terça-feira, 31 de maio de 2016

A embaixadora do golpe e o bode preto no governo

A embaixadora dos EUA e o golpe no Brasil

Por Thiago Cassis, no site da UJS:

Os Estados Unidos anunciaram na última semana a troca da embaixadora no Brasil. Sai Liliana Ayalde, que esteve por trás dos golpes em Honduras e no Paraguai (e agora no Brasil) e entra Peter McKinley, que é filho de venezuelanos.

Segundo o jornal Folha de S.P.: “McKinley é considerado no Departamento de Estado um diplomata experiente e talentoso – e, segundo várias fontes, uma escolha de peso. O fato de ter sido embaixador no Afeganistão, um país em guerra, é citado como prova de competência… Seu primeiro posto no exterior foi na Bolívia, onde trabalhou no setor consular. De volta a Washington, continuou trabalhando com temas latino-americanos, como pesquisador e analista de inteligência com foco em El Salvador e Cuba. Em seguida foi chefe do departamento que cuida de Angola e Namíbia e depois assistente especial para a África”.

O intrigante é que Liliana Ayalde foi escolhida para o posto logo após as convulsões que o país atravessou em Junho de 2013 e agora se afasta após o golpe em curso ter avançando até um ponto “aparentemente” irreversível. Aparentemente porque as ruas tem dado respostas firmes contra o governo golpista o que torna incerto o destino da manobra ilegítima da direita brasileira.

A chegada da diplomata, em Junho de 2013, era motivada por um clima absolutamente negativo para Dilma Rousseff e o projeto em curso no país naquele momento. A presidenta, que até a metade daquele ano detinha grandes margens de aprovação popular, viu sua aceitação despencar após a bem aproveitada mídia, que transformou manifestações legítimas contra o aumento nos transportes de São Paulo em grandes atos antipartidos, agregando o que temos de mais conservador na classe média local. Não sem contribuição de uma grande número de indivíduos ingênuos dentro do próprio campo progressista. A grande mídia conseguiu pautar as manifestações e logo depois o início da operação Lava Jato transformam completamente o cenário político no país.

Teria Liliana cumprido sua missão e agora baterá continência em outro país (sul-americano?) em vias de uma “troca” de poder? (Venezuela?)

A influência dos Estados Unidos no golpe em curso no país tem sido alertada por especialistas no assunto. Liliana trabalhou na Usaid durante 24 anos, agência que é apontada como um dos principais braços da CIA. O presidente boliviano Evo Morales inclusive expulsou agentes da Usaid da Bolívia no ano passado.

Os interesses imperialistas seriam, dentro desse cenário proposto, mudar a regra do Pré-Sal para colocar as mãos na riqueza brasileira e desviar o caminho da atual política externa do país, que trabalhou pela integração do continente sul-americano e na construção dos Brics.

Se não podemos apontar com clareza qual o papel jogado pelos EUA no golpe de 2016, além das evidências apresentadas pelo Wikileaks, não seria também teoria da conspiração supor as garras do governo norte-americano e mais esse golpe em nosso continente.

As próximas jogadas diplomáticas dos norte americanos deixarão mais transparentes essas suposições e a história certamente, como em 64, nos desvendará com o tempo quem realmente está por trás do golpe em curso no Brasil.


Fonte: Blog do Miro
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Em 16.09.2013 o PAPIRO publicou a postagem abaixo sobre a chegada da nova embaixadora dos EUA para o Brasil:



Nova embaixadora dos Estados Unidos chega ao Brasil

16.09.2013

Agência Brasil
Brasília - A nova embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde, chegou a Brasília hoje (16) e disse que pretende fortalecer a parceria estratégica entre os dois países nos próximos anos. A diplomata fez um comunicado à imprensa, pouco depois de desembarcar na capital, e restringiu-se a comentários sobre a satisfação de ser a representante norte-americana no país e a importância das relações entre o Brasil e os Estados Unidos.

Liliana Ayalde não falou sobre os temas sensíveis na pauta dos dois governos, que estão em momento de tensão em decorrência de denúncias de espionagem à presidenta Dilma Rousseff, à Petrobras, a outras autoridades e a cidadãos. A embaixadora não deu informações sobre a confirmação da viagem da presidenta aos Estados Unidos neste mês ou sobre como serão conduzidas as relações entre os dois países de agora em diante.

Liliana Ayalde não falou sobre os temas sensíveis na pauta dos dois governos
Liliana Ayalde não falou sobre os temas sensíveis na pauta dos dois governos
"Eu e a minha família estamos ansiosos de poder viajar pelo Brasil, conhecer a diversidade do povo e estabelecer amizades com os brasileiros em todos os lugares que vamos visitar. Este é um tempo importante para as relações [entre o Brasil e os EUA], cheio de oportunidades e de possibilidades. Juntos, estou certa de que podemos expandir e aprofundar os laços que existem entre essas duas importantes e grandes nações", disse.

Liliana Ayalde substitui o diplomata Thomas Shannon, que ficou no posto durante três anos e meio e deixou Brasília no último 6. A substituição estava prevista há três meses. Diplomata de carreira, ela serviu no Paraguai e na Colômbia e demonstra conhecimento sobre a América Latina, a exemplo de seu antecessor.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Cuidado com ela !!!
A embaixadora americana, especialista em América do Sul, talvez tenha sido uma peça importante no golpe de estado que derrubou Lugo no Paraguai.
Assume o posto no Brasil um ano antes das eleições de 2014 e com olhos e mãos gigantescas nas reservas de petróleo do pré-sal.
Disse, logo na chegada, que "está muito ansiosa em conhecer o Brasil e sua diversidade cultural"
Ahhh ! Então tá. 
Sugiro que levem a embaixadora para se deliciar com uma buchada de bode lá na Paraíba.

O golpe ficou nu

Cantanhede diz que o esforço para derrubar Temer nesse momento é contra o Brasil'. 
O esforço dela para derrubar Dilma ontem era a favor? De quem?

