terça-feira, 1 de novembro de 2016

Crivella e Política de faz de conta

Em primeiro discurso como prefeito eleito, Crivella diz que não quer vingança

Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
30/10/2016 - 22h59

O prefeito eleito Marcelo Crivella (PRB) disse que não quer vingança contra os adversários que o atacaram durante a campanha e disse que seu projeto é cuidar das pessoas.

Rio de Janeiro - O senador Marcelo Crivella comemora, em Bangu, a eleição para a prefeitura da capital fluminense, no segundo turnoFernando Frazão/Agência Brasil

"Nós não podemos, jamais, cair na armadilha da praga maldita da vingança. O processo eleitoral termina aqui. Acabou. Nós não temos memórias para injúrias, para calúnias, para infâmias. Vocação da política é olhar para a frente. Nós vamos centrar todas as nossas energias para realizar o projeto que propusemos ao povo, que é cuidar das pessoas", disse Crivella.

A campanha foi marcada por polêmicas como a revelação de um livro com críticas de Crivella à Igreja Católica e aos homossexuais e também reportagem sobre prisão dele, até então desconhecida, por tentar desalojar uma família de um terreno da Igreja Universal.

Crivella discursou na noite deste domingo (30), em ato na sede do Bangu Atlético Clube. Inicialmente, a assessoria do prefeito eleito informou que seria uma entrevista coletiva à imprensa, o que não ocorreu. Crivella apenas discursou para militantes e políticos que o apoiaram, como os candidatos a prefeito derrotados no primeiro turno Índio da Costa (PSD) e Carlos Osório (PSDB), além da deputada federal Clarissa Garotinho (PR), o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC) e o ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem, acusado de desvio de dinheiro público.

Não à legalização do aborto e das drogas
Em um segundo discurso, na quadra esportiva do clube, para os militantes que não puderam acompanhar a primeira fala, Crivella disse que sua vitória representa o não à legalização do aborto e das drogas, bandeiras defendidas pelo candidato derrotado Marcelo Freixo (PSOL). "O povo disse bem alto nas urnas: não à legalização do aborto, não à liberação das drogas. Não, não, não e não. O povo também disse não à ideologia de gêneros nas crianças, de cinco ou seis anos de idade. Não, não e não. Não", discursou em voz alta, arrancando aplausos da militância.

Crivella venceu a eleição com 59,36% dos votos válidos, totalizando 1.700.030, contra Marcelo Freixo (PSOL), que obteve 40,64%, ou 1.163.662. A abstenção foi de 1.314.950 (26,85%), os votos nulos somaram 569.536 (15,90%) e os votos em branco foram 149.866 (4,18%).

Perfil

Bispo licenciado da Igreja Universal, foi a terceira vez que Crivella concorreu à prefeitura carioca. Engenheiro civil, com pós-graduação na Universidade de Pretoria, em Joanesburgo, África do Sul, também concorreu ao governo estadual em 2006 e 2014. Começou a trabalhar aos 14 anos como auxiliar de escritório e foi taxista. Ficou oito anos no Exército, foi professor universitário e servidor público.

Com 59 anos, Crivella nasceu na capital fluminense e é filho único de pais católicos. Em 2002, foi eleito para o Senado com mais de 3 milhões de votos. Foi reeleito para o período 2011 a 2019. No governo de Dilma Rousseff, foi ministro da Pesca e Aquicultura. O político publicou contos de cunho religioso e um livro sobre projeto que torna produtivas terras abandonadas pelo governo federal, na cidade de Irecê (BA).

Casado com Sylvia Jane há 36 anos, é pai de três filhos e tem dois netos. Crivella chegou a ser considerado um dos principais intérpretes do gênero gospel no Brasil, com cerca de 16 álbuns musicais gravados.

Fonte: BOL
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O primeiro discurso de Crivella logo após ser eleito foi catastrófico.

Crivella associou sua vitória a vontade da maioria da população do Rio de Janeiro a não legalização do aborto e das drogas, que , segundo o novo prefeito, seriam bandeiras defendidas por Marcelo Freixo e o Psol.

É provável que o Psol defenda a legalização do aborto e a descriminalização das drogas, no entanto, tais decisões não estão na esfera de atuação de um prefeito. Nenhuma prefeitura no país tem autonomia para legislar sobre liberação de drogas e legalização do aborto. Essas questões são de âmbito nacional, da esfera do congresso nacional. Ao se posicionar dessa maneira, Crivella desinforma, omite, limita a compreensão das pessoas, o que , de certa forma, não deixa de ter paralelos com a função das grandes religiões, incluindo , claro, a religião do Bispo Prefeito. Sim, até o momento, Crivella, assim se posicionando, expressou aspectos de seu sistema de crenças e valores, algo incompatível para um Prefeito, ainda majoritariamente Bispo.

As questões das drogas e do aborto merecem uma discussão ampla transparente, que envolva toda a sociedade.

Recentemente, caminhando pelo centro da cidade no Largo da Carioca , cruzei com Chico Três Oitão, o Filósofo das Encostas. Perguntei ao grande Filósofo o que achava da presença do Estado, através das UPP's, nas comunidades da cidade com o intuito de combater a criminalidade e o comércio de drogas ilícitas. Disse ele:

- legal ou ilegal, tudo é droga. As UPP's até que deram uma segurada na parada, mas o Estado não pode inviabilizar o empreendedorismo privado. Se isso acontece, o bagulho pega geral.

Na dialética do Filósofo a questão é bem mais ampla e transcende a repressão aos usuários. Três Oitão entende que o tráfico e o comércio de drogas estão inseridos em um contexto globalizado que movimenta bilhões de dólares ao ano, com forte influência nas decisões de governos de muitos países, e fonte alimentadora de lucros elevados de grandes instituições financeiras, daí a sugestão do Filósofo para o Estado do Rio de Janeiro ter mais cuidados na repressão.

Na visão do Filósofo, o tráfico e o comércio das drogas são bem mais fortes que governos, estão inseridos no modelo político e econômico mundial, e que as ações de repressão pelo mundo, até mesmo planos bilionários, são , apenas, maquiagens para dar satisfação as sociedades de que os governos estão combatendo as drogas. Ainda segundo o Filósofo das Encostas, o maior risco para o grande negócio das drogas seria a legalização e descriminalização das drogas, não em todo mundo, mas na maioria dos países ocidentais, o que levaria ao controle com pagamento de impostos e a inserção de novos players no negócio, diluindo os lucros. Reconhece, também, que o lado violento do negócio das drogas sofreria grande redução, afetando outros segmentos econômicos, como o comércio de armas. Com esse cenário, o grande Filósofo acredita que nada muda no segmento das drogas no mundo, e que possíveis mudanças somente mudando o Sistema. Para finalizar, disse que o modelo atual de repressão e criminalização dos usuários de drogas, revela tudo o que disse anteriormente, ou seja, o Estado, de alguma ou muitas formas,está comprometido com o negócio das drogas, e age em um faz de conta para dar satisfação a sociedade.

Voltando ao Bispo Prefeito, Crivella é contra a legalização e descriminalização das drogas. Deve ter seus motivos.

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