sábado, 30 de janeiro de 2016

Sobre triplex, iates e fantasmas

O ‘Triplex do Lula’ versus a casa dos Marinhos numa ilha. 


Postado em 29 jan 2016

por : Paulo Nogueira

O casarão dos Marinhos: acima da lei
O casarão dos Marinhos: acima da lei











“Se o assunto é casa de frente para o mar …”
Começa assim um e-mail que me chega às mãos. É uma óbvia referência à exploração da imprensa em torno do ‘Triplex do Lula’. O e-mail segue deste jeito. “Nunca, nunca o assunto foi tratado pela mídia nacional.” E enfim um link para uma reportagem da Bloomberg.
Reconheço o texto: o DCM tratou do assunto, numa monumental solidão.
Os protagonistas do artigo da Bloomberg são os irmãos Marinho e uma ilha ‘deles’ perto de Paraty.
Os Marinhos dividiram o poder assim. Roberto Irineu, o primogênito, é o presidente.
João Roberto, o segundo, é o editor, e dele emanam as diretrizes a serem seguidas por todas as mídias do grupo.
José Roberto, o caçula, cuida da Fundação Roberto Marinho, e é tido, nas Organizações, como um cruzado do ambientalismo.
Mas parece que seu cuidado com o meio ambiente vale para o mundo, mas não para a família Marinho.
Veio à luz espetacularmente, algum tempo atrás, essa propriedade. Quem a tornou assunto nacional foi o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, suspeito de irregularidades, em depoimento na CPI da empresa.
Antes de seguir, um registro cômico. A Globonews vinha dando ao vivo o depoimento até Costa falar na ilha. Ele disse que, em suas novas atividades, tem um contrato firmado para vender a ilha. “É um projeto chamado Zest”, afirmou.
Neste momento, a Globonews interrompeu a transmissão da CPI da Petrobras e foi para outro lugar. Os editores mostraram agudo senso de sobrevivência.
Pausa para rir.
A matéria da Bloomberg assinala que milionários brasileiros se dizem donos de ilhas e praias. “Mas não é isso que a lei diz.” Bem, a ‘Ilha dos Marinhos’ permanece num véu de fumaça.
Mas não a casa monumental deles na ilha. A melhor matéria feita sobre ela – e as polêmicas que a rondam — não veio da Folha, ou da Veja, ou do Estadão.
Veio de fora, da Bloomberg. A Globo não goza, com a Bloomberg, do esquema de proteção que Folha, Veja e Estadão lhe garantem no Brasil.
“Os herdeiros de Roberto Marinho, que criou as Organizações Globo, maior grupo de mídia da América do Sul, construíram uma casa de 1 300 metros quadrados, um heliponto e uma piscina numa área da Mata Atlântica que a lei, supostamente, preserva para manter intocada sua ecologia”, disse a Bloomberg, numa reportagem de 2012.
José Roberto, o homem-natureza da Globo, aparentemente não se importou em derrubar árvores em sua propriedade, e muito menos se intimidou diante da lei.
A Bloomberg foi ouvir o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Falou com Graziela Moraes Barros, analista ambiental do instituto. Ela foi investigar a suntuosa casa, que recebeu diversos prêmios arquitetônicos.
“Os Marinhos quebraram a lei ao construir a casa”, disse ela.
Dois guardas armados, ela contou, impedem que outras pessoas usem a praia — pública — em frente da casa. De certa forma, isso lembra a infame ocupação de um terreno público pela Globo ao lado de sua sede em São Paulo.
Coloquemos assim: a Globo trata o Brasil como propriedade privada, e ninguém dá um basta nisso.
Um juiz ordenou em 2010 que a casa fosse derrubada, mas evidentemente que não foi.
Não é fácil fiscalizar as coisas na região.
Em abril de 2013, uma bomba foi colocada na casa de uma analista ambiental do ICMBio. Ela não se feriu, mas se assustou. Pediu para ser transferida para fora do Rio de Janeiro. “Tenho família e estou com medo”, disse ao jornalista Andre Barcinski.
“Não foi o primeiro caso de profissional que abandonou a região”, contou Barcinski. “Há dois anos, uma fiscal ambiental pediu transferência depois ter dois carros queimados, em 2008 e 2011, na porta de casa.”
De volta à reportagem da Bloomberg, topo mais uma vez com Graziela. Ela se saiu com uma frase que é especialmente dolorosa, porque verdadeira.
“Muita gente diz que os Marinhos mandam no Brasil. A casa mostra que eles certamente pensam que estão acima da lei.”
Pausa para um lamento.
E clap, clap, clap de pé para a brava Graziela pela capacidade de enxergar e descrever o Brasil em poucas palavras.
Não apenas o Brasil, aliás — mas sua mídia, que finge não ver um palacete várias vezes maior e infinitamente mais caro do que um plebeu apartamento no igualmente plebeu Guarujá.
Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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O “iate” do Lula e o jornalismo “sem noção”

iate
Folha hoje se supera.
Apresenta como “prova” da ligação de Lula com o sítio que ele nunca negou frequentar, em Atibaia, um barco comprado por D. Mariza, sua mulher e mandado entregar lá.
A “embarcação”, como se vê no próprio jornal,  é um bote de lata comprado por R$ 4.100.
Presta para navegar num laguinho, com a mulher, dois amigos e o isopor, se ninguém fizer muita gracinha de se pigar em pé, fazendo graça.
É o “iate do Lula”, quase igual ao Lady Laura do Roberto Carlos e só um pouco mais modesto do que as dúzias de lanças que você vê em qualquer destes iate clubes que existem em qualquer cidade praiana.
A pergunta, obvia, é: e daí que o Lula frequente o sítio? E daí que sua mulher tenha comprado um bote, sequer a motor, para pescar umas tilápias, agora que já não pedem, como nos velhos tempos, fazer isso na represa Billings?
Qual é a prova de que a reforma do sítio foi paga pela Odebrechet (segundo a Folha) ou pela OAS (segundo a Veja)?
E se o Lula frequentasse a mansão de um banqueiro? E se vivesse nos iates – os de verdade – da elite rica do país?
O que o barquinho mixuruca prova a não ser a absoluta modéstia do sujeito que, quatro anos atrás, escandalizava essa gente carregando um isopor para a praia?
Os jornais, a meganhagem e a turma do judiciário – que já não se separam nisso – estão dedicados a destruir o “perigo lulista”.
Esqueçam o barquinho: o que eles querem é ter de novo o leme do transatlântico.
Perderam até a noção do ridículo, convencidos de que já não há resistência a ele nas mentes lavadas do país.
E acabam revelando que, em suas mentes,  o grande pecado  de Lula, que ganha em  palestras pagas o suficiente para comprar uma “porquera” daquelas por minuto que passe falando, ou para alugar uma cobertura na Côte D’Azur do Guarujá  é continuar pensando como pobre:  querendo comprar apartamento em pombal e barquinho de lata para ficar de caniço, dando banho em minhoca.
É que ter nascido pobre é um crime que até se perdoa, imperdoável mesmo é continuar se identificando com eles.
 Fonte: TIJOLAÇO
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Nilo Batista: Corte Europeia já pune “publicidade opressiva” como a usada contra Lula

