quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A farsa da lava-jato chega ao cinema

A farsa da Lava-Jato chega ao cinema
Por Bepe Damasco, em seu blog:

O monopólio midiático está abrindo espaços generosos para promover o filme “Polícia Federal – a lei é para todos”, que será lançado em sete de setembro. Em um país no qual expressiva parcela da população é submetida à lavagem cerebral diária da mídia é até de se esperar que uma obra dedicada à mistificação e à mentira faça sucesso.

Enquanto Lula é ovacionado no Nordeste, na maior consagração popular protagonizada por um político brasileiro em toda a história, no submundo do golpe e do fascismo o que se vê é uma correria contra o tempo para lançar o filme no feriado da independência, em clara tentativa de apropriação desse simbolismo.

Pelo que já li sobre o filme, não resta dúvida de que ali está uma ode ao estado de exceção. Justiça seletiva, condenações sem provas, conduções coercitivas ilegais, cerceamento do direito de defesa, caçada ao maior líder popular do país, desrespeito ao juiz natural, prisões provisórias e preventivas que duram anos, partidarização do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público. Tudo isso é envolto por uma aura de heroísmo e ganha uma narrativa feita sob medida para seduzir a multidão de analfabetos políticos.

A chamada “a lei é para todos” soa patética quando personagens se baseiam em delegados, procuradores e juízes reais que recebem acima do teto constitucional e traem suas funções republicanas aderindo ao ativismo político mais escancarado.

Se acreditassem mesmo que a lei é para todos, tucanos de alta plumagem estariam presos. Se respeitassem de fato a Constituição, não teriam sido sócios de um golpe de estado, que apeou do governo uma presidenta que não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Se tivessem algum resquício de patriotismo, não contribuiriam para que uma quadrilha de bandidos de alta periculosidade se instalasse no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios.

O roubo dos direitos do povo, a destruição da economia, o desemprego que castiga mais de 13 milhões de brasileiros, a anarquia e a desmoralização das instituições e o Brasil literalmente posto à venda pelo presidente ilegítimo nunca foram objeto de protestos dos que serão endeusados por esse filme. Lamento pelos artistas que mancharam suas biografias atuando num longa metragem que cedo ou tarde será motivo de vergonha para a cinematografia nacional.

Fonte: Blog do Miro
____________________________________________________________

Dilma inocentada e os ladrões no Poder

Em um ano, Dilma foi inocentada pelo menos cinco vezes das acusações do impeachment
As sucessivas absolvições de Dilma comprovam que o real objetivo do golpe era tirá-la do cargo para “estancar a sangria", “botar o Michel, num grande acordo nacional”, "com o Supremo, com tudo"


A PRESIDENTA DILMA NA CARAVANA DE LULA NO NORDESTE. FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK
Katia Guimarães
29 de agosto de 2017, 18h30

Xingada de “ladra” e “corrupta”, além de outros termos impublicáveis, no último ano a presidenta eleita Dilma Rousseff já foi inocentada pelo menos cinco vezes das acusações que levaram o Congresso a retirá-la do cargo para o qual havia sido reeleita em 2014. A mais recente delas foi hoje, com a notícia de que o TCU (Tribunal de Contas da União) isentou Dilma de ter cometido “qualquer ato irregular” na compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006, assim como os demais integrantes do Conselho de Administração da empresa, na época presidido por ela. O episódio de Pasadena foi emblemático e inaugurou o início da Operação Lava-Jato, em 2014.

Em dezembro de 2015, diante da impossibilidade de sustentar que as tais “pedaladas fiscais” eram crime de responsabilidade, única razão prevista na Constituição para o impeachment, os advogados Janaína Paschoal, Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr. chegaram a associar a compra de Pasadena a uma suposta “omissão” de Dilma em relação aos “desmandos” na Petrobras. Como nesta época ela não era presidente da República, o relator Jovair Arantes optou por tirar a menção à refinaria do pedido de impeachment na Câmara e deixou só as pedaladas. Entretanto, no Senado, Zezé Perrella (aquele do helicoca) usou o episódio da refinaria para justificar a saída de Dilma. “Eu voto por Pasadena, pela Petrobras, pelo nosso suado dinheiro que foi pra Cuba, África e Venezuela. É por isso que eu voto ‘sim’,” disse o amigo de Aécio Neves.

Durante a votação da cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a advogada Janaina Paschoal voltou à carga contra a presidenta citando a negociação de Pasadena. Mas a própria absolvição da chapa da chapa pelo tribunal aponta em sentido oposto ao alegado pela professora da USP.

Seguir

Janaina Paschoal @JanainaDoBrasil
Min Herman cita que a negociação da Refinaria de Pasadena permitiu o repasse de valores ilícitos da ordem de 15 milhões! Como não cassar?!
17:18 - 8 de jun de 2017
4444 Respostas
273273 Retweets
500500 favoritos
Informações e privacidade no Twitter Ads

Ao incluir Pasadena, Janaina e seus parceiros na empreitada agiram como se ignorassem que o TCU havia isentado Dilma no ano anterior ao pedido de impeachment, em 2014. Certamente se basearam nos depoimentos de Nestor Cerveró, que conduziu o negócio, e do ex-senador Delcídio do Amaral, que disseram que a petista sabia da existência de “um esquema”. A coluna Painel do jornal Folha de S. Paulo,desta terça-feira revela, porém, que o relatório dos analistas do TCU e do Ministério Público de Contas aponta que a versão dos delatores é mentirosa. O caso deverá ser analisado pelo plenário do tribunal amanhã, 30 de agosto.

Na semana passada, Dilma havia sido inocentada de outra acusação, a de que teria articulado para barrar as investigações da Lava-Jato. Relatório final da Polícia Federal sobre um inquérito que tramita em segredo de justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu que não houve crime de obstrução de Justiça na indicação do ministro Marcelo Ribeiro Navarro Dantas ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) por parte da presidenta em 2015. A falsa acusação também foi feita por Delcídio na delação. Para tentar reduzir sua pena, o ex-senador disse que Navarro teria sido escolhido para o STJ com o compromisso de conceder habeas corpus e recursos favoráveis a empreiteiros presos na operação.
No último ano, a presidenta eleita Dilma Rousseff já foi inocentada pelo menos cinco vezes das acusações que levaram o Congresso a retirá-la do cargo para o qual havia sido reeleita em 2014

Vale citar também que, recentemente, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o procurador da República no Distrito Federal, Ivan Cláudio Marx, afirmou não haver provas de que Dilma e o ex-presidente Lula eram donos de contas no exterior, no valor de 150 milhões de dólares, onde recebiam propinas. A falsa acusação foi feita pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, mas nada foi provado. “É uma história meio absurda desde o início”, afirmou o procurador. “Ele não tem nada. Essa história não tem pé nem cabeça. Não tem como provar.”

Em julho de 2016, antes mesmo da votação do golpe no Senado, o mesmo procurador, Ivan Marx, havia descoberto que Dilma era inocente em outra investigação. Ele pediu o arquivamento de investigação aberta para apurar possível infração penal de Dilma em relação às chamadas pedaladas fiscais. Ele apontou que não houve operações de crédito e que, além disso, as chamadas “pedaladas” não configuram crime.

As pedaladas fiscais nada mais eram que o atraso de repasses do Tesouro Nacional para que bancos públicos pagassem obrigações do governo com programas sociais e empréstimos subsidiados, uma prática que ocorria desde 1994. O procurador analisou seis tipos de operações, ouviu integrantes da equipe econômica, analisou auditorias do TCU e os documentos de cada uma delas. Segundo o procurador, as manobras não se enquadram no conceito legal de operação de crédito ou empréstimo. Por isso, não seria necessário pedir autorização ao Congresso.

Ou seja, a principal razão para o impeachment de Dilma não existiu e nem era crime. Uma perícia contratada pela defesa da presidenta durante o processo tinha chegado à conclusão de que Dilma nem sequer participou das reuniões que decidiram as “pedaladas”, que, aliás, foram liberadas por uma lei dois dias depois de Temer assumir o poder.

Se vivêssemos uma democracia, o processo de impeachment teria sido sumariamente arquivado. E, se a mídia comercial fizesse jornalismo em vez de política partidária, teria destacado que presidenta reeleita por 54 milhões de eleitores não cometeu os crimes que lhe foram imputados por adversários. Na época, jornais, rádios e televisões brasileiras foram incapazes de, ao contrário da imprensa internacional, sequer levantar dúvidas se Dilma estava sendo arrancada do cargo justa ou injustamente.

As sucessivas absolvições da presidenta eleita na Justiça comprovam cada dia mais que o real objetivo do impeachment era tirá-la do cargo para “estancar a sangria” da Lava-Jato, “botar o Michel, num grande acordo nacional”, “com o Supremo, com tudo” e livrar a cara do PMDB. Enquanto Dilma é inocentada, todo dia tem alguém do governo golpista sendo denunciado ou virando réu.

Fonte: SOCIALISTA MORENA
_______________________________________________________________

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Direita em um universo paralelo

Palmério Dória @palmeriodoria

Entidades da floresta, em sessão extraordinária, decidiram recusar o apoio de Susana Vieira e Marcelo Serrado. Curupira: "Andam pra trás".


Fonte: CARTA MAIOR
________________________________

Direita sem voto fantasia um Lula sem povo. Assista e confira

POR FERNANDO BRITO · 29/08/2017


Aquele site de extrema-direita do qual aqui não se pronuncia o nome, fica desesperado com o sucesso da caravana de Lula pelo Nordeste.

Ele, e outros “coxinhas” produzem a versão de que os atos estejam esvaziados.

Hoje, para provar que o ato que reuniu milhares de pessoas ontem em Mossoró (RN) foi um fracasso, publicou uma foto com poucas pessoas no local.

A foto não é falsa, é verdadeira.

Mas foi tirada à tarde, ainda com sol.

