sábado, 18 de junho de 2016

Semiótica


A semiótica do golpe


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Análise Diária de Conjuntura - 17/06/2016
Hoje foi um dia de manchetes demolidoras para o governo Temer, mas não se iludam. A mídia brasileira voltou a ser profundamente chapa-branca e saberá dosar de maneira muito inteligente os escândalos, de maneira a não matar o paciente. A mídia morde fundo, até porque ela sabe que seu poder de arrancar dinheiro dos governos deriva de seu poder de letalidade. No caso do governo Temer, ela morde mas não tira pedaço. No máximo, derruba um ministro, outro aqui, mas não há aquele clima de guerra de fim de mundo. Seus colunistas não repetem, como fizeram com Lula e Dilma durante quase todo o tempo, que "o governo acabou".
Um dos fatores mais importantes dessa derrota política diária que os governos do PT experimentavam na mídia era a total falta de compreensão sobre o que seja semiótica.
Um exemplo. A página Caneta Desmanipuladora, que faz análises desenhadas, comentou uma manchete no site do Jornal Nacional sobre as delações de Sergio Machado.
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Comentário da Caneta:
Que? Qual o objetivo dessa manchete? Estamos incrédulos aqui... isso é inacreditável!
Nesta delação:
Renan Calheiros foi citado 106 vezes,
Sarney 52 vezes,
Aécio 40 vezes,
Temer 24 vezes
Nenhum desses nomes foi citado na manchete. Nem na chamada, nem no lead!
E a Dilma, o que tem a ver com isso?
Isso é semiótica! Você dá a informação, efetivamente, sobre a denúncia, mas a quantidade de mensagens subliminares enviadas faz com que, na mente do leitor, os efeitos sejam... especiais.
A semiótica se popularizou relativamente com Umberto Eco, mas a esquerda brasileira parece nunca ter se interessado pelo único assunto que poderia ter lhe salvado.
Sim, porque semiótica, em política, é uma arma, a principal arma, a única arma. Semiótica embute o uso de todos os signos: escrita, som, imagem, etc.
A semiótica de Lula era melhor do que Dilma por vários fatos: em primeiro lugar, o próprio Lula. Um político moderno precisa ser um ator. Há inclusive um livrinho do Arthur Miller, o famoso escritor e dramaturgo americano, publicado em 2001, intitulado On Politics and the Art of Acting, A Política e a Arte de Atuar.
Lula foi um ator. Dilma, não.
Por outro lado, após o golpe, Dilma passou a encarnar um conjunto de signos positivos, de resistência democrática, de vítima de uma conspiração que, efetivamente, aconteceu. A semiótica da presidenta melhorou muito, após o golpe, mas não sei se isso será suficiente para revertê-lo.
A principal dificuldade de se fazer uma análise está no fato de que raramente as forças políticas em disputa podem se dar ao luxo de planejar o passo seguinte. E isso porque há um elemento fundamental para se entender a dinâmica de qualquer processo político: os pequenos incidente e o acaso . Tocqueville, em Souvenirs, aborda a importância dos "acidentes secundários" que agem, contudo, sobre uma atmosfera fecundada pelas grandes causas.
É assim, creio eu, que se desenvolvem todas as crises políticas, inclusive a que estamos vivendo. Há conspirações, efetivamente, há interesses poderosos em jogo, inclusive geopolíticos, mas há também o caos, a sucessão de pequenos incidentes, provocados por um ambiente fortemente instável.
Fonte: O CAFEZINHO
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