quinta-feira, 12 de novembro de 2015

COP - 21 . Meio Ambiente Limpo. Um Outro Mundo É Possível

Informação omitida: Lama que vazou de barragens pode provocar alterações nas contrações musculares, problemas ósseos, intestinais e agravar distúrbios cardíacos

publicado em 12 de novembro de 2015 às 11:28
Rio Doce 1
Lama contaminada tem concentração de metais até 1.300.000%  acima do normal 

Quantidade alta de manganês pode provocar danos graves à saúde, alerta toxicologista da USP
Enzo Menezes, do R7, em Belo Horizonte, no R7


Estudo preliminar indica concentração de metais no rio Doce em Valadares; seis dias depois da tragédia, mineradoras não divulgaram qualquer estudo sobre qualidade da água


O rompimento de duas barragens da Samarco em Mariana, na região central de Minas, começa a ganhar números que dão a dimensão da catástrofe ambiental. Amostras da enxurrada de lama que foram coletadas cerca de 300 km depois do distrito de Bento Rodrigues apontam concentrações absurdas de metais como ferro, manganês e alumínio.

A água coletada pelo SAAE (Serviço de Água e Esgoto) de Valadares aponta um índice de ferro 1.366.666% acima do tolerável para tratamento – um milhão e trezentos mil por cento além do recomendado, segundo relatório enviado à reportagem do R7. Os níveis de manganês, metal tóxico, superam o tolerável em 118.000%, enquanto o alumínio estava presente com concentração 645.000% maior do que o possível para tratamento e distribuição aos moradores. As alterações foram sentidas a partir de 8h, enquanto o pico de lama tóxica ocorreu às 14h no rio Doce.

Servidores da prefeitura esclarecem que não têm condições técnicas de verificar a ocorrência de materiais pesados (como arsênio, antimônio e chumbo, normalmente presentes em rejeitos que contêm ferro), e por isso aguardam análises da Copasa e de dois laboratórios para detalhar a situação.

A quantidade de manganês presente na água em quantidade adequada para tratamento é – 0,1 mg, mas os técnicos encontraram 29,3 mg pela manhã e 118 mg (1.180 vezes acima) durante a cheia da tarde. O alumínio aparece com 0,1 mg, mas estava disponível em 13,7 mg e 64,5 mg, respectivamente (6.450 vezes superior). A concentração tolerada de ferro é 0,03 mg, mas as amostras continham 133 mg e 410 mg. O nível de turbidez regular é 1000 uT, mas chegou a 80 mil uT na passagem da enchente.

Manganês traz riscos
Segundo o chefe do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da USP, Anthony Wong, a concentração mais preocupante é do manganês.

— É um metal tóxico que, por ser mais pesado, devia estar depositado no fundo. Pode provocar alterações nas contrações musculares, problemas ósseos, intestinais e agravar distúrbios cardíacos. O alumínio não traz riscos para a população em geral, mas nestas quantidades pode trazer riscos para diabéticos, pessoas com tumores ou problemas renais crônicos. O organismo mais ácido absorve mais alumínio. Já o ferro não é considerado tóxico.

O infectologista destaca que a Samarco já deveria ter tornado públicas as análises de qualidade da água, principalmente em relação aos metais pesados, que podem trazer consequências mais graves – já se passaram seis dias do desastre enquanto Vale e Samarco não apresentaram nenhum estudo das amostras coletadas.

— Dentro de 48 horas já deveriam ter divulgado, as equipes de socorro e sobreviventes tiveram contato [com essa água]. Metais pesados como chumbo, arsênio e antimônio costumam acompanhar o ferro, mais raramente o níquel.

A preocupação com os riscos de elementos pesados é compartilhada por Ricardo Valory, diretor geral do IBIO-AGB Doce (Instituto Bioatlântica).

— A dúvida é sobre a composição real da lama, se tem metal pesado. A Samarco afirma que não, mas de qualquer maneira temos que aguardar os laudos oficiais

Samarco ainda não respondeu
A reportagem do R7 questionou a Samarco diversas vezes na segunda (9) e terça (10) sobre os estudos das amostras coletadas pela própria empresa e sobre os resultados do SAAE, mas ainda não obteve respostas. Em comunicados no site e em entrevistas de executivos desde o dia do rompimento, a mineradora, que é controlada pela Vale e pela BHP, reforçou que a enchente de lama não continha rejeitos tóxicos para seres humanos, apenas material inerte em compostos de areia.

