segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A grande imprensa ocidental decapitou as informações

Arábia Saudita, o verdadeiro Estado Islâmico


 
160104-ArábiaSaudita
Retrógrado, misógino, intolerante, Reino de Saud financia e estimula o ISIS.
Decapitou 47 opositores, no primeiro dia do ano.
É o grande aliado do “mundo livre” no Oriente Médio…

Por Nuno Ramos de Almeida
“Era de manhã em Karbala, cidade a cerca de 100 quilômetros ao sul de Bagdad, e o mercado local estava cheio quando todos ouviram gritos. Um grupo de homens vestidos de preto, levando espadas e bandeiras negras, invadiu o mercado matando crianças, mulheres, idosos e adultos. Avançaram pelas ruas até tomar o controle de toda a cidade. Neste dia, cerca de 4 mil pessoas morreram. Os homens vestidos de preto que organizaram esta matança não eram do grupo autodenominado Estado Islâmico. O massacre ocorreu há mais de 200 anos e o grupo era comandando por um dos primeiros governantes da Arábia Saudita, que acabava de formar um novo movimento religioso: o wahabismo”, recorda a insuspeita BBC.
A história tem várias versões, mas resumindo e simplificando conta-se da seguinte maneira: uma vez pediram ao ocupante de turno da Casa Branca que se pronunciasse sobre Anastásio Somoza Garcia, o primeiro da família como ditador da Nicarágua. O líder do mundo livre terá feito um silêncio e respondido: “é um filho da puta, mas é o nosso filho da puta”.
Só essa lógica oportunística justifica o apoio dos Estados Unidos e dos seus aliados europeus à monarquia reinante na Arábia Saudita. Mas essa lógica de ter aliados pouco recomendáveis para fazerem o jogo mais sujo, arrisca-se a rebentar-lhes nas mãos, como os apoios que deram a Bin Laden durante a guerra do Afeganistão contra a ocupação soviética.
Não só vêm da Arábia Saudita os principais financiamentos a grupos terroristas como o Estado Islâmico; também é o reino que fornece a sua base ideológica: sem o wahabismo, doutrina salafista, pregada pelo poder saudita, não haveria interpretações radicais do Islã, que transformam a religião muçulmana numa identidade assassina para todas as pessoas, inclusive os muçulmanos que não acreditam numa interpretação feudal, misógina e conservadora que viola repetidamente as palavras do Corão. Por todo o mundo muçulmano, os sauditas exportaram a sua forma de religião, com o dinheiro do petróleo financiam madrassas e outras escolas religiosas que propagam o salafismo além fronteiras.
Esse apostolado tem tido frutos venenosos: quando vemos como regride a situação das mulheres nas zonas libertadas do Sahara Ocidental ou da Palestina, percebemos o papel da influência religiosa do wahhabismo.
Finalmente, a Arábia Saudita é a concretização na prática do que seria um país dirigido pelo Estado Islâmico. Nesse território, as mulheres são seres de segunda, os imigrantes são abaixo de cão, os não crentes podem ser mortos, os estrangeiros estão proibidos de visitar às cidades sagradas de Meca e Medina, e qualquer oposição ao poder despótico vigente é condenada à morte por decapitação.
No entanto, com a execução neste sábado de 47 condenados, entre os quais o clérigo xiita Nimr al Nimr, a estratégia terrorista de apoios ao Estado Islâmico atingiu um novo e perigoso patamar. O líder dos xiitas da Arábia Saudita foi preso, torturado e decapitado. As suas últimas palavras foram um aviso: “a minha morte será um motivo para ação”. Esse aviso há muito que monarquia saudita conhece: aquilo que se pretende com esta execução é transformar a guerra contra o Estado Islâmico num conflito entre sunitas e xiitas.
O governo da Arábia Saudita está envolvido numa guerra em várias frentes contra os xiitas, nomeadamente no Iemen, Bahrein, Síria e Iraque. Os governos do Ocidente têm fechado os olhos a estas ações, porque elas são contra a maior potência xiita, o Irã. Mas as ruas de Paris são a prova que não há guerras limpinhas para os aliados do reino. Um conflito que opusesse sunitas e xiitas poderia salvar, momentaneamente, o Estado Islâmico e Riad, mas conduziria o mundo a uma guerra sem fronteiras.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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Por que o Ocidente aceitou em silêncio as decapitações em série da Arábia Saudita. Artigo de Robert Fisk 


O clérigo Nimr al-Nimr Bakr, executado
O clérigo Nimr al-Nimr Bakr, executado
Por Robert Fisk. Publicado no Independent