publicado em 29 de janeiro de 2016 às 19:26
Nilo
Imprensa e Justiça
Corte Europeia de Direitos Humanos já decidiu que a condenação de jornalistas por publicidade opressiva não viola a liberdade de comunicação
A centralidade que a questão criminal assumiu, visível nas altas taxas de encarceramento ou na criminalização do cotidiano privado e da vida pública, responde às transformações econômicas das últimas décadas.
Interessa-nos um aspecto dessa centralidade: a espetacularização do processo penal e os sérios danos que causa a direitos fundamentais e ao estado de direito.
A espetacularização do processo penal não é novidade. Na Inquisição, a colheita de provas e o julgamento eram sigilosos.
Falsas delações e torturas são eficientes na obscuridade; a festa era a execução da pena de morte.
Com a adoção da pena de prisão, a execução numa cela tornou-se uma rotina sem apelo jornalístico. O espetáculo deslocou-se para a investigação e o julgamento.
Basta ligar a TV à tarde: deploráveis reality shows policiais, nos quais suspeitos são exibidos e achincalhados por âncoras “policizados”. Diz a Constituição inutilmente que “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”, garantia repetida pelo Código Penal e pela Lei de Execução Penal.
Mas é no noticiário “sério” sobre inquéritos e ações penais que reside um grave problema, opondo a liberdade de comunicação à presunção de inocência e ao direito ao julgamento justo. A liberdade de imprensa geralmente prevalece sobre o direito à privacidade.
Contudo, quando o confronto se dá com a presunção de inocência e o direito ao julgamento justo, a solução é distinta, como se constata em países democráticos.
A Corte Suprema dos EUA manifestou desconforto por ter identificado “julgamento pela imprensa” e anulou condenações. Numa delas, registrou que “o julgamento não passou de uma cerimônia legal para averbar um veredicto já ditado pela imprensa e pela opinião pública que ela gerou”.
Alertou que o noticiário intenso sobre um caso judicial pode tornar nula a sentença e que a publicidade dos julgamentos constitui uma garantia constitucional do acusado e não um direito do público.
Na Europa, o assunto preocupa legisladores e tribunais. França e Áustria criminalizaram a publicação de comentários sobre prováveis resultados do processo ou sobre o valor das provas.
Em Portugal, a publicação de conversas interceptadas em investigação é criminalizada, salvo se, não havendo sigilo de Justiça, os intervenientes consentirem na divulgação: o sigilo de Justiça vincula todos aqueles que o acessarem a qualquer título.
A Corte Europeia de Direitos Humanos já decidiu que a condenação de jornalistas por publicidade opressiva não viola a liberdade de comunicação.
Não será por meio da criminalização da publicidade opressiva que se poderá reverter o lastimável quadro que vivemos, onde relações entre agentes do sistema penal e alguns jornalistas produzem vazamentos escandalosos, editados e descontextualizados, com capacidade de criar opiniões tão arraigadas que substituem a garantia constitucional por autêntica “presunção de culpa” e tornam impossível um julgamento justo.
Entre nós, existem casos em que todo o processo se desenvolve na mídia. Nesse cenário, pelo menos deveria ser exigido dos meios de comunicação aquilo que é exigido dos tribunais e das repartições públicas: obedecer ao contraditório.
Hoje, após a longa veiculação da versão acusatória, segue-se breve menção a um comentário do acusado ou de seu defensor, que frequentemente desconhece a prova já divulgada para milhões de telespectadores.
Se vamos persistir neste caminho perigoso — afinal, o sistema penal é historicamente um lugar de expansão do fascismo — pelo menos o contraditório obedecido pelos tribunais deveria ocorrer na mídia.
Se a autoridade policial ou o Ministério Público divulgar sua acusação por três minutos, o acusado ou seu defensor deveria desfrutar do mesmo tempo para falar o que quisesse em sua defesa. Já que o processo se desenrola na mídia, que haja pelo menos paridade de armas. A prática atual é abertamente antidemocrática.
Nilo Batista é professor de Direito Penal da UFRJ e da Uerj
Fonte: VIOMUNDO
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Depois do "triplex" do Lula, agora é vez do "iate" do Lula.
Estamos no final do mês  de janeiro, e em poucos dias, em fevereiro, o congresso nacional retoma os trabalhos.

Até a retomada dos trabalhos no congresso a velha mídia tinha que manter um clima de pressão sobre o governo, sobre o PT e , claro, sobre Lula, de maneira que na volta do congresso o assunto do impeachment de Dilma possa ser retomado em um clima quente, de muitas "denúncias", "escândalos pra lá de escandalosos" e, com toda essa "imoralidade", conseguir adeptos entre os congressistas e , claro, o apoio da opinião pública.

Esse é um lado da alucinação midiática-jurídica que estamos assistindo, perplexos, claro, neste janeiro de chuvas comunistas anti - apagão.

O outro lado é uma perseguição constante, diária, criminosa, contra Lula, com o objetivo de impedir uma possível candidatura do ex-presidente nas eleições de 2018 e, ainda, tentar minimizar, ou até mesmo eliminar, a influência de Lula nas eleições municipais deste ano.

De uma forma ou de outra, o foco midiático -jurídico está nas eleições, em 2016 e em 2018, e na destruição do Partido dos Trabalhadores.

Tudo mundo sabe disso, no Brasil e no mundo, já que todo esse processo não acontece por acaso e tem ligações com o sistema econômico financeiro que governa o mundo próspero em um entusiasmado momento do processo de "modernização civilizatória ".
O triplex do Lula, que não é do Lula, seria uma meia -água, comparado com a mansão dos Marinhos construída de forma ilegal, irregular e em área de proteção ambiental na região de Paraty, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro.

Cabe lembrar que a mansão tem sido utilizada com frequência para hospedar políticos e celebridades aliadas dos Marinhos, como no caso de FHC, que lá esteve recentemente por ocasião de uma participação do tucano na FLIP - Festa Literária de Paraty.

