segunda-feira, 11 de julho de 2016

Era apenas um disfunção na região glútea

Nos EUA e no Brasil, o paradoxo de um povo armado que pede paz.

Postado em 11 Jul 2016
por : Mauro Donato

Memorial em homenagem às vítimas do tiroteio em Dallas

As mais recentes mortes de negros pelas armas de policiais americanos suscitou os protestos que geraram um desdobramento trágico em Dallas: munido de vingança, Micah Johnson matou 5 PMs. A coisa tomou volume, os protestos aumentaram, assim como a repressão policial. Mais de uma centena de presos na sexta-feira, outros 200 no sábado. Uma espiral preocupante, de final imprevisível, mas de origem mais que sabida.

Quando os policiais abordaram e depois imobilizaram Alton Sterling em um posto de gasolina, ao constatarem a presença de um revólver, um deles gritou “Arma!!” e em seguida atirou várias vezes contra o homem. Qual o espanto do policial ao encontrar uma arma na cintura de um civil americano? Isso lá é tão normal quanto portar um lenço. Aliás, nos dias de hoje certamente é mais fácil encontrar uma pistola do que um lenço. Já Philando Castile, que foi parado numa blitz, alertou prévia e prudentemente ao policial: “Estou armado, mas irei apenas pegar os documentos”. Ao colocar a mão no bolso levou 4 tiros e morreu na frente da namorada e sua filha.

É aí que reside o problema. De todos os casos em que negros foram mortos pela polícia este ano nos Estados Unidos, apenas 13% não estavam armados. Os EUA são o país número 1 do mundo em termos de posse de armas per capita (há mais de uma para cada um). Saber que o cidadão está armado não predispõe o policial a agir com menos ‘cordialidade’?

Ele já vai para a abordagem com a adrenalina nas alturas e pensando no risco altíssimo que está correndo mesmo que seja numa situação rotineira como uma blitz por uma lanterna de carro quebrada, como foi o caso de Philando Castile ou de uma queixa pela presença de um camelô vendendo CDs, situação de Alton Sterling. Daí, quando duas pessoas armadas se encontram, vive-se um clima de duelo de faroeste. Sobrevive quem saca mais rápido.

Na exacerbação dos ânimos diante dos acontecimentos, o componente racismo não pode ser desconsiderado. ‘Black lives matter’ é o grito que deve ser dado mais forte, mas as condições para que tudo isso ocorra se devem ao fato de todos estarem armados. Brancos e negros. Ainda na sexta-feira sob choque dos ataques, a secretária da Justiça, Loretta Lynch, pediu ao povo americano que não permita que mortes se transformem em algo normal. Ora, armas servem para isso, o que esperavam?

O quadro americano transforma o país no paradoxo de uma população armada até os dentes que deseja paz. Como armas não têm essa finalidade, não irão alcançar nunca, por óbvio. E essa mensagem precisa ser muito bem escutada e observada aqui abaixo da linha do equador. Afinal de contas, mesmo com seus casos escabrosos, a polícia americana é muito menos assassina que a brasileira. Enquanto a estadunidense matou 491 pessoas no primeiro semestre deste ano (país todo), só no Rio de Janeiro foram 645 cadáveres. A polícia paulista também mata mais que todas as polícias americanas juntas há muito tempo. Já imaginou se a revolta dos negros americanos contagiasse?

Mas voltemos ao tema pistoleiro. Mesmo com sua população armada, os Estados Unidos tiveram 11 mil mortes por arma de fogo em 2013. O Brasil ‘desarmado’ teve 42.416, quase 4 vezes mais. Se com uma disparidade como essa soa cinismo o pedido da secretária da Justiça americana, o que diríamos caso a revogação do estatuto do desarmamento vigore, como é da vontade de uma parcela desmiolada da população, cafajestemente representada pela bancada da bala?

Em 2005, um referendo popular demonstrou que a população brasileira não concorda com a venda de armas de fogo e de munição em todo o território nacional. E mesmo assim estamos entre os 11 países com mais mortes por este método em uma lista de 90 nações. Estamos à frente de muitos países em guerra, ‘oficialmente’ falando. Mas políticos mal intencionados e parasitas do dinheiro da indústria armamentista tentam reverter isso. Deles, não se pode esperar nada. Quem precisa olhar para os EUA e analisar se é isso que queremos somos nós mesmos, caso não queiramos futuramente ouvir um apelo patético como o da senhora Loretta Lynch.


Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Dicas da ABIN para identificar suspeitos de terrorismo nas Olimpíadas lembram ‘erro’ da polícia londrina com Jean Charles
10 DE JULHO DE 2016

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A página da ABIN no Facebook informa que qualquer pessoa “pode comunicar diretamente à ABIN situações que pareçam suspeitas, pelo e-mail prevencaoaoterrorismo@abin.gov.br “
Como orientação pra identificar terroristas, pede atenção a pessoas que usarem “bolsas e mochilas destoantes da circunstância e do clima” ou agirem de forma estranha, demonstrando nervosismo.
Foi por uma análise superficial de perfil como essa que a polícia londrina matou o brasileiro Jean Charles de Menezes na estação de metrô Stockwell.
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Ele foi morto com nove tiros, após ser confundido com o terrorista etíope Hussain Osman, que morava no mesmo bloco de apartamentos.
Jean foi fuzilado com uma mochila nas costas enquanto corria, assustado com a operação policial.
A orientação curta, mas que amplia a justificativa pra polícia brasileira agir duro contra pessoas suspeitas pelos motivos elencados pela ABIN é preocupante.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou pra letalidade da ação policial no país num relatório que denunciou cinco mortes a cada dia, totalizando apenas em 2015 cerca de 2 mil incidentes. Denunciou desproporcionalidade e motivação por afrodescendência.
Que mochila combina com a Olimpíada? E caso haja um tumulto, quem ficar nervoso passa a ser suspeito de terrorismo?
Se dois correrem de forma suspeita com uma mochila nas costas, um negro e um branco, qual será o alvo?

Dicas da ABIN pra identificar suspeitos de terrorismo provocam piadas na internet

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Fonte: Blog da Luciana Oliveira
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Essas dicas são um perigo.

Aqui na cidade maravilha, sede dos jogos olímpicos, é comum ver a maioria das pessoas portando bolsas e mochilas, independente do lugar, evento, etc...

Por outro lado, acho muito estranho, e suspeito, que em um calor de 40°C, pessoas usem terno completo, muitas vezes na cor preta, com bolsas , mochilas e ainda com andar agitado e expressões tensas. Destoam totalmente do clima. Seriam terroristas ?

Quanto ao nervosismo, e mesmo tensão, parecem comum na maioria das pessoas que vivem por aqui. Um simples congestionamento de trânsito em uma via expressa da cidade, faz com que as pessoas envolvidas entrem em pânico, que logo evolui para paranoia, fazendo com que muitas pessoas abandonem seus veículos para fugir de um suposto arrastão. Um motociclista com garupa, logo pode ser identificado como assalto. Se ambos forem pretos, o assalto é tido como certo.

Agir de forma estranha é algo muito relativo, principalmente em um período onde a cidade terá pessoas do mundo inteiro, com costumes e hábitos diferentes. Cabe ainda lembrar, que muitas pessoas que visitarão a cidade olímpica tem sido orientadas para que usem roupas que cubram todo o corpo, com o objetivo de evitar os ataques mortais de um exército de mosquitos transmissores da zika e de um monte de outras doenças.

Na cidade maravilha olímpica são em grande número os casos de erros cometidos pelas forças de segurança contra pessoas inocentes. Certa vez um cidadão que trabalhava na laje da casa, em uma comunidade, foi alvejado e morto pela polícia. O cidadão portava uma furadeira elétrica e fazia um furo na parede da casa. A furadeira foi confundida pelos policias como sendo uma arma. Dias atrás, um adolescente foi morto com um saco de pipoca nas mãos. A polícia pensou tratar-se de saco com cocaína. Esses erros são frequentes e em grande número, e infelizmente, já fazem história. Lá pelos anos da década de 1960, uma senhora desembarcou no então aeroporto do Galeão, hoje Tom Jobim. A distinta senhora, próximo de seus sessenta anos, caminhava com alguma dificuldade, até mesmo mancando, e exibia uma protuberância, um tanto elevada, no lado direito do corpo próximo das nádegas. Seu andar, suas roupas largas, sua expressão séria, levantaram suspeitas da polícia no aeroporto que resolveu abordar a cidadã. Ao ser abordada pela polícia ficou nervosa e descontrolada. Os policiais, mais desconfiados  com os gritos , imobilizaram e jogaram a senhora ao chão. Depois de muitos gritos e muita confusão descobriram que a tal protuberância não passava de um disfunção na região glútea. Esse caso, verdadeiro, teve grande repercussão na época.

Logo , todo cuidado é pouco.

Quando a única coisa que se tem na mão é um martelo, tudo se parece com prego.

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