sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Mais velho

Foucault, as Palavras e as Coisas

POR FRAN ALAVINA– Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da USP. Mestre em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP.
ON 29/09/2016CATEGORIAS: BRASIL, CAPA, POLÍTICAS



É sintomático que Temer odeie o termo “golpe”. Nas “democracias” esvaziadas, não se tenta usurpar apenas o poder político, mas também o sentido dos termos. Por isso, a Resistência é também um ato linguístico

Por Fran Alavina

Parafraseando um texto clássico de Michel Foucault, As palavras e As Coisas [Le Mots et Les Choses] que agora em 2016 completa 50 anos de sua primeira edição, podemos afirmar que o poder se exerce sobre as palavras e as coisas. E nesses dias trágicos da vida nacional popular, tal se mostra cada vez mais claramente. O pensador francês nos faz ver ao longo de sua obra, arguta e perspicaz, que o poder não se exerce apenas sob a forma dos aparelhos repressores — ou seja, o poder não é apenas aquele que se impõe pela força física, pela coação do corpo. O poder também se faz no e por meio dos discursos. Mesmo aqueles que não são proferidos dos clássicos lugares do poder, são discursos de poder. Por isso, o caráter discursivo do Golpe não é menor que seu caráter político. São indissociáveis, pois não há política sem discurso, não há vida política sem a ação das palavras que significam e ressignificam as coisas. Sem a palavra, sobra ao poder apenas a coação física, mas esta forma, embora possa ser mais rápida e direta, é menos sutil, portanto mais fácil de ser denunciada. Espinosa, pensador seiscentista, ao denunciar os mecanismos de poder, nos lembra que: “o maior poder é aquele que reina sobre os ânimos (…)”1. Ora, mas como se estrutura esse poder que dispensando a força física, se exerce diretamente sobre os ânimos? Ele se estrutura pelos discursos, é sustentado pelas palavras, uma vez que há uma vinculação direta entre os nossos ânimos e os sentidos das palavras e das coisas.

Desde os gregos, e depois com a tradição retórica civil dos romanos, é fato que a palavra detém maior força nos regimes democráticos e republicanos. A possibilidade da palavra pública torna vivaz a vida democrática, pois os outros regimes políticos são regimes da letra morta (quando na oligarquia o direito da multidão transforma-se nos privilégios de alguns), ou da palavra de um só (nos regimes monárquicos). Ora, segundo aqueles autores da antiguidade clássica, primeiros justificadores da vida democrática, onde a Democracia fenece, degenera-se conjuntamente a potência da livre palavra. Desse modo, todo livre discurso público, toda fala coletiva é índice de vivacidade do regime democrático.

Assim, quando em uma Democracia, as palavras e seus sentidos — que são um bem comum, cotidiano e simbólico de todos, posto que pertencem ao povo, que age delimitando e estabelecendo novos sentidos — são forçadas a mudar pelo árbitro de um, ou de um grupo particular, sabemos que há algo fora da normalidade democrática. Usurpações de poder nunca se restringem apenas à esfera institucional mais imediata. Se o poder se faz pelo discurso, de modo que o próprio discurso é um elemento de poder, o discurso é o poder que se faz não apenas sobre os falantes, mas também se exerce sobre o próprio discurso, isto é, se exerce também sobre as palavras e os termos, que são a unidade mínima de todo discurso. O comando discursivo é a voz do poder; e o silêncio, o signo da obediência: consentida ou imposta.

É próprio dos regimes totalitários proibirem o uso de termos, promovendo um tipo de higienização da língua e dos discursos. Na Itália fascista de Mussolini, por exemplo, procurou-se varrer do território italiano todo falar e expressividade dialetal. A língua do povo era tida como indigna da suposta supremacia do novo regime. Supremacia que também deveria ser linguística e expressiva. No Brasil, este caráter fascista da imposição linguística e vocabular se exerce todos os dias pelo ódio de classe e pela busca de distinção social, quando aqueles que dominam a norma culta da língua usam este elemento como caráter distintivo e discriminatório. Tal vertente fascista se expressa mais ainda quando a língua do povo, gírias e construções discursivas forjadas no cotidiano nacional-popular são levadas para a mídia sob a forma do entretenimento. Sempre apresentada com a roupagem do exótico, escondendo por baixo da capa da curiosidade e do riso, o preconceito vocabular. Quem quiser ver uma boa amostra disso, acesse, por exemplo, os programas da Regina Casé, mais particularmente o “esquenta”. Neste, há a redução da língua do povo ao riso e ao escracho. O jeito espontâneo e criativo de falar do povo torna-se o divertimento dos telespectadores.

Ou ainda, por exemplo, quando os jovens da classe média paulistana tentam se apropriar das expressões da quebrada. Cada vez que pronunciam um mano, ou um suave em tom afirmativo, cometem um estupro vocabular. As palavras saem de suas bocas como que empurradas e constrangidas, pois são usurpadas do mundo de sentido no qual foram forjadas. São obrigados, os jovens da classe média, a usurpar termos, porque seu mundo linguístico é de uma penúria espantosa. A linguagem dos meios técnicos-midiáticos-informacionais lhes rouba a expressividade espontânea e a criatividade vocabular, uma vez que vivem atochados entre a imposição da norma culta e o poder da linguagem uniformizada das mídias. Dessa maneira, são forçados a ser delinquentes da língua. Não podendo usar a norma culta imitando sua melhor forma, por um lado; por outro, também não podendo criar novos termos, pois a uniformização midiática retira dos falantes a criatividade linguística, não lhes resta senão usurpar e copiar em uma imitação pobre e simplória. Fazem como fizeram seus pais ao saírem às ruas nos domingos protofascitas. Copiavam a melodiam da música de Vandré, Pra não dizer que não falei das flores, ou imitavam e usurpavam a palavra de ordem Lula, guerreiro do povo brasileiro, por uma frase de mesmo sujeito, mas de predicado diferente. Esta pobreza criativa da expressividade ganha sua forma mais loquaz no uso das camisas da CBF. Não poderia ser diferente, nada nos domingos protofascistas era espontâneo, pois não há espontaneidade no fascismo.

Essas usurpações discursivas cotidianas agora se mostram sob outro prisma, aquele político, dos discursos do centro do poder. O novo velho que chega pela usurpação, isto é, pelo Golpe, demanda a criação de legitimidade, operando em um sentido contrário ao da normalidade. Pois em regimes democráticos se supõe que quem chega ao poder, chega em virtude da legitimidade popular. De modo que essa legitimidade precede o próprio exercício do poder, logo este último é a própria expressão da legitimidade. Nos casos anormais, como o que vivemos, o exercício do poder precede a legitimidade. Por isso, sendo ilegítimo, necessita criar rapidamente uma legitimidade forçada, falsa e artificial, porém que sirva de cortina para esconder a violência brutal de chegar ao poder pela usurpação. Para tanto, a criação da legitimidade, precedida por uma violência, também ocorre de modo violento. Trata-se de anular as narrativas divergentes, de proibir termos, de querer dobrar à força o sentido das palavras e das coisas. Criando, dessa maneira, uma uniformização narrativa, que é o roubo da livre palavra, o cerceamento da divergência no espaço da palavra pública. É evidente que o poder usurpador e ilegítimo não pode fazer isso sozinho, pois o sentido das palavras e das coisas não é monopólio de ninguém.

Ocorre, porém, que isto, o furto da livre palavra não é algo extraordinário, posto que nas democracias contemporâneas a livre palavra é ameaçada hodiernamente pelos impérios mediáticos. De fato, são verdadeiros impérios, pois são propriedades de famílias que agem despoticamente em favor de seus próprios interesses. De tal modo, que o espaço público da livre palavra não é outra coisa que a defesa de interesses privados e escusos. Tal nos remete, desde já, para um dos sintomas de crise das democracias representativas contemporâneas. Estas estão intrinsecamente unidas à formação da esfera pública da livre expressão por meio da imprensa. Mas quando aquilo que antes esteve ligado à própria constituição da vida democrática torna-se seu veneno, estamos em um curto circuito constitutivo.

Não apenas o exercício do poder político é delegado aos representantes que o exercem em nome dos eleitores, mas a própria possibilidade da livre palavra, do direito ao espaço público da fala se dá por meio da representação. De modo que a livre expressão também está nas garras, isto é, presa aos limites da representação. Com efeito, este exercício da livre palavra feita de modo representativo ocorre quando aquilo que se considera ser a opinião pública se identifica diretamente com o monopólio midiático, quando a opinião pública nada mais é que o acordo forjado entre o editorial do grande jornal e a notícia manipulada da capa, sob o signo de ser um fato; e, não uma informação. Desse modo, quando a opinião pública é tragada pelo monopólio faccioso da notícia, já está montado todo um arsenal de usurpação da livre palavra que precede a própria usurpação do poder. Antes da usurpação feita pelo golpe institucional, já havia a usurpação da palavra, isto é, o golpe cotidiano que é dado contra toda voz divergente.