Quanto ao "iate" do Lula, pelas informações dos sites acima, seria nada mais do que um bote de alumínio, uma merreca daquelas que se alguém ficar de pé fazendo gracinha , o bote vira .
O tal "iate" nem motor tem, e caso Lula e amigos quisessem sair do tríplex do Guarujá para visitar os Marinhos e tucanos na ilha de Paraty, iriam levar algumas boas horas, talvez um dia, remando e remando, correndo o risco de ainda se deparar com o fantasma do Dr. Ulisses , que , segundo moradores e pescadores da região de Paraty , costuma aparecer por lá.

Quem sabe se o Museu do Amanhã ,aqui do Rio, da Fundação Roberto Marinho, não teria explicações para as aparições fantasmagóricas.

No entanto, isso é um assunto sobre o futuro, é o foco aqui é o presente.
Sobre o presente, o artigo do professor Nilo Batista lança luz sobre o comportamento criminoso da velha imprensa brasileira, alertando para o fato que em outros países a imprensa já foi duramente punida por comportamento semelhante, que o professor chama de publicidade opressiva.

Esse comportamento da velha mídia, por outro lado, se caracteriza como uma violência explícita, uma agressão deliberada, que se não for contida e punida pelo Judiciário pode acirrar ainda mais os acirrados ânimos no país, contribuindo , até mesmo - não se assuste, caro leitor - para uma guerra civil.

Um caminho desastroso, que , não por acaso, ganha contornos nítidos na vizinha Venezuela e começa a ganhar forma na também vizinha Argentina.

Dividir para dominar.
A gente já conhece essa história que já vem de longe.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Terror Midiático

Situação dos Principais Reservatórios do Brasil - 28/01/2016


1 - REGIÃO SUDESTE / CENTRO-OESTE (situação atual 43%)

  • Principais Bacias
  • Principais Reservatórios
  • Situação Atual

Rio Parnaíba

38,71% da regiãoSerra do Facão(3,23% da região)34.87%
Emborcação(10,65% da região)40.19%
Nova Ponte(11,21% da região)26.72%
Itumbiara(7,76% da região)32.53%
São Simão(2,50% da região)90.88%


Rio Grande

25,38% da regiãoFurnas(17,18% da região)47.97%
Mascarenhas de Moraes(2,15% da região)56.87%
Marimbondo(2,68% da região)91.54%
Água Vermelha(2,19% da região)97.51%

Rio Paraná

3,03% da regiãoIlha/3 Irmãos(3,03% da região)61.74%

Rio Paranapanema

5,77% da regiãoJurumirim(1,99% da região)88.44%
Chavantes(1,62% da região)78.6%
Capivara(1,94% da região)82.69%
Outras
(31,87% da região)

2 - REGIÃO SUL (situação atual 92.73%)

  • Principais Bacias
  • Principais Reservatórios
  • Situação Atual

Rio Iguaçu

50,93% da regiãoS. Santiago(16,30% da região)99.95%
G. B. Munhoz(30,39% da região)99.5%
Segredo(2,29% da região)98.56%

Rio Jucuí

16,08% da regiãoPasso Real(15,02% da região)88.01%

Rio Uruguai

29,77% da regiãoPasso Fundo(8,72% da região)97.55%
Barra Grande(15,21% da região)84.83%
Outras
(3,22% da região)

3 - REGIÃO NORDESTE (situação atual 15.62%)

  • Principais Bacias
  • Principais Reservatórios
  • Situação Atual

Rio São Francisco

96,86% da regiãoSobradinho(58,20% da região)7.67%
Três Marias(31,02% da região)20.52%
Itaparica(6,62% da região)46.41%
Outras
(3,14% da região)

4 - REGIÃO NORTE (situação atual 25.99%)

  • Principais Bacias
  • Principais Reservatórios
  • Situação Atual

Rio Tocantins

96,17% da regiãoSerra da Mesa(43,68% da região)17.45%
Tucuruí(51,53% da região)29.82%
Outras
(3,83% da região)

RegiãoCapacidade Máxima de Armazenamento MW.mês
SUDESTE / CENTO-OESTE205.002
SUL19.873
NORDESTE51.859
NORTE14.812



Fonte: OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO
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Os meses que antecederam a realização da  Copa do Mundo de Futebol , em 2014, foram de terror.

Terror produzido pela velha mídia, que de tudo que previu aconteceu o oposto, e o que provavelmente aconteceu , não foi previsto.

Previram um caos nos aeroportos do país, que não aconteceu, e , ainda, tiveram que  conviver com uma pesquisa recente em que a maioria dos usuários considera muito bom os serviços dos principais  aeroportos brasileiros.

Previram um caos no abastecimento de água e na geração de energia elétrica, o que de fato aconteceu somente na distribuição de água no estado de São Paulo, governado eternamente pelo PSDB.

Não previram que um grande fluxo de pessoas de todo o mundo pudesse contribuir para disseminar epidemias, como se supõe com as epidemias  atuais de zika e chikungunya.

E o terror continua com a proximidade das Olimpíadas de agosto, sem apagão, claro, já que a quantidade de  água que vem descendo a ladeira não permite tais especulações, mas, por outro lado, serve para demonizar governos do PT em cidades afetadas pelas inundações.

Tudo isso em um ritmo de lavagem à jato.

Terrorismo midiático-jurídico

Um país que protege Cunha e persegue Lula é um país doente.

Postado em 28 jan 2016

por : Paulo Nogueira



Livre como uma borboleta: Cunha

A Lava Jato perdeu o pudor.

O nome Triplo X, referência sibilina ao mítico ‘Triplex do Lula’ é um acinte. Está claro que se trata de erradicar não a corrupção – mas de caçar Lula.

Fosse outro o propósito você não teria um ataque tão sistemático a Lula enquanto um homem como Eduardo Cunha borboleteia, livre para armar as delinquências em que é mestre.

Era mais honesto batizar a operação como Caça Lula.

Os suíços entregaram de bandeja documentos que comprovam corrupção em níveis pavorosos de Cunha. Ele mentiu, sonegou, inventou desculpas aberradoras e usou até a palavra ‘usufrutuário’ para tentar encobrir sua condição de dono de milhões na Suíça.

Não foi apenas isso.

Depoimentos de fontes variadas coincidiram em relatar ameaças de paus mandados de Cunha contra pessoas que pudessem dizer coisas comprometedoras contra ele.

Vídeos mostraram expressões aterrorizadas de delatores ameaçados por homens de Cunha. Parecia coisa de Máfia. Falaram até na família. Em filhos. Disseram que tinham o endereço para a retaliação.

Não foi um depoimento nesse gênero. Foram pelo menos três, dois de delatores e um de um deputado que era um problema para Cunha na Comissão de Ética que o julga.

Que mais queriam? Que um cadáver amanhecesse boiando num rio?

