sábado, 23 de abril de 2016

Suavidade Violenta

Pepe Escobar: Assalto neoliberal ao Brasil, conduzido de dentro pelo “venenoso império Globo”, se encaixa no novo conceito de guerra híbrida

23 de abril de 2016 às 00h13

Captura de Tela 2016-04-23 às 00.11.05Ratos bem treinados apenas cumprem ordens; que manda mesmo não tem razões para se esconder
Guerra híbrida das hienas dilacera o Brasil
A sombria e repulsiva noite em que a presidente da 7ª maior economia do mundo foi a vítima escolhida para um linchamento de hienas num insípido e provinciano Circo Máximo viverá para sempre na infâmia.
Por 367 votos a 137, o impeachment/golpe/mudança de regime contra Dilma Rousseff foi aprovado pelo circo parlamentar brasileiro e agora irá ao Senado, onde uma “comissão especial” será instituída.
Se este for aprovado, Rousseff será então marginalizada durante 180 dias e um ordinário Brutus tropical, o vice-presidente Michel Temer, ascenderá ao poder até o veredito final do Senado.
Esta farsa desprezível deveria servir como um alerta não só aos BRICS, mas a todo o Sul Global.
Quem é que precisa de NATO, R2P (“responsability to protect”) ou “rebeldes moderados” quando pode obter a sua mudança de regime apenas com o ajustamento do sistema político/judicial de um país?
O Supremo Tribunal brasileiro não analisou o mérito da questão – pelo menos ainda não.
Não há qualquer evidência sólida de que Rousseff tenha cometido um “crime de responsabilidade”.
Ela fez o que todo presidente norte-americano desde Reagan tem feito – para não mencionar líderes de todo o mundo: juntamente com o vice-presidente, o desprezível Brutus, Rousseff foi ligeiramente criativa com os números do orçamento federal.
O golpe foi patrocinado por um vigarista certificado, o presidente da câmara baixa Eduardo Cunha, confirmadamente possuidor de várias contas ilegais na Suíça, listado nos Panama Papers e sob investigação do Supremo Tribunal.
Ao invés de reger hienas quase analfabetas num circo racista, em grande medida cripto-fascista, ele deveria estar atrás das grades. Custa crer que o Supremo Tribunal não tenha lançado ação legal contra Cunha.
O segredo do seu poder sobre o circo é um gigantesco esquema de corrupção que perdura há muitos anos, caracterizado pelas contribuições corporativas para o financiamento das suas campanhas e de outros.
E aqui está a beleza de uma mudança de regime light, uma revolução colorida da Guerra Híbrida, quando encenada numa nação tão dinamicamente criativa como o Brasil.
A galeria de espelhos produz um simulacro político que teria levado descontrucionistas como Jean Braudrillard e Umberto Eco, se vivos fossem, a ficarem verdes de inveja.
Um Congresso atulhado com palhaços/tolos/traidores/vigaristas, alguns dos quais investigados por corrupção, conspirou para depor uma presidente que não está sob qualquer investigação formal de corrupção – e que não cometeu qualquer “crime de responsabilidade”.
A restauração neoliberal
Ainda assim, sem um voto popular, os maciçamente rejeitados gêmeos Brutus tropicais, Temer e Cunha, descobrirão que é impossível governar, muito embora eles encarnassem perfeitamente o projeto das imensamente arrogantes e ignorantes elites brasileiras.
Um triunfo neoliberal, com a “democracia” brasileira espezinhada abaixo do chão.
É impossível entender o que aconteceu no Circo Máximo neste domingo sem saber que há um rebanho de partidos políticos brasileiros que está gravemente ameaçado pelos vazamentos ininterruptos da Lava Jato.
Para assegurar a sobrevivência deles, a Lava Jato deve ser “suspensa”; e isto será feito sob a falsa “unidade nacional” proposta pelo desprezível Brutus Temer.
Mas antes a Lava Jato deve produzir um escalpe ostensivo. E este tem de ser Lula na prisão – comparado ao qual a crucificação de Rousseff é uma fábula de Esopo.
Os media corporativos, conduzidos pelo venenoso império Globo, saudariam isto como a vitória final — e ninguém se preocuparia com a aposentadoria da Lava Jato.
Os mais de 54 milhões que em 2014 votaram pela reeleição de Roussef votaram errado.
O “projeto” global é um governo sem voto e sem povo; um sistema parlamentar de estilo brasileiro, sem aborrecimentos com “eleições” incômodas e, crucialmente, campanhas de financiamento muito “generosas” e flexibilidade que não obrigue a incriminar companhias/corporações poderosas.
Em resumo, o objetivo final é “alinhar” perfeitamente os interesses do Executivo, Legislativo, Judiciário e media corporativos. A democracia é para otários.
As elites brasileiras que fazem o controle remoto das hienas sabem muito bem que se Lula concorrer outra vez em 2018, vencerá.
E Lula já advertiu; ele não endossará qualquer “unidade nacional” sem sentido; estará de volta às ruas para combater qualquer governo ilegítimo que surja.
Agora estamos abertos à pilhagem
No pé em que está, Rousseff corre o risco de se tornar a primeira grande baixa da investigação Lava Jato, com origem na NSA [National Security Agency, dos Estados Unidos], que perdura há dois anos.
A presidente, reconhecidamente uma gestora econômica incompetente e sem as qualificações de um político mestre, acreditou que a Lava Jato – que praticamente a impediu de governar – não a atingiria porque ela é pessoalmente honesta. Mas a agenda não tão oculta da Lava Jato foi sempre a mudança de regime.
Quem se importa se no processo o país for deixado à beira de ser controlado exatamente por muitos daqueles acusados de corrupção?
O desprezível Brutus Temer – uma versão fútil de Macri da Argentina – é o condutor perfeito para a implementação da mudança de regime.
Ele representa o poderoso lobby bancário, o poderoso lobby do agronegócio e a poderosa federação de indústrias do líder econômico do Brasil, o Estado de São Paulo.
O projeto neo-desenvolvimentista para a América Latina – pelo menos unindo algumas das elites locais, investindo no desenvolvimento de mercados internos, em associação com as classes trabalhadoras – agora está morto, porque o que pode ser definido como capitalismo sub-hegemônico, ou periférico, está atolado na crise após a derrocada de 2008 provocada por Wall Street.
O que resta é apenas restauração neoliberal, a TINA (“there is no alternative”). Isto implica, no caso brasileiro, a reversão selvagem do legado de Lula: políticas sociais, políticas tecnológicas, o impulso para expandir globalmente grandes companhias brasileiras competitivas, mais universidades públicas, melhores salários.
Numa mensagem à Nação, Brutus Temer admitiu isto; a “esperança” de que o pós-impeachment será absolutamente excelente para o “investimento estrangeiro”, pois lhe permitirá pilhar a colonia à vontade; um retorno à tradição histórica do Brasil desde 1500.
De modo que Wall Street, o Big Oil dos EUA e os proverbiais “American interests” vencem este round no circo – graças às, mais uma vez proverbiais, elites vassalas/compradoras.
Executivos da Chevron já estão a salivar com a perspectiva de porem as mãos nas reservas de petróleo do pré sal; que já foram prometidas por um vassalo confiável, integrante da oposição brasileira.
O golpe continua. As hienas reais ainda não atacaram. De modo que isto está longe de ter terminado.
Fonte: VIOMUNDO
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A Globo gosta de direito de resposta. Para ela, quando é chamada de golpista