Fonte: CARTA MAIOR
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Cantanhêde, leia Merval. Não é “Brasil, ame-o ou deixe-o” de Temer, mas “deixe Temer e não ame o Brasil”

vaiacabar
O comovente apelo feito hoje pela moça da “massa cheirosa”, Eliane Cantanhêde, ao melhor estilo do “Brasil, ame-o ou deixe-o” do período Médici, é tão “sem-noção” quanto sua autora.
” O esforço para derrubar Temer, neste momento, é trabalhar contra o Brasil.”
Ora, Eliane, quem mais se esforça para derrubar Michel Temer, hoje, do que o grupo governista?
Não foram os servidores da ex-CGU, com suas vassouras e baldes, que arrumaram a crise da vexatória demissão de Fabiano Silveira, ontem.
Como não foram a juventude e os artistas que detonaram a crise do Ministério da Cultura, pesadelo inicial dos 19 dias em que a já escassíssima popularidade de Michel Temer sangra sem descanso.
O problema de Michel Temer é o fato de que um governo que chega ao poder pela conspiração é, sempre, propriedade do grupo que se integrou ao complô.
Todos são donos. E, como acontece nas sociedades – sobretudo na societa celeris  – sócios normalmente vivem às intrigas, na “derrubação”, na disputa por espaços de poder e de ganhos.
Por isso, já se viu, Temer é refém de todos eles: Cunha, Renan, “mercado”, Globo, MP, STF…
Não tem, portanto, autonomia de decisão.
Explica-se aí a sua completa imobilidade e as “saias-justas” que enfrenta. Ajudado, claro, por sua compreta dessintonia com o Brasil moderno, que exige interlocução própria e não apenas os conchavos de parlamentares e “coronéis” da política (ou da religião) que se expressa na maioria dos políticos.
Por isso é cada vez mais difícil Temer, como pretendia ou pretende ainda, adiar a explicitação do cumprimento daquilo que o puseram lá para fazer: suprimir programas sociais e liquidar qualquer veleidade de soberania nacional.
Mesmo os integrantes mais capazes da trupe de colunistas da direita, como Merval Pereira, já assumem isso claramente, afirmando que “a tibieza que Temer vem revelando, que não se esvai com um tapa alegórico na mesa”.
Não, diz Merval, é preciso assumir que vai fazer “o que tem de ser feito”.
Ceder a  um “conjunto de exigências internacionais de investidores que buscam ambientes transparentes e seguros para negócios.”
Aí, sim, Eliane, serão as ruas o problema central de Michel Temer.
Por enquanto, este lugar é dele próprio e de sua associação golpista.
O problema é quando as pessoas descobrirem que este vídeo que viralizou na internet está bem perto de ser a pura verdade.
Fonte: TIJOLAÇO
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O golpe derrotará o Sertão nordestino?
160530-Cisterna
Fome, sede, migração e mortalidade infantil foram superadas com mobilização social, Bolsa Família, cisternas e infra-estrutura. Mas retrocessos ameaçam reconduzir ao ponto de miséria
Por Roberto Malvezzi (Gogó)
Vários retrocessos vieram junto com o governo interino desde o primeiro dia. Um ministério do tempo do Brasil Império – só homens de bens e brancos, sem negros, mulheres e indígenas –, o anúncio do corte na saúde, na educação, encolhimento do SUS, desvinculação do salário dos aposentados em relação ao salário mínimo, eliminação do MinC, daí prá frente.
Dentre esses retrocessos os que mais impactam o Semiárido estão o da educação, saúde e a desvinculação do salário mínimo, do qual dependem aproximadamente 100 milhões de brasileiros.
Porém, há retrocessos que o Brasil em geral não vê, a não ser nós que moramos por aqui, na busca de vida melhor para a população nordestina que sempre esteve à margem dos avanços brasileiros.
O paradigma da “convivência com o Semiárido” ganhou carne com o programa “Um Milhão de Cisternas” (P1MC) e o “Programa Uma Terra e Duas Águas” (P1+2), da ASA (Articulação do Semiárido). O primeiro visando a captação da água de chuva para beber e o segundo, para produzir.
Em aproximadamente 15 anos, um milhão de famílias receberam a cisterna para beber e cerca de 160 mil famílias, uma segunda tecnologia para produzir. É lindo, até emocionante, quando em plena seca vemos espaços tomados de verde com hortaliças ao redor de uma cisterna de produção. Essas tecnologias ainda teriam que ser replicadas ao milhões para garantir a água para beber e produzir, ofertada gratuitamente pelo ciclo das chuvas.
Junto com esses programas, veio a expansão da infraestrutura social da energia, adutoras simples, telefonia, internet, melhoria nas habitações rurais, estradas etc.
A valorização do salário mínimo e o Bolsa Família injetaram dinheiro vivo nos pequenos municípios, movimentando o comércio local, o maior beneficiário desses programas.
Houve também contradições profundas, como a opção pela mega obra da Transposição de Águas do São Francisco, ao contrário de adutoras simples, e a implantação das cisternas de plástico por Dilma no seu último governo. Além do mais, ela estava encerrando o programa de cisternas para beber, alegando que já tinha atingido o número de famílias necessitadas.
Detalhe: o ministro para o qual ela liberou as cisternas de plástico orientou o filho a votar pelo impeachment na Câmara dos Deputados e é agora o ministro das Minas e Energia.
Mas esse avanço pressupôs a organização da sociedade civil articulada na ASA e a chegada ao poder de governos estaduais menos coronelísticos e corruptos. Sobretudo, supôs o apoio do governo federal a esses programas da sociedade civil.
Acabou. Se perguntarem ao atual presidente onde fica o Semiárido Brasileiro, é provável que ele diga que fica no Marrocos. Como não tem base na região, vai entrar pelas mãos dos velhos coronéis ou de seus descendentes.
Não é possível destruir a infraestrutura construída. Ela tornou o Semiárido melhor, sem fome, sem sede, sem migrações, sem mortalidade infantil. Mas, há muito ainda a ser construído para não haver mais retorno ao ponto da miséria. Uma das ações é a geração de energia solar de forma descentralizada, a partir das casas. Dilma não quis dar esse passo.
Os velhos problemas poderão voltar? No que depender das políticas públicas federais, sem dúvida nenhuma. Quem está no poder não enxerga o Semiárido.
Tempos estranhos, quando setores da sociedade brasileira preferem retroceder aos tempos da miséria total e parte da população se alegra com esses retrocessos.
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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Mino: é um Golpe sem disfarces

As conversações grampeadas confirmam o complô e apontam seus autores
publicado 31/05/2016
galeria atualizada
Conversa Afiada reproduz artigo de Mino Carta, publicado na CartaCapital:


O golpe sem disfarces

A despeito do esforço midiático para despistar a plateia, as conversações grampeadas confirmam o complô e apontam seus autores

As conversas gravadas por Sérgio Machado, e até o momento divulgadas pela Folha de S.Paulo, imprimem novo ritmo e novo rumo à manobra golpista que afastou Dilma Rousseff e entregou o governo interino a Michel Temer, o arguto professor de Direito Constitucional que rasga a Constituição.