E as trocas de emails com empresas beneficiárias de medidas provisórias?

Com esse conjunto avassalador de evidências, Eduardo Cunha aí está, na presidência da Câmara, ainda no comando de um processo viciadíssimo que pode cassar 54 milhões de votos.

Cadê a Polícia Federal? Cadê Moro? Cadê uma operação realmente para valer para investigar as delinquências conhecidíssimas de Cunha.

Nada. Nada. Nada.

É uma bofetada moral inominável nos brasileiros. É a completa desmoralização da política.

Enquanto a vida é mansa para Cunha, para Lula é uma sucessão infindável de agressões.

Virou piada que até ser amigo de Lula se caracterize como algo capaz de incriminá-lo. Mas coloquemos o adjetivo certo: é uma piada repulsiva.

Um apartamento banal numa praia banal – a cidade plebeia do Guarujá – adquire ares de uma propriedade suntuosa que Lula jamais poderia comprar. É um tríplex, uma palavra feita para impressionar e ludibriar a distinta audiência.

Não interessa se quatro ou cinco palestras de Lula seriam suficientes para comprar o apartamento. Não interessa se ele tem documentos que comprovam que ele não comprou, afinal, o imóvel.

O que importa é enodoar a imagem de Lula. Caracterizá-lo como um corrupto, um ladrão, um monstro de nove dedos. O maior vilão da história do Brasil.

Alguém – PF, Moro, imprensa – deu um passo para saber se a residência de Eduardo Cunha é compatível com seus rendimentos de deputado? Alguém apurou se ele tem condições de bancar uma vida de fausto para a mulher, à base joias e extravagâncias como aulas de tênis no exterior?

Ninguém.

É um país doente aquele que protege Eduardo Cunha e investe selvagemente contra um homem que cometeu o pecado de colocar os excluídos na agenda nacional como nenhum outro desde Getúlio Vargas.

Estamos enfermos – e Moro e sua Lava Jato são sintomas eloquentes dessa nossa deformação moral.


Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Não apenas é um país doente como a perseguição a Lula pode ter desdobramentos inimagináveis, caso o ex-presidente venha a ser detido ou mesmo intimado a depor sobre supostos crimes alimentados pela parceria jurídico - midiática.

Tudo pode estar por apenas  um segundo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Mundo dos Nadas

O mundo irreal criado pelas manchetes

 O oportunismo dos jornais de abrir espaço a qualquer asneira acabou com o mínimo de racionalidade nas discussões políticas e econômicas.

Luis Nassif - Jornal GGN

Há duas tendências se firmando na economia.

A primeira, a constatação do refluxo das tentativas de impeachment.

O grande trunfo de Dilma Rousseff é uma oposição extraordinariamente medíocre, que se move disputando espaço nas manchetes da mídia.

***

De repente, há espaço para a radicalização, e lá se vão os Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, José Serra, Carlos Sampaio, Mendonça Filho com a disposição dos jovens carbonários, disputando quem range mais os dentes. Aí Marina Silva percebe que o contraponto é acenar com o bom senso. E acena.

De repente, o impeachment reflui. Toca então esse brilho fugaz de nome Carlos Sampaio a entrar com o pedido de extinção do PT. Só isso! E FHC é ouvido para contrapor que a vitória deve ser nas urnas, não no tapetão. E a multidão de áulicos olha reverencialmente para esse conselheiro Acácio dos tempos modernos.


Aí Marina se dá conta de que poucos continuam falando do impeachment. Então o contraponto para ganhar manchetes é radicalizar novamente. E tome Marina, Cristóvão, Marta.

***
É inacreditável como o mundo politico e jornalístico despregou-se totalmente do mundo real. Parecem vaqueiros bêbados e armados em saloons do Velho Oeste, atirando em qualquer sombra que passe pela porta. É tão grande o vácuo de ideias, que a institucionalidade se rege, agora, pelas manchetes de jornais. E as alianças se consolidam pelo recurso à lisonja.


É o caso do prêmio de O Globo para as pessoas que fazem a diferença... para as Organizações Globo. A contemplada foi a futura presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Carmen Lúcia, cuja obra de maior repercussão em 2015 foi uma frase tão grandiloquente quanto inútil: “O crime não vencerá a Justiça”, no voto que confirmou a decisão de Teori Zavaski, de manter presos o senador Delcídio do Amaral e o banqueiro André Esteves. Quando Teori concedeu o habeas corpus a Esteves, significa então que o crime venceu?

***

Esse jogo demagógico, a busca do aplauso fácil, da consagração em torno de frases fáceis, tornou-se uma constante que não perdoa sequer Ministros do Supremo. E o oportunismo dos jornais, de abrir espaço para qualquer asneira, praticamente matou os filtros que poderiam permitir um mínimo de racionalidade nas discussões políticas e econômicas.

O que tem de procuradores, delegados, dizendo o que os jornais querem, para fazer jus a uma manchete ou a uma premiação futura, e posar para a foto com os prêmios, que colocarão em suas salas de visitas, tornou a discussão institucional brasileira um pregão de feira livre, com donas de casa alvoroçadas disputando a xepa.

***

Do seu lado, a presidente só se pronuncia quando julga que alguma crítica ou decisão atinge sua augusta autoridade pessoal. Não se vê como poder institucional, como responsável pela condução do país.

País de provincianos, sem um mínimo de noção de bem público. Quando se compara com a qualidade dos homens públicos dos anos 50, dá um desânimo enorme.

***


A segunda tendência se firmando é que há espaço para que o governo Dilma apresente uma proposta minimamente viável de condução do país.

Nas próximas semanas se saberá se esse vácuo aberto pela oposição será preenchido com um mínimo de protagonismo do governo

Fonte: CARTA MAIOR
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Flávio Gomes: São Paulo conta vários mortos como um só. Folha celebra queda de homicídios na manchete e esconde o essencial no texto

publicado em 27 de janeiro de 2016 às 13:56
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por Flávio Gomes, no Facebook
A manchete da “Folha” hoje grita, em corpo (tamanho de letra) usado somente em casos muito especiais (atentados terroristas, acidentes aéreos, grandes tragédias): “SP registra menor taxa de homicídios em 20 anos”.
Faltou colocar um ponto de exclamação, e tenho certeza que alguém lá quase fez isso. Os métodos do governo Alckmin são exaltados e o tom das matérias é de comemoração. Me senti vivendo em Genebra, ou numa pequena vila do interior austríaco.
Aí, perdido no texto, explica-se que na esquisita — esse “esquisita” é por minha conta — metodologia usada pela Secretaria de Segurança do Estado uma chacina, por exemplo, é considerada UMA morte para efeitos estatísticos, ainda que ela mate cinco, oito, dez pessoas.
Por esse método, oito mortos se transformam em… UM!
A taxa também é calculada sem considerar casos de latrocínio (não são homicídios, incrível…) e assassinatos cometidos pela PM (igualmente tratados como… como o quê, mesmo?).
Graças a essa metodologia, digamos, muito peculiar — em que latrocínios e assassinatos cometidos pela PM não são considerados “homicídios dolosos” –, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu para 8,73 no nosso simpático e pacífico Estado.
Fossem levados em conta os números estranhamente ignorados — de novo: latrocínios e assassinatos cometidos pela PM –, essa taxa subiria para 11,7 para cada 100 mil habitantes. Acima de 10, a taxa é considerada “epidêmica” por organismos internacionais, como a ONU.
Mas em São Paulo, oito vira um, PM não mata e roubo seguido de morte não conta.
E vira manchete.