E o ato foi à noite…

Manipulação tão barata quanto torpe.

Para não colocar as imagens – lindas, competentíssimas – de Ricardo Stuckert, fui buscar as feitas num vídeo por um jornal local, o Defato.

É para você entender que o jornalismo padrão “Veja” – que vai muito além da revista, é uma abreviatura.

O nome completo é “Veja só o que nós queremos, do jeito que queremos que você Veja”
Fonte: TIJOLAÇO
_______________________________________________

Um gol de placa

O mito de Lula ganha mais força e só condená-lo não é mais o suficiente para 2018
28 de agosto de 2017

A Caravana de Lula pelo Nordeste tem se mostrado o maior acerto político do PT e de Lula nos últimos tempos. Aquele golaço quando o time está perdendo de 3 a 0 e que abre o caminho para uma reação histórica.

Um golaço que faz com que os adversários passem a achar que serão derrotados, mesmo estando à frente do placar. Porque o gol foi feito pelo craque do time que parecia acuado, cansado, imobilizado pela forte marcação e pelas pancadas que tinha tomado durante todo o campeonato.

Este craque pegou uma bola na sua defesa e disparou em velocidade impressionante, fez embaixadinhas, meteu a bola por entre as pernas de dois adversários e na hora que se deparou com o goleiro, lhe deu um chapéu e completou para o gol de calcanhar.

De tão lindo o gol, o estádio silenciou. Ao invés de gritar.

O silêncio do estádio é a metáfora do silêncio ensurdecedor da mídia sobre esta caravana de Lula pelo Nordeste. Um silêncio que comprova a beleza e o acerto da ação.

Lula está se mostrando do tamanho do Brasil. E está resgatando a esperança de que as coisas podem mudar e voltar a ser do jeito que foram com ele na presidência.

O Brasil não tem ninguém com condições objetivas de levar esta mesma mensagem para o povão. E por isso mesmo, Lula, se candidato, é imbatível.

E se não for candidato por obstrução golpista, ainda terá condições de eleger alguém que vier a apoiar.

Porque depois desta e de outras caravanas que virão por outras regiões, o Lulismo estará imensamente forte para a disputa de 2018.

Como alguém já disse, podem até prender Lula, mas o lulismo eles não terão como prender.

Por isso mesmo, talvez não baste tirá-lo do jogo.

Este golaço de Lula cria um novo problema para o golpe.

PS: E por isto mesmo o blogueiro decidiu que vai cobrir a reta final da caravana. Parte para Teresina no dia 2 e acompanha o grupo que está na estrada até o Maranhão

Fonte: Blog do Rovai

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

#LulaPorAlagoas cita Nise da Silveira

"É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a vida" 



terça-feira, 22 de agosto de 2017

Capitalismo fóssil


ANTROPOCENO, CAPITALISMO FÓSSIL, CAPITALISMO VERDE E ECOSSOCIALISMO

MICHAEL LÖWY 19 AGO 2017

É urgente desacelerar o caminho suicida cavado pelo sistema por meio de um amplo movimento no combate contra a mudança global e o capitalismo fóssil.



J.M.W. TURNER "SNOW STORM: HANNIBAL AND HIS ARMY CROSSING THE ALPS" ,1812

Por onde é a saída?
Resenha de dois livros1 de marxistas norte-americanos sobre os desafios do Antropoceno:
Ian Angus, Facing the Anthropocene. Fossil Capitalism and the Crisis of the Earth System. New York: Monthly Review Press, 2016, 277 pp.,
Richard Smith, Green Capitalism. The God that Failed. World Economics Associations Book Series, vol 5, 2016, 172 pp.

As publicações de ecologia crítica encontram nos Estados Unidos um público crescente, como o sucesso do último livro de Naomi Klein (This Changes Everything) pode atestar. No interior desse campo se desenvolve também, cada vez mais, uma reflexão ecossocialista de inspiração marxista, a qual pertencem os dois autores aqui resenhados.

Um dos promotores ativos dessa corrente é a Monthly Review e sua editora. É ela que publica o livro importante e muito atual sobre o Antropoceno de Ian Angus, ecossocialista canadense e editor da revista eletrônica Climate and Capitalism – um livro reconhecido com entusiamo tanto por cientistas, como Jan Zalasiewicz ou Will Steffen, entre os principais promovedores dos trabalhos sobre Antropoceno, quanto por pesquisadores marxistas, como Mike Davis e Bellamy Foster, ou os ecologistas de esquerda como Derek Wall, dos Verdes ingleses.

A partir dos trabalhos do químico Paul Crutzen – Prêmio Nobel por suas descobertas sobre a destruição da Camada de Ozônio – do geofísico Will Steffen, e de outros, a conclusão de que entramos numa nova era geológica, distinta do Holoceno, começa a ser amplamente admitida. O termo “Antropoceno” é o mais utilizado para designar essa nova época, caracterizada por profundas mudanças no sistema-terra, resultante da atividade humana. A maioria dos especialistas concorda em datar o início do Antropoceno em meados do século XX, quando se desencadeia uma “Grande Aceleração” de mudanças destrutivas: ¾ das emissões de CO2 foram produzidas a partir de 1950. O emprego do termo “Antropo” não significa que todos os seres humanos são igualmente responsáveis por essa mudança dramática e preocupante: os trabalhos dos pesquisadores mostram claramente a esmagadora responsabilidade dos países mais ricos, os países da OCDE.

Conhecemos também as consequências de tais transformações, principalmente a mudança climática: elevação de temperatura; multiplicação de eventos climáticos extremos; aumento do nível das águas do oceano, afogando as grandes cidades costeiras da civilização humana, etc. Tais mudanças não são graduais e lineares, podem ser abruptas e desastrosas. Essa parte do estudo me parece pouco desenvolvida, aliás: Ian Angus menciona esses perigos, mas não discute as ameaças que pesam sobre a sobrevivência da vida no planeta de forma mais concreta e detalhada…

Que fazem os poderes constituídos, os governos do planeta, sobretudo os dos países ricos, principais responsáveis pela crise? Angus cita o comentário feroz de James Hansen, climatólogo da NASA norte-americana na COP21 de Paris (2015): “uma fraude, farsa… não passa de uma besteira” 2. Com efeito, se todos os países presentes na Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas mantiverem suas promessas – pouco provável, visto que nenhuma sanção foi prevista pelos acordos de Paris – não poderemos evitar um aumento da temperatura do planeta superior a 2º C: o limite aceito oficialmente que não se deverá em nenhum caso exceder, se se quiser evitar um processo irreversível e incontrolável de aquecimento global. Na realidade, o verdadeiro limite se aproximaria de 1,5º C, como admitiram os próprios participantes da COP 21. Conclusão de Naomi Klein: ainda é tempo de evitar um aquecimento catastrófico, mas não no quadro de regras atuais do capitalismo.

Ian Angus partilha desse diagnóstico – próximo, nos termos “atuais” – e dedica a segunda parte de seu livro à raiz do problema: o capitalismo fóssil. Se as grandes empresas e os governos continuam a lançar carvão nas caldeiras do trem desgovernado (run-away train) do crescimento, isso não se deve a uma falta da “natureza humana”; trata-se de um imperativo essencial ao próprio sistema capitalista. O capitalismo não pode existir sem crescimento, expansão, acumulação de lucro e, portanto, destruição ecológica. Ora, o crescimento está baseado, há quase dois séculos, nas energias fósseis, que hoje concentram mais investimentos que qualquer outro ramo da produção – sem falar das generosas subvenções acordadas pelos governos. Só as reservas de petróleo representam mais de 50 trilhões de dólares: não se pode contar com a boa vontade da Exxon e Cia para abrir mão desse trunfo. Sem falar dos outros ramos da produção – automotivo, aviação, plástico, químico, autoviário, etc, etc – estreitamente associados ao capitalismo fóssil. Os 1% que controlam as riquezas dos 99% restantes da humanidade concentram também o poder econômico e polítco; reside aí a razão do fracasso retumbante das “conferências internacionais” sobre a mudança climática, que sempre terminam em “besteira” (bullshit), para usar as palavras de James Hansen.

Qual é, então, a alternativa? Não se pode mais retornar ao Holoceno, observa Angus. O Antropoceno já se iniciou e isso não pode ser revertido. A mudança climática em curso perdurará por milhares de anos. É urgente desacelerar o caminho suicida cavado pelo sistema por meio de um amplo movimento que associe todos aqueles dispostos a se juntar no combate contra a mudança global e o capitalismo fóssil – na esperança de poder, no futuro, substituir o capitalismo por uma sociedade solidária, o ecossocialismo. A Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Terra Mãe, em Cochabamba, Bolívia, em 2010, que reuniu dezenas de milhares de indígenas, agricultores, sindicalistas e trabalhadores é um exemplo concreto desse movimento

E o que se passa entre os partidários do socialismo? Ian Angus constata o pesadelo ecológico que a URSS representava, sobretudo a partir do momento em que Stálin liquidou os ecologistas soviéticos. (Essa parte merece igualmente um desenvolvimento mais amplo). Alguns socialistas criticam o que chamam de “catastrofismo” dos ecologistas; outros pensam que a ecologia é um diversionismo em relação à “verdadeira” luta de classes. Os ecologistas não são um bloco homogêneo, mas partilham a convicção de que uma revolução socialista efetiva só pode ser ecológica, e vice-versa. Da mesma maneira sabem que precisamos ganhar tempo: a luta por desacelerar o desastre, obtendo vitórias parciais contra a destruição capitalista e em favor de um futuro ecossocialista, fazem parte de um mesmo processo integrado

Quais são as chances de tal combate? Não há nenhuma garantia, constata sobriamente Angus. O marxismo não é um determinismo. Marx e Engels escreveram no Manifesto Comunista que a luta de classes pode levar a uma transformação revolucionária da sociedade ou à “ruína comum das classes em luta”. No Antropoceno, a “ruína comum” – o fim da civilização humana – é uma possibilidade real. A revolução ecossocialista não é de forma alguma inevitável. Deveremos ser capazes de construir uma ponte sobre a brecha entre a raiva espontânea de milhões de pessoas e o início de uma transformação ecossocialista. Conclusão do autor desse livro estimulante e documentado admiravelmente: se lutarmos, poderemos perder; se não lutarmos, certamente perderemos…

Richard Smith não discute o Antropoceno, salvo em uma frase que resume seu propósito: Entramos no “Antropoceno”, isto é, “não é mais a Natureza que comanda a Terra. Somos nós que comandamos. É tempo de começar a tomar decisões conscientes e coletivas”.