Na semana passada permitia-me prever a provável separação entre o poder togado e o poder parlamentar, unidos pelo e no golpe. A hipótese agora se fortalece, e a confirmação vem da própria mídia nativa. Não folheava os jornalões desde a aprovação do impeachment pela Câmara e a partir de segunda 23 passei a ler suas sessões políticas.

Na terça, elegia-se Romero Jucá a bode expiatório e como questão central apontava-se o “pacto” aventado na conversa entre Machado e o ex-ministro para estancar a sangria desatada da Lava Jato.

A verdade factual sacramenta outra evidência, ao alcance da compreensão até do mundo mineral: ocorrido em março passado, o fatídico diálogo é, em primeiríssimo lugar, a prova irrefutável do golpe em marcha, e apresenta inclusive as forças envolvidas na trama. Ali se estabelece a premissa indispensável ao propósito do “pacto”, derrubar Dilma.

Perguntei aos meus estupefactos botões como haveria de revidar o poder togado à ameaça do poder parlamentar. Mais, de que lado ficariam a casa-grande e a mídia nativa. Antes que respondessem, Temer entra em cena e joga a carta do pacote econômico do ministro Meirelles, o homem de todas as estações, a quem certamente não faltou a colaboração de José Serra.

De quem recordo uma frase retumbante, pronunciada na cozinha da minha casa, durante a campanha eleitoral de 2002, enquanto jantávamos um risotto ai porcini: “Eu sou muito mais de esquerda do que o Lula”.

Pois na tarde de terça os economistas do governo interino, vendilhões do País, firmaram a rendição ao mais cruel neoliberismo, a doença que uma centena de multinacionais, especuladores e rentistas impõe ao mundo para condenar à miséria a larga maioria e enriquecer mais e mais uma ínfima minoria. Comedida, a mídia de quarta celebra em manchetes o corte de gastos prometido pelo pacote e deixa em segundo plano a sua essência nefasta.

Convoco novamente os botões: por quê? Parece óbvio que uma súbita dúvida assola a casa-grande. O caminho do golpe tenderia a bifurcar-se, e a encruzilhada exige meditação profunda ao tornar possível, quem sabe provável, uma escolha. Temer e o Congresso ou Moro e o Supremo? A leitura dos jornalões induz os botões a acentuarem a gravidade do momento e a dificuldade da opção.

Na quarta, a Folha coloca em manchete o anúncio do corte dos gastos do governo e relega um novo diálogo dos idos de março, entre o mesmo Machado e Renan Calheiros, a uma chamada modesta na primeira página e relato na quarta. Soletram os botões: mais uma conversação edificante para confirmar o golpe, o pavor da Lava Jato de quem tem culpa em cartório e o envolvimento do Supremo na grande tramoia urdida contra o Brasil.

A terceira conversa gravada, entre machado e José Sarney, a menos significativa, revela apenas a intenção do ex-presidente de livrar Machado do julgamento de Moro, ao mexer pauzinhos não declinados.

CartaCapital preocupa-se com o destino do País brutalmente desigual e pratica o jornalismo com honestidade e fidelidade canina à verdade factual. Fato é que o governo Lula representa a quadra mais feliz na história do Brasil em termos de paz e bem-estar interno e prestígio internacional.

O ex-metalúrgico soube implementar um começo de política social e promover uma política exterior independente. Contou com uma conjuntura mundial favorável, e este é fato, assim como é fato que o PT no poder se portasse como todos os demais partidos.

Dilma Rousseff não tem o carisma e o extraordinário tino político de Lula e cometeu erros graves de pontos de vista variados. Em boa parte manteve, porém, as políticas sociais do antecessor, ao meio de uma situação econômica cada vez mais adversa. Além disso, trata-se de uma cidadã correta, corajosa e muito bem-intencionada. Talvez um tanto ingênua, murmuram os botões.

Ouço-os, a despeito do tom opaco: seria bom saber como reagiu às razões de João Roberto Marinho, chamado em Palácio para escutar queixas em relação à constante agressividade global, sempre disposta a inventar, omitir e mentir.

Sustentou então o herdeiro do nosso colega Roberto não mandar nos seus empregados jornalistas, livres de propalar o que bem entendem, e, de resto, não ter condições de impedir o efeito manada na direção do golpe. Que fez a presidenta? Caiu das nuvens? Respondeu à altura a tamanha desfaçatez? De todo modo, como se deu que pudesse esperar por outro comportamento?

Cabem mais interrogações: que disse Dilma ao chamar o presidente do STF para discutir as posições do Supremo na perspectiva do golpe e ouvir a reivindicação de aumento de salário? A situação se apinha de dúvidas e incógnitas. Por exemplo. Os efeitos do pacote econômico, bastante agradáveis para a casa-grande, são altamente daninhos para um povo acostumado há tempo a manifestar sua insatisfação por ruas e praças.

Outra incógnita diz respeito ao inter do processo de impeachment, a prever no espaço máximo de 180 dias a sessão definitiva do Senado, presidida pelo ministro Lewandowski, não se sabe se já premiado pelo invocado aumento.

Na entrevista a CartaCapital da edição passada, a presidenta afastada referia-se à possibilidade de conquistar seis votos no Senado, de sorte a invalidar a maioria que a afastou. De fato, basta reverter dois votos em relação ao resultado da primeira sessão. A chance não teria crescido diante dos últimos, surpreendentes eventos?

Há quem volte a falar em eleições gerais antecipadas, quem sabe para outubro de 2017. Solução sensata demais para ser viável. Ideal mesmo, declaram soturnamente os botões, seria refundar o Brasil, tão favorecido pela natureza e infelicitado fatalmente por uma dita elite, prepotente, arrogante, hipócrita, corrupta, egoísta e incompetente. Ah, sim, ignorante. E movida a ódio de classe.

Abandono-me ao devaneio ao imaginar a convocação de uma Constituinte finalmente exclusiva. E me vem à memória a lição de Raymundo Faoro, contida em um dos seus livros mais recentes, A Assembleia Constituinte – A legitimidade recuperada.

