Depois de justa homenagem aos mortos em Paris, tuiteiras pedem que autoridades brasileiras façam o mesmo em relação à tragédia de Mariana
publicado em 15 de novembro de 2015 às 11:09
Fotos: Antônio Cruz/Agência Brasil
DUAS FACES HORRENDAS PREGADAS NO MESMO ROSTO HOSTIL
por Fernando Coelho, no Facebook
Minas e Paris têm a mesma grandeza trágica. Mas perpetuam significados diferentes na explosão das duas barbáries. Uma, a francesa, de conveniência política, gFonte: VIOMUNDOFonte: VIOMUNDOeopolítica, internacional. A nossa, travada nos interesse econômicos, no envolvimento do próprio Governo, bancos, investidores de outros países. Constitui-se em nossa irrevogável prisão.
Os assassinos de Paris, infernais, mostram a cara, assumem suas misérias contra o mundo. Os assassinos da calamidade brasileira se escondem em desculpas, maquinações pestilentas do subjugo do nosso desenvolvimento.
Os assassinos endemoniados do Estado Islâmico têm origem religiosa nos equívocos do fundamentalismo. Os assassinos brasileiros alimentam-se de outro tipo de covardia, o assédio moral e financeiro a comunidades, inocentes trabalhadores rurais, com a conivência de políticos e da própria burguesia reinante neste emaranhado de golpes contra o humilhado povo brasileiro.
Não haverá sublevação brasileira. A mão de ferro dos ladrões dos nossos bens é mais pesada. Portanto, não se enganem, porque haverá hierarquização da Imprensa brasileira no tratamento dos dois infelizes e monstruosos fatos. A Imprensa nacional vive de favores, donativos, vendas, negociatas dos seus espaços, cujos lucros e valores estão alijados dos envelopes de pagamentos de nós, jornalistas intimidados.
A Imprensa tupiniquim vai privilegiar a tragédia francesa, porque vai parecer constante, presente, competente e não corre risco financeiro. A ocupação da lama no território mineiro, com a explosão não acidental da barragem em Mariana, por questões de contabilidade dos donos da Imprensa, vai submergir a outro tipo de lama: o volume do capital que os anunciantes, os da Vale e os seus sócios, derramam no caixa das famílias donas da comunicação nacional.
O Jornal Nacional deu o tom. Boba, Dilma quer que sejamos todos franceses, porque o Governo está omisso e tem interesses na Vale-Samarco. Então, que os olhos e a informação verdadeira sejam desviados daqui. Portanto, nós vamos chorar por nós mesmos. Nós temos que resolver o nosso problema de autorrespeito porque ninguém será por nós. Minas é o maior desastre socioambiental de todos os tempos.
Mostra claramente que somos um povo sem dignidade, sem eira nem beira, sem destino. E com a honra da sobrevivência maculada por causa do cinismo de suas autoridades ineficientes e aproveitadoras. Não adianta choro nem vela. Minas será esquecida pela Imprensa, pelo Palácio do Planalto, pela delicadeza.
Não posso dizer, e nunca o faria, que não sou a França. Sou, sim. Mas sou integralmente Minas Gerais. Por Minas, poeta raquítico, pego em armas. É o que devemos fazer agora, enquanto estamos respirando. E só.
Fonte: VIOMUNDO
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Globo protege a Vale e a Samarco
publicado
16/11/2015
E o FHC da Lava Jato...
Como lembra o documento do PT, que fez graves acusações ao Ministro (sic) Gilmar e ao juiz "não vem ao caso" e eles engoliram em seco, a Globo impediu os editores de associar o Príncipe da Privataria à Lava Jato.Agora se vê que a proteção chega à Vale, dona da Samarco.
Ah, se a Vale fosse estatal, e não tivesse sido vendida a preço de banana pelo Príncipe, a pedido do Cerra.
Essa proteção teria sido soterrada na lama...