Por causa destes níveis de contaminação, o tratamento de água foi suspenso em Governador Valadares há três dias e a partir de hoje pode faltar água para 800 mil habitantes em nove cidades em Minas e no Espírito Santo. A prefeitura decretou situação de calamidade pública.


Fonte: VIOMUNDO
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Caos em Governador Valadares demonstra que plano de emergência era para inglês ver e que Estado brasileiro foi submetido ao interesse das mineradoras

publicado em 13 de novembro de 2015 às 12:27
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por Luiz Carlos Azenha
Uma semana depois do rompimento das barragens da Vale/BHP Billiton/Samarco em Mariana, o que escrevi aqui — depois de ter estado pessoalmente na região — se confirmou: o crime ambiental expôs quanto o Estado brasileiro está entregue à iniciativa privada. Sim, isso é natural no capitalismo, mas o Brasil é recordista no “entreguismo”.
1. O plano de emergência da Samarco, propagandeado pelos relações públicas da empresa e disseminado pela mídia que faz “jornalismo declaratório”– na feliz frase de meu colega Caco Barcellos — era para inglês ver. Dez minutos se passaram entre o rompimento das barragens e a chegada da lama a Bento Rodrigues, mas não havia sistema de alerta para os moradores do vilarejo, nem plano adequado para fazer um rápido resgate, nem qualquer ideia de como conter a lama antes de chegar a grandes centros populacionais, como Governador Valadares, com quase 280 mil habitantes. Recebi mensagem de um leitor segundo o qual o caos na cidade é completo e moradores começam a ir embora por falta de água!
2. A “lama inerte” propagandeada pela Samarco contém altas concentrações de ferro, manganês e alumínio que inviabilizam o tratamento da água para consumo humano e oferecem riscos à saúde. Para não falar no chumbo, arsênio e antimônio — metais pesados que podem estar presentes na lama. No entanto, não se ouviu um alerta sequer — nem da empresa, nem das autoridades municipais, estaduais e federais — para que a população ribeirinha se mantenha distante da lama que cobre as margens do rio do Carmo e, agora, do rio Doce. O governo de Minas fez uma única análise sobre a óbvia turbidez da água. O serviço de água e esgoto de Governador Valadares fez uma análise incompleta por não dispor do equipamento necessário. Ou seja, ou o Estado brasileiro dá cobertura às mineradoras, ou é incompetente/desaparelhado para lidar com elas. Provavelmente os dois.
3. A Samarco prometeu “monitorar as águas” dos rios e as autoridades e jornalistas levaram isso a sério. Como se a raposa tivesse credibilidade para monitorar o galinheiro. É a naturalização de um Estado dependente da iniciativa privada para “defender” o interesse público. Ou de um Estado capturado pelo poder econômico. Escolham. Notem como prefeitos e autoridades em geral pedem ajuda diretamente à Vale ou à Samarco. Praticamente imploram por água potável, por exemplo. Mas onde estão os planos de emergência que deveriam existir em função de barragens que acumulavam 62 milhões de metros cúbicos de lama e água?
4. A Assembleia Legislativa de Minas finalmente aprovou uma comissão para investigar as mineradoras no Estado, o que os tucanos haviam barrado durante o governo Anastasia. Porém, a comissão inclui deputados que receberam R$ 587 mil em doações de mineradoras! É a desmoralização completa e absoluta… Enquanto pagam a políticos por dentro e por fora, as mineradoras deixam uma fração minúscula de seus lucros nas comunidades locais — 0,7% no caso de Mariana, em 2014. O grosso do lucro vai para acionistas estrangeiros, que não têm qualquer relação com Mariana, Minas Gerais e o Brasil e não vão arcar com os custos ambientais presentes ou futuros deixados pela mineração.
entreguista
5. Fernando Henrique Cardoso é o político que vendeu a Vale, patrimônio do povo brasileiro, a preço de banana. Um crime, entre outros motivos por não incluir no preço as reservas minerais que já haviam sido descobertas! Infelizmente, a lógica de submeter o Estado aos interesses privados, que ele aperfeiçoou ao exercer o poder, continuou vigorando, inclusive em empresas supostamente “estatais” como a Petrobras, Cemig, Sabesp, Sanepar e muitas outras… O lucro é sempre privado, os prejuízos são sempre públicos.

Fonte: VIOMUNDO
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