Donde a livre palavra estar constantemente ameaçada, mesmo na Democracia, pois a regra é a manipulação sob a forma da informação. Contudo, há coisas que são de tal modo absurdamente usurpadoras que nem a mais ferrenha manipulação pode esconder, ou escamotear. É o caso do uso da palavra GOLPE! Ora, sobre ela não se trata simplesmente de uma disputa de narrativas diferentes. Mas, da legitimidade das narrativas, sustentada no sentido, e não no termo em si. É o sentido da palavra que impõe ao usurpador a vergonha de não querer carregar sobre si o termo. Não só isso, a recusa do termo golpe esconde um sentido mais amplo, porém pouco discutido. Trata-se dos golpes contíguos que se seguem do golpe maior. Como é o caso da reforma da providência, cujo sentido do termo reformar é revogar. É o caso da flexibilização da CLT, cujo sentido é o mesmo: revogar. Também no caso da reforma do ensino médio, cujo sentido do termo é enfraquecer e fragilizar a educação pública. Há outros inúmeros exemplos do mesmo tipo, de distorção entre o termo e o sentido, mais que se nutrem de um sentido maior: golpe. Golpe contra a previdência, contra as leis trabalhistas, golpe contra o ensino publico. O governo usurpador, ao usurpar o poder, também busca usurpar o sentido das palavras e das coisas.

O jogo político também se decidirá sobre o plano linguístico, pois é no campo discursivo, apontando o real sentido dos termos, que a denúncia dos golpes contíguos, que tentam se seguir do golpe maior, deverá ser feita. Toda denúncia no jogo do poder também é um ato discursivo: que dá a ver o que deve mostrar2. O ato de desnudar o sentido que os termos do governo usurpador escondem também é um oportunidade para reconstruirmos nosso léxico político, que agora se nutre do sentido maior da Resistência. É preciso forjar o novo sentido da resistência, um novo vocabulário político que nasça das ruas, que agora ocupamos, e que não seja cooptada pela linguagem da homologação e da uniformização midiática.

Podem até distorcer os sentidos das palavras e das coisas em consonância com a usurpação do poder; podem tentar nos impor o monopólio da fala pública e a uniformização da opinião, mas não nos calarão! Podem nos cercear, mas não silenciaremos. Carregamos os sentidos da Resistência em nosso próprio corpo, desde o dia em que ousamos ser mais do que aquilo a que nos destinavam. A voz silenciada não emudece o pensamento, embora lhe possa desferir golpes lancinantes. Cada palavra de ordem que gritarmos, cada termo que forjarmos na nossa hodierna não trégua ao golpismo difuso, será um ato de restituição da livre palavra da qual se nutre a vida verdadeiramente democrática. A Resistência também é um ato linguístico: é o ato da fala persistente, é o ato da voz ousada que sustenta o sentido: das palavras e das coisas. E dar sentido às palavras e às coisas é um dos atos de resistências mais primordiais, quando além de usurparem o poder, querem usurpar até mesmo a nossa voz. Para tanto, sirvam-nos de inspiração as palavras de nosso maior poeta popular, Patativa do Assaré, homem que via o sentido das palavras nas próprias coisas, e nos advertia: “é melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”.

1 Espinosa, Tratado Teológico-Político, p. 252.

2 Foucault, As palavras e as Coisas, p. 23.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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- é o mengão, Mais Velho.




A frase foi dirigida a mim, hoje pela manhã, quando acompanhava uma passeata da torcida do Flamengo pelas ruas do centro da cidade, com destino ao aeroporto, para incentivar os jogadores do time que embarcam para um jogo em São Paulo.

O autor da frase, um adulto jovem com vinte e tantos anos, bermuda e chinelo, morador de comunidade pobre, que percebeu minha curiosidade com esse fato novo que vem tomando as ruas do Rio de Janeiro.

No programa de Regina Casé, certamente o Mais Velho seria motivo de risos e piadas. Já os ataques de raiva, com direito a xingamentos, que grupos e pessoas contrárias as ideologias de esquerda vomitam sobre as pessoas nas ruas, passam a ser considerados normais nesses tempos estranhos que vivemos.

Na disputa pelas narrativas, é certo que o governo do golpe e seus desdobramentos midiáticos utilizam um discurso muito bem articulado para justificar suas investidas contra o povo.

Apesar do discurso bem elaborado do ponto de vista da norma culta, porém falso em essência, a comunicação do golpe é sofrível, já que não consegue sensibilizar corações e mentes da população, exceção para aquela parcela conhecidíssima da classe média inculta e preconceituosa, que não é o mengão, mas também veste uniforme de time de futebol para sair às ruas, em passeata, para pedir o fim da corrupção no país, acreditando no discurso do golpe, que ela, classe média, sequer entende, mas por reflexo condicionado age tão logo chamada.

Isso sim é motivo de piada, risos, porém, no programa de Regina Casé seria impensável ver a apresentadora dos Marinho brincando com uma parcela da população vítima de uma linguagem midiática - que  ela, Regina, reproduz -  que produz acéfalos descontrolados e violentos.

- é o golpe, galera, diria o jovem adulto de forma assertiva, ou reta, como gostam de se expressar.

A língua é viva e expressões são criadas diariamente e incorporadas.

O Mais Velho, por exemplo, é uma expressão, talvez uma gíria, muito usada pelos jovens das comunidades no relacionamento com pessoas mais velhas, não necessariamente idosos ou da terceira idade. Funciona como um reconhecimento , uma compreensão sobre alguém com mais idade, sem nenhum tipo de preconceito.

Também procura estabelecer uma igualdade, apesar da diferença de idade, e um certo respeito naturalmente embutido nas formas de comunicação existentes nas camadas mais populares da população.

Carregada de uma criatividade reta, onde a reverência e a irreverência se misturam, mas que em nenhum momento nega o reconhecimento.

Essas formas de expressão são vistas com preconceito pelas elites e  também por aquela parcela conhecidíssima.

O Mais Velho avisou :

é golpe, galera.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Lava Jato descarrilou

Convicções - Créditos: Vitor Teixeira
Vitor Teixeira.  Fonte: BRASIL DE FATO


Fonte: A JUSTICEIRA DE ESQUERDA

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Laerte: Alimentando as feras. Fonte: VIOMUNDO

Sejam realistas. Exijam o impossível

Rebeldia para mudar um país


Levante Popular da Juventude entra em seu quinto ano como organização nacional e chama atenção por tamanho e diversidade

Rafaella Dotta
Belo Horizonte, 27 de Setembro de 2016 às 13:38

Movimento levou 7 mil jovens de todos os estados do Brasil a seu 3º Acampamento Nacional, em Belo Horizonte, realizado no início deste mês / Fotos: Divulgação / Levante Popular da Juventude

Entrar no acampamento é como chegar num mundo diferente, construído por jovens. No largo corredor que rodeia o estádio do Mineirinho ocorriam diversas ações. Pessoas estendiam no chão as “bancas” para vender ou trocar livros, toucas, camisetas, discos e até abraços (sério!). E tão sério quanto isso era o poema do Coletivo Literatura Marginales recitado de graça logo em frente. “Trocando a conformação do sistema pelo pensamento revoltante”.

O lugar cheio de interação e cultura sintetiza a política que o movimento Levante Popular da Juventude afirma estar arquitetando. Organização e arte para transformar e construir a vida dos jovens com planos que os mantenham vivos e ativos. O resultado é a aproximação de uma juventude cada vez mais parecida com o povo brasileiro.

Cinco dias

“Levante” levou 7 mil jovens de todos os estados do Brasil a seu 3º Acampamento Nacional, em Belo Horizonte, realizado de 5 a 9 de setembro no estádio do Mineirinho. O evento foi considerado um dos maiores encontros políticos de jovens dos últimos 10 anos do país e foi marcado por debates políticos e inúmeras atividades culturais.

Passaram por lá personalidades como o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, o ex-pantera negra Eddie Conway, a ativista norte-americana Dominique Stevenson e a atriz Letícia Sabatella. Além de lideranças de movimentos populares e sindicais e do criador do site Wikileaks, Julian Assange, que participou através de videoconferência.

Novos contornos

O crescimento e a diversidade do movimento foram destaque nesse acampamento, diz Thiago Ferreira, um dos coordenadores do Levante. Em 2011, no primeiro encontro nacional, compareceram mil pessoas. Hoje, cinco anos depois, são sete mil. No primeiro acampamento a proporção era de 80% de estudantes universitários para 20% de jovens de periferia. Hoje são 52% de universitários e 48% de jovens de periferia. Admirável também que 58% dos inscritos tenham se declarado LGBT.