Fonte: VIOMUNDO
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Ir ver imóvel é “alto grau de suspeita” de crime? Lula, arranjo um apê melhor aqui…

ridiculo
Fica-se sabendo, pelo Estadão, que o “alto grau de suspeita” sobre o apartamento do Guarujá pertencer a Lula e ter sido objeto de transações espúrias se deveria ao fato – se é que houve – de sua mulher, Marisa Letícia, ter visitado  o imóvel e “elogiado a vista” (que, aliás, pelo vídeo mostrado pelo jornal, é só o que presta no tal triplex, de resto bem mixuruca).
Que tenha visitado, e daí? Que tenha pedido para Lula ir ver, e daí?
Ir olhar um apartamento é “prova”?
Mesmo que pretendesse comprar, um apartamento de R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão (dizer que vale, aliás, é fácil, díficil é vender) não está ao alcance de quem recebeu, por oito anos, vencimentos de mais de R$ 33 mil, em valores de hoje, como presidente da República?
Joaquim Barbosa, ter comprado um apartamento através de uma empresa de fantasia, por US$ 480 mil (R4 2 milhões, ao cambio de hoje) num condomínio de novo-rico em Miami.  é “honestíssimo”, e nunca despertou os furores do MP ou da Polícia Federal. Nem mesmo para ver como ele remeteu este dinheiro ao exterior.
A única coisa questionável em ter ido ver apartamento no Guarujá,nisso é, perdoem-me os paulistas, o bom gosto de cogitar em comprar um troço daqueles.
Se Lula quiser arranjo muito melhor e bem mais barato aqui onde moro, e a apenas 34 km do Rio, pertinho da praia de Camboinhas, de areia branca e sem poluição.  Dá pra levar o isopor no ombro, presidente, numa boa, porque a cerveja no quiosque é cara: R$ 4  a latinha.
Ainda assim, publico, em homenagem ao ridículo dos tempos em que vivemos,  a nota do Instituto Lula com os fatos.
Que, como se sabe, no Brasil do fascismo midiático, policial e judicial, não vêm ao caso.

Lula repudia tentativa de envolvimento em Lava Jato

O  ex-presidente Lula não foi sequer citado na decisão do juiz Sérgio Moro e repudia qualquer tentativa de envolver seu nome em atos ilícitos investigados na chamada Operação Lava Jato.
Nos últimos 40 anos, nenhum líder brasileiro teve a vida particular e partidária tão vasculhada quanto Lula, e jamais encontraram acusação válida contra ele.
Lula foi preso, sim, mas pela ditadura, porque lutava pela democracia no Brasil e pelos direitos dos trabalhadores. Não será investigando um apartamento – que nem mesmo lhe pertence – que vão encontrar uma nódoa em sua vida.
Lula nunca escondeu que sua família comprou, a prestações, uma cota da Bancoop, para ter um apartamento onde hoje é o edifício Solaris. Isso foi declarado ao Fisco e é público desde 2006. Ou seja: pagou dinheiro, não recebeu dinheiro pelo imóvel.
Para ter o apartamento, de fato e de direito, seria necessário pagar a diferença entre o valor da cota e o valor do imóvel, com as modificações e acréscimos ao projeto original. A família do ex-presidente não exerceu esse direito.
Portanto, Lula não ocultou patrimônio, não recebeu favores, não fez nada ilegal. E continuará lutando em defesa do Brasil, do estado de direito e da Democracia.


Fonte: TIJOLAÇO
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Mosquito Aedes Aegypti é amigo de Lula.

Talvez seja a próxima manchete nos jornais e revistas da velha mídia.

Hoje, Estado de SP, Folha de SP e O Globo apresentaram como manchetes o "caso" do triplex  bombado no Guarujá que é do Lula mesmo não pertencendo ao Lula.

Se de fato pertencer ao  Lula, nada de errado , já que o ex-presidente fatura alto com suas palestras pelo mundo, como fazem todos os ex-presidentes, como FHC, Bill Clinton, apenas como exemplos.

No entanto, Lula, um operário que veio de baixo, ter um apartamento triplex na praia da paulistada chique é uma ofensa inaceitável.

Esse é um lado, o preconceito de classe.

O outro lado é a fixação obsessiva da Operação Lava Jato Midiática em conseguir alguma prova que incrimine o ex-presidente em casos de corrupção.

E aí vale tudo, como até mesmo uma visita ao apartamento pode ser um indício poderoso de algo gravíssimo, envolvendo milhões de reais.

Nos jornais parceiros da Lava Jato especula-se que não apenas o apartamento de Lula que não pertence ao Lula, como todo o  condomínio pode ser fruto de uma grande armação de corrupção que viabilizou a construção do prédio, talvez com desvios de recursos da ...Petrobrás.

Por onde Lula passa , algo de suspeito deve existir, segundo a velha mídia e seu parceiro inquisidor Lava Jato.

Enquanto Lula arrumou um triplex na praia, a realidade continua.

As vezes de forma estranha, como do caso da conta esquisita da Folha de SP, que não gosta de ser chama de Falha,  que celebrou em manchete com letras escandalosas uma redução da taxa de  homicídios em São Paulo através de uma matemática  própria, original, vanguardista, paradigmática, onde oito é igual a um
( 8 =1).

Até um cão rejeita a velha mídia.
Charge de Raimundo Rucke ficou em segundo lugar em prêmio da ONU
Charge de Raimundo Rucke
Esse universo paralelo da velha mídia tem produzido manchetes, conteúdos e personagens nunca dantes vistos na história desse país, como no caso da novo colunista da Folha de SP que aparece na foto com um arma em punho.

No universo paralelo midiático, onde o mundo do espetáculo é mais importante do que a realidade, Aparecer É Ser ( Mario Vargas Llosa), e assim, nadas passam a ser alguma coisa que na realidade nada são, produzindo realidades e conteúdos de fazer inveja a qualquer romance de ficção.