Comenta Faoro a crença de que “só revoluções vitoriosas podem convocar Constituintes”. E emenda: “Na verdade, sempre que há crises ou colapso de uma ordem constitucional, ela só se recompõe pela deliberação constituinte, a deliberação constituinte do povo, se democrático o sistema a instituir”.
Em tempo: o navegante que enviou a ilustração original da Galeria "Quem será o próximo?" lamentou as ausências do Padim Pade Cerra e do Aloysio 300 mil, agora, apropriadamente, nomeado "líder" do "Governo" Temer no Senado (e inscrito na delação da Odebrecht, segundo a Monica Bergamo). Imediatamente, o Departamento de Arte do Conversa Afiada - numeroso e criativo - refez a Galeria. Por uma questão de justiça, os notáveis tucanos não poderiam ficar de fora. - PHA
Fonte: CONVERSA AFIADA

Um mundo rumo ao abismo

Zizek e a tragédia dos combates moderados

POR NUNO RAMOS DE ALMEIDA– ON 28/05/2016

Em seu novo livro, filósofo esloveno investe contra um multiculturalismo piedoso porém impotente. Diante da catástrofe, diz, ou desafiamos radicalmente a ordem social, ou não haverá futuro.

Fonte: OUTRAS  PALAVRAS
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Número global de refugiados ultrapassou 50 milhões, pela primeira vez desde II Guerra Mundial.

Foto de bebê morto nos braços de socorrista ressalta drama vivido no Mediterrâneo
Corpo da criança foi retirado do mar na sexta-feira após o naufrágio de um barco de madeira. Apenas na última semana, pelo menos 700 imigrantes podem ter morrido no mar


Fonte: CARTA MAIOR
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Tempo de intolerância

maio 31, 2016

O planeta está andando na contramão. Os estudantes ocupam as escolas e a polícia os expulsam. Mais da metade da população é de mulheres e nenhuma representação feminina no governo interino. O Brasil precisa de educação e cultura para seu desenvolvimento civilizatório e o governo provisório, sob a tutela do judiciário, extingue o ministério da Cultura. A fogueira está novamente armada para queimar livros e pessoas. O recado da grande mídia e do poder financeiro, articuladores dessa nova ordem social, é de que a violência recrudescerá.

Por outro lado o povo, já experiente com governos de exceção, não está disposto a enfrentar outro regime de força, e resistirá. A caça as bruxas já começou e aqueles que pensam diferente que se acautelem. Já há servidores públicos sendo processados por haverem se manifestado a favor da manutenção da democracia e do respeito à Constituição. O discurso é que precisam punir para exemplar que quando anunciaram que “Cala a boca já morreu” era pra ter entendido o recado, que quem mandaria no país não admitiria divergências nem diversidades. Só não entendeu quem não quis.

A cultura para essa gente é um risco porque o povo pode entender que o seu não é o de bobo da corte, mas protagonista das mudanças. E isso é muito subversivo. Assim como o juiz que não reza conforme a cartilha pode ter sua Toga maculada através de processos constrangedores e “punições exemplares” o recado será dado para os demais. Aqui nesse rebanho só ovelhas amestradas! Aqueles que posam de Toga, que é o símbolo da autoridade do juiz, que somente pode trajar em atos oficiais, não estão fazendo uso político desse símbolo, porque todos fazem parte do rebanho.

Outras manifestações fora do “Índex” são consideradas politico partidárias e o Inquisidor instaura o “Auto de Fé” e, pronto o indiciado já está apto para vestir o “Sambenito”, ficando conhecido por suas opiniões e decisões independentes como um herege. Contudo, o sistema segue na mesma direção e assim como tantos outros foram vencidos, e o céu voltou a brilhar, “Amanhã será um novo dia” e a arte e a Justiça triunfarão.


Siro Darlan
Desembargador do TJ e membro da Associação de Juízes para a Democracia.

Fonte: MANCHETE ONLINE
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Escravidão moderna atinge 45,8 milhões de pessoas no mundo

Cerca de 45,8 milhões de pessoas em todo o mundo estão sujeitas a alguma forma de escravidão moderna. A estimativa é do relatório Índice de Escravidão Global 2016, da Fundação Walk Free, divulgado segunda-feira (30).

Segundo o documento, 58% dessas pessoas vivem em apenas cinco países: Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão. Já os países com a maior proporção de população em condições de escravidão são a Coreia do Norte, o Uzbequistão, o Camboja e a Índia.

A escravidão moderna ocorre quando uma pessoa controla a outra, de tal forma que retire dela sua liberdade individual, com a intenção de explorá-la. Entre as formas de escravidão estão o tráfico de pessoas, o trabalho infantil, a exploração sexual, o recrutamento de pessoas para conflitos armados e o trabalho forçado em condições degradantes, com extensas jornadas, sob coerção, violência, ameaça ou dívida fraudulenta.

Embora seja difícil verificar as informações sobre a Coreia do Norte, as evidências são de que os cidadãos são submetidos a sanções de trabalho forçado pelo próprio Estado. No Uzbequistão, apesar de algumas medidas de combate à escravidão na indústria do algodão, o governo ainda força o trabalho na colheita do algodão.

No Camboja, há prevalência de exploração sexual e mendicância forçada e os dados do relatório destacam a existência de escravidão moderna na indústria, agricultura, construção e no trabalho doméstico. Já na Índia, onde 18,3 milhões de pessoas estão em condição de escravidão, apesar dos esforços do governo em lidar com a vulnerabilidade social, as pesquisas apontam que o trabalho doméstico, na construção, agricultura, pesca, trabalhos manuais e indústria do sexo ainda são preocupantes.

No último relatório, de 2014, cerca de 35,8 milhões de pessoas viviam nessa situação.

Escravidão moderna

Segundo a Walk Free, a escravidão moderna é um crime oculto que afeta todos os países e tem impacto na vida das pessoas que consomem produtos feitos a partir do trabalho escravo. Por isso, é preciso o envolvimento dos governos, da sociedade civil, do setor privado e da comunidade para proteção da população vulnerável.

Segundo a fundação, quase todos os países se comprometeram a erradicar a escravidão moderna por meio de suas legislações e políticas. Os governos que mais respondem no combate ao trabalho forçado são aqueles com Produto Interno Bruto (PIB) mais elevado como a Holanda, os Estados Unidos, o Reino Unido, a Suécia e a Austrália. As Filipinas, a Geórgia, o Brasil, a Jamaica e a Albânia estão fazendo grandes esforços, apesar de ter relativamente menos recursos do que países mais ricos, segundo a Walk Free.