Seu livro é muito mais que uma crítica do “capitalismo verde” como o título indica. Trata-se de uma coletânea de textos, em ordem um pouco improvisada e com algumas repetições; mas o conjunto é de admirável coerência e rigor. Poderíamos começar pelo diagnóstico: em maio de 2013 o observatório de Mouna Loa no Havaí constatou a concentração de CO2 na atmosfera em mais de 400 ppm (partes por milhão). Não havia alcançado tal nível desde o Pleistoceno 3, há três milhões de anos, quando a temperatura era 3º ou 4º C mais elevada que hoje; o Ártico não tinha congelado e o nível do mar estava 40 metros acima do atual. Os lugares que hoje chamamos Nova York, Londres, Xangai estavam submersos… os climatólogos não cessam de multiplicar os avisos: caso não se suspenda, a curto prazo, as emissões de gás de efeito estufa, seguiremos rumo ao aquecimento global incontrolável e irreversível, que terá por resultado o colapso de nossa civilização e pode nos extinguir enquanto espécie.

Ora, e o que acontece? Os negócios continuam como sempre (“Business as usual”), as emissões não só deixaram de diminuir nos últimos anos, como não pararam de aumentar, batendo recordes a cada ano. Continuamos a extrair energia fóssil e a buscamos cada vez mais longe, nas profundezas do oceano, ou nas areias betuminosas. Em suma, o espírito dominante pode ser resumido pela fórmula “depois de mim, o dilúvio”.

De quem é a culpa? Assim como Ian Angus, Richard Smith aponta claramente o responsável pelo desastre: o sistema capitalista e sua necessidade imperativa, irresponsável, insaciável de “crescimento”. O crescimento não é uma mania, moda ou ideologia: é a expressão racional de exigências da reprodução capitalista. “Crescer ou morrer” é a lei de sobrevivência em meio a selva do mercado competitivo capitalista. Sem o excesso de consumo não há crescimento, e sem este só resta a crise, a ruína, o desemprego em massa. Mesmo um economista “dissidente” como Paul Krugman acabou por se resignar ao consumismo: trata-se, escreve, “de uma corrida de ratos, mas que correm dentro de suas gaiolas; é isso que faz girar a roda do mercado”.

É simplesmente a lógica do sistema. Daí o fracasso das conferências internacionais, do “capitalismo verde”, das Bolsas de direitos de emissão, das taxas ecológicas, etc, etc. Como exprimiu cinicamente o economista neoliberal ortodoxo Milton Friedman, “as corporações se envolvem nos problemas para fazer dinheiro, não para salvar o mundo”. Conclusão de Richard Smith: Se queremos salvar o mundo, deve-se retirar das corporações o poder sobre a economia. “Ou salvamos o capitalismo, ou salvamos nós mesmos. Não podemos salvar os dois”. O capitalismo é uma locomotiva descontrolada, que derruba continentes inteiros de florestas, devora oceanos de fauna e flora, bagunça o clima e avança rapidamente em direção a um abismo: a catástrofe ecológica. Donde a crítica de Smith às ilusões dos economistas ou ecologistas partidários do “capitalismo verde” (tão numerosos nos EUA e também na França!) – esse “deus que fracassou” – ou de um “decrescimento” respeitando as regras do mercado e da propriedade privada (Herman Daly).

Que fazer? Não há solução “técnica”, nem dentro dos marcos do mercado. Deve-se reduzir drasticamente, num prazo bastante curto, a utilização de energias fósseis não somente na produção de eletricidade, mas nos transportes, calefação, indústria, agricultura produtivista, etc, etc. E já que Exxon, British Petroleum, General Motors, etc, não desejam cometer suicídio econômico – e nenhum dos governos capitalistas têm a intenção de forçá-los a isso – é preciso que a própria sociedade tome nas mãos os meios de produção e distribuição, e reorganize todo o sistema produtivo – garantindo emprego digno a todos os trabalhadores de empresas que estariam condenadas à extinção ou a redução drástica.

Não basta substituir as energias fósseis por outras renováveis. É necessário reduzir substancialmente a produção e o consumo (“decrescimento”). Segundo Richard Smith, ¾ dos bens produzidos hoje são inúteis, ou nocivos, ou eivados de obsolescência programada. Se pararmos de produzir para acumular lucro, em favor de satisfazer necessidades, poderemos fabricar produtos úteis, duráveis, reparáveis, adaptáveis, utilizáveis por dezenas de anos – como minha velha VW 1962, que ainda roda, diga-se… Daremos prioridade às necessidades sociais e ecológicas que atualmente são negligenciadas ou sabotadas: a saúde, a educação, a moradia (conforme as normas ecológicas), a alimentação saudável e orgânica. Poderemos trabalhar muitas horas a menos e ter férias mais longas.

Contudo, isso implica romper radicalmente com o sistema capitalista, retirar dos proprietários privados o controle da economia, e planificá-la de modo democrático: o ecossocialismo. As comissões de planejamento poderão ser eleitas nos níveis locail, regional, nacional, continental e, cedo ou tarde, internacional. E as grandes decisões serão tomadas pela própria população: carros ou transporte coletivo? Nuclear ou saída do nuclear? E assim em diante. Trata-se de substituir a “mão invisível do mercado” – que só vai perpetuar os negócios de sempre (“business as usual”) – pela mão visível das decisões democráticas da sociedade. Uma tal planificação democrática se situa em oposto diametral à triste caricatura burocrática que foi a “planificação central” – perfeitamente autoritária, senão totalitária – da extinta URSS. Trata-se de um projeto de uma outra civilização, uma civilização ecossocialista.

A demonstração de Richard Smith é perfeitamente coerente. A única ressalva que eu lhe faria é a ausência de mediações. Como passar do curso suicida da civilização capitalista a uma sociedade ecossocialista? É uma questão pouco abordada em seu livro…

O ponto de partida aqui só pode ser as mobilizações atuais, as que Naomi Klein designa como Blockadia: as lutas dos indígenas e dos ecologistas canadenses contra as areias betuminosas, as lutas nos Estados Unidos contra os oleodutos (o oleoduto XXL foi bloqueado), as da França contra o gás de xisto (vitoriosa provisoriamente), as das comunidades indígenas da América Latina contra as multinacionais petrolíferas ou mineradoras, etc. Essas lutas – locais, regionais ou nacionais – são essencialmente, sob vários aspectos, as que: a) possibilitam a desaceleração do curso em direção ao abismo; b) reerguem o valor da luta coletiva; c) fomentam a tomada de consciência anti-sistêmica (anticapitalista).

Felizmente, no último parágrafo de seu livro, Richard Smith se interessa por essa dimensão concreta do combate em favor do ecossocialismo, saudando o impulso, “no mundo inteiro, de lutas contra a destruição da natureza, contra as barragens, contra a poluição, contra o subdesenvolvimento, contra as usinas químicas e centrais térmicas, contra a extração predatória de recursos, contra a imposição dos OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), contra a privatização de terras comuns, de água e serviços públicos, contra o desemprego capitalista e a precarização. Hoje temos uma onda crescente de “despertar” de massas global – quase uma revolta global massiva. Essa insurreição global está ainda no início, incerta de seu futuro; mas seus instintos democráticos radicais são, acredito, a última e melhor esperança da humanidade”.

(Texto originalmente publicado no site Mediapart. Tradução de Flavia Brancalion.)


Notas do autor

1 Nenhum dos dois livros foi publicado ainda no Brasil, ou em português. Em tradução livre, os títulos seriam: “Enfrentando o Antropoceno, capitalismo fóssil e a crise no sistema da Terra” e “Capitalismo Verde, o deus fracassado”.

2 “a fraud, fake… just bulshit”, no que o autor comenta em seguida, entre parânteses, “difícil de traduzir”. (n. trad.)

3 Período compreendido entre 2,588 milhões e 11,7 mil anos atrás. (n. edi.)



Fonte: Movimento. Crítica, teoria e ação

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Criança que dá lucro

Maior parte do dinheiro doado para o Criança Esperança fica para a Rede Globo, diz documento

agosto 20, 2017


WikiLeaks divulga documento que mostraria que a Globo fica com 90% do dinheiro do Criança Esperança. Confira abaixo o link para o documento e confira você mesmo.

Com informações do Wikileaks Promovida pela TV Globo em parceria com o Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância -, a campanha já arrecadou R$ 122 milhões, em 18 anos, investidos integralmente no Brasil.

O Show do Criança Esperança completou 18 anos de alegria. Sob o comando de Renato Aragão, a festa de solidariedade teve a sempre presente Xuxa e muitos outros convidados como Sandy & Junior, Caetano, Angélica e Maurício Mattar.

WikiLeaks divulga documento que mostraria que a Globo fica com 90% do dinheiro do Criança Esperança. Confira abaixo o link para o documento e confira você mesmo.

Um documento publicado pelo site WikiLeaks, famoso por divulgar materiais e informações confidenciais de governos e empresas, registra uma investigação sobre o recebimento de verbas da campanha Criança Esperança da Rede Globo pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

O documento pode ser encontrado no site do Wikileaks no endereço abaixo:

Clique aqui para acessar o documento.