João Roberto Marinho enviou  resposta ao jornal inglês The Guardian, onde suas Organizações Globo são apontadas como parte das forças que promovem e apoiam a derrubada de Dilma Rousseff.
Basicamente, contra um parágrafo:
Na verdade, a maioria dos maiores meios de comunicação de hoje – que aparecem respeitáveis para pessoas de fora – apoiou o golpe militar de 1964, que marcou o início de duas décadas de ditadura de direita e e enriqueceu mais  os oligarcas do país.Este evento histórico chave ainda lança uma sombra sobre a identidade e política do país. Estas corporações – liderados pelos braços múltiplos de mídia da organização Globo – anunciam um golpe como uma ação nobre contra um governo liberal corrupto, democraticamente eleito. Soa familiar?
Batou para meterem a carapuça até o pescoço.
 “Precisamente para evitar qualquer acusação de incitar manifestações de massa – como o Sr. (David) Miranda (autor do artigo) agora nos acusa – o Grupo Globo cobriu os protestos sem nunca anunciar ou dar opinião sobre elas em seus canais de notícias antes de acontecerem. Globo tomou posições iguais sobre comícios para a presidente Dilma Rousseff e contra o impeachment: ela cobriu todos, sem mencioná-los antes deles ocorrerem, concedendo-lhes o mesmo espaço que foi dado aos protestos anti-Dilma. Quando o processo de impeachment começou na Câmara Baixa do Congresso, alocamos igual tempo e do espaço para a defesa e acusação. O Grupo Globo não apoia o impeachment em editoriais. Ele simplesmente declarou que, independentemente do resultado, tudo tinha de ser conduzida de acordo com a Constituição, que na verdade tem sido o caso até agora.”
É assim: muita formalidade, nenhuma sinceridade.
Como aconteceu no caso da mansão de Parati negou qualquer ligação com a casa irregular e também notificou quem, como este blog, afirmou que havia.
Depois quando este blog comprovou que a empresa dona da mansão dividia endereço com a própria empresa de fachada dona do imóvel, se saiu com tecnicalidades: não é da família Marinho, mas do ex-genro, recém separado, de sua filha,  neta de Roberto Marinho.
Como diria Joaquim Barbosa, tinha pleno domínio do fato.
Todo mundo sabe que o golpe é golpe e que o golpe é da Globo tanto quanto de mais ninguém, pois sem ela jamais ocorreria.
Marinho diz em sua resposta que a mídia brasieira é vasta e plural – embora seis famílias, sobretudo a dele – a controlem: “culpar a imprensa para a atual crise política brasileira, ou sugerir que ela serve como um agitador, é repetir o erro antigo de culpar o mensageiro pela mensagem(…) a afirmação de que o Grupo Globo conduz a mídia nacional, especialmente vinda de um cidadão brasileiro, só pode ser feita de má fé”. diz.
Não, Dr. João, afirmar que a Globo não se adona e constrói a opinião pública nacional é que só pode ser dito de má-fé.
Fonte: TIJOLAÇO
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Depois do ataque mortal, a vítima deve aguardar uma semana para voltar ao campo de batalha, dizem os sábios.