No prefácio do relatório ao qual a reportagem da Agência Brasil teve acesso, o fundador e presidente da Walk Free, Andrew Forresto, diz que o Brasil foi um dos países pioneiros na divulgação de uma lista de empresas nacionais multadas na Justiça pela utilização de trabalho forçado. Uma liminar impedia a publicação da chamada Lista Suja do Trabalho Escravo desde dezembro de 2014. Na semana passada, entretanto, o Supremo liberou a divulgação dos nomes das empresas autuadas.

Os governos que menos fazem para conter a escravidão moderna, segundo o relatório, são a Coreia do Norte, o Irã, a Eritreia, a Guiné Equatorial e Hong Kong.

Na avaliação da entidade, levando-se em conta o Produto Interno Bruto (PIB) e a riqueza relativa do país, Hong Kong, Catar, Singapura, Arábia Saudita e Bahrein poderiam fazer mais para resolver problemas de escravidão moderna dentro de suas fronteiras.

Segundo a Walk Free, muitos países, incluindo as nações mais ricas, continuam resgatando vítimas, enquanto muitos não conseguem garantir proteções significativas para os trabalhadores mais vulneráveis.

A pobreza e a falta de oportunidades são fatores determinantes para o aumento da vulnerabilidade à escravidão moderna. Os estudos também apontam para desigualdades sociais e estruturais mais profundas para que a exploração persista - a xenofobia, o patriarcado, as classes e castas, e as normas de gênero discriminatórias.

Escravidão no Brasil e nas Américas

Segundo a Walk Free, o Brasil tem 161,1 mil pessoas submetidas à escravidão moderna – em 2014, eram 155,3 mil. Apesar do aumento, a fundação considera uma prevalência baixa de trabalho escravo no Brasil, com uma incidência em 0,078% da população.

O relatório aponta que a exploração no Brasil geralmente é mais concentrada nas áreas rurais, especialmente em regiões de cerrado e na Amazônia. Em 2015, 936 trabalhadores foram resgatados da condição de escravidão no país, em sua maioria homens entre 15 e 39 anos, com baixo nível de escolaridade e que migraram dentro do país buscando melhores condições de vida.

Nas Américas, pouco mais de 2 milhões de pessoas são vítimas de trabalho escravo, mais identificados na Guatemala, no México, no Chile, na República Dominicana e na Bolívia. Os resultados da Walk Free sugerem que os setores de trabalho manuais, como a construção, os trabalhos em fábricas e domésticos são os que concentram mais escravos modernos nas Américas.

O país com maior número de pessoas submetidas à escravidão é o México, com 376,8 mil. Os governos com melhores respostas no combate a esse crime são os Estados Unidos, a Argentina, o Canadá e o Brasil.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
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EUA: as eleições preparam a guerra