E os nadas estão invadindo o mundo, tal qual uma invasão alienígena, ocupando todos os espaços midiáticos, até mesmo no Brasil, ao som do céu à jato e à luz do mar do Guarujá profundo.

Amparados por uma mídia blindada em esplêndido berço , os nadas, hoje, em procissão com fé encontram no triplex do Guarujá a esperança do terço.

Enquanto isso, um mosquito voa à jato, triplicando epidemias em um mundo em crise e revelando a realidade de um progresso nada encantador, nada próspero, nada civilizado, nada, nada, como o mundo dos que acham que alguma coisa são.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Informação omitida


Quarenta anos de procrastinação interesseira

160125-Procrastinação
Como as grandes petroleiras transnacionais souberam, desde 1977, dos efeitos dramáticos da queima de CO² — e vêm lutando desde então para escondê-los das sociedades

Por Neela Banerjee, Lisa Song e David Hasemyer, no InsideClimate News | Tradução: Gilberto Schittini


Em uma reunião na sede da Exxon Corporation, um cientista sênior chamado James F. Black dirigiu-se a um grupo de poderosos homens do petróleo. Falando sem texto enquanto passava por slides detalhados, Black transmitiu uma séria mensagem: o dióxido de carbono oriundo do uso mundial de combustíveis fósseis iria aquecer o planeta e poderia eventualmente colocar a humanidade em perigo.
“Em primeiro lugar, existe um consenso científico geral de que a maneira mais provável pela qual a humanidade estaria influenciando o clima global seria pelo dióxido de carbono liberado na queima de combustíveis fósseis”, Black disse ao Comitê Gerencial da Exxon, segundo uma versão escrita que ele registrou mais tarde.
Era julho de 1977 quando os líderes da Exxon receberam essa avaliação contundente, bem antes de o resto do mundo ouvir falar sobre a crise climática iminente.
Um ano depois, Black, um especialista técnico do topo da divisão de Pesquisa e Engenharia da Exxon, levou uma versão atualizada da sua apresentação para uma audiência maior. Ele alertou os cientistas e gerentes da Exxon de que pesquisadores independentes haviam estimado que uma duplicação da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera elevaria a temperatura média global em 2 a 3 graus Celsius (4 a 5 graus Fahrenheit), e poderia chegar a 10 graus Celsius (18 graus Fahrenheit) nos polos. As chuvas ficariam mais fortes em algumas regiões, e outros lugares se tornariam desertos.
“Alguns países se beneficiariam, mas outros teriam sua produtividade agrícola reduzida ou destruída”, Black disse, conforme o resumo escrito de sua apresentação de 1978.
Essas apresentações refletiam a incerteza que permeava os meios científicos sobre os detalhes das mudanças climáticas, como, por exemplo, o papel desempenhado pelos oceanos na absorção de emissões. Ainda assim, Black previu que ações rápidas eram necessárias. “De acordo com o conhecimento atual”, ele escreveu no resumo de 1978, “estima-se que o homem tenha uma janela de cinco a dez anos antes que a necessidade de que decisões duras sobre mudanças nas estratégias energéticas se tornem críticas”
A Exxon respondeu rapidamente. Em meses a companhia lançou sua própria pesquisa extraordinária sobre o dióxido de carbono dos combustíveis fósseis e seu impacto na Terra. O programa ambicioso da Exxon incluía tanto amostragem empírica de CO2 quanto modelagem climática rigorosa. Ela reuniu um grupo de especialistas que iria dedicar mais de uma década aprofundando o conhecimento da companhia sobre esse problema ambiental que oferecia um risco de vida ao ramo do petróleo.
Então, ao final da década de 1980, a Exxon reduziu sua pesquisa sobre o dióxido de carbono. Ao invés disso, nas décadas que se seguiram, a Exxon trabalhou na linha de frente da negação climática (climate denial). A empresa dedicou a sua musculatura para sustentar esforços na produção de dúvidas sobre a realidade do aquecimento global que seus próprios cientistas um dia constataram. Ela articulou politicamente esforços para bloquear ações federais e internacionais de controle de emissões de gases de efeito estufa. Ela ajudou a construir um vasto edifício de desinformação que se mantém de pé até o dia de hoje.
Esse capítulo não contado da história da Exxon, o dia em que uma das maiores companhias energéticas do mundo se dedicou ativamente para entender os danos causados pelos combustíveis fósseis, emergiu de uma investigação de oito meses de duração feita pela InsideClimate News. Os jornalistas da ICN entrevistaram antigos empregados da Exxon, cientistas, agentes federais, e consultaram centenas de páginas de documentos internos da Exxon, muitos deles escritos entre 1977 e 1986, durante o auge do inovador programa de pesquisa sobre clima da empresa. A ICN passou um pente fino em milhares de documentos de arquivos incluindo aqueles tombados na Universidade de Texas-Austin, no Instituto de Tecnologia de Massachussets-MIT e na Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Os documentos registraram pedidos de orçamento, prioridades de pesquisa, e debates sobre as descobertas, e revelaram o arco das atitudes internas da Exxon, seu trabalho sobre clima e quanta atenção os resultados receberam.
Teve significância particular um projeto lançado em agosto de 1979, quando a companhia equipou um superpetroleiro com instrumentos customizados. A missão desse projeto foi de coletar amostras de dióxido de carbono na atmosfera e nos oceanos ao longo de uma rota que partiu do Golfo do México até o Golfo Pérsico.
Em 1980, a Exxon reuniu um time de especialistas em modelagem climática que investigou questões fundamentais sobre a sensibilidade do clima ao aumento da concentração de dióxido de carbono no ar. Trabalhando em conjunto com cientistas da universidade e com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, a Exxon lutou para estar na ponta das investigações sobre o que então era conhecido como efeito estufa.
A determinação inicial da Exxon em entender os níveis crescentes de dióxido de carbono surgiu de uma cultura corporativa com visão de longo prazo, disseram antigos empregados. Eles descreveram uma companhia que continuamente examinava riscos até o final da linha, inclusive os fatores ambientais. Nos anos 1970s, a Exxon espelhou sua divisão de pesquisa nos Laboratórios Bell, contratando cientistas e engenheiros altamente qualificados.
Em uma resposta escrita a questões sobre a história de suas pesquisas, o porta-voz da ExxonMobil Richard D. Keil disse que “desde o tempo em que as mudanças climáticas surgiram pela primeira vez como tópico para estudos e análises científicas, no final dos anos 1970s, a ExxonMobil se comprometeu com a análise científica, baseada em fatos sobre esse importante tema”.
“Sempre”, ele disse, “as opiniões e conclusões dos nossos cientistas e pesquisadores nesse assunto estiveram solidamente inseridas nos consenso geral da opinião científica do período e nosso trabalho tem sido guiado pelo princípio fundamental de seguir para onde a ciência nos levar. O risco de mudança climática é real e exige ação”.
No início das suas investigações climáticas, há quase quatro décadas atrás, muitos executivos da Exxon, gerentes e cientistas se imbuíram de um senso de urgência e de missão.
Um gerente do setor de pesquisa da Exxon, Harold N. Weinberg, compartilhou seus “pensamentos grandiosos” sobre o papel potencial da Exxon na pesquisa climática em um memorando interno da companhia, em março de 1978, onde se lia: “Esse pode ser o tipo de oportunidade que nós estávamos esperando para colocar os recursos de tecnologia, gestão e liderança da Exxon no contexto de um projeto que visa o bem da humanidade”.
Seus sentimentos ganharam eco em Henry Shaw, o cientista que liderou o nascente esforço de da companhia na pesquisa sobre dióxido de carbono.
“A Exxon precisa desenvolver um time científico de credibilidade que possa avaliar criticamente as informações geradas sobre o tema e que seja capaz de dar más notícias, se houver, para a corporação”, Shaw escreveu para seu chefe Edward E. David, o presidente setor de Engenharia e Pesquisa da Exxon em 1978. “Este time precisa ser reconhecido por sua excelência pela comunidade científica, pelo governo e internamente pela administração da Exxon”.

Irreversível e Catastrófico
A Exxon destinou mais de 1 milhão de dólares em três anos para o projeto do petroleiro para medição de quão rápido os oceanos estavam absorvendo CO2. Isso era apenas uma pequena fração do orçamento anual de 300 milhões de dólares da Exxon Pesquisas, mas a questão que os cientistas abordaram era uma das maiores incertezas na ciência do clima: quão rápido poderiam as profundezas oceânicas absorver o CO2 atmosférico? Se a Exxon pudesse encontrar a resposta, a empresa poderia saber quanto tempo ainda demoraria até que a acumulação de CO2 na atmosfera exigisse uma transição no sentido de abandonar o uso dos combustíveis fósseis.
A Exxon também contratou cientistas e matemáticos para desenvolver modelos climáticos melhores e publicar os resultados de pesquisa em jornais acadêmicos. Até 1982, os cientistas da própria companhia, colaborando com pesquisadores de fora, criaram modelos climáticos rigorosos – programas de computador que simulam o funcionamento do clima para avaliar o impacto de emissões na temperatura global. Eles confirmaram o consenso científico emergente: que o aquecimento poderia ser até pior do que Black havia alertado cinco anos antes.
A pesquisa da Exxon estabeleceu as bases para uma cartilha corporativa de 1982 sobre dióxido de carbono e mudança climática preparada por seu escritório de assuntos ambientais. Marcada com “não deve ser distribuída externamente”, a cartilha continha informações que “tiveram grande circulação na administração da Exxon”. Nela a companhia reconhecia que, apesar dos aspectos desconhecidos persistentes, para se prevenir o aquecimento global “seriam necessárias reduções massivas na queima de combustíveis fósseis”.
Caso isso não ocorresse, “há eventos catastróficos em potencial que precisam ser considerados”, seguiu a cartilha, citando especialistas independentes. “Quando os efeitos se tornarem mensuráveis, poderão não mais ser reversíveis”.

A Certeza da Incerteza
Assim como outros na comunidade científica, os pesquisadores da Exxon reconheceram as incertezas em torno de muitos aspectos da ciência do clima, especialmente na área de modelagem preditiva.
“Modelos são controversos”, escreveram Roger Cohen, chefe de ciências teóricas dos Laboratórios Corporativos de Pesquisa da Exxon, e seu colega, Richard Werthamer, conselheiro sênior de tecnologia na Corporação Exxon, num relatório em maio de 1980 sobre o estado do programa de Exxon de modelagem climática. “Portanto, existem oportunidades de pesquisa para nós”.
Quando pesquisadores da Exxon confirmavam informações que a companhia poderia achar perturbadoras, eles não as escondiam debaixo do tapete.
“Ao longo dos últimos anos um nítido consenso científico emergiu”, Cohen escreveu em setembro de 1982, relatando sobre as análises da própria Exxon sobre os modelos climáticos. A duplicação da concentração de dióxido de carbono na atmosfera produziria um aquecimento médio global de 3 graus Celsius, mais ou menos 1,5 grau C (igual a 5 graus Fahrenheit mais ou menos 1,7 grau F).
“Há uma unanimidade na comunidade científica de que um aumento na temperatura dessa magnitude produziria mudanças significativas no clima da Terra”, ele escreveu, “inclusive sobre a distribuição das chuvas e com alterações da biosfera”.
Ele alertou que a publicação dessas conclusões da companhia iria atrair atenção da mídia, por causa da “conexão entre o principal negócio da Exxon e o papel da queima de combustíveis fósseis na contribuição para o aumento no CO2 atmosférico”.
Mesmo assim, ele recomendou a publicação.
“Nossa responsabilidade ética é de permitiu a publicação de nossa pesquisa na literatura científica”, Cohen escreveu. “De fato, fazer o contrário seria uma ruptura com o posicionamento público da Exxon e sua crença ética na honestidade e na integridade”.
A Exxon seguiu seu conselho. Entre 1983 e 1984 seus pesquisadores publicaram seus resultados em ao menos três artigos científicos nas revistas Journal of the Atmosferic Sciences e American Geophysical Union Monograph.
David, chefe de pesquisa da Exxon, disse em uma conferência sobre aquecimento global financiada pela Exxon em 1982 que “poucas pessoas tem dúvidas de que o mundo tenha entrado numa transição enérgica que se afasta da dependência de combustíveis fósseis e avança para uma combinação de recursos renováveis que não vai gerar problemas de acumulação de CO2”. A única dúvida, ele disse, era quão rápido isso aconteceria.
Mas o desafio não o atemorizava. “Eu geralmente sou otimista sobre as chances de sairmos bem desse que é o mais aventureiro dentre todos os experimentos humanos com o ecossistema”, David disse.
A Exxon se considerava única entre as corporações devido às suas pesquisas sobre dióxido de carbono e clima. A companhia ostentou em um relatório de janeiro de 1981, “Estudo Abrangente sobre CO2”, que nenhuma outra companhia aparentava estar conduzindo pesquisas domésticas similares sobre o dióxido de carbono, e ela rapidamente ganhou reputação entre pessoas externas como tendo uma expertise genuína no assunto.
“Nós estamos muito satisfeitos com as intenções de pesquisa da Exxon sobre a questão do CO2. Isso representa uma ação muito responsável, que esperamos servir como modelo para outras contribuições do setor corporativo a pesquisas”, disse David Slade, gerente do programa de pesquisa sobre dióxido de carbono do Departamento de Energia do governo federal, em uma carta a Shaw em maio de 1979. “Isso é realmente um serviço nacional e internacional”.