E nada melhor que o retorno se dê no dia do Santo Guerreiro.
Criou-se uma grande expectativa na velha mídia sobre o pronunciamento de Dilma ontem na ONU. O medo da palavra golpe, proferida no palanque da ONU, tirou o sono de muitas pessoas das oposições e da velha mídia. Antes do discurso da presidenta se discutia, e muito, nos reacionários debates entre reacionários da velha mídia as consequências da denúncia sobre o golpe.

Como se sabe, Dilma não usou a palavra golpe, mas a mensagem sobre o golpe em curso no Brasil foi clara.

Ao se referir a um retrocesso que o povo brasileiro não irá admitir, Dilma, deixou claro que as instituições não promovem o equilíbrio democrático ao país. Tanto foi assim que a maioria dos políticos e especialistas entrevistados ontem logo após ao pronunciamento da presidenta, a maioria de oposição, claro, focaram seus argumentos no trecho do pronunciamento em que a presidenta citou a palavra retrocesso.

De uma maneira uniforme, unida e perfilada, as oposições questionaram a declaração da presidenta afirmando que as instituições no Brasil funcionam livremente e de forma independente. Aliás, a palavra independente foi a mais utilizada, com o intuito de mostrar que os três Poderes não sofrem, ou não estão submetidos a nenhum tipo de pressão, de qualquer natureza, como a econômica, por exemplo.