160530-Hillary3
Hillary deixa por onde passa uma trilha de golpes sangrentos: Honduras, Líbia, Ucrânia. Sua campanha é financiada por nove dos dez maiores fabricantes de armamentos do mundo
Depois de renovar o arsenal atômico, Obama provoca Moscou e Pequim. Hillary ataca Trump, o repulsivo. Mas é ela, supostamente sofisticada, que representa a hiper-militarização
Por John Pilger, no Conterpunch | Tradução Vila Vudu
Há poucos anos, assisti a uma exposição popular intitulada “O Preço da Liberdade”, na venerável Smithsonian Institution em Washington. As filas de pessoas comuns, a maioria crianças que entravam como se ali fosse uma caverna de Papai Noel do revisionismo, recebiam sortimento variado de mentiras: a bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki salvou “um milhão de vidas”; o Iraque foi “libertado [por] ataques aéreos de precisão inigualada no mundo”. O tema era indiscutivelmente heroico: só os norte-americanos pagam ou algum dia pagaram o preço da liberdade”.
A campanha presidencial de 2016 é notável, não só por causa da ascensão de Donald Trump e Bernie Sanders, mas também pela resiliência do impenetrável, duradouro silêncio sobre uma divindade assassina, autorreverenciada. Um terço dos membros da ONU já sentiram o peso do tacão norte-americano, derrubando governos, subvertendo a democracia, impondo bloqueios e sanções. A maioria dos presidentes responsável por tudo isso eram do Partido Democrata – Truman, Kennedy, Johnson, Carter, Clinton, Obama. (…)
Vejam Obama. Agora que se prepara para deixar a presidência, os elogios incansáveis já recomeçaram. Obama é “cool“. Um dos presidentes mais violentos e mortíferos, Obama deu rédea solta ao aparelho de produzir guerras do Pentágono do presidente (desacreditado) que o antecedeu. Processou mais vazadores de informações secretas (whistleblowers) – gente que arrisca a vida para dizer a verdade aos semelhantes – que qualquer outro presidente. Declarou Chelsea Manning culpada, antes de haver sequer julgamento. Hoje, Obama comanda campanha mundial de terrorismo e de assassinatos por drones, de dimensões absolutamente jamais vistas.
Em 2009, Obama prometeu ajudar a “livrar o mundo das armas atômicas” e deram-lhe o Prêmio Nobel. Nenhum presidente algum dia construiu mais ogivas nucleares que Obama. Está “modernizando” o arsenal apocalíptico cos EUA, inclusive com novas ‘mini’ bombas atômicas, cujas dimensões e tecnologia ‘inteligente’ (sic), diz um dos altos generais dos EUA, asseguram que o uso das tais bombas “deixou de ser impensável”.
James Bradley, autor do best-seller Flags of Our Fathers e filho de um dos marines que fincaram a bandeira dos EUA em Iwo Jima, disse, “[Um] Grande mito que estamos vendo em cena hoje é que Obama seria alguma espécie de sujeito ‘pacífico’, tentando livrar-se de bombas nucleares. É o maior matador nuclear de que se tem notícia. Meteu os norte-americanos numa trilha de ruína, de gastos de 1 trilhão de dólares em mais armas atômicas. Sabe-se lá por quê, as pessoas vivem nessa fantasia de que, porque Obama faz palestras vagas e ainda mais vagos discursos e faz pose para fotógrafos amigos, alguma dessas coisas teria a ver com a política real. Não. Nada têm a ver uma coisa e outra.”
No governo de Obama, está-se construindo uma segunda guerra fria. O presidente russo é o ‘malvadão’ de filme; os chineses ainda não voltaram a ser a velha caricatura sinistra com rabo de porco que lhes correspondeu no passado – quando os chineses foram banidos dos EUA –, mas os jornalistas pró-guerra já trabalham nisso.
Nem Hillary Clinton nem Bernie Sanders sequer tocaram nesses temas durante a campanha, nem remotamente. Não há perigo. Nenhum perigo ameaça sejam os EUA, seja toda a humanidade. Para os candidatos, não aconteceu o maior acúmulos de forças militares junto às fronteiras da Rússia desde a Guerra Mundial. Não aconteceu. Dia 11 de maio, a Romênia entrou em cena ‘ao vivo’, com uma base “de mísseis de defesa” da OTAN, que existe para que os EUA tenham a prioridade de um primeiro ataque diretamente contra o coração da Rússia, a segunda maior potência nuclear do mundo.
Na Ásia, o Pentágono está enviando navios, aviões e forças especiais para as Filipinas, para ameaçar a China. Os EUA já cercam a China com centenas de bases militares que desenham um arco, da Austrália até a Ásia, atravessando o Afeganistão. Para Obama, trata-se de “pivô para a Ásia”.
Consequência direta disso tudo, a China já mudou oficialmente sua política nuclear, de “nenhum primeiro ataque”, para alerta máximo, e já pôs no mar submarinos armados com armas atômicas. A escalada da guerra avança, cada vez mais rápida.
Foi Hillary Clinton quem, como secretária de Estado em 2010, elevou o tom das reivindicações sobre penhascos e barreiras de corais no Mar do Sul da China, qualificando-os como “territórios contestados” e fez disso uma questão internacional; na sequência, foi a histeria de CNN e BBC, para as quais a China estaria construindo pistas de pouso nas ilhas em disputa. Nesse jogo dela em 2015, para guerra de proporções de mamute, a Operação Talisman Sabre, os EUA treinaram ataques contra o estreito de Malacca, por onde transitam quase todo o comércio e o petróleo chineses. Nada disso foi manchete.
Hillary declarou que os EUA teriam “interesse nacional” naquelas águas asiáticas. Filipinas e Vietnã foram encorajados e subornados para que mantivessem as “demandas” e as disputas contra a China. Nos EUA, as pessoas já estão sendo adestradas para ver qualquer posição defensiva dos chineses como agressão. Vale dizer que o cenário está pronto para escalada rápida rumo à guerra. E escalada similar de provocação e propaganda está em ação também contra a Rússia.
Hillary, a “candidata mulher”, deixa por onde passa uma trilha de golpes sangrentos e morticínio: em Honduras, na Líbia (plus o assassinato do presidente da Líbia) e na Ucrânia.
A Ucrânia agora é uma espécie de parque temático da CIA, pululando de nazistas, linha de frente de guerra que está sendo construída contra a Rússia. Foi através da Ucrânia – literalmente, através daquela área de fronteira – que os nazistas de Hitler invadiram a União Soviética, que perdeu, naquela guerra, 27 milhões de pessoas. Essa catástrofe épica é presença eterna na Rússia. A campanha de Hillary à presidência recebeu dinheiro de nove das dez maiores empresas fabricantes de armas do mundo. Nenhum outro candidato sequer se aproxima desses ‘números’.
Sanders, esperança de tantos jovens norte-americanos, não é muito diferente de Clinton nesse ideário pelo qual os EUA seriam proprietários do mundo além fronteiras. Sanders apoiou o bombardeio ilegal contra a Sérvia, no governo de Bill Clinton. Apoia o terrorismo de Obama operado por drones, a incansável provocação contra a Rússia e o retorno das forças especiais (esquadrões da morte) ao Iraque. Não disse coisa alguma sobre o crescendo das ameaças à China e o risco crescente de guerra nuclear. Concorda com que Edward Snowden deve ser processado e chama Hugo Chavez – o qual, como o próprio Sanders, foi social-democrata –, de “falecido ditador comunista”. E já prometeu apoiar Clinton, se for a escolhida.
A eleição entre ou Trump ou Hillary é a velha conversa fiada de escolher alguma coisa, quando de fato não há escolha: as duas faces da moeda são a mesma face. Fazendo das minorias bode expiatório e prometendo “fazer a América novamente grande”, Trump é populista doméstico de extrema direita. Mas em todos os casos Clinton pode ser mais letal para o mundo, que Trump.
“Só Donald Trump disse coisa com coisa contra a política externa dos EUA” – escreveu Stephen Cohen, professor emérito de História Russa em Princeton e na NYU, e um dos poucos especialistas em Rússia nos EUA que falou claramente sobre o risco de guerra.
Num programa de rádio, Cohen referiu-se a questões críticas que Trump, e só ele, havia levantado. Dentre elas: por que os EUA “estão ao mesmo tempo em todos os cantos do mundo?” Qual a verdadeira missão da OTAN? Por que os EUA sempre querem mudar, à força, o regime no Iraque, Síria, Líbia, Ucrânia? Por que Washington trata Rússia e Vladimir Putin como seus inimigos figadais?
A histeria da imprensa “liberal” contra Trump só faz alimentar a fantasia de “debate livre e aberto” e de “democracia em ação”. O que ele diz sobre imigrantes e muçulmanos é grotesco, mas nem isso faz dele o deportador-em-chefe das pessoas vulneráveis para fora dos EUA: o deportador-em-chefe é Obama, não Trump. O “legado” de Obama é ter traído os negros: gerou população carcerária na qual predominam os negros, já mais numerosa que a dos gulags de Stálin.
A campanha eleitoral em curso pode não tratar de populismo, mas do que o mundo conhece como “‘esquerdismo’ à moda dos EUA” [orig.American liberalism], uma ideologia que se vê ela mesma como moderna e por isso superior e a única via “de verdade”. Os que habitam a ala direita desse “esquerdismo” à moda dos EUA assemelham-se a imperialistas cristãos do século 19, que teriam a missão, dada por Deus, de converter, cooptar ou conquistar.
Na Grã-Bretanha, é o Blairismo. Tony Blair, cristão criminoso de guerra, safou-se no processo da preparação secreta para invadir o Iraque, principalmente graças à classe política dos esquerdistas à moda dos EUA [orig. liberal political class] e porque a mídia caiu pelo tal “charme britânico” [orig. “cool Britannia“] do homem. No Guardian, o aplauso foi ensurdecedor; foi chamado de “o místico Blair”. Uma brincadeirinha conhecida como política de identidade, importada dos EUA, aproveitada para promovê-lo.
A História foi declarada acabada, as classes foram abolidas e o gênero foi promovido a feminismo; muitas mulheres foram eleitas ao Parlamento pelo Novo Trabalhismo. No primeiro dia, votaram a favor de o Parlamento cortar os benefícios para famílias de pai ou mãe solteiros (a maioria, de mães solteiras e provedoras únicas), exatamente como haviam sido instruídas a fazer. A maioria da bancada ‘feminista’ votou a favor de uma invasão que produziu 700 mil viúvas iraquianas.
Equivalente a isso nos EUA são os belicistas promovidos a politicamente corretos no New York Times, Washington Post e redes de TV que dominam o debate político. Assisti a um debate feroz na CNN sobre as infidelidades conjugais de Trump. Evidentemente, diziam lá, homem desse tipo não poderia tomar conta da Casa Branca. Nada se discutiu, nada. Nem uma palavra sobre os 80% da população dos EUA, cujos níveis de renda desabaram para níveis de 1970s. Nem uma palavra sobre o alistamento militar. A palavra que desce dos céus sobre a humanidade parece ser “tape o nariz” e vote Clinton: qualquer coisa é melhor que Trump.
Só assim será possível deter o monstro e preservar um sistema que se prepara para mais uma guerra.

