quinta-feira, 6 de julho de 2017

Macarronada com frutos do mar

Fim do sonho na Copa de 82: Itália vence seleção de Zico, Sócrates, Falcão & Cia

Há 35 anos, na Espanha, carrasco Paolo Rossi fez os brasileiros chorarem a perda do tetra, marcando os gols na vitória de 3 a 2 sobre o time de Telê. Italianos chegam ao tri na Copa

A seleção brasileira tinha tudo para se tornar tetracampeã na Copa da Espanha, na qual jogou seu melhor futebol e passou facilmente pela primeira fase. Nela, vitórias de 2 x 1 sobre a URSS (gols de Sócrates e Éder), 4 x 1 sobre a Escócia (Zico, Oscar, Falcão e Éder) e 4 x 0 sobre a Nova Zelândia (Falcão, Serginho e dois de Zico) ampliaram ainda mais o favoritismo granjeado pela equipe do técnico Telê Santana na excepcional excursão à Europa, em 1981.

Quando soube qual seria a chave da Itália na segunda fase, o técnico da Azurra, Enzo Bearzot, disse que seu time enfrentaria "os atuais e futuros campeões", referindo-se à Argentina (vencedora da Copa de 1978) e ao Brasil.

O Brasil fez sua melhor partida da Copa ao estrear na segunda fase, eliminando o violento time da Argentina com um futebol bonito e eficiente: 3 x 1, gols de Zico, Serginho e Júnior e bela atuação de Falcão. Vencer em seguida a Itália, que derrotara a Argentina por 2 x 1 após uma campanha medíocre (três empates), parecia uma mera formalidade na inexorável conquista do título.

Mas Paolo Rossi discordava e entrou em campo disposto, naquele 5 de julho de 1982, a ser o carrasco do Brasil. Inspirado, marcou um gol logo aos cinco minutos. O Brasil empatou aos 12, gol de Sócrates. O segundo gol de Rossi, aos 25, fez o primeiro tempo terminar com vantagem italiana. Falcão empatou para o Brasil aos 23 minutos, com um belo chute de fora da área. O empate levaria a seleção à fase seguinte, mas ela continuou se lançando ao ataque e, aos 30, Rossi fez o terceiro e último gol da partida: Itália 3 x 2 Brasil. Era a eliminação. O tricampeonato até então era uma exclusividade do Brasil.

Naquela Copa, o futebol de Camarões e Argélia surpreendeu o mundo. Como a Itália, Camarões empatou os três jogos iniciais — a Itália só levou a vaga por ter feito um gol a mais. A Argélia derrotou Chile e Alemanha, mas foi eliminada por um jogo de comadres entre Alemanha e Áustria: os alemães marcaram 1 x 0 e deixaram de atacar, trocando apenas passes laterais. O resultado classificou os dois.

No dia 11 de julho de 1982, na grande final, a Itália derrotou a Alemanha Ocidental por 3 a 1 e sagrou-se campeã do mundo pela terceira vez.

Artilheiro. Paolo Rossi marcando o terceiro gol da Itália e tirando o Brasil da semifinal da Copa do Mundo 05/07/1982 / UPI


Craque. Sócrates marca o primeiro gol do Brasil no jogo com a Itália, mas a seleção acabou