“Desde o primeiro acampamento discutimos como vamos ser cada vez mais parecidos com o povo brasileiro. O Brasil é composto em sua maioria por jovens de periferia, por negros, jovens trabalhadoras e trabalhadores”, relata Thiago. Segundo ele, o movimento também não faz uma negação das organizações sociais, mas “aprende com elas”. Essa seria uma das explicações para tamanho crescimento.



Um plano

Com a idade e a quantidade vieram também as responsabilidades, lembra a coordenadora Nátaly Santiago, do Rio Grande do Norte, “e pensamos: ‘temos que dar respostas mais firmes para a juventude brasileira’”. Veio nascendo então o Programa Popular para a Juventude Brasileira, desde janeiro deste ano.

São 10 eixos temáticos, entre eles o combate ao genocídio da juventude negra, a luta contra o racismo, o machismo e a LGBTfobia, o direito à educação, saúde, terra e trabalho. O programa vem sendo construído coletivamente ao longo desse ano. “Na nossa ação prática enfrentamos dilemas que estão presentes na vida juventude e lutamos para resolvê-los. Daí vem o programa”, diz.

A cultura é um dos pontos fortes. “A juventude que se interessa pelo Levante é muito criativa e já faz arte. Tem gente que trabalha como caixa de supermercado, mas quer ser artista, por exemplo. E nosso objetivo é estimular que se organizem para conseguir chegar lá”, explica Nátaly. O plano é que os jovens trabalhem juntos pra produzir sua própria renda e auxiliem um ao outro no seu desenvolvimento profissional, seguindo o lema “Nós por nós”, já adotado pelo movimento.

Um objetivo: melhorar o país

O acampamento aproveitou a potência de indignação dos jovens, que vivem um contexto político digamos… difícil, no mínimo. O “Fora Temer” foi o grito que mais se ouviu, mas pareceu não bastar. “Se conseguirmos tirar o Temer, e depois disso, o que vamos fazer?”, questiona Nataly.

Para responder à demanda, o Levante sai do encontro disposto a participar fortemente dos protestos pela retirada do presidente não eleito Michel Temer e, ao mesmo tempo, defender a realização de uma assembleia Constituinte para fazer uma reforma política no Brasil. Mas, o país precisa de uma Constituição nova?

Nataly defende que a saúde, a educação, o trabalho e os direitos individuais estão ligados umbilicalmente à atuação dos políticos e que, portanto, são necessárias regras políticas mais justas para a eleição de políticos também mais justos. Além disso, o atual Congresso Nacional tenderia a criar e destruir leis que irão “devastar a Constituição Federal”.

Uma estratégia: o povo no poder

A nossa rebeldia é…? “Povo no poder! Povo no poder! Povo no poder!”, respondem milhares de punhos cerrados e certeiros, em um grito que usa a mesma métrica da música Fogo no Pavio, de Gog. Assim se coroava, todos os dias, o lema do acampamento. Assim se lembrava, todas as horas, da estratégia a que se comprometem: resolver o problema em sua raiz.

Há uma lógica de que a radicalidade é a ação violenta, mas não é. A radicalidade é ir à raiz da questão. E hoje nosso principal problema é que a classe trabalhadora está fora do poder político”, afirma Thiago Pará. “Hoje, a atitude mais radical que podemos ter é colocar milhares de pessoas nas ruas para exigir mudanças políticas”.

A juventude que organizou os escrachos contra torturadores da Ditadura Militar, que jogou esterco na sede da Rede Globo em São Paulo, que jogou dólares no ex-deputado Eduardo Cunha, promete agora “não temer o governo Temer”.



Pedras (preciosas) do caminho

Além do esforço do próprio Levante, foram as contribuições de parceiros que ajudaram a garantir a realização do evento. “Tudo apontava para uma inviabilização, com o golpe e dificuldades financeiras”, declara Thiago Ferreira.

Na cozinha, o Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD) e o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) faziam as refeições. Dos banheiros, cadeiras, tendas e infraestrutura, o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) cuidava. Na comunicação o jornal Brasil de Fato e o Mídia NINJA integravam o time de cobertura. Fora uma longa lista de colaborações de sindicatos e outros movimentos.

Mas o acampamento não foi só o evento em si, explica Thiago, foi também um processo de oito meses de discussões, mobilização e formação política. “Tudo isso para que a gente chegasse com muito mais certezas do que dúvidas. Nós temos certeza de quem nós somos, temos certeza de que lado estamos e certeza da direção que a gente quer apontar”, completa.

O Mineirinho tremeu

Nas noites do acampamento as festas eram precedidas de “místicas” – momentos culturais de reafirmação de valores importantes ao movimento. Na última noite uma voz ecoava no microfone e com as luzes apagadas os 7 mil jovens mantinham-se sentados no chão do ginásio, com umas lágrimas escondidas tanto pela despedida quanto pela situação política por que passa o país.

“Esse governo vai bater, esse governo vai humilhar, esse governo vai estuprar. E nós lutaremos!”, gritou o rapaz ao microfone, se referindo ao tempo difícil por vir. Para em seguida completar com um sonoro “Pááátria Livre” e ver, mais uma vez, a multidão de jovens tremendo o Mineirinho: “VENCEREMOS!”.

Fonte: BRASIL DE FATO
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Por onde caminhar a energia poderosa, generosa e transformadora do Levante, é para lá que eu vou.
Sejam realistas. Exijam o impossível.

Ditadura jurídico-midiática no Brasil

O que dizer de um presidente que se vê obrigado a dar explicações a uma nulidade como Fausto Silva?

Postado em 28 Sep 2016
por : Carlos Fernandes


Temer perdido

O que dizer de um presidente da República que se vê obrigado a dar pessoalmente explicações sobre o seu “programa” para a educação brasileira a uma nulidade como Fausto Silva?

Segundo a coluna de Josias de Souza, um dia após a crítica feita pelo Faustão à Medida Provisória que enfraquece o ensino médio e vai de encontro à insanidade da “escola sem partido”, Temer teria telefonado para o apresentador tentando justificar o injustificável.

O atual presidente sabe que ser avaliado em rede nacional como uma “porra de governo que nem começou” por um pau mandado dos Marinhos, principais responsáveis pela alienação nacional que tornou possível o golpe e sua consequente ascensão ao poder, boa coisa não é.

Não que professores, alunos, pais, filósofos, intelectuais, artistas, estudiosos da educação e a sociedade em geral já não tenham feito inúmeros alertas sobre o sucateamento do ensino público que a medida está proporcionando. Eles que se danem. Michel Temer só deve satisfações a seus verdadeiros patrões.

E seus patrões não são outros senão aqueles que investiram alto na manipulação das massas, no financiamento de “movimentos apartidários”, no antijornalismo intensivo dos grandes meios de comunicação e no enfraquecimento político de uma presidenta legitimamente eleita.

Absolutamente nada neste governo é pensado para o público. A urgência com que foi imposta a MP atende exclusivamente aos interesses do ensino privado do país. Não é por coincidência que em julho deste ano, o ainda ministro interino, Mendonça Filho, já havia convocado o empresariado nacional da educação para “juntos, nos mobilizarmos a fim de fortalecer a base educacional do país”.

Por sinal, a convocação foi feita durante reunião de líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). Também não por acaso, o evento foi realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), cujo presidente, Robson Braga de Andrade, é aquele sujeito que defende mudanças nas leis trabalhistas e carga horária de 80 horas semanais.

Por aí dá pra se ter uma vaga idéia do que vem a ser, na cabeça de Temer e de seu ministro da Educação, um “fortalecimento” da base educacional. Um país que pretende aumentar o número de alunos por sala de aula, a extinção de disciplinas fundamentais para o desenvolvimento intelectual de um cidadão consciente e a desobrigação de profissionais capacitados na educação pública só pode estar agindo em total sintonia com a iniciativa privada.

E na mesma esteira do desmonte do patrimônio público que segue a educação, seguem também a Petrobrás, os bancos, as hidrelétricas e as demais estatais que conseguiram sobreviver à verdadeira queima de estoque realizada na era FHC.

A “reforma da educação” via MP é apenas uma das muitas frentes que estão em curso para a completa ausência do Estado em áreas de extremo interesse da população, sobretudo as das parcelas justamente mais necessitadas da atuação estatal.

Aprofundar a insatisfação da sociedade em relação à qualidade dos serviços públicos – ao invés de tentar melhorá-los – é o mesmo Modus Operandi utilizado anteriormente por governos reacionários para justificar a transferência de responsabilidades que deveriam ser arcadas com competência pelos impostos pagos por cada cidadão aos insaciáveis tubarões do capitalismo.

Nessa tragédia onde até um bufão como Fausto Silva critica o que Padilha chama de “monarca” e “imperador”, uma coisa é verdade, esse realmente é uma porra de governo.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Temer se vê obrigado a dar satisfações ao bufão Faustão, porque o país foi sequestrado pelo consórcio jurídico-midiático.