John Pilger

John Pilger teve sua carreira como repórter iniciada em 1958, e ao longo dos anos tornou-se famoso pelos livros e documentários que escreveu ou produziu. Especializou-se nas áreas de jornalismo investigativo e direitos humanos.
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Utopias

Crônica sobre utopia 


Opinión




  • Foto: Por do Sol na Laguna dos Patos (Sandro Miranda)

      Se as coisas são inatingíveis… ora!
      Não é motivo para não querê-las…
      Que tristes os caminhos, se não fora
      A presença distante das estrelas!
      (Mário Quintana)

       Eduardo Galeano disse certa vez que o papel das Utopias é o de nos fazer caminhar, de seguir firmes aos horizontes sonhados visando a construção de um mundo melhor e não, necessariamente, idealizado.

      A palavra utopia tornou-se universal com a obra do inglês Thomas Morus que escreveu sobre uma civilização organizada, equilibrada, ideal e imaginária. Contudo, existem outras obras anteriores que já abordavam a existência de sociedades utópicas, como a República de Platão. Derivada do grego “ou + topos”, utopia é traduzida comumente como “um lugar que não existe”.

      Mas será que as utopias realmente não existem? Será que são apenas sonhos distantes que servem para projetar a nossa caminhada, ou será que a utopia também pode ser um mundo, um imaginário de sonhos a serem concretizados. Creio que o segundo caminho é o mais adequado!

      Utopias não são sonhos distantes e irrealizáveis. São projetos de vida, de mundo, que podem e devem ser vivenciados. A utopia verdadeiramente transformadora é aquela em que efetivamente acreditamos, que lutamos pela sua concretização e que passam a fazer parte do nosso ser e agir diária, sendo efetivamente vivenciadas.

      Ao contrário do que prega a visão dominante, que tenta nos impor um mundo mecânico e sem alternativas, que coloca a destruição do planeta, das espécies e dos direitos humanos como fatos dados, a sociedade nunca esteve tão carente de sonhos, desejos e de novos caminhos, portanto, de utopias.

      Os novos utopistas não são sonhadores que projetam mundos escritos em livros eruditos, mas os verdadeiros agentes da transformação. São cidadãos e cidadãs conscientes do seu papel ativo na construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e igualitária.

      As utopias nascem no nosso íntimo e criam um estado de espírito insurgente, voltado à realização de sonhos e à superação dos limites definidos pelos opressores. É por isso que não podemos mais considerar as utopias apenas como um projeto de mundo, mas como uma construção diária que é trazida à vida por nossas ações.

      Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.
            Fonte: AMÉRICA LATINA EM MOVIMENTO
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      ‘Bem Viver’, o conceito que imagina outros mundos possíveis, já se espalha pelas nações

