quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

E se Sanders vencer ?

A eleição mais influente do mundo começa em 3 semanas


As eleições para presidente dos Estados Unidos são as mais influentes do mundo, e se realizam em um sistema eleitoral virtualmente inexistente no resto do planeta, que consiste basicamente em um sistema de dois turnos em que o primeiro turno se realiza mais de 6 meses antes do segundo; Bernie Sanders tem chances reais, e sua eleição seria uma vitória extraordinária do progressismo mundial
Bernie Sanders: futuro presidente progressista dos EUA?
Bernie Sanders: futuro presidente progressista dos EUA?
As eleições nos países em que não moramos não são apenas fatos pitorescos que nos influenciam marginalmente. Elas são, em seu conjunto, provavelmente tão ou mais importantes que as eleições no próprio país em que moramos. E entre todas as eleições do mundo, a mais importante vai começar a ocorrer daqui a três semanas, no dia 1º de fevereiro de 2016. São as eleições presidenciais dos Estados Unidos, disputadas em um sistema eleitoral que na prática possui dois turnos. O primeiro turno, que são as prévias dos partidos Democrata e Republicano, ocorrerá aproximadamente de fevereiro a abril deste ano, e o segundo turno, em que disputam os vencedores das duas prévias, será em novembro também de 2016.
O sistema pode ser considerado de dois turnos por um conjunto de razões. Uma delas é que a disputa nas prévias dentro dos dois partidos ocorre entre projetos políticos bastante diferentes, a ponto de modificar intensamente o sentido do segundo turno, em novembro. Por exemplo, em 2008, as prévias no Partido Democrata, entre Hillary Clinton e Barack Obama, foram uma eleição em si, profundamente influente, como seria um primeiro turno. Neste ano de 2016, ocorrerá o mesmo, com a disputa entre Hillary e Bernie Sanders no Partido Democrata, sem contar que a disputa no Partido Republicano também é relativamente diversa, podendo vencer um candidato extremamente conservador, Donald Trump.
Outra razão pela qual as prévias de aproximadamente fevereiro a abril podem ser consideradas um primeiro turno é que em novembro, o sistema eleitoral praticamente força uma disputa entre apenas dois candidatos, através da conjugação entre a ausência de um turno posterior no qual disputem apenas os dois primeiros colocados e a existência do Colégio Eleitoral. Quantos à prévias aproximadamente de fevereiro a abril, o primeiro estado a realizá-las vai ser Iowa, no próximo dia 1º de fevereiro.
Assim, neste primeiro turno no Partido Democrata, temos uma disputa em muitos sentidos semelhante à de 2008 entre Hillary e Obama. Como em 2008, Hillary e seu campo tentam criar um clima de “já ganhou”, estratégia que dessa vez está muito prejudicada pela experiência de 2008, quando Obama acabou vencendo contra praticamente todos os prognósticos. Assim, agora em 2016, Bernie Sanders é o “Obama” da vez, subindo gradualmente nas pesquisas e se posicionando como o candidato do progressismo do Partido Democrata, enquanto Hillary representa o conservadorismo do Partido Democrata. Quem vencer vai representar o progressismo estadunidense no segundo turno em novembro, mesmo se for Hillary, pois no segundo turno há uma configuração nacional dos campos políticos na qual o progressismo se inclina muito mais para o Partido Democrata e o conservadorismo se inclina muito mais para o Partido Republicano.
E o que significaria uma vitória de Bernie Sanders para o mundo? Muita coisa. Os Estados Unidos têm uma imensa influência militar, financeira, política e cultural no mundo. Sanders se autodenomina “socialista democrático”. Claro que sua definição de socialismo é apenas uma entre muitas que existem, mas uma coisa ele deixa claro: o tempo em que vamos aceitar cabisbaixos que existam simultaneamente bilionários e milhões de pessoas miseráveis, seja nos Estados Unidos, seja no mundo, acabou. Vamos olhar para os Estados Unidos com esperança. Eles têm democracia sim, e lá, como em todos os países em que existe, ela é a luz que nos leva para o futuro.
Fonte: CULTURA POLÍTICA
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A mídia à beira de um ataque de nervos

Por Glenn Greenwald, no site Outras Palavras:

A elite política e a mídia britânica perderam pouco a pouco a cabeça, após a eleição de Jeremy Corbyn para a liderança do Partido Trabalhista – e ainda não parecem capazes de se recuperar. Nos Estados Unidos, Bernie Sanders é bem menos radical; os dois não estão sequer na mesma constelação política. Mas, especialmente em temas econômicos, Sanders é um crítico mais robusto e sistêmico do que os centros do poder oligárquico julgariam tolerável. Sua denúncia contra o controle da vida política pelas corporações é uma ameaça grave. Por isso, ele é visto como a versão norte-americana do extremismo de esquerda e uma ameaça ao poder do establishment.

Para quem já tinha observado os desdobramentos da reação britânica à vitória de Corbin, é fascinante constatar que as reações de Washington e da elite do Partido Democrata à emergência de Sanders replicam o caso inglês, seguindo idêntico script. Pessoalmente, creio que a escolha de Hillary é extremamente provável, mas as evidências de um movimento crescente em favor de Sanders são inquestionáveis. Trata-se de algo consistente, que está desconcertando os dirigentes do partido, como seria de esperar.