Às favas a democracia e o estado democrático de direito. 

O país já vive em regime de exceção, e a população brasileira, somente a população brasileira, pode mudar os rumos do país, nas ruas.

Judiciário Denorex

Katarina Peixoto: Como juizes brasileiros falsificaram Roxin, Vannuci e Agamben
27 de setembro de 2016 às 18h18


por Katarina Peixoto, no Facebook

Ontem dediquei algumas horas a ler decisões de juízes, desembargadores e ministros.

Adoeci um pouco mais e espero conseguir fazer algo de positivo com o chorume que li.

Enunciados falsos podem fazer sentido. E nada há de trivial nisso. Um dos Diálogos platônicos de maturidade, O Sofista, é dedicado ao estatuto lógico dos enunciados falsos e sobre o passado (ou, mais precisamente, sobre o que não é).

Desde O Sofista, avançamos na literatura secundária mas, como todo problema filosófico nos exige, não há uma solução para o estado do problema e, vale dizer, não deve haver. A filosofia não existe para resolver os problemas do verdadeiro e do falso, do que existe e do que não existe, mas para nos ajudar e entender e a descrever a natureza e o escopo desses problemas, inclusive na vida cotidiana. Inclusive frente ao poder político e ao direito.

Fui dormir com uma pergunta na cabeça: se um juiz ou desembargador brasileiro prescrever uma receita de ovo frito e, com base nela, autorizar a que se enjaule um cidadão antipático à opinião do Jornal Nacional e da Revista Veja, por que razão ele não estaria autorizado a fazê-lo?

Existe interpretação e há teorias da interpretação, as chamadas hermenêuticas. Existem distinções de método. Essas coisas não anulam e nunca anularão a ruptura entre o verdadeiro e o falso e, se o fizerem, nem são interpretação, nem hermenêutica, mas pilantragem, quando não, crime, caso envolvam violação documental e ideológica, tipificadas no código penal, ou o uso mal intencionado e vil de enunciados textuais, a fim de cometer atos sem amparo legal.

Há três casos de falsificação documental que extrapolam em muito a complacência estamental da hermenêutica jurídica e que dão a ver a seriedade dessa questão, acima.

Por ocasião da Ação 470, o caso do mensalão, um ministro do STF arregimentou e violou o sentido de uma doutrina, para produzir sua acusação.

A chamada doutrina do “domínio do fato”, inventada e utilizada como mera arregimentação, é, em termos estritos, uma falsificação do que Roxin produziu.

Na sua versão brasileira, o que ocorreu foi mais grave, em termos lógicos e penais, do que uma dublagem: a arregimentação serviu para se inventar uma teoria penal da responsabilidade objetiva que não visa a, como manda a filosofia penal moderna e o direito penal brasileiro e a teoria do domínio do fato, segundo Roxin, buscar a pessoa ou as pessoas de direito que cometeram o crime (com base na identificação particular, subjetiva, no encadeamento de responsabilidade diante de crimes de magnitude e escopo coletivo), mas a atribuir à peculiar noção de objetividade ali exposta, uma totalidade adhoc tal que configure um crime coletivo, por associação qua associação.

É como o crime cometido por um cnpj, uma aberração semântica, jurídica, penal, processual penal, judicial e real.

Que uma mídia familiar oligárquica, sonegadora e vinculada a regimes de exceção e deles advogada permanente faça isso, não surpreende.

Que isso entre para a jurisprudência brasileira é uma violação de sentido naquilo que define o que se passou a chamar de condições de sentido de um enunciado: as condições para que ele seja dito verdadeiro ou falso.

Ainda assim, essa arregimentação, na medida exata em que não passa disso, pode fazer algum sentido, como falsidade.

O acusador sofista, aposentado após a prestação de seu serviço, ao menos se retirou de cena.

Outra falsificação grotesca, também de escopo nocivo e corrosivo da vida institucional do país, foi cometida pelo juiz moro. Ele conseguiu transmutar a descrição, feita por Vannuci, o cientista político italiano, no célebre “O Fracasso da Operação Mãos Limpas”, segundo a qual a operação teria produzido uma “deslegitimação da política”, em prescrição.

Num artigo cometido em revista especializada, cita o Vannuci para defender, vejam só o desvio além da hermenêutica: operações de combate à corrupção deveriam promover a deslegitimação da política.

Dizer que algo produziu a deslegitimação da política não é, por critério algum, dizer que algo deve produzir a deslegitimação da política. Pior: identificar ambos os enunciados ao citá-los como idênticos é falsificar o enunciado original.

A terceira falsificação escandalosa que autoriza a gravidade da questão acima, a respeito do ovo frito, foi cometida há muito pouco tempo, por desembargador federal, prontamente apoiada por uma maioria de falsificadores ou complacentes com a falsificação.

A propósito da análise de representação contra as violações, como tais reconhecidas pelo próprio TRF4, do juiz sergio moro, da Lei Orgânica da Magistratura, que veda o expediente delinquente de grampear advogados e violar a relação entre esses e seus clientes, os senhores desembargadores não somente arregimentaram um filósofo, como o fizeram por segunda mão, via Apud, de texto, inacreditavelmente, cometido por um ex-ministro do STF.

O ex-ministro comete a inversão completa e falsificadora do sentido de “exceção jurídica” analisado pelo filósofo italiano Giorgio Agamben.

Eros Grau preda o que diz Agamben e os senhores do TRF4, sem timidez nem respeito ao texto do Agamben, aliás com boa tradução para a língua portuguesa, e para a vergonha e a explicitação de um grau periculoso de indigência intelectual e jurídica que assola e ameaça as instituições do país, julgam válida a falsificação do sentido de “exceção jurídica” e usam uma falsificação para assegurar outra.

Trata-se de uma falsificação de segunda ordem, para escândalo de qualquer pessoa letrada.

Essa falsificação é grave e nos leva a muitas questões, igualmente graves: se e quantos outros casos há, de falsificações gritantes de teorias, arregimentadas por juízes que não respondem pelo que fazem, não prestam contas a ninguém e, por isso, mandam para a cadeia e inviabilizam a vida de quem for?

Enganam-se os que pensam que isso vai parar ou que isso é só contra o PT e seus dirigentes. Essa ingenuidade não tem o menor cabimento, quando juízes não se envergonham de falsificar teorias, prender sem provas e dizendo que a falta de provas é motivo para prender.

Pode ser analfabetismo funcional, pode ser ignorância, pode ser miséria intelectual carregada do câncer atávico, residual, da cultura bacharelesca, de colônia escravagista.

Há muitas hipóteses que exigem o acompanhamento judicioso do que juízes dizem que usam como fundamento de suas decisões e o que procuradores e promotores usam para fundamentar suas denúncias.

Fico pensando se alguém que denega a existência pregressa dos dinossauros ou o legado epistêmico do darwinismo pode saber em que consiste uma relação de causalidade, de inferência e de probabilidade.

Custo a crer, mas eu sou só uma doutora em filosofia, que se graduou em direito numa das melhores escolas do país, caracterizada, exatamente, por nos prevenir das metástases antilegalistas.

Quanto a isso, sou grata.

Descrever algo é uma das coisas mais difíceis e também requer compromissos semânticos explícitos. Quando eu digo: “a teoria do domínio do fato é o modo de fritar ovos”, estou dizendo que essa teoria, não uma outra, é o modo, não nenhum outro, de fritar ovos.

Se esse não é o modo de fritar ovos, incorro em falsidade, isto é, enuncio algo falso, mesmo que possa fazer tanto sentido como um ou o modo x de fritar ovos.

Mas uma criança em idade escolar, antes da reforma do ensino médio imposta pelo subletrado da força de usurpação do MEC, pode distinguir sem problema algum entre “o modo de fritar ovos” e “o modo como se deve fritar ovos”. Uma criança saberá que essas frases e seus enunciados não são idênticos e que, portanto, identificá-las é errado.

De que natureza é esse erro? Um das coisas mais graves, além do fato melancólico e estarrecedor de que juízes podem mandar enjaular pessoas com base em falsificações feitas por eles mesmos, ou que podem autorizar um outro juiz a fazê-lo, com base em outras falsificações, feitas e cometidas em publicações sem filtro intelectual minimamente alfabetizado, é que esses servidores públicos recebem salários elevados sem que, para tanto, seja requerido mais do que a graduação em direito e, podemos inferir muito tranquilamente, concursos públicos com baixa exigência intelectual e cultural.

Eles não dão aulas em dois ou três expedientes, após doutorado e mestrado, recebendo bolsas simbólicas que mal compram livros e pagam passagens de ônibus. Eles não são obrigados a ler e escrever em mais de um idioma. Não são julgados por pares e pelos que dependem de seu trabalho, para se formarem.