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      Por Amelia Gonzalez, no caderno Nova Ética Social
      Como prometi, volto ao tema “Bem Viver”, sobre o qual comentei no último post  após ter mergulhado no livro “O Bem Viver”, de Alberto Acosta (Ed. Autonomia Literária e Elefante) nesse fim de semana. Devo dizer que foi uma ótima leitura, que me possibilitou boas reflexões, mesmo sob os acordes carnavalescos precoces  aqui debaixo da minha janela.  Acosta liga pontos que, na visão de muitos autores citados por ele, colaboraram para que a situação chegasse à tremenda desigualdade social, à tremenda devastação ambiental, à crise econômica e política que vemos hoje no mundo inteiro. E que pavimentaram o caminho que vai da euforia pelo desenvolvimento – fenômeno que começou depois do fim da II Guerra -  para o desencanto pelo mesmo desenvolvimento, que tem alcançado os dias atuais. O desenvolvimento, na visão do conceito “Bem Viver”, ocidentalizou a vida no planeta.
      A difusão de padrões de consumo já inconcebíveis; as máquinas nos transformando em simples ferramentas, quando a relação deveria ser inversa; a eterna superioridade dos colonizadores, que se sentem legitimados a desqualificar conhecimentos de povos tradicionais. São questões pensadas no livro.
      O “Bem Viver” chama atenção para algumas armadilhas, como o “mercantilismo ambiental exacerbado há várias décadas e que não contribuiu para melhorar a situação”. Entram aí os conceitos de “economia verde”, “desenvolvimento sustentável” que têm sido apenas uma espécie de “maquiagem desimportante e distrativa”. Os indicadores ambientais e sociais, que surgem em profusão, não conseguem chegar a um acordo e, na visão de Acosta, “acabam por cercear ideias inovadoras”.
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      É importante, aqui, dizer que Alberto Acosta, o autor que propõe uma ruptura civilizatória e oferece os caminhos para isso, em 2007 pôs os Direitos da Natureza na Constituição do Equador, um feito inédito no mundo. É economista, foi um dos responsáveis pelo plano de governo da Alianza País, partido encabeçado por Rafael Correa, presidente desde então. Acosta foi também Ministro de Energia e Minas do Equador. Mas se distanciou do governo de Correa justamente na fase de implantação da Constituinte.
      “É verdade que na Constituição equatoriana se tensionam os dois conceitos – Bem Viver e Desenvolvimento – mas não é menos verdade que os debates na Assembleia Constituinte, que, de alguma maneira, ainda continuam, foram posicionando a tese do Bem Viver como alternativa ao desenvolvimento. No entanto, deve ficar claro que o governo equatoriano utilizou o ‘Buen Vivir’ como um slogan para propiciar uma espécie de retorno ao desenvolvimento”, escreve Acosta.
      A base do pensamento do “Bem Viver” é indígena.  Entre as muitas contribuições sobre o tema aceitos pelos organizadores do pensamento, há reflexões da comunidade Sarayaku, na província de Pastaza, Equador, onde se elaborou um “plano de vida” que sintetiza princípios fundamentais do “Bem Viver”.
      É difícil resumir a proposta desse conceito porque ele vai de um polo a outro, o que torna a minha tarefa aqui bem complexa. O “Bem Viver”, além de fazer parte da constituição do Equador e da Bolívia, tem sido debatido em outras partes do mundo. Países europeus, como Espanha e Alemanha, já têm seguidores desse conceito. Mas, antes que haja uma confusão, é bom dizer: não se trata de estimular o “dolce far niente”, a arte de não fazer nada. Como está escrito no subtítulo do livro, a questão aqui é imaginar outros mundos possíveis, tarefa que, por sinal, vem sendo tentada pela humanidade desde sempre. Em alguns momentos, lendo o livro de Acosta, recordei trechos do “Nosso Futuro Comum”, relatório final da longuíssima reunião proposta pelas Nações Unidas e conduzida por Gro Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega, de 1984 a 1987.
      Sendo assim, em vez de alongar-me em comentários sobre o conceito, passo a descrever algumas das principais propostas do “Bem Viver”.
      1) Não é mais uma ideia de desenvolvimento alternativo dentro de uma longa lista de opções:  apresenta-se como uma alternativa a todas elas e se fundamenta na construção de um estado plurinacional e eminentemente participativo. A tarefa, complexa, é aprender desaprendendo, aprender e reaprender ao mesmo tempo.
      2) O convite é para se ter clareza, antes de mais nada, sobre o que são os horizontes de um estado plurinacional. Com isso, propõe-se construir uma nova história, uma nova democracia, pensada e sentida a partir do respeito aos povos originários, à diversidade, à natureza .
      3) Como se propõe a ser uma alternativa ao desenvolvimento, o “Bem Viver” exige outra economia, sustentada nos princípios de solidariedade e reciprocidade, responsabilidade, integralidade. O objetivo é construir um sistema econômico sobre bases comunitárias, orientadas por princípios diferentes dos que propagam o capitalismo ou o socialismo. Será preciso uma grande transformação, não apenas nos aparatos produtivos, mas nos padrões de consumo, obtendo melhores resultados em termos de qualidade de vida. Uma lógica econômica que não se baseie na ampliação permanente do consumo em função da acumulação do capital. Há que desmontar tanto a economia do crescimento como a sociedade do crescimento. Não é só o decrescimento, ele tem de vir acompanhado de mudanças da economia.
      4) Essa nova economia deve permitir a satisfação das necessidades atuais sem comprometer as possibilidades das gerações futuras, em condições que assegurem relações cada vez mais harmoniosas do ser humano consigo mesmo, dos seres humanos com seus congêneres e com a natureza. Nesse sentido, o conceito do “Bem Viver” se aproxima daquele registrado no relatório “Nosso Futuro Comum”: satisfazer as necessidades básicas de todos e estender a todos a oportunidade de satisfazer suas aspirações para uma vida melhor.
      5) Os padrões de consumo no “Bem Viver” devem olhar para um prazo longo de sustentabilidade. Os valores vão encorajar padrões de consumo dentro dos limites ecológicos possíveis e aos quais todos possam aspirar.
      6)  A descentralização assume papel preponderante. Para construir, por exemplo, a soberania alimentar a partir do mundo camponês, com a participação de consumidores e consumidoras. Aqui emergem com força muitas propostas que querem recuperar a produção local com o consumo dos produtos localmente, chamadas “iniciativa zero quilômetro”. O fundamento básico  é o desenvolvimento das forças produtivas locais, controle da acumulação e centramento dos padrões de consumo.
      7) Tudo deve ser acompanhado de um processo político de participação plena, de tal maneira que se construam contrapoderes com crescentes níveis de influência no âmbito local.
      8) A ideia não é fomentar uma “burguesia nacional”  e voltar ao modelo de substituição de importações. Mercado interno, aqui, significa mercado de massas e, sobretudo, mercados comunitários onde predominará o “viver com o nosso e para os nossos”, vinculando campo e cidade, rural e urbano. Poderá  ser avaliado, a partir desse modelo, como participar da economia mundial.
      9) As necessidades humanas fundamentais podem ser atendidas desde o início e durante todo o processo de construção do “Bem Viver”. Sua realização não seria, então, a meta mas o motor do processo.
      10) Pessoas e comunidades podem viver a construção do “Bem Viver” num processo autodependente e participativo. O “Bem viver” se converte em um bem público, com um grande poder integrador, tanto intelectual como político. Fortalece processos de assembleias em espaços comunitários. Repensa profundamente os partidos e organizações políticas tradicionais.
      11) O conceito fundamental é: crescimento permanente é impossível. O Lema é “melhor com menos”. Preferível crescer pouco, mas crescer bem, a crescer muito, porém mal. Tem que haver consenso e participação popular.
      12) O trabalho é um direito e um dever em uma sociedade que busca o “Bem Viver”. Tem-se que pensar em um processo de redução do tempo de trabalho e redistribuição do emprego. Mas outro fetiche a ser atacado é o mercado: subordinar o estado ao mercado significa subordinar a sociedade às relações mercantis e ao individualismo. Busca-se, então, construir uma economia com mercados, no plural, a serviço da sociedade. O comércio deve se orientar e se regular a partir da lógica social e ambiental, não da lógica da acumulação do capital.
      13) No “Bem Viver” os seres humanos são vistos como uma promessa, não uma ameaça. Não há que se esperar que o mundo se transforme para se avançar no campo da migração. Há que agir para provocar essa mudança no mundo.
      14) Surge com força o tema dos bens comuns. Podem ser sistemas naturais ou sociais, palpáveis ou intangíveis, distintos entre si, mas comuns , pois foram herdados ou construídos coletivamente. É indispensável proteger as condições existentes para dispor dos bens comuns de forma direta, imediata e sem mediações mercantis. Tem que evitar a privatização dos bens comuns. O que se busca é uma convivência sem miséria, sem discriminação, com um mínimo de coisas necessárias. O que se deve combater é a excessiva concentração de riqueza, não a pobreza.
      15) Não há que desenvolver a pessoas, é a pessoa que deve se desenvolver. Para tanto, qualquer pessoa tem que ter as mesmas possibilidades de escolha, ainda que não tenha os mesmos meios.
      Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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