quinta-feira, 28 de abril de 2016

A democracia amputada daqueles que representam 1% da população

Não é estranho que as pessoas não se entusiasmem com esta democracia'

Segundo Chomsky, o apoio às democracias está diminuindo no mundo todo, pois elas não são verdadeiras democracias: as decisões são sempre tomadas por elites

Manuel Muñiz e Pablo Pardo, para El Mundo



– Falando em eleições: os dados da Pesquisa Mundial de Valores (World Value Surveys) revelam que o apoio à democracia está diminuindo em todo o mundo.

– Não estou de acordo. Está diminuindo o apoio às democracias formais, porque não são verdadeiras democracias. Na Europa, as decisões são tomadas em Bruxelas. Nos Estados Unidos cerca de 70% de população, os 70% com menor renda, está totalmente desvinculada do processo político. Isso demonstra que há uma correlação enorme entre o nível econômico e educativo e mobilização política. Não é de se estranhar que as pessoas não estejam entusiasmadas com esse tipo de democracia.

– Existe desencanto com as elites?

– Com certeza. As políticas neoliberais vem sendo muito negativas para as pessoas comuns em todos os lugares. Na Europa, aplicar a austeridade em meio a um quadro de recessão foi algo absurdo, e inclusive os economistas do FMI criticaram os efeitos dessas políticas nos países periféricos da Zona Euro, como a Espanha. É algo que só pode ser explicado como uma luta de classes: o objetivo era minar a democracia e eliminar as conquistas da social democracia, que foram bastante significativas. Portanto, essa resposta não deveria nos surpreender. Porém, os mesmos dados da Pesquisa Mundial de Valores manifestam os ricos são, também cada dia mais céticos com respeito à democracia. Porque há um verdadeiro Estado de bem-estar para os muito ricos, mas os muito ricos querem mais. Não querem que exista limites à sua capacidade de roubar os demais.

– A tecnologia beneficia os ricos?

– Não. Quem ela beneficia ou não é uma questão de preferências políticas.

– Até onde essa situação pode nos levar?

– Talvez a mais democracia. O Podemos não se opõe à democracia, pelo contrário, reivindica mais democracia. Assim como o Syriza, antes de capitular. O caso grego é interessante. Convocaram um referendo, para que os gregos tivessem voz nos assuntos, para que não fosse um processo antidemocrático. Mas foi antidemocrática a reação tão histérica da União Europeia. O Syriza foi pulverizado pelos eurocratas, para demostrar aos europeus que deveriam abandonar toda e qualquer esperança de ter mais democracia.

– A situação é sustentável?

– Eu vejo muito improvável. Quando o centro se colapsa, sobram somente os extremos. Eu sou velho o bastante para recordar os discursos de Hitler na rádio. Recordo a excitação, o medo… assustava. Aquilo aconteceu na Alemanha dos Anos 30. Uma década antes, nos Anos 20, a Alemanha estava no topo da civilização ocidental em termos científicos e culturais. Dez anos mais tarde, se encontrava no abismo mais profundo da História da humanidade. É o que sucede quando o centro desaparece.

– O que você acha da Teoria da Singularidade, que diz que no futuro, algo entre 25 e 100 anos, haverá máquinas que serão capazes de aprender e substituir os seres humanos?

– Uma bobagem. Vamos destruir a nós mesmos muito antes disso, com uma guerra nuclear. E, se não for com uma guerra, será através do aquecimento do planeta.

* Linguista, filósofo e ativista político estadunidense, professor emérito de linguística no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT

Fonte: CARTA MAIOR
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Avalanche democrática e popular está impondo uma derrota moral aos golpistas

26/04/2016 Redação


Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

A luta pela democracia humaniza
A avalanche democrática e popular está impondo aos fascistas uma derrota moral, e esta é a narrativa que vai perdurar pelas próximas décadas e séculos

por Jeferson Miola, na Carta Maior

O golpe é masculino. O golpe é do Cunha, do Temer, do Aécio, do Serra, do FHC, do Bolsonaro, do Maluf, do Pastor Feliciano, da Globo, da FIESP. O golpe é, enfim, da canalha da Casa Grande contra o povo.

A luta democrática é feminina. A democracia reside no mandato legítimo de uma mulher inocente e íntegra, eleita por 54.501.118 brasileiros e brasileiras, que é vítima de uma farsa, de um julgamento de exceção fraudulento.

O impeachment é pela família, é por deus, pela amante, pela hipocrisia; é pela opressão sexual, moral, patronal e política; é pela corrupção, é da elite pela elite.

A resistência democrática é laica, é horizontal, é plural, libertária, é leal, é popular; a defesa da democracia é inclusiva, é proletária, é plebéia.

Aqueles que desferem o golpe se movem por ódio, rancor e intolerância. São homofóbicos, preconceituosos e racistas.

Aqueles que defendem a democracia agem com afeto, tolerância, respeito, solidariedade e alegria. São negros, jovens, homens, mulheres, crianças, LGBTs que constroem o futuro de esperança.

O golpe é fascista. É o gérmen de um fascismo que os fascistas poderiam, mas não querem conter. O golpe é o paroxismo do delírio e da cólera fascista: um bebê é condenado ao abandono da médica pediatra porque cometeu o crime de nascer do útero de uma mulher petista.

O golpe é a postura terrorista, sádica e anti-civilizacional simbolizada na homenagem do torturador assassino que foi “o pavor da Dilma”. O golpe desumaniza.

O golpe até poderá conseguir roubar o poder no curto prazo; é para isso que labutam as “instituições que estão funcionando normalmente” [sic]. Mas o golpe já perdeu o futuro. No 17 de abril, o dia da “assembléia geral de bandidos”, o golpe perdeu o essencial: perdeu o disfarce da legitimidade.

Depois daquela escatológica “assembléia geral de bandidos comandada pelo bandido Eduardo Cunha”, o golpe jamais vai conseguir adquirir o menor traço de legitimidade. O golpe e os golpistas já estão derrotados: eles perderam a guerra histórica.

A luta democrática venceu. Os democratas são, desde já, os grandes vitoriosos morais. A democracia é melhor. Do lado da democracia estão as pessoas que se entregam de corpo e alma à defesa da liberdade, das Leis e da Constituição, porque sabem que a vida só vale a pena ser vivida se for com liberdade e com respeito às regras comuns, às regras de todos; não de minorias circunstanciais que flanam sobre as Leis e a Constituição.

A avalanche democrática e popular está impondo aos fascistas uma derrota moral, e esta é a narrativa que vai perdurar pelas próximas décadas e séculos.

A vitória desta guerra pertence ao povo, aos progressistas, à esquerda; pertence a aqueles que defendem a democracia. A luta pela democracia no Brasil é um divisor de classes, assumiu um caráter de classe; a democracia é um valor proletário. Contra a democracia está a classe dominante, a burguesia, estão os golpistas fascistas.

A luta pela democracia humaniza e enriquece. Seguramente a esquerda sairá desta guerra menos misógina, menos sexista e menos machista. A direita, em compensação, será ainda mais podre e torpe


Fonte: O CAFEZINHO
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