Através dessas declarações pode-se compreender ainda mais, e com mais clareza, o golpe contra a Democracia em curso no Brasil.

No século passado, século XX, os golpes de estado na América Latina contra governos de origem popular, socialistas, social democratas e trabalhistas, aconteceram com protagonismo principal das forças armadas de todos os países golpeados. A tomada do Poder se deu pela força bruta, das armas, como mortes , prisões e perseguições de políticos e pessoas do lado que estava no Poder. Rupturas claras que colocaram as Instituições à margem do processo democrático. Ditaduras que calavam o judiciário e o legislativo. As instituições , claramente , deixavam de funcionar de cumprir suas funções.

" As instituições estão funcionando livremente e de forma independente", foi o que mais se ouviu, ontem, questionando o retrocesso que seria um golpe no país, as palavras da presidenta.

Interessante e revelador, caro leitor, que políticos de oposição defendam o impeachment, fazendo comparações entre o funcionamento das instituições quando dos golpes do século passado e no momento atual.

Para grande parte do senso comum, de fato, as instituições funcionam livremente e o país vive uma Democracia plena, no entanto , não é isso que acontece.

O século XXI não permite rupturas democráticas escancaradas já que as populações que vivenciam fragmentos de democracia, acreditando viverem em democracias plenas, não iriam aceitar rupturas escancaradas, com a força das armas, por exemplo. E é ai que se encontra a dinâmica do golpe do século XXI: suavidade conferida por um verniz de legalidade aplicado por instituições supostamente livres e independentes,
violência ao promover a ruptura democrática, ignorando a vontade da maioria expressa nas urnas.

Dito isto, O PAPIRO em postagem recente definiu o golpe do século XXI, como Suavidade Violenta. Não existe presença das forças armadas nas ruas, fuzis , tanques mísseis. O golpe do século XXI é aplicado pelo Poderes Legislativo e Judiciário contra o Executivo "rebelde", trabalhista, social democrata, popular, preocupado e ocupado em promover distribuição de renda, minimizar a pobreza, acabar com a miséria, abrir caminhos para a justiça social.

Segundo os golpistas, um Executivo não alinhado com a supremacia da finanças que governa o mundo.

Assim sendo, segundo as oposições, " as instituições funcionam livremente no Brasil" não havendo motivos para um retrocesso.

Instituições, como bem disse o ex-presidente Lula, acovardadas e submissas aos interesses do dinheiro grosso, da devastadora e predadora restauração neoliberal, que uma vez consolidada, irá ceifar vidas com o crescimento da pobreza, da miséria, da violência e da precarização ainda maior dos direitos dos trabalhadores.

Isso é fato, tendo em vista experiências anteriores no Brasil e em outros países pela América Latina e no mundo.

O golpe do século XXI, talvez seja ainda mais violento e cruel que o golpe do século XX, já que se apresenta de forma civilizada e democrática, porém cínica e hipócrita.

O ex- ministro do STF, Ayres Brito, declara, hoje, que os acontecimentos em curso no Brasil podem ser compreendidos , apenas, como uma pausa na Democracia. Os militares , quando do golpe de 1964, também disseram o mesmo.

Na velha mídia, mais um ator importante na dinâmica do golpe, os comentários hoje são de alivio pelo fato da presidenta Dilma não ter usado a palavra golpe no pronunciamento na ONU. Segundo a colunista Miriam Leitão, do golpista Globo, Dilma evitou um vexame ao não citar a palavra golpe.

É a novilíngua, o cinismo em sua expressão maior, já que o vexame brasileiro, o golpe em curso, corre o mundo, e envergonha todos aqueles que defendem a Democracia.

Talvez Leitão, que é do PIG, não entenda, seja por excesso de cinismo ou mesmo por alguma deficiência intelectual. Ou quem sabe as duas coisas. Assim sendo, coloco, abaixo alguns desenhos, charges, do que se passa no Brasil:


tudo a ver.jpg
A imprensa estrangeira e o golpe - Créditos: Latuff para Opera Mundi

globo golpe

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