Do Twitter do Ricky Silva:
Equipe da Globo corta entrevista quando nota que entrevistado está denunciando Samarco/em Mariana (MG)
Fonte: CONVERSA AFIADA
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MST e MAB ocupam sede da Samarco em Belo Horizonte
"Cobramos ainda a garantia da participação
dos envolvidos em todas as etapas, que eles participem de todas as
equipes técnicas de assistência!", reforça coordenador dos Atingidos por
Barragens.
Em Belo Horizonte (MG)
Em
um mesmo prédio na Savassi, na zona sul de Belo Horizonte (MG), estão
os escritórios da Samarco, da Vale e da Associação Brasileira de
Metalurgia, Materiais e Mineração. Na frente do edifício, cerca de 450
militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de várias regiões do estado,
fazem um ato na tarde desta sexta-feira (13), cobrando a
responsabilidade das empresas na tragédia de Mariana.
Segundo Mateus Alves, da coordenação estadual do MAB, os manifestantes exigem se reunir com representantes das mineradoras para apresentar uma pauta de reivindicação. "São três pontos principais. Primeiro, exigimos um plano emergencial de atendimento às famílias, que inclui o pagamento de um salário mínimo por pessoa, moradia adequada e cesta básica. O segundo ponto é em relação a um plano de recuperação de toda a bacia do Vale do Rio Doce - que enfrenta um caos - e a realização de um amplo diagnóstico, que seja participativo, para dimensionar os danos reais", afirma.
Segundo Alves, o terceiro ponto contempla o pedido de instalação de uma mesa negociação com representantes do MAB, da Arquidiocese de Mariana, dos governos e empresas para fazer um acompanhamento de todo o processo daqui pra frente. "Cobramos ainda a garantia da participação dos envolvidos em todas as etapas, que eles participem de todas as equipes técnicas de assistência!", reforça.
Uma delegação foi recebida por uma das diretoras da Vale, que recebeu a pauta e se comprometeu a reunir novamente com eles numa audiência na quarta-feira, em Mariana.
Fonte: BRASIL DE FATO
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Fonte: BOL
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Por Reinaldo Canto –
O rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco, em Mariana (MG) é mais um entre muitos exemplos de desleixo e falta de responsabilidade que congrega e une todos os setores diretamente e indiretamente envolvidos com a fiscalização e o sempre demonizado licenciamento ambiental.
A destruição ainda está longe de conseguir ser devidamente contabilizada, pois o movimento da onda de rejeitos continua a espalhar seu legado de terror sepultando em seu caminho onde antes existia vida, rios, plantas, animais, cidades e pessoas. As próprias autoridades já decretaram a morte de Bento Rodrigues, pois o distrito de Mariana não deverá ser uma localidade habitável tão cedo. Faltam ainda também descobrir os danos que serão causados na passagem dessa lama pelo estado do Espírito Santo.
A multa de R$ 250 milhões aplicada recentemente pelo Governo Federal à Samarco representa apenas um pequeno paliativo quando o que deveria ter sido feito é trabalhar a prevenção evitando o caos e não a remediação caso dessa multa e, com certeza, das muitas declarações indignadas já divulgadas e as outras mais que certamente ainda virão. Atividades suspensas, novas multas e até mesmo o encerramento dos trabalhos realizados nessa planta mineradora são esperados, mas nem de longe vão compensar o absurdo desse acontecimento.
E como neste nosso Brasil varonil, desgraça pouca é bobagem, o que, no mínimo deveria servir como alerta para evitar novos casos semelhantes, eis que o nosso Congresso Nacional, aquele já devidamente identificado como o mais reacionário desde os tempos da ditadura, está a discutir o afrouxamento das leis que tratam exatamente dos riscos ambientais de grandes obras.