Eles não respondem a ninguém e vivem num estado orçamentário e burocrático cujo nível de accountability é irredutivelmente separado do que se passa na vida fiscal, orçamentária e institucional, do país.

Proposições falsas podem fazer sentido, mas não ciência. Proposições falsas e verdadeiras não podem e não devem ser transportadas, sem filtros como os das prerrogativas fundacionais do estado de direito e dos direitos fundamentais, para o âmbito judicial. Proposições falsas não podem é mandar ninguém preso e nem fundamentar o enjaulamento de pessoas. E aí o problema lógico ganha um contorno mais grave: ele serve ao delito, ao crime, ao arbítrio.

Agora respondam: por que um juiz brasileiro não pode enviar alguém para a cadeia ou autorizar a delinquência de um par, com base na receita de ovo frito?

Espero em breve ter isso mais organizado (estudo o Roxin, no momento, e espero publicar este texto, se ele ficar mais bem trabalhado).

Uma das vantagens de ter perdido tantas coisas e de viver o direito como algo nada trivial, é poder, sem medo de punição além das que já recebi e receberei, chamar atenção para isto: o golpe em curso, no Brasil, não é parlamentar. E quem pensa em termos democráticos e defende a democracia precisa voltar os olhos e a inteligência para esses setores de opacidade, predação e violação de direitos, que contaminam e inviabilizam a economia, a vida institucional e as relações de representação, no país.

Fonte: VIOMUNDO
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A causa denorex, a que parece, mas não é

Não sei se vocês lembram da célebre campanha publicitária do Denorex, o shampoo que tinha cheiro de remédio, mas era shampoo mesmo. “Parece remédio, mas não é”, dizia o tema da campanha que acabou caindo no gosto popular e era repetido sempre que algo, alguém ou alguma situação não era exatamente o que aparentava.
Fonte: Google
Assim é o Judiciário no Brasil. 
Parece sério, empenhado em promover a justiça, mas, não é nada disso.
Juízes que falsificam teorias para condenar adversários políticos, deveriam estar enjaulados e impedidos de exercer a profissão.
O golpe no Brasil é Jurídico-midiático. O congresso nacional, assim como os inocentes úteis que saem às ruas aos domingos na Av. Paulista e na Av. Atlântica para protestar e pedir o fim da corrupção no país, são, apenas, massas para as manobras desejadas pelo conluio golpista e criminoso que tomou conta do país.
Quem irá defender a população brasileira dos crimes e da violência jurídico-midiática ?

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Comunicação Diacrônica

Homem afirma ser viajante do tempo de 2062 e faz previsões de como o mundo será no futuro

Fonte; UOL
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Bem mais interessante do que essas bobagens apresentadas no Portal UOL, é a leitura de um livro que aborda o assunto.

O livro, escrito e lançado na primeira metade da década de 1990 por um urbanista brasileiro do Paraná, relata uma possível comunicação diacrônica entre uma pessoa daquela década e outra no século XXI.

A comunicação se dá através de mensagens de um aparelho de fax, e os assuntos são bem interessantes.

Além disso o livro apresenta uma introdução científica, onde aborda a possibilidade de comunicações do tipo, considerando a teoria científica do tempo em camadas.

O livro, Fax, Mensagens de um Futuro Próximo, é do tipo que se lê direto, pois o assunto é interessante e muito bem escrito.

Você pode imaginar os centros financeiros do mundo em Havana e Ancara ?

Ou ainda, um grande congestionamento em Los Angeles que travou de vez a cidade, e criou um grande cemitério de automóveis, mudando de vez o paradigma dos transportes ?

E mais, a privacidade das pessoas no futuro tornou-se algo quase que sagrado por conta dos esquemas de espionagem que abalaram o mundo no final do século XX e início do século XXI ?

Esses e outros temas são abordados de forma inteligente no livro que , mesmo em um futuro, as pessoas continuarão comendo pizzas.

O Candidato Vômito









Fonte: MARIALEONTINA@Itapetininga

Terrorismo de estado no Brasil

Lava Jato: o braço terrorista do regime de exceção

As instituições de Estado foram capturadas ideologicamente e direcionadas para a perseguição, combate e eliminação dos 'inimigos do regime'.

Jeferson Miola

O golpe não se encerrou na sessão do Senado que cassou o mandato da Presidente Dilma na farsa doimpeachment. Ali apenas se abriu um capítulo novo do ataque à democracia para a consolidação do regime de exceção que se vive no Brasil.

Os objetivos com a suspensão das regras democráticas são: [1] extirpar Lula e o PT do sistema político brasileiro – portanto, a representação dos pobres na política; [2] transferir a riqueza nacional ao capital estrangeiro mediante a regressão dos direitos do povo; e [3] inserir subalternamente o Brasil, a sétima potência econômica planetária, no sistema mundial.

Os sinais de arbítrio e excepcionalidade institucional já eram perceptíveis bem antes do desfecho do golpe, ainda nas etapas de conspiração e desestabilização do ambiente político.

No Judiciário e no Legislativo, decisões fundamentais que regeram o golpe continham escancarada arbitrariedade e excepcionalidade, mas assim mesmo foram legitimadas pela Justiça e naturalizadas midiaticamente, para envernizar o atentado à Constituição com a aparência de legalidade. A Rede Globo e conglomerados da mídia, praticando um noticiário conivente e de viés partidário, são essenciais para a subversão jurídico-institucional em curso.

O regime de exceção se caracteriza pela adoção de medidas de arbítrio e de coerção em substituição ao Estado de Direito e ao regramento legal; e pelo esmagamento da oposição política e social.

É um regime no qual as instituições de Estado, em especial policiais e judiciais, são capturadas partidária e ideologicamente, e direcionadas para a perseguição, combate e eliminação dos “inimigos do regime”.

As Leis e a Constituição deixam de balizar as relações sociais e a resolução dos conflitos. A sociedade é então governada por ocupantes ilegítimos do poder; os sem-voto – usurpadores que, com lógicas totalitárias, distorcem as Leis e a Constituição para aniquilar oponentes políticos e instalar um esquema autoritário de poder.

A manifestação do Tribunal Federal da 4ª Região defendendo a adoção de “situações inéditas [da Lava Jato], que escaparão ao regramento genérico”; ou seja, soluções não subordinadas ao regramento jurídico, é uma evidência assustadora desta realidade.

Na ditadura instalada em 1964, os militares foram gradualistas. As medidas restritivas de liberdade, de repressão e de arbítrio foram instituídas à continuação do golpe, através dos sucessivos Atos Institucionais decretados entre abril de 1964 e dezembro de 1969, e que conformaram a índole fascista do regime.

O arcabouço jurídico do regime ditatorial de 1964, portanto, não foi cabalmente concebido no dia 2 de abril de 1964, quando o auto-proclamado “Comando Supremo da Revolução” [sic], liderado pelo general Arthur da Costa e Silva, assumiu o comando do país depois do golpe que derrubou o Presidente João Goulart.

Já neste golpe de 2016, a oligarquia fascista imprimiu uma dinâmica alucinada desde o primeiro instante. Pretende processar, no menor período de tempo, mudanças cruéis e com forte conteúdo anti-povo e anti-nação, que poderão ter efeito de longuíssimo prazo para a organização econômica e social do Brasil.

Para impor a agenda ultra-reacionária de restauração neoliberal, o governo golpista enfrentará uma oposição radical. Não se pode desprezar que, com a crise de legitimidade e com a propagação da resistência democrática, o regime tenderá ao embrutecimento; deverá assumir formas abertamente violentas, com prisões ilegais, torturas, assassinatos políticos.

O objetivo estratégico da oligarquia golpista é a proscrição do PT e a destruição do Lula no imaginário popular. Nas últimas duas semanas, a Lava Jato, que é o braço terrorista do regime de exceção, deu passos importantes nesta direção.

A força-tarefa da Operação, dominada por militantes fanáticos do PSDB, promoveu na véspera da eleição três ações semióticas, implacáveis, inteligentemente programadas: [1] a encenação espalhafatosa de procuradores “cheios de convicções, mas vazios de provas” contra Lula [dia 12/09]; [2] a aceitação da denúncia estapafúrdia, pelo justiceiro Moro [em 20/09]; e [3] a barbárie jurídica da prisão do ex-ministro Guido Mantega [em 22/09].

A Lava Jato faz um esforço titânico para apagar o legado da maior mobilidade social havida no Brasil em 520 anos no Brasil – 40 milhões de pessoas retiradas da condição de indigência – para ditar, em lugar disso, uma narrativa criminalizadora dos períodos Lula e Dilma, tendo como eixo a corrupção.

Sempre é oportuno recordar o pensador Norberto Bobbio, para quem o fascista não combate de verdade a corrupção, apenas emprega um discurso cínico da corrupção para tomar o poder: “O fascista fala o tempo todo em corrupção. Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política. No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos”.