Imperativos dos negócios
No início dos anos 1980s pesquisadores da Exxon costumavam repetir que sua ciência não-enviesada daria à empresa legitimidade para ajudar e dar forma a leis relacionadas ao clima que afetariam sua lucratividade.
Ainda assim, executivos corporativos permaneceram cautelosos ao falar com acionistas da Exxon sobre o aquecimento global e a influência desempenhada pelo petróleo na sua causa, segundo mostra uma revisão de arquivos federais.
Também não há menção nesses arquivos de que a preocupação com o CO2 estivesse começando a influenciar as decisões de negócios que a empresa estava tomando.
Ao longo dos anos 1980s, a companhia esteve preocupada com o desenvolvimento de um enorme campo de gás na costa da Indonesia, por causa da grande quantidade de CO2 que esse reservatório incomum iria liberar.
A Exxon também estava preocupada com relatórios que apontavam que óleo sintético feito à base de carvão, areia betuminosa e gás de xisto poderiam impulsionar significativamente as emissões de CO2. A companhia estava investindo em combustíveis sintéticos para atender ao crescimento futuro da demanda, num mundo no qual ela acreditava que estava ficando sem óleo convencional.
No meio dos anos 1980s, após um inesperado excesso de óleo que fez os preços colapsar, a Exxon fez cortes severos no seu pessoal para economizar dinheiro, incluindo muitas pessoas que estavam trabalhando com o clima. Mas o problema da mudança climática persistiu, e estava se tornando uma parte mais proeminente do cenário político.
“O Aquecimento Global Começou, Especialistas Dizem ao Senado”, declarou uma manchete de junho de 1988 de um artigo do New York Times que descreveu o depoimento ao Congresso de James Hansen da Nasa, um eminente especialista em clima. As declarações de Hansen compeliram o Senador Tim Wirth (Democrata, Colorado) a declarar durante a oitiva que “o Congresso precisar começar a considerar como nós iremos reduzir ou interromper esse padrão de aquecimento”.
Com as sirenes de alarme repentinamente tocando, a Exxon começou a financiar esforços para amplificar as dúvidas acerca do estado da ciência do clima.
A Exxon ajudou a fundar e liderar a Coalizão Climática Global, uma aliança entre algumas das maiores companhias do mundo que buscava deter os esforços governamentais de redução das emissões oriundas de combustíveis fósseis. A Exxon usou o American Petroleum Institute, um think tank de direita, contribuições de campanha e seu próprio lobby para impor uma narrativa de que a ciência climática era incerta demais para que se exigissem reduções em emissões de combustíveis fósseis.
Enquanto a comunidade internacional se movimentava em 1997 para dar o primeiro passo na redução de emissões via Protocolo de Kyoto, o presidente e CEO da Exxon, Lee Raymond, defendeu a sua interrupção.
“Concordemos que há muito que nós ainda não sabemos realmente sobre como o clima irá mudar no século XXI e além”, Raymond disse em seu discurso à frete do Congresso Mundial de Petróleo em Pequim, em outubro de 1997.
“Nós precisamos entender melhor essa questão e, felizmente, nós temos tempo”, ele disse. “É altamente improvável que a temperatura no meio do próximo século seja significativamente alterada se as políticas forem adotadas agora ou daqui a 20 anos”.
Ao longo dos anos, vários cientistas da Exxon que haviam confirmado o consenso climático durante as pesquisas iniciais, incluindo Cohen e David, foram para o lado de Raymond, disseminando visões que andavam na contramão do mainstream científico.

Pagando o Preço
A meia-volta da Exxon sobre a mudança climática rendeu o desprezo da comunidade científica que ela antes havia cortejado.
Em 2006, a Royal Society, a academia de ciências do Reino Unido, enviou uma dura carta à Exxon acusando-a de ser “imprecisa e enganadora” na questão sobre incerteza climática. Bob Ward, o gerente sênior da Academia para comunicação sobre políticas públicas, exigiu que a Exxon interrompesse o repasse de dinheiro para dúzias de organizações que ele disse que estavam ativamente distorcendo a ciência.
Em 2008, sob uma pressão crescente de acionistas ativistas, a companhia anunciou que iria encerrar o apoio a alguns grupos proeminentes como aqueles que Ward tinha identificado.
Ainda assim, os milhões de dólares que a Exxon gastou desde os anos 1990s em negacionistas da mudança climática há muito ultrapassou o que ela uma vez investiu na pesquisa de ponta a bordo do Esso Atlantic.
“Eles gastaram tanto dinheiro e eles eram a única companhia que fez esse tipo de pesquisa, até onde eu sei” Edward Garvey, que foi um pesquisador chave no projeto do petroleiro da Exxon, disse em uma entrevista recente ao InsideClimate News e Frontline. “Aquela foi uma oportunidade não apenas para garantir um lugar à mesa, mas para liderar, em muitos aspectos, um pouco da discussão. E o fato de que eles escolheram não fazer isso no futuro é um tanto triste”.
Michael Mann, diretor do Centro de Ciências do Sistema da Terra da Universidade Estadual da Pensilvânia, que tem sido um alvo frequente de negacionistas climáticos, disse que inação, assim como ação, tem consequências. Quando ele falou ao InsideClimate News, ele ainda não sabia desse capítulo da história da Exxon.
“Tudo o que um eminente CEO de combustíveis fósseis precisava saber era que isso é mais importante do que lucros de acionistas, se trata do nosso legado”, ele disse. “Mas agora, por causa do custo da inação – o que eu chamo “penalidade da procrastinação” – nós enfrentamos uma batalha muito mais dura”.

No sítio do InsideClimate News há elos para a Parte II da reportagem, com o registro das pesquisas iniciais da Exxon sobre clima; Parte III, uma revisão dos esforços da Exxon em modelagem climática; Parte IV, um mergulho no projeto da Exxon sobre o campo de gás Natuna; Parte V, uma visão sobre os esforços da Exxon na promoção de combustíveis sintéticos; Parte VI, um registro das ênfases da Exxon nas incertezas da ciência sobre clima.
Também participaram dessa reportagem os membros da equipe do ICN Zahra Hirji, Paul Horn, Naveena Sadasivam, Sabrina Shankman e Alexander Wood.


Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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