quinta-feira, 10 de março de 2016

Parati na fita

O jornalismo, a ética, os Marinho e a casa de Parati


Por Fernando Brito · 10/03/2016

Leio, no Diário do Centro do Mundo, a hipótese levantada por Paulo Nogueira – que com ele conviveu – de que João Roberto Marinho poderia ter liberado a Globo para uma ofensiva sem limites contra Lula e o governo pelo fato de ter surgido o noticiário constrangedor sobre as ligações entre a família Marinho e a mansão irregular construída na Praia de Santa Rita, em Parati.

Não creio – aliás, como o próprio Paulo também não – que seja esta uma hipótese provável, até pela inteligência que todos reconhecem em João Roberto.

De qualquer forma, a menção presta-se a uma reflexão sobre a prática da ética no jornalismo, tão escassa em nossas plagas. E, sejamos justos, também em outras terras, como são emblema vergonhoso os tablóides ingleses.

E obriga a este post, de natureza editorial.

Em momento algum invadiu-se a intimidade de sua família, ao contrário aliás, do que fizeram colunas sociais que registraram divórcios, casamentos e até mesmo o fez o Judiciário, publicando estupidamente no Diário Oficial nomes numa ação que, por definição legal, é sigilosa.

Em momento algum este blog – e quase sempre todos os outros que participaram do deslinde da propriedade da casa – publicou algo que não estivesse contido em documentos públicos.

Aliás, não apenas públicos, mas publicados na internet.

Mais ainda: todos os documentos nasceram de iniciativa das empresas e pessoas interessadas, com os dados e circunstâncias que resolveram utilizar. Quem ligou a Agropecuária Veine Patrimonial, dona formal da propriedade de Parati e a empresa de João Roberto e sua filha foi o endereço de registro fornecido por ambas à Receita Federal, informado por eles mesmos ou à sua ordem.

Nenhum deles foi obtido por “vazamento” ou “ajuda” das autoridades públicas, nenhuma informação foi colhida com porteiros, vendedores, lojas e outros prestadores de serviço que tenham tido ou os donos da mansão, exceto as que estes, espontaneamente, colocaram na rede mundial de computadores para promover seu talento, capacidade e bom-gosto.

Foi assim, por exemplo, com as fotos do exterior e do interior da casa, os vídeos e as animações computadorizadas aqui reproduzidas. Nenhum expediente escuso foi usado para obtê-las.

O que público está, público é.

Como são públicas e publicadas as autuações, multas, requerimentos e até a sentença que versam sobre as irregularidades e violações legais da edificação.

Igualmente, as parcas resposta oferecidas foram publicadas na íntegra, sem edições, sem notas de rodapé que as contradissessem, sem senões que as replicassem, exceto os feitos em separado, em novas matérias, como é dever jornalístico.

Também não foi ninguém pressionado a informar. Duas pessoas documentalmente ligadas às empresas que partilham o apartamento 601 da Rua Bulhões de Carvalho, 296 foram abordadas, gentilmente, por telefone – nada de cerco, embora dispusesse dos endereços – e responderam como quiseram: a primeira com ofensas e ameaças e a segunda com uma manifestação de que falaria pessoalmente, jamais efetivada. Não houve insistência, assédio, pressões.

Foi, ao contrário do que assistimos nos processos de investigação judiciais-policiais que a grande imprensa não questiona do ponto de vista moral e legal, uma apuração exclusivamente lógica e documental. Com a dedicação e a garra profissional que, certamente, quer João Roberto sejam praticadas por seus colegas e empregados jornalistas.

Se há irritação ou mal-estar pelo que se passou, que estes sejam dirigidos contra quem atropelou a legislação, camuflou propriedades e, ainda pior, o fez de forma pueril, que nem soube encobrir os rastros de ligação entre as empresas e a família a que pertencem ou pertenceram.

De minha parte, é isso o que tenho de registrar. Não contei, neste caso e em nenhum outro, com qualquer informação partida de órgãos públicos – exceto aquelas de acesso geral – ou informação privilegiada de governos, em qualquer esfera. Nem mesmo a ajuda indireta de patrocínio, porque não conto com ele – o pequeno anúncio da campanha contra o zika virus desta página é oferecido graciosamente, por dever de cidadania, como antes foi o da campanha contra o crack, aliás sobre o qual O Globo, de maneira dúbia, pretendeu insinuar tempos atrás, quando participei de uma entrevista com Lula, sem outro auxílio sequer senão o do café e das bolotas de pão de queijo servidas durante o encontro.

É por isso, e não por qualquer arroubo, que o tom de notificação adotado com este blog (e felizmente logo abandonado por uma postura gentil, que não foi recusada em um milímetro) não surtiu ou surtirá efeito e é, mais que uma violência, uma bobagem utilizá-lo.

Publicou-se e publicar-se-á aqui o que for documentado, aquilo que estiver amparado em fatos e provas, não em suposições ditadas por simpatias ou antipatias políticas.

Algo que, antigamente, correspondia à palavra jornalismo.

Fonte: TIJOLAÇO  

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O caso do tríplex de Parati, que seria de propriedade da família Marinho, proprietária do Grupo Globo, continua rendendo notícia na blogosfera.

Na velha mídia nenhuma nota sobre a  casa de praia, cheia de irregularidades, associações com empresas investigadas pela Lava jato, e muito mais.

Assim como Brito, do TIJOLAÇO, não creio que a família Marinho tenha desencadeado essa onda pra cima de Lula, Dilma e o PT por causa das notícias sobre o tríplex de Parati.

Acredito, sim, que a onda sobre Lula, Dilma e o PT já estava elaborada pelas oposições e pela velha mídia, e que, as notícias sobre a casa de Parati poderiam reduzir o foco total desejado pelas oposições sobre Lula, Dilma e o PT, daí as notificações feitas aos quatro sites independentes pelo Grupo Globo.

Algo mais ou menos assim; calem a boca porque vocês podem atrapalhar nossos planos.

Acontece que por aqui nas mídias independentes ninguém é de calar a boca quando se tem dados consistentes sobre crimes cometidos, principalmente, pelos arautos da moralidade, como Globo gosta de se apresentar.

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