Com a cassação de Eduardo Cunha, o sócio do golpista e mega-corrupto governo Michel Temer, a Rede Globo, como num passe de mágica, virou a página da corrupção. A única “sujeira” que permanece na cena pública do noticiário da Globo e da mídia dominante, e que deve ser radicalmente extirpada, é o PT.

O banditismo político alcançou um patamar inédito no Brasil. Não só devido à brutalidade do ataque contra Lula e o PT, mas sobretudo devido à inteligência operacional e estratégica da oligarquia fascista na implantação do regime de exceção.

Fonte: CARTA MAIOR
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Justiça selvagem dá nisso

27 DE SETEMBRO DE 2016 POR LUCIANA OLIVEIRA


LAVA JATO ERROU COM DIRCEU. 
E A PENA, SERÁ REDUZIDA?

Por Tereza Cruvinel
No 247

Movida por convicções, a Lava Jato deduziu que a sigla ‘JD’, na planilha de pagamentos da Odebrecht, era uma referência a José Dirceu ou à sua empresa, a JD Consultoria. Agora, ao prender Antonio Palocci, convencida de que ele é o “italiano”, a Lava Jato admite que errou e que a sigla ‘JD’ é uma referência a Jucelino Dourado, ex-chefe de Gabinete de Palocci.

Em fase anterior da operação, Dirceu foi acusado de ter recebido repasses de R$ 48 milhões da construtora entre 2009 e 2010, com destaque para o fato de que nesta época ele já era réu no processo do mensalão, que levou à Ação Penal 470. A defesa de Dirceu sempre protestou, alegando que todos os recursos auferidos pela JD Consultoria foram contabilizados, que uma soma de tal grandeza não passaria pela empresa sem deixar registros.

Dirceu está peso há mais de um ano em Curitiba e foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 20 anos e dez meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A pergunta que fica é se, reconhecido o engano de R$ 48 milhões, Moro vai rever a “dosimetria” da pena de Dirceu.

Durante coletiva sobre a 35ª fase da Operação Lava Jato, o delegado Filipe Pace disse, e talvez tenha se arrependido, estar “documentalmente provado” que Marcelo Odebrecht coordenou pagamento de propinas relacionadas a várias obras federais e estaduais, citando, entre elas, o metrô e trens de São Paulo e a coleta e tratamento de lixo no Estado, além da reforma do aeroporto Santos Dumont e outras obras do Rio; “Estas ilicitudes, entretanto, estão vinculadas a governos do PSDB, no caso de São Paulo, e do PMDB, no caso do Rio”, destaca Tereza Cruvinel, lembrando que o delegado “tergiversou” quando questionado “sobre os agentes identificados como recebedores destas propinas”; “Estes casos não interessaram à Lava Jato. Afinal, não envolvem ‘agentes políticos’ do PT”, afirma Tereza.

Fonte: Blog da Luciana Oliveira
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No jornal Extra, de Globo, na mesma edição, candidato Crivella perde e ganha

Datafolha: Crivella lidera corrida para a Prefeitura do Rio com 29%

Pedro Paulo com 11% e Freixo com 10% vêm a seguir

Ibope: Crivella lidera intenção de voto para a Prefeitura do Rio 

Pedro Paulo, Freixo e Indio da Costa estão tecnicamente empatados em segundo lugar

O instituto Ibope publicou nesta segunda-feira (26) sua terceira pesquisa sobre intenção de voto para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Marcelo Crivella (PRB) continua na liderança da preferência do eleitorado. Na pesquisa anterior, divulgada no dia 14, o senador tinha 31%.

Agora, os candidatos Pedro Paulo (PMDB), com 11%, Marcelo Freixo (Psol), com 9%, e Indio da Costa (PSD), com 8%, aparecem tecnicamente empatados, considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.


Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Crivella mantém liderança e Pedro Paulo assume o segundo lugar, segundo Ibope

Em segundo lugar, três candidatos estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro: Pedro Paulo, Marcelo Freixo e Indio da Costa
26/09/2016 19:49:47 - ATUALIZADA ÀS 26/09/2016 23:13:31
O DIA
Marcelo Crivella lidera com folga disputa no RioArte O Dia

Rio - A seis dias das eleições, o candidato do PRB à Prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, ampliou ainda mais sua vantagem na liderança das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira. Crivella aparece na frente com 35% das intenções de voto, 4% a mais do que no levantamento do dia 14 de setembro. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Em segundo lugar, estão tecnicamente empatados Pedro Paulo (PMDB), com 11%; Marcelo Freixo (Psol), com 9%; e Indio da Costa (PSD), com 8%. Jandira Feghali (PC do B) e Flavio Bolsonaro (PSC) oscilaram dois pontos percentuais para baixo em relação ao último levantamento Ibope: ambos passaram de 8% para 6% e, com isso, ficaram numericamente para trás no grupo que divide a segunda colocação.

Em seguida aparece Carlos Osorio (PSDB), que subiu um ponto, indo de 3% para 4%. Já Alessandro Molon (Rede) e Carmen Migueles (Novo) estão com 1%. Cyro Garcia (PSTU) e Thelma Bastos (PCO) não pontuaram. Votos brancos e nulos, que antes eram 19%, agora somam 16%. Eleitores que não opinaram são 3%.
Fonte: O DIA
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Datafolha: Crivella mantém liderança nas intenções de voto para prefeito do Rio, com 29%
Pedro Paulo, Bolsonaro, Freixo e Crivella no debate dos candidatos a prefeito da Rede Record Foto: ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
O Globo

RIO - O candidato Marcelo Crivella (PRB) sofre ligeira queda, mas mantém a liderança das intenções de voto na corrida pela prefeitura do Rio de Janeiro, com 29% dos votos, de acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada nesta terça-feira.

Em relação ao levantamento anterior, Pedro Paulo (PMDB) e Marcelo Freixo (PSOL) trocaram de posições e aparecem com 11% e 10%, respectivamente, seguidos por Flávio Bolsonaro (PSC) e Jandira Feghali (PC do B), ambos com 7%. Carlos Roberto Osório (PSDB) atinge 6% das intenções de voto, enquanto Índio da Costa aparece com 5%. Os cinco candidatos estão tecnicamente empatados em segundo lugar, segundo o Datafolha.

Fonte: EXTRA
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Com a proximidade das eleições as pesquisas estão de volta.
Em três jornais do Rio de Janeiro de hoje, tem-se uma salada de números.
No jornal Extra, do grupo Globo, na capa pode-se ler:

" pela primeira vez Pedro Paulo fica em segundo. Crivella, no entanto, sobe ainda mais e pode definir a eleição  já no próximo domingo"

Na chamada de capa o jornal não diz a fonte da pesquisa.

Já na página oito do mesmo jornal outra informação:


"Datafolha: Crivella mantém liderança nas intenções de voto para prefeito do Rio, com 29%
RIO - O candidato Marcelo Crivella (PRB) sofre ligeira queda, mas mantém a liderança das intenções de voto na corrida pela prefeitura do Rio de Janeiro, com 29% dos votos, de acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada nesta terça-feira "

Ou seja, na mesma edição do jornal, Crivella subiu e desceu e a chamada de capa dá destaque para o candidato Pedro Paulo, que, ao que tudo indica, Globo deseja levar para um segundo turno contra Crivella, eliminando da disputa os candidatos de esquerda, indesejáveis para Globo.

No jornal do Brasil, duas citações que citam as fontes, ou seja, os institutos de pesquisa. A informação é mais equilibrada, porém , na chamada, omite o percentual de Crivella pelo Ibope.

No jornal O Dia, apenas a pesquisa do Ibope, com direito a gráfico com todos os candidatos e estratosféricos 35% de intenção de voto para Crivella, e destaque para Pedro Paulo em segundo lugar.
No entanto, ao ler os textos, Pedro Paulo aparece empatado tecnicamente com Freixo e outros.

Nas franjas do pleito, a velha mídia entra em cena e , por aqui na cidade maravilha, ao que tudo se revela principalmente no grupo Globo, o objetivo é impedir que candidatos de esquerda cheguem ao segundo turno, notadamente Marcelo Freixo e Jandira Fegalli.
Para isso, observa-se uma boa vontade da mídia com o candidato Pedro Paulo, candidato do PMDB de Eduardo Paes.

A salada de números impressiona. Por outro lado não se pode afirmar nada, ainda, já que o eleitor apenas começa a se envolver com as eleições , e até mesmo Marcello Crivella, líder nas higiênicas pesquisas, não está garantido no segundo turno, assim como pode vencer no primeiro.

A população deve ficar atenta para as ondas em favor desse ou daquele candidato nessa reta final. Existem as ondas verdadeiras e as ondas artificiais criadas para favorecer A ou B.