As decapitações em série na Arábia Saudita — 47 ao todo, incluindo a do clérigo xiita xeque Nimr al-Nimr Bakr, seguida de uma justificativa corânica para as execuções – foram dignas do Estado Islâmico. Esse foi, talvez, o ponto. Esse banho de sangue extraordinário na terra da monarquia sunita al-Saud – claramente destinada a enfurecer os iranianos e todo o mundo xiita – voltou trazer o sectarismo a um conflito religioso que o EI fez muito para promover.
Tudo o que estava faltando era o vídeo das decapitações – apesar das 158 decapitações do reino no ano passado estarem em perfeita sintonia com os ensinamentos Wahabi do “Estado islâmico”. “O sangue terá sangue” de “Macbeth” certamente se aplica aos sauditas, cuja “guerra ao terror”, ao que parece, agora justifica qualquer quantidade de sangue, tanto de sunitas quanto de xiitas.
O xeque Nimr não era apenas uma velha divindade. Ele passou anos como um estudioso em Teerã e na Síria, era um líder xiita reverenciado nas orações de sexta-feira na província de Arábia Oriental, um homem que se distanciou dos partidos políticos, mas exigiu eleições livres, e foi regularmente detido e torturado – segundo ele mesmo – por se opor ao governo sunita Wahabi da Arábia Saudita.
O xeque Nimr disse que palavras eram mais poderosas do que a violência. A alegação lunática das autoridades de que não havia nada sectário sobre este banho de sangue, alegando que haviam  decapitado sunitas bem como xiitas, é retórica clássica do EI.
Afinal, o EI corta as cabeças dos ‘apóstatas’ sunitas e soldados iraquianos tão facilmente como faz matanças xiitas. Nimr teria conseguido o mesmo tratamento dos bandidos do Estado Islâmico que obteve dos sauditas – embora sem a paródia de um julgamento pseudo-jurídico que lhe foi conferida.
Mas os assassinatos representam mais do que apenas o ódio saudita por um clérigo que se alegrou com a morte do ex-ministro do Interior saudita – o pai de Mohamed bin Nayef, o príncipe Nayef Abdul-Aziz al-Saud -, com a esperança de que ele fosse “comido por vermes e sofresse os tormentos do inferno em seu túmulo “. A execução de Nimr irá revigorar a rebelião Houthi no Iêmen, que os sauditas invadiram e bombardearam este ano em uma tentativa de destruir o poder xiita lá.
Ela vai apresentar ao Ocidente seu mais embaraçoso problema no Oriente Médio: a necessidade de continuar a encolher e rastejar diante dos monarcas ricos e autocráticos do Golfo enquanto expressa suavemente sua inquietação pela carnificina grotesca.
Se o EI tivesse decepado a cabeça dos sunitas e xiitas em Raqqa – especialmente a de um sacerdote problemático como o xeque Nimr – nós poderíamos ter certeza de que Dave Cameron iria tuitar seu desgosto por tão repugnante ato.
As execuções sauditas foram certamente uma forma sem precedentes de dar boas-vindas ao ano novo – não tão publicamente espetacular como a queima de fogos em Dubai, que destruiu um dos melhores hotéis do emirado. Fora das implicações políticas, no entanto, existe ainda uma pergunta óbvia a ser feita – no próprio mundo árabe – sobre a Casa de Saud: os governantes da Arábia Saudita piraram?

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Depois do “banho” de Putin, é o Irã quem põe os EUA em “saia-justa”


sheik
Guerra, política e diplomacia, já dizia Clausewitz, o general da Prússia, são uma continuidade.
A nova crise no mundo árabe, com o rompimento de relações entre a Arábia Saudita (e seus dependentes) e o Irã, por conta da execução, no final de semana, do Sheik Nimr al-Nimr, um clérigo de oposição à monarquia de Riad- e 46 outras pessoas, num só dia –  deixou, de novo, os norte-americanos numa saia-justa diplomática.
Como defender seus aliados sauditas diante de uma execução feita, disse ontem o The New York Times, “decapitando muitos deles em um estilo que a maioria dos norte-americanos associam com o Estado islâmico em vez de um parceiro dos EUA?”
No final do mês começam as negociações sobre um armistício na Síria, sob o patrocínio da ONU e tornou-se virtualmente impossível aos EUA insistir, mais do que numa encenação retórica, à participação do governo de Bashar Al-Assad, que prepara novos avanços sobre a periferia das cidades, que é onde está a população síria, não nas vastidões de desertos onde se espalha o Exército Islâmico.
A agência de notícias síria Sana divulgou, pela primeira vez, fotos de caças sírios – não os russos, ainda – operando na base aérea de Kweires, na cidade de Aleppo, a segunda mais importante do país e que já esteve sob controle rebelde. Violentas ofensivas, numa batalha que já dura três anos, estão consolidando o controle governista em torno da base, para que dali sejam lançados ataques A Ar Raqqar e Deir el Zhor, únicas cidades de algum porte sob controle do Exército Islâmico e rota para o Iraque, onde o ISIS perdeu o controle de Ramadi.
A guerra, agora, é de posições para a batalha diplomática que começa no final do mês

Fonte: TIJOLAÇO
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