Fonte: O GLOBO
___________________________________________________________
Resultado de imagem para imagem de bico de pena para escrever
Existia um clima de confiança, alegria e entusiasmo por todo o país. A seleção de técnico Telê Santana encantava, e a certeza de mais um título mundial estava no ar, nas mentes, nos corações de todos os brasileiros. Até mesmo a granfina de Nelson Rodrigues - que quando foi pela primeira vez ao Maracanã assistir uma partida de futebol perguntou quem era a bola - que nada entendia de futebol vibrava com a seleção. Aquele dia 5 de julho, inverno no Rio de Janeiro, amanheceu atípico para a estação do ano. Um céu limpo, de um azul da cor da Azzurra, brilhante, e um calor pouco comum para a época do ano. Uma hora antes do início do jogo foi decretado feriado. Deixei o trabalho, a central nuclear de Angra poderia esperar, e me preparei para assistir mais uma vitória, pois assim acreditava, tinha a certeza dos loucos misturada com a paixão pelo futebol. Um coquetel que poderia ser explosivo. Até então não tinha vivenciado nenhuma frustração, decepção como sendo alguém apaixonado pelo futebol. Enquanto me preparava para subir na motocicleta, ansioso por chegar ao local onde assistiria ao jogo, por alguns segundos, talvez como um aviso, lembrei-me de meu pai, naquele ano já falecido e também apaixonado por futebol, que com a mesma idade que tinha naquele ano de 1982, sofreu a maior decepção de sua vida no futebol ao assistir a derrota da seleção brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. Contava, e foram várias vezes, que deixou o estádio aos prantos e foi caminhado até a sua casa, no Bairro do Engenho Novo, atônito , meio perdido, não acreditando no que acabara de assistir. Ignorei aqueles rápidos e surpreendentes pensamentos, e continuei no ritual de vestir o casaco, luvas e o capacete, ainda na garagem da empresa onde trabalhava. Subi na DT 180, top de linha da Yamaha no Brasil em tempos em que era proibida a importação de motocicletas, e acionei o pedal de quique para ligar o motor. De imediato, o ruído nervoso e rebelde do motor de dois tempos, avisou que estava pronto para saída. E assim fiz, acionando a primeira marcha e subindo a pequena rampa que dava acesso à rua, no bairro de Botafogo. Um grupo de amigos iria se reunir na casa de uma amiga, no bairro da Glória, para comer, beber, assistir o jogo e comemorar mais uma vitória da seleção. Poucos quilômetros me separavam do destino, por ruas repletas de pessoas e carros que corriam, no dia de inverno no Rio de janeiro, com um céu azul brilhante, limpo. Todos naturalmente ansiosos , em busca de um lugar no topo do mundo, orgulho até então de um povo de baixa auto estima, carente de heróis, e que vivenciava os últimos anos de uma ditadura militar. Com a agilidade natural das motocicletas, percorri o pequeno percurso de Botafogo a Glória pela avenida litorânea do Flamengo, driblando carros, ônibus e passando na trilha estreita deixada pelos veículos, parados, ou em movimento lento, devido ao grande movimento de pessoas nas ruas naquele momento que antecedia o jogo. Ruas enfeitadas com as cores e bandeiras do país, fogos, comemorações, samba, muito samba, revelavam o clima de total confiança da população. Havia algo de cumplicidade entre as pessoas, que se cumprimentavam, desde que houvesse uma referência sobre o jogo, com camisa, bandeira, cores, palavras ao vento de um dia de azul brilhante e muito calor no inverno do Rio de Janeiro. Estacionei a DT, de cor vermelha comunista, na porta da casa da amiga e fui ao encontro, Estavam todos já posicionados, em cadeiras, sofá, poltronas e pelo chão. Cerveja e algum salgadinho para aliviar a ansiedade. Hino nacional, e a adrenalina subiu, com gente que até de pé se posicionou. Os gols foram saindo, com a Azzurra sempre na frente e sofrendo o empate, até o terceiro gol que definiu o placar final, ainda que todos os presentes acreditassem que um novo empate aconteceria, afinal, necessitavam de heróis, de ídolos, de um lugar no topo do mundo. Terminada a partida, não se sabia o que dizer. A dona da casa caiu em prantos, sendo consolada pelo marido. A todo instante se perguntava, e agora, como ficam todas essas pessoas nas ruas, os enfeites, as festas. Assistia aquilo tudo, imerso naqueles sentimentos de decepção e frustração, porém, não conseguia me expressar, apenas olhava, distante, atônito. Procurava entender e não obtinha respostas, até que me despedi de todos que não saíam da casa, talvez esperando pelo jogo que iria acontecer. Subi na DT, e a resposta foi imediata. Acionei a primeira marcha e saí por ruas desertas, em silêncio, pessoas cabisbaixas, outras arrumando brigas.

Segui pela avenida litorânea, mudo, sem pensar em que pensar, passando pelos bairros do Flamengo, Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Campo Grande , Santa Cruz, pela cidade de Itaguaí até parar no balneário de Muriqui, mais de 60 kms distante do bairro da Glória, onde assisti ao jogo em um dia de azul limpo e muito calor. Estacionei a DT na porta de um restaurante,onde apenas duas pessoas almoçavam, mudas, assim como os funcionários do estabelecimento comercial. Não sabia porque tinha chegado naquele lugar, não escolhi nem planejei, apenas segui tocando a DT rebelde pela orla,vazia, deserta, poucos carros, apreciando a paisagem do mar, em um dia de um azul estonteante. Sentei à mesa, pedi um suco de laranja e o cardápio, no que fui atendido de imediato pelo garçon que não proferiu uma única palavra. Olhava o cardápio e não encontrava o que procurava, o jogo tinha terminado e a seleção tinha perdido, mas insistia em achar algo, quem sabe aquela bola que não entrou poderia ter entrado na minha procura. Olhava e procurava, e não encontrava, até que , em um momento de súbita consciência, descobri que procurava por mim mesmo, e me achei, 60 kms distante de minha casa , olhando o mar azul. Foi então que chamei o garçon e pedi o prato, apropriado ao local e ao dia de um azul brilhante, estonteante:

Uma macarronada com frutos do mar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário