sábado, 19 de dezembro de 2015

Jogos Radioativos

Fukushima e a lei de Murphy

As consequências do acidente em Fukushima provam a lei que Murphy que diz que 'qualquer coisa que possa dar errado, vai dar errado.'


Robert Hunziker - Counter Punch
Greg Webb / IAEA
A Lei de Murphy encontrou lar permanente em Fukushima:
 "Qualquer coisa que possa dar errado, vai dar errado."

Por exemplo, apenas recentemente, o césio radioativo de túneis em Fukushima repentinamente foram encontrados em mais de 4000 vezes do que medições similares feitas um ano atrás. Este assustador aumento nos níveis de radiação atingiu 482000 becqueréis por litro. A TEPCO [Tokyo Electric Power Company] pretende investigar a razão por trás desse enorme e anômalo aumento de radiação nos dutos subterrâneos de Fukushima. Ao longo de apenas um ano, 4000 vezes qualquer coisa provavelmente não deve significar boas notícias.
[Radiation Spikes in Fukushima Underground Ducts, NHK World, Dec. 9, 2015. ]

E não foi só isso. A barreira construída em torno da usina nuclear de Fukushima para esperançosamente impedir que água contaminada vazasse junto ao oceano está se inclinando e desenvolveu uma rachadura de cerca de 0,5km de comprimento ao longo de sua base. A parede é de 0,8km de comprimento e 98 pés abaixo do solo.

Uma barreira que serve ao oceano, na verdade: "Níveis mais altos de radiação a partir do acidente nuclear em Fukushima, no Japão, estão aparecendo no oceano, ao largo da costa-oeste da América do Norte”. Felizmente, até agora, os níveis detectados ainda permanecem abaixo dos limites de segurança estabelecidos pelo governo dos EUA.
[Higher Levels of Fukushima Radiation Detected Off West Coast, Statesman Journal, Dec. 3, 2015. ]

Nesse meio tempo, a TEPCO batalha com uma das catástrofes mais desconcertantes de todos os tempos, com um número médio de trabalhadores/dia maior que 7000. A dificuldade de obter trabalhadores para atuar no local está além da imaginação. Moradores de rua são contratados para fazer um trabalho de descontaminação perigoso.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020

É melhor que essa situação melhore. E muito em breve, porque as Olimpíadas estão agendadas para 2020, o que nos faz torcer para que o núcleo derretido e crepitante da Planta 2 não tenha escavado o chão e espalhado isótopos mortais por toda parte.

Enquanto isso, o Greenpeace/Japão acusa a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de subestimar os riscos de saúde do desastre de Fukushima (2011) e pactuar com as tentativas do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, para "normalizar" o desastre. Depressa, depressa, as Olimpíadas estão chegando!
[Greenpeace Japan: IAEA Downplays Dangers of Fukushima Disaster, Sputnik News, Feb. 9, 2015]

Uma abordagem inteligente para lidar com o excesso de radiação é aumentar os "limites admissíveis": "O nível anual permitido de exposição a radiação tem sido perigosamente elevado no Japão após o acidente de 11 de março. A taxa de 1mSv foi elevada para 20 mSv no que se refere aos residentes das zonas afetadas. O governo aumentou o limite anual sobre trabalhadores da área de exposição à radiação de 100mSv para 250mSv em "situações de emergência", afirma Mitsuhei Murata (Diretor Executivo da Japan Society for Global System and Ethics e ex-embaixador japonês para a Suíça).
[Nuclear Disaster and Global Ethics, UN World Conference on Disaster Risk Reduction, March 16, 2015.]

Quando os "níveis permitidos" de radiação foram inicialmente elevados, a Associação Médica do Japão declarou: "A base científica para determinar a quantidade máxima de 20 mSv não é clara".

Além disso, de acordo com os Médicos pela Responsabilidade Social, não há nível seguro de radiação. A propósito da situação Fukushima: "É inconcebível aumentar as doses permitidas para crianças em até 20mSv. Vinte millisieverts expõem um adulto para um risco de 1 em 500 no que tange ao desenvolvimento de câncer; esta dose, para crianças, significa exposição a um risco de 1 em 200. E se elas são expostas a esta dose durante dois anos, o risco é de 1 em 100. Em nenhuma hipótese estes níveis de exposição podem ser considerados "seguros" para as crianças".

Estudos recentes confirmam que "a exposição a baixos níveis de radiação podem causar câncer", mais especificamente, "Não importa se as pessoas são expostas a doses baixas prolongadas ou a doses altas e agudas, a associação observada entre a dose e risco de câncer é semelhante por unidade da dose de radiação".
(Fonte: British Medical Journal, Press Release, Low Doses of Ionizing Radiation Increase Risk of Death from Solid Cancers, International Agency for Research on Cancer, WHO, Oct. 21, 2015).

Em nítido contraste com o Japão, o funcionalismo de Chernobyl tem uma opinião diferente sobre "os níveis de exposição à radiação permitidos anualmente", ou melhor: "O limite de radiação que proibia as pessoas de viver em um raio de 30km da zona de exclusão da planta nuclear de Chernobyl foi fixado em 5mSv/ano, durante cinco anos após o acidente nuclear. Mais de 100.000 pessoas foram retiradas do território da zona e nunca mais puderam voltar", (Greenpeace Japão). Nunca, jamais.

Desastres nucleares não desaparecem facilmente. Por exemplo, Chernobyl já está enfrentando uma nova crise. A durabilidade do decadente sarcófago original expira nos próximos 12 meses. No entanto, o novo sarcófago de substituição, a maior cúpula metálica da história, não será finalizada a tempo, por falta de verba (615 milhões de euros).

Além de conflito interno da Ucrânia com os cidadãos pró-Rússia, o país tem sérias dificuldades financeiras. (Aliás, a China tem 400 reatores em fase de planejamento). Quem sabe se e quando um reator quebrado vai acabar nas mãos de um país falido? Difícil situação.

Já, a Ucrânia tem 15 reatores nucleares intactos, até agora, que subsistem entre o zunido de balas e foguetes poderosos. Infelizmente, a Ucrânia se tornou um barril de pólvora nuclear em meio ao fogo cruzado de canhões, tanques e mísseis aéreos. Por exemplo, um avião da Malásia Airlines foi derrubada por um míssil, supostamente em um acidente, em 17 de Julho de 2014, matando todos os 298 passageiros a bordo.

Enquanto isso, no Japão, a elevação do nível de exposição anual permitido não deixa de chamar atenção internacionalmente. De acordo com o Dr. Ian Fairlie, ex-chefe do Secretariado do Comité CERRIE do governo do Reino Unido sobre Riscos de Radiação: "O governo japonês foi tão longe para aumentar os limites de radiação (de 1mSv para 20 mSv/ano), que seus cientistas estão se esforçando para convencer a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) a aceitar este enorme aumento".

Mas vejamos bem; o Comitê Olímpico já selecionou Tóquio para 2020. É possível que o COI tenha passado dos limites?

Quanto aos recém-elevados limites aceitáveis: "Não apenas falta base científica, mas também base ética", disse Dr. Fairlie. E, no final das contas, a ausência de qualquer uma dessas bases já seria uma acusação forte.
[Unspoken Death Toll of Fukushima: Nuclear Disaster Killing Japanese Slowly, Sputnik International, Aug. 8, 2015.]

No entanto, o comitê olímpico já aprovou Tóquio para 2020 e pessoas de todo o mundo planejam participar. Afinal, se o Comitê Olímpico aceita as caprichosas condições de radiação do Japão, então o restante do mundo não deveria aceitá-las também?...

Tudo isso nos coloca uma questão: e se Fukushima for o ponto que expõe o lado mais obscuro da energia nuclear? Em outras palavras, suponha que as coisas realmente dêem errado, seguindo a lei de Murphy. Qual seria as consequências potenciais de um bombardeio sobre as plantas nucleares em zonas de guerra? Como a Lei de Murphy se aplica a zonas de guerra? A resposta mais confortável é: nem pense nisso.

Ainda assim, temos cerca de 430 reatores nucleares ao redor do mundo. De acordo com o ex-embaixador Murata, os reatores são o "mais grave problema de segurança do mundo".

Assim, Fukushima pode ser mais do que a garota-propaganda da fragilidade da energia nuclear frente as forças da natureza; Fukushima é também um cartaz sobre os perigos do terrorismo e das zonas de guerra quando a regra é que "qualquer coisa que possa dar errado, vai dar errado", por exemplo, um avião abatido sobre a Ucrânia.

Reatores nucleares são tão perigosos quanto Armas Nucleares (Murata)

Foguetes foram disparados contra as instalações nucleares em Israel. "O Hamas assumiu a responsabilidade pelos foguetes, afirmando que tentava acertar o reator nuclear. Militantes do Hamas disseram que haviam lançado foguetes M-75 de longo alcance em direção a Dimona". (The Jerusalem Post, 9 de julho de 2014).

Como mencionado anteriormente, a Ucrânia é lar de 15 reatores nucleares em meio a uma zona de guerra. E se um míssil, acidentalmente ou propositalmente, atingir um reator nuclear? Será que Fukushima fornece quaisquer pistas quanto às consequências de tal catástrofe?

Partindo do princípio de que Fukushima é um verdadeiro prenúncio sobre a harmonia entre desastres nucleares e a Lei de Murphy, acho que já temos nossa resposta.

"O futuro dos Jogos Olímpicos está em jogo. É como um crente no espírito das Olimpíadas que peço uma retirada honrosa e, com isso, o Japão deve se dedicar ao máximo para controlar a crise de Fukushima” - Mitsuhei Murata
(Executive Director of Japan Society for Global System and Ethics and former Japanese ambassador to Switzerland) Nuclear Disaster and Global Ethics, UN World Conference on Disaster Risk Reduction, March 16, 2015

Fonte: CARTA MAIOR
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Nos jogos olímpicos de 2008, em Pequim, existia uma preocupação quanto a qualidade do ar da  capital chinesa, que segundo alguns observadores honestos e alguns oportunistas políticos poderia prejudicar competições de atletismo, principalmente a maratona.

Em 2012, nos jogos de Londres, a poluição não dominou o tema das preocupações, cabendo as possíveis ações terroristas o foco das discussões.

Atualmente, com a proximidade dos jogos no Rio de Janeiro, se discute a qualidade da água da Baía da Guanabara, local onde serão disputadas as competições de vela.

Para os jogos de Tóquio, em 2020, já se discute a questão da poluição radioativa decorrente do acidente com o complexo nuclear de Fukushima.

Questões políticas a parte, se é que é possível, pode-se concluir que diferentes formas de poluição e a segurança afetam o planeta.

Talvez Tóquio seja a questão mais grave, já que a radioatividade permanece por séculos e ainda existe o risco de novos acidentes no complexo de Fukushima.

De uma forma ou de outra, o mundo é um lugar sujo , poluído e perigoso.

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