Em recente artigo, Mauricio Guetta, advogado e assessor do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), apontou que entre outros, tramita um projeto de Lei, o de número 654/2015, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), criando um “diminuto rito de licenciamento ambiental” para os empreendimentos de infraestrutura “estratégicos para o interesse nacional”, tais como, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e de energia ou quaisquer outros destinados à exploração de recursos naturais. Para o advogado do ISA, isso significa, simplesmente que “as obras com maior potencial de causar significativos danos socioambientais seriam justamente às que seriam contempladas com menores controles e prevenção”.
Poderia e deveria ser uma brincadeira de mau gosto, mas com certeza não é! Até porque historicamente, quaisquer medidas compensatórias ou preventivas sempre foram consideradas empecilhos ao desenvolvimento. Mesmo que a realidade se imponha, a ganância ainda consegue prevalecer em detrimento do futuro.
O circo de horrores provocado pela lama da Samarco está longe de cumprir seu roteiro destruidor. Mas, pelo que podemos vislumbrar ao cessar esse espetáculo nefasto, nossas autoridades certamente irão nos contemplar com novos capítulos, já que para isso já vimos que empenho não deverá faltar.
O que poderíamos tentar, ao menos, é usar as expressões mais próximas da realidade, como por exemplo, substituindo licenciamento ambiental, simplesmente por “licenciamento responsável e sustentável para o futuro de todos” e nomear corretamente uma tragédia como tal e não como ambiental. Basicamente, porque para muitos, a tragédia ambiental ainda soa como algo distante da vida das pessoas, o que demonstra cabalmente a sua inverdade no caso da Samarco.
Tragédias que matam pessoas, destroem casas, sepultam rios e consomem florestas são tragédias, simples e tragicamente assim! (#Envolverde)
* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.
Fonte: ENVOLVERDE
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A apresentadora de telejornal da TV Globo, Sandra Anenberg se desmanchou em lágrimas, ao vivo, ao noticiar os ataques em Paris.
A indignação tomou conta dos jornalistas e comentaristas de Globo, por conta dos mortos da França.
Indignação justa, porém seletiva, já que o maior desastre ambiental da história do Brasil, como um número de mortos que cresce a cada dia, não merece lágrimas ou comentários indignados.
Nem mesmo uma análise jornalística sobre as responsabilidade das empresas responsáveis pela tragédia de Mariana é possível ser ver no jornalismo indignado e emotivo com a tragédia francesa.
Para a velha mídia brasileira e seu jornalismo de defesa das corporações, os mortos de Mariana, diferentemente dos mortos de Paris, não tem rostos nem histórias de vida, e a natureza devastada não significa um atentado contra valores universais da humanidade.
A cidade que pode sumir do mapa, fruto do lucro e ganância extremas, não é citada na velha mídia como um ataque aos valores democráticos e civilizados.
A intolerância do capital em relação a vida das pessoas, o que também é uma expressão fundamentalista, é exaltada na velha mídia como a vitoriosa economia de mercado , tão odiada pelos fundamentalistas que mataram centenas de pessoas em Paris e fizeram com que os jornalistas de globo se desmanchassem em lágrimas.
Um modelo econômico mundial que despreza todas as formas de vida é o outro lado da mesma moeda em que terroristas fanáticos matam centenas de pessoas inocentes.
As lágrimas dos jornalistas da velha mídia estão cheias de lama, assim como o próprio jornalismo.
13/11/2015
Da Redação,Em Belo Horizonte (MG)
Ato em BH | Foto: Reprodução/MAB |
Segundo Mateus Alves, da coordenação estadual do MAB, os manifestantes exigem se reunir com representantes das mineradoras para apresentar uma pauta de reivindicação. "São três pontos principais. Primeiro, exigimos um plano emergencial de atendimento às famílias, que inclui o pagamento de um salário mínimo por pessoa, moradia adequada e cesta básica. O segundo ponto é em relação a um plano de recuperação de toda a bacia do Vale do Rio Doce - que enfrenta um caos - e a realização de um amplo diagnóstico, que seja participativo, para dimensionar os danos reais", afirma.