Uma pesquisa revelou, semana passada, que Sanders tem uma clara liderança entre os eleitores mais jovens inclusive as mulheres. Como a revista Rolling Stone notou, “as mulheres jovens apoiam Bernie Sanders por larga margem”. O New York Times admitiu que, em New Hamphire, Sanders “já abriu uma vantagem de 27 pontos”, o que é “espantoso para os padrões do Estado”. O Wall Street Journal reconheceu, em editorial, que “já não é impossível imaginar este socialista de 74 anos candidato pelo Partido Democrata”

Como no caso de Corbyn, há uma correlação direta entre a força de Sanders e a intensidade e amargura dos ataques baixos desencadeados contra ele por Washington, a estrutura partidária e a mídia. No Reino Unido, esta curiosa revolta elitista passou por sete fases; e nos EUA, a reação a Sanders segue a mesma trajetória. Ei-la:

Fase 1: Condescendência polida diante do que é percebido como algo inofensivo (achamos realmente ótimo que ele possa expressar seus pontos de vista).

Fase 2: Ironia leve e casual à medida em que cresce a confiança dos apoiadores do candidato (não, caros, um extremista de esquerda não vencerá, mas é muito bom ver vocês tão animados)

Fase 3: Auto-piedade e lições graves de etiqueta dirigidas aos apoiadores, após a constatação de não estão cumprindo seu dever de rendição MEEK, temperada com doses pesadas de (ninguém é tão rude com os jornalistas, ou os ataca tanto, nas redes sociais, como estes radicais, e isso, infelizmente, está enfraquecendo as causas de seu candidato)

Fase 4: Tentar colar, no candidato e em seus apoiadores, insinuações de sexismo e racismo, afirmando falsamente que apenas homens brancos os apoiam (você gosta deste candidato porque ele é branco e homem como vocênão devido a sua ideologia ou políticas, nem porsua oposição às políticas pró-guerra e pró-corporações da elite do partido).

Fase 5: Difusão escancarada de ataques de direita para demonizar e marginalizar o candidato, quando as pesquisas comprovarem que ele é uma ameaça real (ele é fraco contra o terrorismo, irá render-se ao ISIS, faz alianças bizarras e é um clone de Mao e Stalin).

Fase 6: Lançamento de alertas graves ou histéricos sobre o apocalipse à frente, em caso de derrota do candidato do establishment, quando a possibilidade de perder torna-se imenente (suas ideias irão sofrerderrotas por décadas, talvez por várias gerações, se você desobedecer nossas advertências sobre que candidato escolher).

Fase 7: Derretimento completo, pânico, reprovações, ameaças,recriminações, cotoveladas presunçosas, associação aberta com a direta, completa fúria (Eu não posso mais, em sã consciência, apoiar este partido de aloprados, adoradores de terroristas, comunistas e bárbaros).

O Reino Unido está bem na Fase 7, e talvez seja capaz de inventar em breve um novo estágio (militares britânicos anônimos ameaçaram promover um motim, caso Corbyn seja eleito democraticamente primeiro-ministro). Nos EUA o establishment político e a mídia pró-Partido Democrata estão na Fase 5 há semanas, e parecem prestes a entrar na Fase 6. A passagem à Fase 7 é certa, caso Sanders vença as primárias em Iowa.

É normal e legítimo, nas eleições, que as campanhas de cada candidato critiquem duramente os demais. Não há nenhum problema nisso: seria ótimo que os contrastes aparecessem claramente, e quase não surpreende que isso seja feito com agressividade e aspereza. As pessoas chegam a extremos, para obter poder. É da natureza humana.

Mas isso não impede as pessoas de pesar os ataques que fazem, nem significa que estes estejam imunes a críticas (a exploração grosseira e cínica dos temas de gênero pelos apoiadores de Hillary, para sugerir que o apoio a Sanders baseia-se em sexismo foi especialmente desonesta, quando se que os grupos de esquerda que hoje defendem o candidato tentaram, por meses, lançar a candidatura de Elisabeth Warren – para não dizer do vasto número de apoiadoras do senador).

Gente de todos os partidos, e em todo o espectro político, está enojada com as disputas em Washington. Não surpreende que um amplo número de adultos norte-americanos busquem uma alternativa a uma candidata como Hillary. Mergulhada no dinheiro de Wall Street (tanto política quanto pessoalmente), ela mostra-se incapaz de desaprovar uma única guerra, e sua única convicção parece ser a que qualquer coisa pode ser dita ou feita, para assegurar sua própria vitória.

A natureza dos establishments é baterem-se desesperadamente pelo poder, e atacar com fervor sem limites qualquer um que desafie ou ameace aquele poder. Foi o que ocorreu no Reino Unido com a emergência de Corbyn e o que se repete nos EUA com a ascensão de Sanders. Não surpreende que os ataques a ambos sejam tão parecidos – a dinâmica dos privilégios do establishment é a mesma – mas não deixa de ser chocante que os scripts sejam idênticos.

* Publicado originalmente no site The Intercept. Tradução de Antonio Martins.

Fonte: Blog do MIro

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