma quadrilha , no caso a cachoeira, que tinha por objetivos perseguir políticos, empresários e desestabilizar o governo federal. O jornalista produzia falsos dossiês para atacar o governo que se transformavam em matéria de capa da revista e que também eram reproduzidos, sem qualquer questionamento, por todos os veículos da grande imprensa. Indícios revelam que a estrutura da quadrilha vem desde os tempos do chamado mensalão, que agora está sendo julgado, e que a grande imprensa , ao que parece, é parte integrante da quadrilha. Insatisfeitos pela atuação das mídias alternativas, principalmente a blogosfera que denuncia a farsa montada para esculpir uma opinião pública distorcida da realidade, a grande imprensa, agora, ameça o STF, com pesquisas de opinião pública que revelam  que a maioria deseja a condenação dos réus. .No desespero da UTI em que se encontram, a grande imprensa e oposição querem transformar a justiça em paredão de  programa de reality show, onde, o que vale de fato, é a opinião pública, mesmo que fabricada mentirosamente. Ariosto continuou sua vida normal e sua família e sua rede de contatos do bairrro nada ficaram sabendo de suas travessuras com Ariostinho no bordel. A participação da imprensa brasileira como elemento indutor ativo na tentativa de um golpe de estado para derrubar um presidente eleito, que resultou naquilo que a imprensa chama de mensalão, veio a tona com os flagrantes inquestionáveis, e assim  a opinião pública começa a perceber a verdade, que assim como a vida de Ariosto é apenas a ponta de um iceberg que deverá revelar  outros criminosos e até mesmo interesses externos ao país envolvidos no crime. Ariosto a imprensa e a opinião pública são um bom roteiro de filme, principalmente para cineastas dublê de comentarista político.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Jogos de Propaganda

Jogos de Propaganda





Os jogos Olímpicos de Londres chegam ao fim.  A olimpíada no verão londrino, que teve volei de areia a noite, com chuva, vento e temperatura de treze graus, ventos fortes  que prejudicaram a competição feminina de salto com vara,  águas geladas que provocaram hipotermia em atleta da maratona aquática e proibição de manifestações contra a propaganda nos jogos é um espetáculo midiático. A cobertura exclusiva da tv Record, apesar de repetir idiotices consagradas pelas coberturas da tv globo, foi boa. O público brasileiro estava acostumado a assistir os grandes eventos esportivos pelo padrão globo, que transmite apenas competições com a presença de atletas brasileiros. A Record, independente da participação brasileira nas competições, trouxe imagens de todas as modalidades esportivas, valorizando o esporte. O que deixou a desejar foi exploração da imagem dos atletas brasileiros que conseguiram o lugar mais alto no pódio. Imagens de familiares, a cidade onde nasceram, a primeira namorada, o título de heróis, desfile em carro aberto e outras baboseiras  que reforçam a idéia de povo inferior, com baixa auto estima que necessita de heróis para se sentir valorizado. Pobre de um povo que necessita de heróis para se sentir valorizado. Mais pobre , ainda, do povo que não cultua e valoriza seus verdadeiros heróis. Os neo heróis são criados por conveniência midiática, eles dão audiência, vendem refrigerantes, alimentos vulgares, porém, são rapidamente esquecidos e trocados por novos "heróis". A cultura da celebridade não permite a permanência de "heróis" por muito tempo, tudo deve ser descartado, em sintonia com a economia, para que novos apareçam nas telas. Na cultura do descarte até a vida não tem valor e, nas telas da tv brasileira a  maior audiência no esporte, depois do futebol, é uma luta onde os lutadores sangram, sofrem fraturas de membros e até morrem como consequência das lutas. Enquanto isso , o esporte como qualidade de vida, a atividade física como elemento de redução de gastos com doença, o coma menos e melhor não são valorizados nem incentivados pela mídia de grande alcance. A tv brasileira continua firme em seu papel de idiotizar, diminuir e colonizar o povo brasileiro. Em uma mídia onde a participação de capital estrangeiro não pode ser superior a 50% nas empresas de mídia, o que assistimos em tv's, rádios e jornais é um ataque sistemático, violento contra todos os elementos de nossa rica cultura, objetivando, dessa forma, esmagar a auto estima do povo.  Dúvidas persistem , até hoje, sobre os verdadeiros donos da tv globo, da participação majoritária de capital neonazista na Editora Abril, e sobre o controle majoritário de um grupo português sobre os veículos do grupo O Dia. Cabe lembrar, que os chamados jornais populares, tanto de globo como do Dia, durante os jogos olímpicos, massacraram o povo brasileiro com toda sorte de adjetivos e violências, distorcendo os fatos, desinformando, manipulando as notícias. Neste momento os especialistas do esporte da grande mídia, e são muitos e cômicos, deitam toda sorte de falação para que o Brasiiiiiiiiiiil, na visão oportunística midiática, possa faturar muitas medalhas nos próximos jogos. Vejo com dúvida a declaração do Ministro de Esporte que o país deve investir nos esportes individuais, como o boxe, para obter um grande número de medalhas.  Uma visão apenas de propaganda. Pior ainda é o cálculo oportunístico da mídia sobre medalhas per capta , um verdadeiro quantitativo da idiotice informativa, uma visão reduzida do esporte, o capitalismo das medalhas. Terminado os jogos,  vamos para 2016 aqui no Rio. Na cidade maravilha mutante, o Cristo Redentor receberá todos de braços abertos, distribuindo coca-cola e big mac.