Cabe lembrar que nas eleições municipais de 1992, Benedita da Silva, do PT, liderava com folga e tudo indicava que mesmo em um segundo turno venceria , já que os demais candidatos bem colocados nas pesquisas não tinham tanta aprovação na população.
Foi quando, poucos dias antes da eleição, uma onda em favor de Cesar Maia - então um desconhecido da maioria da população - que tinha apenas 2% de intenções de voto, fez com que o candidato chegasse ao segundo turno. A tal onda,  que se acredita foi forjada com inestimável auxílio do grupo Globo, chegou carregada de preconceitos, já que apresentava Benedita como negra e favelada e Maia como um economista branco dotado de uma inteligência acima da média.
A classe média inculta e preconceituosa da cidade assimilou rápido a onda e, no segundo turno, Maia venceu Benedita com facilidade.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Admirável Mundo Novo

Vocês têm fome de quê?

POR REDAÇÃO– ON 23/09/2016CATEGORIAS: BRASIL, DESTAQUES, MEIO AMBIENTE


Primeira edição brasileira do Atlas da Carne será lançada em 29/9, em SP. Obra traz fatos, números e gráficos sobre consequências do abate e consumo de animais. Também sugere alternativas – e não apenas para vegetarianos

Lançamento do Atlas da Carne – Fatos e números sobre os animais que comemos
Em São Paulo, quinta-feira, 29/9, das 18 às 22h
No Ateliê do Gervásio (redação de Outras Palavras)
Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bixiga – Metrô São Joaquim ou Brigadeiro
Inscrições por e-mail: info@br.boell.org


Elaborado por pesquisadores do Brasil, Chile, México e da Alemanha, o Atlas da carne – fatos e números sobre os animais que comemospropõe dezenas de perguntas inquietantes. Você sabia que a produção de carne agrava as desigualdades globais? E que está relacionada ao desmatamento da Amazônia? A publicação mapeia a produção industrial de carne no mundo e como ela atinge recursos hídricos e solos, influencia as mudanças climáticas e as relações sociais. O lançamento acontece na quinta-feira, dia 29 de setembro, no Espacio 945, localizado na Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bixiga – São Paulo (SP).

O Atlas também registra como a criação animal em escala industrial traz consequências como a fome, já que a produção intensiva fica sempre em primeiro plano, em detrimento das necessidades nutricionais de cada país. O cercamento de terras para esse objetivo também causa o deslocamento de pequenos produtores, intensificando problemas sociais. A perda de biodiversidade também é outra grave consequência desse avanço sobre as terras. O Atlas, portanto, indica esses e outros impactos do consumo de carne, seja ela bovina, suína, de aves e de outros tipos como búfalos e ovelhas.

A publicação busca disseminar o máximo de informação quanto aos efeitos da produção de carne e às alternativas a esse modelo predador. Segundo o Atlas, se o consumo de carne continuar crescendo, em 2050 os agricultores e agricultoras terão que produzir 150 milhões de toneladas extra de carne, agravando os problemas. O Atlas da Carne estimula, assim, reflexões sobre como implementar uma pecuária “ecológica, social e ética” como contraponto ao agronegócio nos Estados Unidos, na União Europeia e na América Latina. A publicação traz alternativas ao atual modelo, como a de produzir e consumir a carne localmente, evitando o transporte por milhares de quilômetros. Quer, assim, mostrar ao consumidor de carne toda a cadeia de produção.

No Brasil, onde a crise hídrica já bateu à porta, para cada quilo de carne gastam-se 15 mil litros de água. E a criação intensiva, visando à exportação, leva ao uso de fármacos para erradicar doenças e acelerar a engorda. A contaminação do solo e da água, entre outras, são as consequências. A despeito disso, a demanda global por carne aumenta, mais rapidamente nos países emergentes e de forma cadenciada nos Estados Unidos e na Europa.

O Atlas está em sua terceira edição na Alemanha e já foi publicado em espanhol, inglês e francês. O Brasil ilustra bem a cadeia de produção, pois é um dos maiores produtores de soja do mundo, grão utilizado sobretudo como ração animal. Ao consumir a carne, o cidadão ingere também agrotóxico, usado no cultivo desse defensivo agrícola. A sanha por terra de produtores de soja e outros levam, muitas vezes, à grilagem, à expulsão de pequenos agricultores e a assassinatos de líderes camponeses e indígenas no Brasil. A produção da soja também se desdobra em desmatamento na Amazônia, visto, em maior escala, no Cerrado e no Pantanal, que sofrem também com o avanço das áreas de pastagens, pondo em risco importantes biomas. A pecuária intensiva gera quase um terço dos gases de efeito estufa em nível global.

Lançamento: O lançamento reunirá André Campos, jornalista da ONG Repórter Brasil; Letícia Tura, diretora da Ong FASE; Maureen Santos, coordenadora do programa de Justiça Socioambiental da Fundação e organizadora da versão brasileira do Atlas; e o jornalista e blogueiro Leonardo Sakamoto que fará a moderação. Na ocasião também será lançado o livro Cadeia industrial da Carne – Compartilhando ideias e estratégias sobre o enfrentamento do complexo industrial do complexo industrial global da carne da FASE, resultado da troca de ideias de um encontro sobre a temática.


O envenenamento das abelhas

POR INÊS CASTILHO
– ON 10/09/2013CATEGORIAS: MEIO AMBIENTE, MUNDO, POSTS


Prestadoras de inestimáveis serviços ambientais, elas sucumbem a agrotóxicos, monocultura, manejo inadequado. Como viverá a humanidade se desaparecerem?

Por Inês Castilho, com a colaboração de Taís González

Em sua recente participação no III Encontro Internacional de Agroecologia, em Botucatu (SP), a cientista indiana Vandana Shivalembrou a tragédia que a levou a estudar o impacto da indústria química na agricultura: o vazamento de 42 toneladas de um gás letal na fábrica de pesticidas da Union Carbide em Bophal, na Índia, em 1984, causando a morte de três mil pessoas e sequelas permanentes em mais de 100 mil. O presidente da empresa norte-americana, Warren Anderson, teria fugido do país em avião do governo, dias depois, abandonando na fábrica toneladas de produtos químicos perigosos, entre eles DDT – que estão lá até hoje.

A origem da tragédia, lembra Vandana, está na chamada Revolução Verde, imposta pelos Estados Unidos em sua área de influência geopolítica nos anos 1960 para ampliar o mercado de produtos agrícolas e agroquímicos – fabricados a partir de armas químicas usadas na Guerra do Vietnã. O resultado desse modelo, o agronegócio, é conhecido: 65% da biodiversidade e da água doce do planeta contaminadas por agrotóxicos – caldo de cultura para a morte súbita e desaparecimento das abelhas melíferas, fenômeno batizado em 2006 de Colony Collapse Disorder (CCD), ou Desordem de Colapso da Colônia.

Prestadoras de inestimáveis serviços ambientais, as abelhas respondem pela polinização de 71 dos 100 tipos de colheita que alimentam e vestem a humanidade, segundo relatório da ONU de 2010. Às abelhas devemos, além do mel, do própolis e da cera – os aspargos, o óleo de canola e o de girassol, as fibras têxteis do linho e algodão e culturas utilizadas para forragem na produção de carne e leite, como a alfafa. A videira depende em parte do trabalho das abelhas e, com ela, a produção de vinhos. Em um mundo sem abelhas seriam impensáveis os cítricos, o abacate, o agrião… Em particular, a produção de maçãs, morangos, tomates e amêndoas.

Parece assustador – e é mesmo. A cultura de amêndoas, totalmente dependente da polinização das abelhas, é exemplo da dimensão do desastre: são hoje necessárias 60% das colmeias remanescentes nos Estados Unidos para polinizar as plantações do estado da Califórnia, responsáveis pela produção de mais de 80% das amêndoas no mundo. Nos últimos seis anos, a CCD dizimou cerca de 10 milhões de colmeias do país. A taxa de mortalidade das colônias é de 30% ao ano: das 6 milhões de abelhas existentes em 1947, restam hoje não mais que 2,5 milhões.

Desastre global 

O declínio da população de abelhas foi notado em 2006, nos EUA. Quando a Europa acordou para o problema, em 2007, a CCD já atingia Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal. Ouviam-se notícias sobre o desastre no Canadá, Austrália, Brasil, e até mesmo o desaparecimento de 10 milhões de abelhas em Taiwan. “Sim, é um fenômeno global”, confirma Carlo Polidori, pesquisador do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madri, na Espanha, onde as perdas chegam a 90%, em algumas regiões. As últimas notícias são de julho, na província canadense de Ontário, onde se perderam 37 milhões de insetos.

No Chile, onde até o ano passado a versão oficial era de que não havia evidências da existência da CCD, apicultores da região de BioBio registraram, em maio, a perda de milhões de abelhas. Como no Brasil, as chamadas externalidades negativas do modelo de exportação agroindustrial atingem em cheio o pequeno criador.


