quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A "Notícia"

Mídia promove as fantasias de Doria



Por Altamiro Borges

Logo no seu segundo dia como prefeito de São Paulo, o ricaço João Doria se fantasiou de gari para lançar uma demagógica campanha de limpeza da cidade. Ele pegou na vassoura, talvez pela primeira vez na vida, por alguns segundos – o serviço já havia sido feito pelos verdadeiros garis durante a madrugada. Na sequência, ele se vestiu de pintor e apagou os grafites nos muros de uma avenida da capital. O fascistoide preferiu o cinza para embelezar a cidade. Já neste sábado (21), João Doria – que derrapou ao tratar as pessoas com deficiência como “defeituosas” – percorreu cem metros em uma cadeira de rodas para testar a acessibilidade nas calçadas. Toda esta picaretagem marqueteira, porém, ganhou os holofotes da mídia.

Os principais veículos de comunicação não questionam as demagogias do ex-apresentador de um programa na Band. Talvez estejam negociando aumento das verbas publicitárias e outras benesses na prefeitura. Apenas fotografam, filmam e garantem enormes inserções nas emissoras de rádio e tevê e nas manchetes dos jornalões. O prefeito show business vai se projetando com suas ações performáticas e já há boatos de que até sonha em ser candidato a presidente da República pelo PSDB – caso ocorram acidentes de percurso com o cambaleante Aécio Neves, o “santo” Geraldo Alckmin e o “careca” José Serra, todos citados na lista de propinas de Odebrecht. “João Dólar”, amigo de Donald Trump, já está se achando!

Ao mesmo tempo, o novo prefeito da maior capital do país anuncia cortes no programa de leite para as crianças nas escolas, fala em uma reestruturação do ensino municipal já bombardeada pelas entidades da educação, baixa um decreto fascista que permite retirar os cobertores dos moradores de rua, garante maior espaço na prefeitura para famosos agentes da especulação imobiliária, entre outras barbaridades. A mídia mercenária até publica pequenas notinhas sobre estas ações preocupantes, mas evita dar destaque para assuntos tão explosivos e aprofundar a investigação jornalística sobre os seus efeitos. Na prática, a imprensa ajuda a projetar o demagogo. Depois não adianta reclamar do “populismo”... nos EUA.

Em tempo: Sobre a o decreto que permite a retirada de cobertores de moradores de rua, João Doria até tentou disfarçar. Disse que não adotaria posições “desumanas” e discriminatórias na cidade. O decreto, porém, é explícito ao anular o veto da gestão anterior à remoção de papelões, colchões, colchonetes, cobertores, mantas, travesseiros, lençóis e barracas desmontáveis dos moradores de rua. Publicado no “Diário Oficial” do município neste sábado, o decreto também dá o aval para recolher esses itens que "caracterizem estabelecimento permanente em local público".

Fonte: Blog do Miro
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            Je suis Cedric 

Todo prefeito ao assumir o cargo é notícia.

Uma norma antiga estabelecia que os 100 primeiros dias no cargo o novo prefeito teria uma trégua. As críticas e elogios viriam somente depois dos 100 dias. Tudo isso mudou. Se o prefeito é de oposição ao partido da mídia o pau já quebra no primeiro dia. Se for aliado, elogios, discrição e promoção. Dória é aliado.

O que o prefeito de São Paulo tem feito nesses primeiros dias de governo é marketing, apenas marketing, e marketing de qualidade duvidosa. Assim sendo, uma análise equilibrada por parte da grande mídia seria necessária. Seria ,mas não é o que acontece ,e não acontecerá mais. No entanto, pelo que faz, Dória é notícia, quase que diariamente. Uma notícia que terá um outro significado quando assimilada pelas redes sociais, e , a partir de então, será a "verdadeira" notícia sobre o prefeito. Isso significa que o jornalismo da grande mídia não perdeu o papel de mediador, apenas transformou esse papel. A notícia, hoje, é fornecida pelas redes sociais. O papel da grande mídia é de promover e encaminhar o fato embalado com a emoção adequada. As redes sociais assimilam subliminarmente e noticiam. O jornalismo do século XXI não é direcionado para o leitor, o espectador, o ouvinte. Esse jornalismo tem como alvo o desejo de grupos de afinidades aprisionados em contextos e conjunturas, uma das características das redes sociais. Ao satisfazer o desejo, a notícia se faz naturalmente. Nessa nova realidade, a claridade da razão é dispensável, motivo pelo qual a violência cresce em escala exponencial. Essa violência, produzida pelos grupos de afinidade, será de utilidade, quando necessário, para enfraquecer esses mesmos grupos. Ou seja, a "notícia" tem mais significado e relevância do que o fato, a razão e o conhecimento.Até mesmo a política perde a importância. Na era do consumo como valor máximo, o papel do jornalismo passa a ser o de satisfazer os desejos das pessoas. Assim sendo, a imagem de um prefeito limpando a sujeira deixada pelo antecessor é motivo de satisfação , eficiência e competência. As pessoas sentem-se felizes acreditando na "notícia" que elas mesmas criaram de forma inconsciente.

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