Unesco

O documento, de 15 de setembro de 2006, revela um telegrama que teria sido enviado do escritório da Unesco em Paris, na França, para Washington, capital dos EUA. O material relata uma solicitação de reunião do então embaixador brasileiro na capital francesa, Luiz Filipe de Macedo Soares, com lideranças da entidade da ONU para discutir irregularidades ocorridas no escritório da Unesco em Brasília.

Fonte:  Página Lula Presidente no facebook
_______________________________________________________________
 Isso é pior do que roubar defunto. 

Hoje tem eclipse solar


Resultado de imagem para imagem de bico de pena para escrever

Hoje, 21 de agosto de 2017, acontece um eclipse do sol. Na Antiguidade o fenômeno era tido com prenúncio de novos e significativos acontecimentos. Sábios, astrólogos e reis se movimentavam em busca de novas descobertas. O tempo passou, ou melhor, as pessoas passaram, e atualmente os eclipses solares despertam a atenção das pessoas pela beleza do fenômeno. No entanto, na Tradição o dia é útil para reflexões e análises. Uma lua nova é início de uma nova lunação, um ciclo de 28 dias. Os astrólogos modernos, naturalmente no dia de hoje tem outras motivações comparados com os astrólogos de Reis da Antiguidade.

Dito isto, ciclos e ritmos sempre habitaram o imaginário das pessoas, e claro, suas vidas. Na astrologia, existem alguns ciclos que podem ser considerados como emblemáticos, ou de grande significado na vida das pessoas. De uma maneira geral esses ciclos planetários acontecem em determinadas fases da vida, como próximo dos 30 anos - retorno de Saturno - e próximo dos 40 anos - quadratura de plutão com plutão natal -.São momentos, que de uma maneira geral, as pessoas vivenciam transformações, mudanças, em suas vidas. Na prática da astrologia pessoal, através da leitura de um mapa astral, pode-se facilmente abordar esses trânsitos. Porém, a Astrologia também aborda aspectos de saúde, cármicos, políticos, sociais e fenômenos naturais. Na Astrologia Mundial, é possível estudar e prever ciclos de transformações políticas e sociais. A respeito dos estudos sobre ciclos e ritmos, leia o que diz o excerto do artigo, 'O IMPACTO DA CIÊNCIA SOBRE A VISÃO DO MUNDO' de autoria Verônica Rapp de Eston - Professora associada aposentada da Faculdade de Medicina e co-fundadora do Centro de Medicina Nuclear da Universidade de São Paulo, publicado em 1989:


Ritmos biológicos e campos bioelétricos 

A biologia moderna pesquisou sobretudo os aspectos químicos dos seres vivos. Em décadas recentes, porém, outros fatores foram verificados, como o efeito das radiações eletromagnéticas e das flutuações geomagnéticas sobre os parâmetros da funcionalidade humana ( tempo de reação, humor, e a velocidade dos processos biológicos ). Relacionou-se, por exemplo, a maior procura por hospitais psiquiátricos com a ocorrência de flutuações geomagnéticas. Só recentemente a "poluição eletromagnética" vem sendo investigada ( Healer, 1970).
Muitos dos fenômenos ambientais são de natureza rítmica, podendo-se dizer o mesmo em relação ao homem. Ressurgiu, então, o interesse pelos ritmos biológicos, a sua significação para o ser humano, da forma de pesquisas que lembram as dos antigos astrólogos pela ênfase dada à relação entre ambiente cósmico e acontecimentos humanos.
Em escala mais ampla, os padrões rítmicos de muitos fenômenos sociais, tais como guerras e conflitos, evocam a imagem aristotélica do universo como um organismo - o conceito cosmobiológico da natureza. Consideradas globalmente, as pesquisas científicas vêm corroborar a concepção oriental de indivíduo, concebido como parte essencial de um processo evolucionário cósmico.


Isto posto, os fenômenos políticos e o mundo atual, também podem ser observados com um toque da astrologia. No plano mundial, o ciclo de maior relevância política e social , acontece próximo de 30 anos, um pouco para mais ou para menos, e também em seus múltiplos, em torno de de 7,5 anos.

Assim sendo, acontecimentos significativos e transformadores no campo político e social irão se manifestar, não necessariamente se repetir, ao longo de 30 anos.

O advento do neoliberalismo, no ano de 1979,se manifestou de forma relevante no ano de 2008 com a grave crise do sistema neoliberal. Esperava-se que o neoliberalismo sairia de cena, no entanto, o dinheiro que se dizia não existir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas ou mesmo a fome no mundo, apareceu, em trilhões de dólares, para salvar as instituições financeiras. Passados mais ou menos 7,5 anos daquela crise de 2008, o neoliberalismo resiste e avança ainda mais de forma ortodoxa sobre sociedades, ao mesmo tempo que em países da Europa, por exemplo França e Alemanha, serviços antes privatizados voltam para as mãos do Estado.

No ano de 1990 o capitalismo se declarou vencedor com a queda dos regimes comunistas, aprofundando as teorias neoliberais. Por volta do ano de 2020, pouco para mais ou para menos, o mesmo capitalismo neoliberal será colocado em teste, seja como de fato vencedor, ou compartilhar o espaço com outra doutrina, ou mesmo desaparecer. Também por volta de 2020, acontecerá o segundo ciclo de 7,5 anos da crise do neoliberalismo de 2008, que naturalmente apontará os rumos. Olhando para o estado da arte do mundo atual com seus conflitos e tendências, por volta de 2020 ( 2018 - 2022 ) algo de significativo em mudança deve ocorrer, aliás, já estão ocorrendo.


Abaixo alguns exemplos do ciclo de 30 anos:

1 - em 1960 o Brasil elegeu um presidente que durante a campanha tinha a vassoura como símbolo de limpeza contra a sujeira da corrupção. Saiu do cargo com 8 meses de governo.
Em 1989 o Brasil elegeu um presidente que tinha como campanha acabar com os marajás corruptos do serviço público.Saiu do cargo com pouco mais de dois anos de governo.


2- em 1945 os EUA se apresentavam como os grandes vencedores de 2ª grande guerra mundial. Em 1975 sofriam sua maior e mais humilhante derrota na guerra do Vietnan.

3 - em 1954 o Brasil entrou em comoção pela morte do presidente. Em 1985 o Brasil entrou em comoção pela morte do presidente eleito.

4 - em 1984 o Brasil colocou milhões de pessoas nas ruas pedindo eleições diretas e democracia. Evento similar em envergadura se repetiu em 2013, com as Jornadas de Junho, com as pessoas pedindo melhores serviços públicos e mais democracia

5 - em 1985 o presidente eleito morre antes de assumir o cargo. Em 2014 um candidato a presidência morre em campanha.

6 - em 1985 acabava a ditadura militar que teve início com o golpe de estado de 1964. Em 2015, um golpe de estado destitui a presidenta eleita, aprofundando a ditadura econômica.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Na parte e no todo


A imagem pode conter: 1 pessoa

Lula e a caravana da esperança


Carta Maior Retweeted
Mídia NINJA
✔@MidiaNINJA

Emocionadas, mulheres de Cruz das Almas, na Bahia, choram durante o encontro com o ex-
presidente.
Foto: Ricardo Stuckert

Lula na UNILAB

  1.  Carta Maior Retweeted

    Lula se dirige a São Francisco do Conde (BA), onde participa de colação de grau da Unilab.
    Foto: @MidiaNINJA Siga: https://www.brasildefato.com.br/especiais/acompanhe-em-tempo-real-a-caravana-de-lula-pelo-ne/



    Carta Maior Retweeted
    Brasil de Fato
    ✔@Brasil_de_Fato

    Atentos e emocionados, povo da Bahia acompanha @LulapeloBrasil por onde ele passa; Confira: https://www.brasildefato.com.br/especiais/acompanhe-em-tempo-real-a-caravana-de-lula-pelo-ne/ …


  2. Fonte CARTA MAIOR

LULA, o homem mito

Carta Maior Retweeted
joão mikhail @joomikhail

Namore alguém que te admire .
Igual esta senhora baiana admira Lula !

1
Carta Maior Retweeted
Toni Bulhoes @ToniBulhoes

Quem é este homem, que arrasta multidões por onde passa, que todos querem tocá-lo, como a um herói, um Robin Hood moderno? 
Quem é este homem?



Carta Maior Retweeted
Jornalistas Livres @J_LIVRES

#CaravanaLula Lula no Recôncavo Baiano, na cidade de Cruz das Almas. 
Foto de Guilherme Imbassahy, dos Jornalistas Livres



Carta Maior Retweeted
Lula pelo Brasil
✔@LulapeloBrasil


Lula em Cruz das Almas (BA). Foto: Ricardo Stuckert



Carta Maior Retweeted
Lula pelo Brasil
✔@LulapeloBrasil

Ninguém governa comprando deputado, ninguém governa cortando investimento na saúde e na educação. #LulaPelaBahia


Carta Maior Retweeted
Lula pelo Brasil
✔@LulapeloBrasil

Eu digo pra vocês: guardem o meu título, que eu virei aqui pela quinta vez para receber meu título.
#LulaPelaBahia
1h


Carta Maior Retweeted
Lula pelo Brasil
✔@LulapeloBrasil

Fico triste por não ganhar o título, mas fiquei sabendo que tem uma filha de quilombola que conseguiu chegar na universidade.



Carta Maior Retweeted
Lula pelo Brasil
✔@LulapeloBrasil

Quando ela se formar e ganhar seu diploma, esse será meu título. #LulaPelaBahia


Carta Maior Retweeted
Lula pelo Brasil
✔@LulapeloBrasil






Carta Maior Retweeted
Mídia NINJA
✔@MidiaNINJA

A secundarista Ana Julia está hoje em Cruz das Almas, na Bahia, acompanhando a caravana do ex-presidente Lula. Foto: Mídia NINJA



UERJ abandonada


O GOLPE QUE  DEMOLIU UMA NAÇÃO

hospital universitário da UERJ, RJ, tem 512 leitos; hoje só atende em 160 deles por falta de verba (Valor)

Fonte: CARTA MAIOR

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Perdeu, Globo

Perdeu, Globo





ESMAEL MORAIS

O jornal espanhol El País traz uma reportagem alvissareira, no que diz respeito à pluralidade de fontes de notícias, e devastadora para o império em ruínas da Rede Globo: a juventude brasileira já não assiste mais à TV como antigamente.

O Blog do Esmael vem acompanhando atentamente essa evolução. Para que o leitor tenha ideia da mudança na forma como as pessoas se comunicarão, até 2020, ou seja, daqui apenas três anos, 80% do tráfego de vídeos dar-se-á pela internet.

A feira de tecnologia Mobile World Congress, realizada no fim de fevereiro de 2017, em Barcelona, na Espanha, apontou que em dez ou 20 anos, 90% do que as pessoas vão assistir estará online.

Volto, então, à reportagem de El País.

De acordo com estudo apresentado num recente evento do Youtube, as chamadas geração Z e os millennials, não assistem à TV.

O conteúdo da Internet já é mais procurado que o da televisão a cabo: enquanto 82 milhões de brasileiros, 42% da população, têm costume de assistir a vídeos na rede, os que assistem a TV por assinatura representam 37%.

Embora a TV aberta continue sendo campeã de audiência no Brasil, o tempo que o brasileiro passa assistindo a vídeos na Internet vem crescendo em maiores proporções, segundo um estudo de 2016 apresentado pelo YouTube em parceria com o site Meio&Mensagem e a consultoria Provokers.

A pesquisa, que ouviu 1.500 pessoas entre 14 e 55 anos, das classes A, B e C, revela também que entre os adolescentes a televisão recebe cada vez menos atenção: 89% declarou estar conectado enquanto está diante da tela tradicional.

Os pop-stars de uma geração que não assiste mais TV, portanto, são os youtubers, os blogueiros, vloggers, etc.

Fonte: A JUSTICEIRA DE ESQUERDA


https://www.brasil247.com/pt/colunistas/esmaelmorais/311922/Perdeu-Globo.htm
Postado há 10 hours ago por Blog Justiceira de Esquerda


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Ninguém nasce odiando



Ninguém nasce odiando


IMG_3433
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
Nelson Mandela , “Long Walk to Freedom”, (1995).

Fonte: Blog da Luciana Oliveira

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Os invisíveis geram medo

Os invisíveis geram medo

São mais de 160 pessoas assassinadas por dia. Na Síria, por exemplo, em quatro anos de guerra morreram 256 mil pessoas. No Brasil, no mesmo período, quase 279 mil.2 Não é uma guerra civil declarada, mas este é o país em que os policiais mais matam e mais morrem no mundo. Se de um lado estão os policiais e o Estado, do outro lado quem é o inimigo?
Por: Silvio Caccia Bava
2 de agosto de 2017
Crédito da Imagem: Claudius

A situação ainda não está fora de controle, mas há riscos de entrarmos em um período de confrontos e violência muito mais agudos do que vivemos atualmente. O que acontece hoje no Rio de Janeiro é sinal do que vem por aí. Já assusta todo mundo o fato de que o Brasil atingiu a marca recorde de 59.627 homicídios por armas de fogo em 2014, uma alta de 21,9% em comparação aos 48.909 óbitos registrados em 2003, segundo o Mapa da violência divulgado em 2016.1

São mais de 160 pessoas assassinadas por dia. Na Síria, por exemplo, em quatro anos de guerra morreram 256 mil pessoas. No Brasil, no mesmo período, quase 279 mil.2 Não é uma guerra civil declarada, mas este é o país em que os policiais mais matam e mais morrem no mundo. Se de um lado estão os policiais e o Estado, do outro lado quem é o inimigo?

O que as classes dominantes nos querem passar – e para isso se utilizam da TV – é que o confronto se dá entre criminosos, malfeitores, bandidos, vagabundos, narcotraficantes, corruptos e os que defendem a ordem e a lei. Usam para isso programas como Cidade Alerta.

Ao produzir no imaginário dos brasileiros esse tipo de confronto, a TV oculta a pobreza, o desemprego, a falta de oportunidades para os jovens, a precariedade de nosso sistema educacional, a falta de moradia, os reais problemas da grande maioria dos brasileiros e brasileiras. Essa ocultação falseia o diagnóstico. Já que o que aparece na TV sobre os pobres é a perseguição aos bandidos, o imaginário do brasileiro acabou aceitando a percepção do pobre como um ser perigoso, que necessita ser controlado.

Na verdade, trata-se de repressão e controle policial sobre as grandes maiorias empobrecidas, controle que tem como imagem emblemática as Unidades de Polícia Pacificadora – as UPPs – instaladas em favelas do Rio de Janeiro e que, a pretexto de combater o narcotráfico, chegam a impor toque de recolher em certas áreas da cidade. Isso para não falar na política de encarceramento maciço sustentada pelo nosso Judiciário, hoje com mais de 200 mil presos “para averiguação”, em sua maioria jovens e negros, sem nenhuma acusação pesando sobre eles.

Numa sociedade organizada para facilitar os negócios e atender aos interesses das grandes empresas, a imagem construída da sociedade é a de um grande mercado onde se oferecem produtos e serviços para quem tem recursos para comprá-los. Consumismo e produtivismo são as molas do que se entende como progresso. A TV aberta é a vitrine desse mercado e se orienta para seduzir as classes médias e impor um padrão de consumo. O pobre, isto é, a grande maioria dos brasileiros, não existe na TV. E se é pela TV que a grande maioria se informa, então os pobres não existem para a sociedade em que vivem. Não se sabe como é a vida nas favelas, como funcionam as escolas públicas, como são as relações de rua e de bairro, o que fazem os jovens da periferia etc.

Ignorar os pobres tem como duplo propósito ignorar suas demandas, suas necessidades, e mantê-los sob controle, de preferência alimentando uma situação de apatia.

“A representação de si, neste contexto, é decisiva. Aqueles que não têm nome não podem se nomear, não podem existir enquanto pessoas e não podem agir coletivamente. Se tivermos essa preocupação no espírito, compreenderemos melhor o interesse dos dominantes de fazer desaparecer do campo das representações certas categorias sociais e de querer que outras ocupem todo o espaço, pois aqueles que se tornaram invisíveis aos olhos dos outros se tornaram também invisíveis para si mesmos. Ao contrário, as categorias sociais superexpostas, supervisíveis, podem fazer crer que a representação de si mesmas é a única realidade social efetiva. Assim se constrói o imaginário social coletivo e a ideia que cada um faz de si mesmo.”3

Não basta dizer que a solução para a violência presente na sociedade não é o encarceramento maciço nem o assassinato em massa, como vem sendo feito com os jovens negros da periferia. Soa quase impossível nesse cenário polarizado identificar as causas da violência com a falta de políticas públicas que ofereçam às maiorias as mínimas condições de vida, especialmente nas grandes cidades. A juventude que tem perspectivas de futuro (de emprego, moradia, mobilidade, saúde, educação) não adere à violência, à criminalidade.

As políticas do atual governo cerceiam o futuro de nossa juventude ao impor profundos cortes nas políticas sociais. É um ataque aos direitos humanos, aos direitos sociais, uma violência deliberada sobre a vida das maiorias.

Nessas condições, a única maneira de essas maiorias se tornarem visíveis para o conjunto da sociedade e verem suas necessidades e demandas inscritas na agenda política nacional é por meio da mobilização social, do protesto, da pressão sobre o sistema político.

Se essa pressão vai se radicalizar e assumir formas violentas ninguém sabe, mas parece que somente dessa forma, somando as demandas de diferentes grupos sociais em um movimento amplo de protesto e questionamento da ordem estabelecida, é que o povo sai do anonimato, pode se reconhecer na sua existência, nas suas demandas, tornar-se ator político, apresentar-se para o conjunto da sociedade em toda sua potência. E é disso que as classes dominantes têm medo.

*Silvio C. Bava é diretor do Le Monde Diplomatique Brasil

1 Julio Jacobo Waiselfisz, Mapa da violência 2016, Flacso Brasil.

2 G1, Jornal Nacional, 28 out. 2016.

3 Jean-Luc Mélenchon, L’Ère du peuple [A era do povo], Fayard/Pluriel, Paris, 2017, p.89.

ERRATA

As notas do editorial da edição anterior (n. 120) não foram publicadas. Seguem abaixo.

1 Ernesto Laclau, entrevista ao Le Monde, 9 fev. 2012.

2 Larry Diamond, cientista político e professor da Stanford University. Entrevista à Folha de S.Paulo, 17 maio 2017.

3 Francisco Panizza (org.), El populismo como espejo de la democracia, FCE, Buenos Aires, 2009.

4 Ibidem.

5 José Murilo de Carvalho, “Ecos do passado”, Folha de S.Paulo, 28 maio 2017.

6 Boaventura de Sousa Santos, A difícil democracia, Boitempo, São Paulo, 2016, p.160.

7 Evelyne Pieller, “Patologias da democracia”, Le Monde Diplomatique Brasil, jun. 2017.

8 Chantal Mouffe e Iñigo Errejón, Construir um povo. Por uma radicalização da democracia, Éditions du Cerf, Paris, 2017.

Fonte: Le Monde Diplomatique

O Autogoverno Zapatista

Resultado de imagem para fotos das marchas zapatistas

QUASE 15 ANOS DE AUTOGOVERNO ZAPATISTA

Em Chiapas, a revolução continua

No início dos anos 1990, o levante zapatista encarnou uma opção estratégica: mudar o mundo sem tomar o poder. A chegada ao governo de forças de esquerda na América Latina, alguns anos depois, parecia tirar-lhes a razão. Mas, da Venezuela ao Brasil, as dificuldades das administrações progressistas levantam uma questão: como está Chiapas?

Por: François Cusset
3 de agosto de 2017
Crédito da Imagem: Daliri Orepeza


Eles têm medo que descubramos a possibilidade de governarmos a nós mesmos”, lança a maestra Eloisa. Essa frase é proferida desde 2013 a centenas de simpatizantes vindos do México e de fora do país para conhecer a experiência zapatista durante uma semana de imersão ativa. Batizada carinhosamente de “Escuelita”, essa iniciativa visava inverter a síndrome do evangelizador, a “regresar la tortilla”, como convidava em outros tempos o antropólogo André Aubry: educar-se pelo contato com centenas de camponeses maias que praticam, dia após dia, o autogoverno. Ao inaugurar a Escuelita com essas palavras, em 2013, Eloisa evocava naquele momento o essencial, que ainda deixa alguns observadores incrédulos: modesta e não proselitista, a experiência zapatista rompe, há 23 anos, os princípios seculares, e hoje em crise, da representação política, da delegação do poder e da separação entre governantes e governados – que estão na fundação do Estado e da democracia modernos.

A experiência se deu em uma escala não negligenciável. Se por um lado números exatos não estão disponíveis, estima-se que nessa região de florestas e montanhas que cobrem um terço da superfície do estado de Chiapas (28 mil quilômetros quadrados, quase o tamanho da Bélgica), de 15% a 35% da população – 100 mil a 250 mil pessoas segundo estimativas1 – forma a base de apoio do zapatismo, ou seja, aqueles que o reivindicam e participam dele. Esse fato poderia ofuscar a visão folclórica do capuz e dos discursos eloquentes do ex-subcomandante Marcos (rebatizado Galeano, em homenagem a um companheiro assassinado): nessa escala e com essa duração, a aventura zapatista é a mais importante experiência de autogoverno coletivo da história moderna. Mais longa que os operários e camponeses a favor da Revolução Russa de 1917 (antes da transferência de seus poderes aos executivos bolcheviques); que os clubes e conselhos da Comuna de Paris, derrotados em maio de 1871 após dois meses de efervescência; que o “conselhismo” colocado em prática na Hungria e na Ucrânia após as insurreições de 1919; mais que a democracia direta de camponeses na Guerra de Aragão e da Catalunha entre 1936 e 1939; e que as experiências políticas autonomistas pontuais, ou menos completas, como a de bairros urbanos em Copenhague depois de 1971 ou em Atenas hoje.

Enquanto essas experiências foram todas reprimidas ou revertidas e os governantes de esquerda do resto da América Latina decepcionavam uma parte dos movimentos populares que os levaram ao poder (no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, no Equador…), o zapatismo manteve-se firme. Pouco a pouco, rompeu com o Estado, solidificou suas bases e delineou uma autonomia política inédita, levada adiante hoje pela primeira geração nascida após a revolta de 1994, mediante o abandono progressivo e pragmático da crença no Estado e no vanguardismo leninista no início do processo: “Quando chegamos, éramos quadrados como os profissionais da política, mas comunidades indígenas – que são redondas – apararam nossas arestas”, repete estranhamente Galeano. O desafio: mudar a natureza do poder político; na falta de poder, levá-lo a uma escala maior. O resultado está aí: “Hoje o movimento está mais forte, ainda mais determinado. As crianças de 1994 são atualmente os quadros do zapatismo, sem cooptação ou traição”, reconhece o sociólogo Arturo Anguiano, que, longe de cúmplices naturais da causa, foi o cofundador do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (trotskista), o PRT. É o que a vida cotidiana das comunidades zapatistas demonstra hoje.

“O capitalismo não vai parar. O que se anuncia é uma grande tempestade. Aqui nos preparamos fazendo as coisas sem ele”, resume com um sorriso um homem de 20 anos que há três integra o Conselho de Bom Governo (Junta de Buen Gobierno) de Morelia, a menos povoada das cinco zonas zapatistas, e está prestes a deixar o posto depois de ter formado seus sucessores. Situado no coração da zona, a 1.200 metros de altitude, o caracol de Morelia fica em uma colina luxuriante. O termo caracol se refere à lentidão necessária da política e também a alguns edifícios de reunião que são os escritórios do chefe local de cada zona. Aqui, o caracol é um mirante de pastos e cultivos: 700 hectares de terras recuperadas, para 7 mil habitantes espalhados sobre um território amplo. Entre a quadra de basquete e o auditório de tijolos pintados, algumas dezenas de homens e mulheres deixam o caracol com mochilas nas costas, após três dias de reuniões. Seguem seus passos meio entorpecidos pelas longas horas de assembleias e com um ar consternado em seu semblante bronzeado, que mistura a serenidade amena dos indígenas tzotzils – povo majoritário aqui – e a preocupação daqueles que passaram três dias debatendo sobre as tarefas (cargas) assumidas por cada um voluntariamente, desde a divisão das colheitas até a construção das escolas.

Resultado de imagem para fotos das marchas zapatistas

NA ESCOLA, CRÍTICA AO CAPITALISMO

Ao lado do pequeno cibercafé de alvenaria, o jovem membro do conselho continua: “Não buscamos espalhar o zapatismo, que é muito particular, e sim a ideia que subjaz à experiência: a autonomia geral”. Eles agora são três a nos descrever o funcionamento de Morelia. Há um coletivo por setor de produção, da rádio ao artesanato têxtil, passando pela apicultura. Com 140 cabeças de gado e 10 hectares de plantações de milho (milpas), a zona conquistou a autossuficiência alimentar graças a seus pomares, granjas, 5 hectares de café e suas padarias cooperativas.

Os excedentes são vendidos aos não zapatistas da região, os “partidistas”, que vivem de subsídios do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que está atualmente no poder e subsidia alguns vilarejos em troca de trabalho. Indiretamente, são os fundos do governo que permitem aos zapatistas comprar, em regime de propriedade coletiva, o que eles não produzem: máquinas, material de escritório e os poucos veículos que levam as pessoas às reuniões nos quatro cantos da zona. Os projetos individuais, como a montagem de uma cantina-mercearia, são financiados pelos bancos autônomos zapatistas (Banpaz ou Banamaz), que fazem empréstimos à taxa de 2%. Em toda a zona, come-se até saciar a fome, de forma frugal e tradicional, sem ajuda do Estado ou de ONGs: arroz, tortillas, frijoles (feijão preto), café, algumas frutas e, mais raramente, frango, ovos, cana-de-açúcar. Poucos computadores e livros nas casas, poucos carros, e roupas sóbrias: as condições materiais são mínimas, mas nada de essencial falta. Essa sobriedade se contrapõe à (falaciosa) ideia de abundância euro-americana dos shoppings e lojas de consumo.

Os encarregados voluntários do caracol de Morelia nos descrevem as três missões sociais assumidas pela coletividade: educação, saúde e justiça, desempenhadas, em regime de turnos, por – antes de professores, médicos e juízes – “promotores” benfeitores. E seus vizinhos se ocupam de suas terras e de seus lares enquanto estão em missão. Se as cerca de seiscentas escolas zapatistas das cinco zonas propõem três ciclos de estudos, todo o resto é discutido coletivamente e adaptado às necessidades locais, sejam elas relacionadas ao ritmo de cada um ou aos programas e calendário escolar. Contudo, encontram-se em toda parte cursos de espanhol e línguas indígenas, história colonial e educação política (crítica ao capitalismo, estudo de lutas sociais em outros países), matemática e ciências naturais (“a vida em meio ambiente”). Da limpeza à pintura dos murais, o trabalho coletivo é cotidiano. E, desde o fim do segundo ciclo, com 15 anos, os jovens, todos alfabetizados, podem propor desempenhar uma tarefa, após votação em assembleia e uma formação de três meses.

Soma-se ao processo, na saída de San Cristóbal, a única universidade zapatista, fundada por Raymundo Sánchez Barraza: o Centro Indígena de Capacitação Integral (Cideci). Das escadarias às cortinas pintadas, tudo é obra dos estudantes – duzentos jovens acolhidos a cada ano para aprender saberes autônomos: fabricação de sapatos, teologia ou utilização de máquinas de escrever, mais seguras que os softwares de edição de texto, devido aos cortes frequentes de eletricidade, assim como um seminário político às quintas-feiras. Inspirado nos princípios antiutilitaristas do pedagogo Ivan Illich (“aprender sem escola”) e também nos primeiros profetas indígenas, o Cideci também acolhe os grandes colóquios zapatistas. O último, em dezembro de 2016, foi sobre as ciências exatas “contra ou a favor” da autonomia (ConCiencias).

Igualmente, o sistema de saúde é confiável: “casas de saúde” asseguram cuidados básicos de qualidade, de ecografia a exames oftalmológicos; cada caracol conta com uma clínica onde, por enquanto, cirurgiões externos voluntários realizam as cirurgias; e ONGs fornecem os medicamentos alopáticos. O uso de ervas medicinais e terapias tradicionais é incentivado por toda parte, e a ênfase está na prevenção. A justiça zapatista, assegurada por voluntários e comissões ad hoc, trata de casos em geral leves – desacordos sobre as terras ou os raros conflitos internos entre os vilarejos –, e visa a antes reparar que punir: diálogo com o acusado e trabalhos coletivos em vez de detenção (existe apenas uma prisão para o conjunto das cinco zonas), sem fiança nem mecanismos de corrupção. Mais uma vez, os não zapatistas preferem esse sistema mais justo, que, em vinte anos, fez cair a delinquência e as violências domésticas em toda a região – a proibição do álcool, que as mulheres impuseram no âmbito de sua “lei seca”, é a primeira das leis zapatistas que elas colocaram em votação e que muito contribuiu para isso.

A novidade é a prática crescente de trazer os partidistas para trabalhar nos serviços públicos zapatistas, o que permite contratá-los e assim modificar a relação clientelista, permeada pela burocracia e pela dependência e esmolas do partido. A dependência: é o que os zapatistas, passo a passo, buscaram eliminar, até mesmo a relacionada a ONGs. Mas a autonomia, “processo sem fim”, segundo eles, continua parcial e muitas vezes “remendada”: a eletricidade vem dos mesmos cabos da operadora nacional, embora sem custos, e alguns produtos ainda dependem de compras coletivas, como óleo de cozinha e telefones celulares.

UMA ORGANIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL

Essa experiência insólita, longe do radicalismo de papel, assume suas tentativas e arbitragens delicadas. Seu princípio de aprendizagem: “caminar preguntando” (caminhar perguntando). Já o mote “mandar obedeciendo” (mandar obedecendo), afixado por toda parte, sugere que, diante do horizontalismo puro dos fantasmas anarquistas, convém sempre mesclar uma dose mesmo que marginal de organização – e eficácia – vertical. As comunidades são consultadas longamente, por meio de idas e vindas com os conselhos da zona, mas por iniciativa destes últimos, que formulam e submetem suas propostas e, se necessário, organizam votações. As tarefas voluntárias são rotativas e revogáveis, funcionando dentro de uma política não profissionalizada, mas são os mais competentes que as ocupam (e são eleitos) com mais frequência que outros. É preciso reconhecer que, ao longo de consultas minuciosas, “às vezes o povo dorme”, como dizia outro maestro da Escuelita. Antes de um sistema totalmente horizontal, existe uma tensão – fecunda – entre o governo de todos e mecanismos diagonais, ou até verticais. Trata-se de uma concepção processual e evolutiva, na qual se inventa e testa constantemente, seja em relação às regras de voto ou à duração e aos critérios das tarefas (as mulheres, em geral menos à vontade no engajamento público, podem, por exemplo, ocupar-se de uma tarefa em duas ou três companheiras).

Na origem de tudo isso está o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que surgiu na floresta em uma manhã de janeiro de 1994. Essa estrutura militar vertical é dotada de uma instância de comando, o Comitê Clandestino Revolucionário Indígena (CCRI). O EZLN zela pela perenidade da experiência, mas decidiu que se retiraria do funcionamento político em 2003, no momento da ruptura com o Estado mexicano e da instauração do sistema de autogoverno. Este, por sua vez, funciona em três níveis, após a reordenação geográfica que desfez as divisões administrativas anteriores: o da comunidade de cada vila, onde atuam agentes e comissões (para a segurança, produção etc.); o das comunas, que agrupam as vilas (municípios); e, acima dos outros, o das cinco grandes zonas, cujos centros são os cinco caracoles (Morelia, La Garrucha, Roberto Barrios, Oventic e La Realidad).

A originalidade do zapatismo é também a própria limitação da possibilidade de outros movimentos sociais do mundo replicarem suas invenções e mecanismos: a convergência histórica, em seu seio, de ingredientes heterogêneos, e até incompatíveis, que aqui se tornaram indissociáveis. Antes de mais nada, existe o núcleo indígena, que remete aos povos mesoamericanos dessa região (em particular os tzotzils, tzeltales, tojolabales e os choles) e sua tradição cosmoecológica ancestral, mas também a uma longa história de resistência anticolonial. Se o indigenismo zapatista jamais é essencializado e mantém aberto seu potencial de universalização, é porque ele se dá menos na chave étnica e mais na memória de cinco séculos de lutas contra a “sangria do Novo Mundo”,2 o que compreende o colonialismo interno das novas elites mestiças do México independente, que se arrogou o direito de representação dos indígenas e confiscou suas terras e modos de vida. Há o papel decisivo da Igreja – o do catolicismo sincrético típico do México e da versão local da teologia da libertação, a “Igreja dos pobres” inaugurada no Peru nos anos 1960 –, que também remete à memória colonial mexicana, já que desde o século XVI os únicos defensores dos indígenas contra os conquistadores foram os religiosos, como Bartolomé de las Casas e o bispo Vasco de Quiroga, com seu projeto de uma “república dos índios”.

Há sem dúvida um elemento marxista-leninista disparador, oriundo das guerrilhas dos anos 1960-1970, mas amadurecido após 1994 na luta antissistêmica e aberta contra o neoliberalismo, a pilhagem dos recursos naturais e a mercantilização de todas as formas de vida que pratica. Há ainda componentes menos óbvios, de tipo libertário e principalmente antipatriarcal, como o princípio zapatista da igualdade radical de gênero, que remete a uma filiação pré-colonial. Sem esquecer os intercâmbios com uma vasta rede internacional de apoio, convidada a comparecer aos encontros anuais: dezenas de músicos e grupos de rap e ska com refrões zapatistas (de Rage Against the Machine a Manu Chao, passando por Nana Pancha do México e por Pepe Hasegawa do Japão); milhares de ativistas e intelectuais que participaram dessa construção, como os escritores José Saramago, Gabriel García Márquez, John Berger e Umberto Eco, e os acadêmicos Alain Touraine e Noam Chomsky; além de outros famosos, como o ecologista José Bové, o cineasta Oliver Stone ou ainda Danielle Mitterrand. São inúmeros os simpatizantes do zapatismo, ou “zapatizantes”.

Há ainda a história nacional mexicana, com seu orgulho e singularidades. O projeto zapatista não é de secessão, de independência contranacional. A cada reunião do Congresso Nacional Indígena (CNI), criado em 1996, o hino nacional ressoa antes dos cantos zapatistas, e o estandarte tricolor do país se move ao vento ao lado da bandeira preta e vermelha. “Não pensamos em formar um Estado dentro de um Estado, e sim um lugar onde podemos ser livres”, repetem os comandantes do EZLN durante suas marchas pelo país. Esse patriotismo combativo é herança política de dois séculos de lutas, desde a independência em 1810. É a herança homônima, antes de mais nada, do chefe agrário Emiliano Zapata, general do Exército Libertador do Sul, que, antes de ser sufocado em 1919, se opôs à tradição latifundiária com o Plano de Ayala para a redistribuição das terras e a democracia local, vigente por alguns anos durante a “primeira república social dos tempos modernos”,3 nas palavras do revolucionário belgo-russo Victor Serge.

Para além disso, figura a superpolitização de um país com uma rede associativa e militante de rara densidade, onde o combate pelo estatuto comunal da terra (o ejido) perdura há mais de século. No México, misturam-se, simultaneamente aos corporativismos oficiais (principalmente do partido-Estado, o PRI), a mobilização permanente e retórica da justiça social e diversas insurgências autênticas cuja repressão sangrenta permanece na memória coletiva: resistências urbanas no fim do século XX, como o Movimento Urbano Popular e as Assembleias de Bairro dos anos 1970-1980, estudantes maoistas estabelecidos no campo ou ainda autogestões municipais mais ou menos em ruptura. Assim, o “coquetel” zapatista é uma combinação da igualdade e da diferença; de uma herança comunista de base; e da promoção incansável da diversidade étnica, cultural, sexual – eixos ainda fortemente divergentes em movimentos de esquerda na Europa e América do Norte, onde o “movimentismo” mais ou menos identitário das minorias e o velho unitarismo social, mais ou menos universalista, continuam desconfiando um do outro.

UM JUMENTO CHAMADO INTERNET

A unidade zapatista, contudo, deve-se tanto a essa mistura heteróclita quanto à ideia de conjunto, ao estilo de luta, à forma de vida que é construída. Os traços caraterísticos desta última, que resumem o conceito cardinal de dignidade, aparecem não apenas nas explicações formuladas pelos indígenas, mas também em textos menos evidentes, de registros variados (panfletos, discursos, contos de fadas, canções, poesias).

São esses atributos que tornaram célebre o ex-subcomandante Marcos: modéstia, solenidade, orgulho resistente, determinação marcial, doçura nos gestos, relação de paciência e placidez com o tempo, admissão da utopia e também da fragilidade, lirismo cósmico de herança indígena e senso de humor, inclusive de si mesmo. É esse mesmo senso de humor que em outros tempos incitou Marcos a chamar seu jumento de “Internet”, para enviar em 1995 suas mensagens ao governo por esse meio de comunicação ancestral, ou ainda o EZLN a chamar de “força aérea do Exército Zapatista” as dezenas de aviõezinhos de papel com mensagens dissuasivas jogados nas trincheiras militares. Em resumo, é tanto Karl Marx quanto os irmãos comediantes de mesmo nome; é menos Che Guevara e mais o antropólogo engajado Pierre Clastres; menos Lenin que Ivan Illich; menos o dogma que o pragmatismo do combate; e menos a ditadura do proletariado e mais a tradição local do “realismo maravilhoso” (essa mistura de realismo social e estética mágica promovida pelo escritor cubano Alejo Carpentier) colocada a serviço da autonomia política. Marcos, antes de tornar-se Galeano, repetia que os melhores textos ocidentais de teoria política eram, para ele, Dom Quixote, de Cervantes; Macbeth, de Shakespeare; e os romances de Lewis Carroll.

Por trás da fórmula zapatista “abaixo e à esquerda” (desde abajo y a la izquierda), está a unidade de uma ímpar coerência ética e existencial. Se o zapatismo já foi visto como “a primeira utopia democrática universal que vem do Sul”,4 é em razão dessa reinvenção do fazer político, das formas de sentir e lutar. Mas é também porque sua vitória de longo prazo é a da persistência de uma luta de várias décadas, em que os inimigos e a pressão da realidade eram o maior motor da busca pela autonomia. Longa erradicação forçada, e não decretada, da tutela estatal: a autonomia negociada fracassou, enquanto a autonomia a se construir se impôs.

Formado clandestinamente em 1983, o EZLN ocupou as grandes cidades do estado de Chiapas no dia 1º de janeiro de 1994. Seguiram-se doze dias de combate e em seguida 23 anos de uma “antiguerrilha”, nas palavras de Yvon Le Bot.5 Após o cessar-fogo, um diálogo de paz foi mediado pelo bispo da diocese de Chiapas, Samuel Ruiz García, da catedral de San Cristóbal. O processo foi interrompido pela ofensiva militar de 1995, que precedeu uma longa e desgastante guerra empreendida por paramilitares bancados pelo governo. Chiapas se transformou no maior epicentro de movimentos sociais, inspirou a disseminação de um “zapatismo civil” primeiro em Oaxaca e depois no México todo, acolheu a Convenção Nacional Democrática de 1994 e diversos eventos e encontros internacionais e estimulou as esquerdas do país (que conquistaram a prefeitura da capital em 1997). Mas os assassinatos políticos foram muitos, e a paramilitarização se intensificou – culminando no massacre de 45 indígenas, em sua maioria mulheres e crianças, no acampamento de Acteal, no fim de 1997.

Entretanto, a aliança com a esquerda oficial, notadamente o Partido da Revolução Democrática (PRD) de Andrés Manuel López Obrador, acabou fracassando, e logo vieram a “distância e o divórcio”6 de 1999. Os acordos firmados em fevereiro de 1996 em San Andrés sobre os “direitos e culturas indígenas” (pela autogestão comunitária e o desenvolvimento autônomo) permaneceram letra morta, recusados pelo presidente Ernesto Zedillo e jamais incorporados à Constituição. A esperança renasceu em 2000, com a eleição de Vicente Fox, primeiro presidente não pertencente ao PRI. A imensa Marcha da Cor da Terra, de 2001, não foi suficiente para obter ganho de causa, apesar da intervenção diante do Congresso da comandante Ester. Nesse momento, também os zapatistas decidiram romper com o ciclo de negociações do mal gobierno (mau governo). Em agosto de 2003, lançaram em Oventic a construção da autonomia política criando os caracoles.

“A outra campanha”, espirituosa e amarga, levada adiante por Marcos em 2006, antes das eleições roubadas do PRD por uma fraude do PRI, isolou ainda mais os zapatistas, que construíam laboriosamente sua autonomia. O vazio de 2009-2012 alimentou rumores de um desentendimento maciço dentro do zapatismo e da morte de Marcos. Os zapatistas acabaram com o silêncio em 21 de dezembro de 2012, dia da mudança do ciclo do calendário maia, ocupando silenciosamente todas as cidades que tinham invadido em 1994. Esse silêncio “é o barulho do mundo deles que afunda, enquanto o nosso ressurge”, declarava o comunicado do EZLN. Assim inauguraram uma nova etapa da luta, com a constituição da rede informal Sexta, aberta a todas as lutas sociais do mundo, e a chegada do subcomandante Moisés, sucessor de Marcos/Galeano na liderança do EZLN. A história do zapatismo em Chiapas se define em três palavras, que resumem as modalidades de sua relação com o Estado: contra (durante doze dias de guerra), com (nove anos de tentativa de acordo) e, desde 2003, sem.

Foi no término desse itinerário, e no princípio da nova fase, que veio a decisão tomada no fim de 2016 pelo CNI, em acordo com as comunidades, de formar um Conselho Indígena de Governo. Sua representante (será uma mulher) deverá ser nomeada em 2017 e será também candidata às eleições presidenciais em 2018. Pouco compreendida e ainda em aprovação pelo comitê eleitoral federal, a decisão do CNI deixou alguns estupefatos e outros incomodados – dos defensores de uma secessão integral, que enxergam a decisão como uma submissão ao jogo eleitoral, à esquerda nacional com olhos no pleito, em particular o Movimento de Regeneração Nacional (Morena), de López Obrador, que se exasperou com as primeiras pesquisas atribuindo 20% das intenções de voto à candidata desconhecida, como se fosse mais um golpe do zapatismo contra a esquerda governamental do maior país hispanófono do mundo, mais uma desestabilização infringida pelo movimento ao longo do último quarto de século.

O sentido dessa decisão, contudo, é outro: “Não é pelo poder”, repete o CNI, e sim para afirmar a força de 56 etnias autóctones no México (16 milhões de habitantes, ou 14% da população) e, mais amplamente, de “todas as minorias”. A iniciativa visa tornar conhecida a opressão e sua resistência, encorajando por todo o país formas de organização autônoma. A iniciativa pretende espalhar o vírus da oposição ao capitalismo e ocupar o terreno do adversário para revelar a todos os “indígenas” do mundo seu estado de decomposição terminal, assim como a possibilidade atestada de viver sem ele.
Imagem relacionada

O contexto é a chave, em um país onde o tráfico de drogas (que movimenta US$ 50 bilhões) produziu, nos últimos anos, 200 mil mortos e 500 mil deslocados, e onde partidos e instituições permanecem amplamente corrompidos. O desprezo expresso pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deveria incitar, como espera o filósofo mexicano Enrique Dussel, “a recomeçar do zero, com um projeto de autonomia e descolonização dos espíritos que rompa com o eurocentrismo das elites”.7 A decisão de formar um Conselho Indígena de Governo e apresentar uma candidata foi justificada, no comunicado de 29 de outubro de 2016,8 por uma longa lista de lutas indígenas que atravessam o país (contra o Estado, multinacionais e o cartel da droga) – às quais o CNI se declara solidário, convocando-as para uma coordenação dos combates, para romper com o isolamento de cada uma delas. O essencial está nessa relação voluntária com o exterior, com as resistências não zapatistas, com as quais o diálogo é contínuo, mas a cooperação, intermitente, desde 1994.

Aos ocidentais que os visitam, aos membros da IV Internacional, aos movimentos dos quatro cantos do mundo cuja construção de autonomia se aproxima da experiência zapatista (os curdos da “29ª revolta”, os sul-africanos de Abahlali baseMjondolo (AbM) nas townships da Cidade do Cabo ou a internacional camponesa Via Campesina), os zapatistas sempre fizeram a seguinte pergunta: “¿Y tu, qué?” (E você, o que vai fazer?). É a mesma questão que agora fazem às resistências indígenas locais insurgentes em todos os estados do México, de Michoacán a Sonora, contra os conglomerados mineradores, as expropriações turísticas, as pilhagens dos narcos e o sequestro de estudantes. E também aos movimentos sociais nacionais que os acompanham, como as greves docentes de 2016 e as manifestações contra o aumento do preço da gasolina (gasolinazo), no início de 2017.



Se essa candidatura tem como objetivo colocar o zapatismo em cena e ampliar a rede das solidariedades ativas, é porque ainda há muitos obstáculos e inimigos tramando emboscadas – não à toa o Exército federal ainda tem algumas dezenas de postos ao redor das cinco zonas zapatistas. Os paramilitares continuam a semear o terror, como os enfrentamentos violentos em La Realidad, em maio de 2014, e depois em La Garrucha, em 2015. Os projetos das multinacionais são mais numerosos que nunca em Chiapas: o estado mais pobre do México, porém principal fornecedor de petróleo, café e energia elétrica, já cedeu quase 20% de sua superfície a concessões de mineração ou projetos turísticos. E nas próprias zonas zapatistas, onde convivem “bases de apoio” e não zapatistas, os subsídios de partidos, os “caciques” (latifundiários) que embolsam fortunas dos grupos mineradores aos quais cedem suas terras, representam ameaças cotidianas, diretas ou psicológicas, para comunidades com equilíbrio econômico e político precário – que se esforçam para não responder às provocações e precipitar uma operação militar.

Diante da barreira do caracol de Morelia, um grupo de partidistas se senta em círculo, bebendo cerveja e tequila ruidosamente de manhã para zombar dos zapatistas que chegam para as assembleias e tentar fazê-los se arrepender da “lei seca”. Contra o orgulho de ter construído a autonomia política, de ter retomado uma cultura e inventado um discurso de combate, de ter demonstrado ao mundo que não eram marionetes ou ventríloquos de Marcos, permanecem as provocações e os ataques morais, as tensões e ameaças, que continuam a pesar sobre a “Fragile Armada”,9 que no entanto, por enquanto, segue firme.

*François Cusset é autor de La Droitisation du monde [A direitização do mundo], Textuel, Paris, 2016.

1 Sobre a questão do cálculo e das fontes, cf. Bernard Duterme, “Zapatisme: la rébellion qui dure” [Zapatismo: a rebelião que dura], Alternatives Sud, v.21, n.2, Centre Tricontinental/Syllepse, Louvain-la-Neuve/Paris, fev. 2014.

2 Eduardo Galeano, Les Veines ouvertes de l’Amérique latine [As veias abertas da América Latina], Plon, Paris, 1971.

3 Citado em Guillaume Goutte, Tout pour tous! L’expérience zapatiste, une alternative concrète au capitalisme [Tudo para todos! A experiência zapatista, uma alternativa concreta ao capitalismo], Libertalia, Paris, 2014.

4 A expressão é do sociólogo mexicano Pablo González Casanova (La Jornada, México, 5 mar. 1997).

5 Yvon Le Bot, Le Rêve zapatiste [O sonho zapatista], Seuil, Paris, 1997.

6 Hélène Combes, Faire parti. Trajectoires de gauche au Mexique [Fazer parte. Trajetórias de esquerda no México], Karthala, Paris, 2011.

7 La Jornada, 16 jan. 2017.

8 “Que tremble la Terre jusque dans ses entrailles” [Que a terra trema até suas entranhas], Enlace Zapatista, 29 out. 2016. Disponível em: .

9 Título de um filme realizado in loco por Jacques Kebadian e Joani Hocquenghem, 2002.

Fonte: Le Monde Diplomatique