A abandonada fábrica de pesticidas da Union Carbide em Bophal, na Índia

No Brasil. Registros sobre mortalidade súbita de abelhas encontram-se no país desde 2007 – no Piauí, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo. Todos ligados à exposição de pesticidas nas cercanias de áreas de monocultura – de tabaco, soja, cana, milho, laranja. “Os laranjais, que já foram importante fonte de néctar para a produção de mel, são hoje perigosos, dada a quantidade de agrotóxicos usada para combater doenças como o greening”, afirma o geneticista David De Jong, doutor pela Universidade de Cornell (EUA) e professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP).

Em Santa Catarina, em 2011, morreram por causas desconhecidas um terço das 300 mil colmeias existentes no estado. “Quem sente mais são as 30 mil famílias que dependem da produção de mel. Sua perda foi estimada em 6 mil toneladas”, afirma o presidente da Federação dos Apicultores e Meliponicultores do Estado, Nésio Fernandes de Medeiros. Na região de Dourados (MS), desapareceram no início deste ano cerca de 3,5 milhões de abelhas, produtoras de uma tonelada anual de mel. “Há forte suspeita de que foi provocada pela aplicação de um inseticida da classe dos neonicotinoides em um canavial”, considera Osmar Malaspina, professor da Unesp de Rio Claro (SP).

Não surpreende, assim, que nos últimos dois anos o Brasil tenha caído da 5a para a 10a posição no ranking mundial de exportadores de mel. “Menosprezamos o serviço ecológico que as abelhas nos prestam”, observa Afonso Inácio Orth, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Já em 2011 se verificava a falta de abelhas para polinizar maçãs naquele estado. O mesmo ocorre com o pepino, o melão e a melancia. Por polinização insuficiente, além de nascerem frutos com formato e sabor alterados, tem havido perda de produção de laranja, algodão, soja, abacate, café. “Através de experiências controladas verificamos que, onde colocamos mais abelhas, aumenta a produção. Na cultura de maracujá estão tendo de polinizar com a mão, por falta de abelhas”, informa De Jong.

Causas

As causas propostas são diversas: inseticidas e fungicidas, déficit nutricional associado à carência de flora natural, mudanças climáticas, manejo intensivo das colmeias, baixa variabilidade genética, vírus, fungos, bactérias e ácaros – juntas ou separadamente. Até a emissão eletromagnética de celulares já foi investigada, sem resultados conclusivos. Mas o principal fator do desastre, concordam estudiosos, é a classe de agroquímicos denominada neonicotinoides: clotidianidina e imidacloprida, fabricados pela Bayer, e tiametoxan, da Syngenta – neurotoxinas que atingem o sistema nervoso dos insetos, prejudicando olfato e memória.

“Os pesticidas são causa de perdas importantes, com certeza”, afirma David De Jong.“Temos situações de toxicidade aguda, em que as abelhas morrem de uma vez, logo após a aplicação do agrotóxico. Mas há outras em que doses subletais podem fazê-las perder o rumo e não voltar ao ninho. Doses baixas de inseticidas também enfraquecem o sistema imunológico da abelha. O fato é que, com os novos inseticidas do grupo dos neonicotinoides, estamos definitivamente perdendo muitas abelhas Apis mellifera e espécies de abelhas nativas”, adverte o pesquisador.

A avaliação confirma pesquisa realizada na Universidade de Stirling, no Reino Unido, pela equipe do professor David Goulson. O estudo comprova que os neonicotinoides, associados a parasitas e à destruição de habitats ricos em flores que servem de alimento às abelhas, são as principais razões para a perda das colônias. “Abelhas mal nutridas parecem ser mais suscetíveis a patógenos, parasitas e outros estressores, inclusive toxinas”, confirma o relatório de 2012 do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). De fato, boa nutrição é essencial para as abelhas: o avanço das monoculturas tem para elas um efeito devastador.

O presidente da Confederação Brasileira de Apicultores (CBA) e da câmara setorial do mel em Brasília, José Cunha, revela que “esses agrotóxicos são sistêmicos. A planta se desenvolve e o produto tóxico vai para seiva, pólen, néctar, permanecendo no solo durante anos. Mesmo na rotação de culturas continua presente, atingindo o lençol freático. Os polinizadores estão pagando um preço muito alto, é um passivo ambiental incalculável”. Para Suso Asorey, secretário daAssociação de Apicultores Galegos (AGA), “a colocação no mercado destes pesticidas neurotóxicos sistêmicos coincide com perdas de até 40% das colmeias.”

Estudo da Universidade de Maryland e do USDA chega a resultados ainda mais graves. Ao contaminar o pólen, misturas de pesticidas e fungicidas, algumas de até 21 tipos, levam as abelhas a perder a resistência ao parasita Nosema ceranae, relacionado à CCD. “A questão é mais complexa do que fomos levados a crer”, afirma Dennis van Engelsdorp, responsável pela pesquisa. “O fato de não ser um só produto significa que a solução não está em proibir apenas um tipo de agroquímico, mas que é necessário rever as práticas de pulverização agrícola”, diz ele. O Greenpeace lançou em abril o relatório Bees in Declive, no qual afirma ser crucial eliminar o uso dos agroquímicos que afetam as abelhas.

No Chile, os apicultores relacionam a mortandade dos insetos à aplicação de inseticidas já proibidos em outros países, mas que lá continuam legais – e também ao uso, como alimento das abelhas, de frutose e vitaminizadores feitos com milho transgênico.

Proibição 

O que dizer do Brasil, campeão mundial no consumo de agrotóxicos, com mais de um milhão de toneladas anuais – sem contar o que é contrabandeado? Sob forte pressão do agronegócio e da indústria química, o Ibama e o Ministério da Agricultura (Mapa) proibiram o uso de agrotóxicos contendo fipronil (um pirazol) e três neonicotinoides, imidacloprido, clotianidina e tiametoxam, apenas durante o período de floração das culturas.

E só depois da interdição do uso dos neonicotinoides na Itália, França, Alemanha e Eslovênia, e de muito hesitar, é que a Comissão Europeia resolveu não ceder ao lobby da indústria e, também em abril, restringir o uso desses agroquímicos por dois anos, em todo o continente. A guerra pela salvação das abelhas está, portanto, bem longe de terminar.

Sociedade de abelhas

Existem cerca de 20 mil espécies de abelhas, entre elas as melíferas, das quais cerca de 15% são insetos sociais, com forte sentido coletivo, que vivem em colônias em torno da rainha. Há as guardiãs do ninho, as que se especializam em cuidar dos ovos e filhotes, e os que se encarregam de trazer alimentos – néctar e pólen – para a produção de mel.

Cada indivíduo é um prodígio da engenharia biológica: está equipado com sensores de temperatura, dióxido de carbono e oxigênio. Seu corpo, carregado de eletricidade estática, atrai grãos de pólen que elas levam de uma flor a outra, fertilizando-as. O fenômeno tem dimensões extraordinárias, quando examinamos o trabalho coletivo. Em um único dia, uma colmeia pode fertilizar milhões de flores, numa área correspondente a 700 hectares, equivalente a 350 campos de futebol.

Amor incondicional

Mel, pólen, própolis, geleia real são produtos do trabalho da abelha melífera que nos servem de alimento e medicina. O veneno, embora possa ser mortal, é também curativo. Na Coréia do Sul, por exemplo, os insetos são colocados diretamente no corpo, nos pontos de acupuntura, em tratamentos para artrite, reumatismo e esclerose múltipla.

Para o xamanismo, cada espécie tem um espírito grupal, e esses espíritos animais integram a consciência coletiva de todas espécies, inclusive a nossa. A abelhas possuem um sofisticado sistema de comunicação, e sua vida é inteiramente identificada com o coletivo. Seriam guias da humanidade na comunicação, organização e fortalecimento das comunidades. Para o espiritismo, são exemplo de desapego e amor incondicional. Um blog espírita português propõe fazer “um zumbido global gigante” para banir os agrotóxicos da Europa, assinando uma petição.

“As abelhas são seres cuja energia primordial é o amor e, por isso, completamente isentas de medo. Tudo o que produzem é fruto dessa energia … O mel é algo que poderíamos chamar de ‘amor líquido’ e seu uso pelos seres humanos deveria ser feito em profunda reverência”, afirmam os adeptos da Comunidade Figueira, do líder espiritual Trigueirinho, em Minas Gerais.

Habitantes da Terra há mais de 60 milhões de anos, as abelhas são um dos sistemas mais importantes de suporte à vida, e revelam a íntima interdependência entre os reinos animal, vegetal e humano. Citação atribuída a Einstein que circula na internet sugere que, se elas desaparecessem hoje do planeta, a humanidade só sobreviveria por mais quatro anos. Não por acaso, sua morte é conhecida nos EUA como Armagedon das abelhas.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS