segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Vai dar galo

Carnaval carioca e TV Globo, nada a ver!


Por Altamiro Borges
A partir da próxima semana, a TV Globo deve começar a bombardear os telespectadores com as suas vinhetas para o Carnaval do Rio de Janeiro. Com os direitos exclusivos de transmissão televisiva de uma das maiores festas populares do planeta, a emissora dos três filhos de Roberto Marinho fatura muita grana com patrocínio e publicidade. Mas, segundo informa a jornalista Keila Jimenez, do site rival R7, as relações entre o império global e as escolas de samba não andam nada amigáveis e podem até resultar em fratura em um futuro próximo. Vale conferir:

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Carnaval carioca entra em guerra com a Globo

Por Keila Jimenez, em 20/12/2015

A Globo e as escolas de samba do Rio estão se estranhando. Por meio de uma mensagem nas redes sociais, a Unidos de Vila Isabel publicou um desabafo explicando os motivos da confusão.

A Globo teria decidido não exibir os dois primeiros desfiles das agremiações no domingo e na segunda-feira de Carnaval. No desfile de 2015, a emissora não exibiu só o primeiro desfile.

Já faz um tempo que a Globo pretende mudar a transmissão do Carnaval, diminuindo as horas de exibição e modernizando o evento na TV, tornando-o menos cansativo. As escolas não querem.

A mudança programadas para 2016 atingiriam em cheio escolas como Salgueiro e Estácio de Sá, que teriam só trechos de seus desfiles exibidos em um compacto. As escolas cariocas se rebelaram. Vários dirigentes e integrantes se pronunciaram nas redes sociais sobre o assunto, criticando a Globo.

"A Globo não vai exibir o desfile do Salgueiro na íntegra? Tá de sacanagem, não?", escreveu um internauta.

"A Globo não vai transmitir Estácio, Salgueiro e Ilha? Não acredito", disparou outro.

A escola Unidos de Vila Isabel foi para o Facebook reclamar.

"Queridos componentes, torcedores, apaixonados por nossa Vila Isabel. Queremos dar a todo o povo do samba uma satisfação sobre o assunto que dominou, nos dois últimos dias, as conversas no mundo do samba: a não transmissão ao vivo, pela TV Globo, da primeira escola de cada dia de desfile, Estácio de Sá e nossa Vila Isabel. Esta é uma decisão que envolve um contrato e penalidades comerciais do qual são signatárias as 12 escolas do Grupo Especial. Não se trata de não querermos, mas simplesmente de não existir no contrato uma forma de modificar este formato de transmissão através de qualquer iniciativa nossa. E este formato de transmissão não foi criado este ano. Os moldes do contrato entre escolas de samba e Rede Globo também não, pois foram estabelecidos há anos", postou a agremiação.

Na noite de ontem (19), integrantes de escolas cariocas foram para as redes sociais dizer que a emissora deve voltar atrás e realizar o desfile nos moldes da edição anterior, não exibindo apenas a primeira escola da noite.

A Globo pretende mexer na transmissão do Carnaval nos próximos anos, o quer dizer que essa briga está só começando.


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A relação da TV Globo com as escolas de samba do Rio de Janeiro já teve outros momentos de forte tensão. O famoso direito de resposta do governador Leonel Brizola, lido com cara de nádega pelo ex-âncora Cid Moreira em 15 de março de 1994, teve sua origem na guerra de bastidores pelo Carnaval carioca. No imperdível livro "O quarto poder", o jornalista Paulo Henrique Amorim dá detalhes desta bela briga. Ele relembra que o falecido Roberto Marinho, na sua guerra sem escrúpulos contra o líder trabalhista, usou todos os seus veículos de comunicação para sabotar a construção do Sambódromo.
A baixaria do império global foi tamanha que o governador sugeriu à prefeitura carioca que cortasse a publicidade na emissora e ainda conquistou na Justiça o direito de resposta. Num dos trechos lidos no horário nobre da TV Globo - em um artigo antológico escrito pelo jornalista Fernando Brito, que hoje edita o blog Tijolaço -, Leonel Brizola apontou os interesses escusos do império global, que até hoje explora a transmissão do Carnaval no Rio de Janeiro. Vale conferir:
"Todos sabem que crítico há muito tempo a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou na quinta-feira, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípios. É apenas o temor de perder o negócio bilionário que para ela representa a transmissão do Carnaval. Dinheiro, acima de tudo. Em 1983, quando construí a passarela, a TV Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar de todas as formas o ponto alto do Carnaval... Que o povo brasileiro faça o seu julgamento e na sua consciência limpa e honrada separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis, gananciosos e interesseiros".

Fonte: Blog do Miro
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A transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro não pode mais ser exclusividade da TV Globo.

Em seu constante jogo contra o Brasil, a TV Globo mira, também , na destruição das principais manifestações culturais do país.

Já vem de longe, de longa data, talvez décadas, que Globo vem transformando o desfile das escolas de samba cariocas.

O primeiro passo foi a tentativa de nivelar o desfile do Rio de Janeiro com o desfile das escolas de samba de São Paulo.

O caro leitor se recorda que  Globo transmitia na sexta-feira e no sábado de carnaval, para todo o Brasil, o desfile de São Paulo, e no domingo e na segunda - feira o desfile do Rio de Janeiro.
   
O  objetivo era mostrar que desfile de escola de samba  era tudo igual, e com isso minimizar a força cultural do samba do Rio de Janeiro.

Como transmitia o desfile de São Paulo, Globo repassava o desfile das escolas do segundo grupo do Rio de Janeiro para a CNT , que, com o tempo, acabou tendo uma audiência parelha com o desfile de São Paulo.

Perdendo espaço , Globo deixou de lado a transmissão nacional de São Paulo e também não mais repassou o desfile do segundo grupo do Rio de Janeiro, fazendo ele mesma, globo, a transmissão dos desfiles para as respectivas praças.

Um outro aspecto diz respeito a interferência de Globo na escolha dos enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro. 

Não apenas na escolha dos enredos como até mesmo na mudança da ordem do desfile das escolas, priorizando determinadas escolas no horário quente.

Essa interferência de Globo vem prejudicando os desfiles, já que os enredos tem se tornado caretas, e as escolas, por conta disso, tem evitado a escolha de enredos com críticas políticas e sociais, algo muito comum na história das escolas de samba e que renderam temas e desfiles antológicos.

É óbvio que existe uma censura velada quanto a escolha dos enredos.
 
Já os presidentes e patronos das escolas de samba sabem, muito bem, da interferência nefasta da Globo nos desfiles, mas, preferem não entrar em polêmicas e discussões para que não dê zebra no resultado final, e até mesmo em suas liberdades.

Desta forma, Globo faz o que bem quer com os desfiles, já que mantêm as escolas aprisionadas.

Um outro aspecto diz respeito as inovações que ocorrem nos desfiles.

É natural  que as inovações tecnológicas e outras expressões artísticas, quando bem dosadas, sejam incorporadas pelas escolas  nos desfiles.

São os casos de novas tecnologias, expressões circenses e de dança e também de ilusionismo.

No entanto,  em seus comentários e análises, Globo prioriza e enaltece tais inovações, deixando pouco espaço para as expressões artísticas tradicionais das escolas de samba.

Com as escolas aprisionadas, somente a parcela  mínima da imprensa que ainda é independente, os sambistas e os amantes da cultura do samba, podem e devem cantar de galo, exigindo a democratização dos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, sem a interferência de Globo.

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