Segundo Alves, o terceiro ponto contempla o pedido de instalação de uma mesa negociação com representantes do MAB, da Arquidiocese de Mariana, dos governos e empresas para fazer um acompanhamento de todo o processo daqui pra frente. "Cobramos ainda a garantia da participação dos envolvidos em todas as etapas, que eles participem de todas as equipes técnicas de assistência!", reforça.
Uma delegação foi recebida por uma das diretoras da Vale, que recebeu a pauta e se comprometeu a reunir novamente com eles numa audiência na quarta-feira, em Mariana.
Fonte: BRASIL DE FATO
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Índios fecham ferrovia da Vale em MG em protesto contra 'morte de rio sagrado'
Luis Kawaguti e Ricardo Senra
Com o corpo pintado para a guerra, tinta preta no rosto e olhos
vermelhos de noites mal dormidas, Geovani Krenak, líder da tribo
indígena Krenak, mira a imensidão de água turva e marrom.
"Com a gente não tem isso de nós, o rio, as árvores, os bichos. Somos um só, a gente e a natureza, um só", diz. Ele respira fundo, e continua: "Morre rio, morremos todos".
Parte dos 800 km de extensão do rio Doce, contaminado pela lama espessa que escoa há 10 dias de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, em MG, atravessa a reserva da tribo. Tida como sagrada há gerações, toda a água utilizada por 350 índios para consumo, banho e limpeza vinha dali. Não mais.
Sem água há mais de uma semana, sujos e com sede, eles decidiram interromper em protesto a Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale, controladora da Samarco e da ferrovia, transporta seus minérios para exportação.
"Só saímos quando tiverem a dignidade de conversar com a gente. Destruíram nossa vida, arrasaram nossa cultura, e nos ignoram. Não aceitamos", anuncia o índio Aiá Krenak à BBC Brasil.
Procurada, a Vale informa que "continua, com apoio da Funai, as tentativas de negociação com o Povo Indígena Krenak para liberação da ferrovia".
"Cabe ressaltar que a Vale, como acionista da Samarco juntamente com a BHP Billiton, tem atuado ativamente nas ações para atendimento às famílias afetadas pelo acidente do dia 5 de novembro e reitera seu compromisso em se relacionar com o Povo Krenak de modo transparente e participativo, mantendo uma relação construtiva, respeitando suas características próprias e a legislação vigente", disse a empresa por meio de nota.
A empresa afirma que a interdição está impedindo o transporte de água para as comunidades da região do Rio Doce. "Atualmente, cerca de 360 mil litros de água, sendo 60 mil litros de água mineral e 300 mil litros de água potável, provenientes de Vitória (ES), estão nos trens aguardando a liberação da ferrovia para distribuição", diz a Vale no comunicado.
"A empresa repudia quaisquer manifestações violentas que coloquem em risco seus empregados, passageiros, suas operações e que firam o Estado Democrático de Direito e ratifica que obstruir ferrovia é crime."
Sentados ao longo dos trilhos enferrujados, sob o sol de 41 graus, os índios cantam uma música de compasso lento, marcado pelas batidas de cajados de madeira no chão, tudo no idioma krenak. De cocar amarelo, apoiado por um tronco de madeira, o pajé, homem mais velho das redondezas, chora. Ernani Krenak, 105 anos de idade, se aproxima e traduz a canção para a reportagem da BBC Brasil.
"O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo rio que nos alimenta e banha. O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo nosso rio, pelo rio de todos."
Sua irmã pede a palavra. Dejanira Krenak, de 65 anos, quer lembrar que o sofrimento não é só dos índios. "Não é 'só nós', os brancos que moram também na beira do rio precisam muito dessa água, eles convivem com essa água, muitos pescadores tratam a família com os peixes, diz.
Atrás dos dois, uma índia molha os rostos suados das duas filhas pequenas com uma cuia mal cheia de água de um galão doado por moradores de cidades vizinhas, como Conselheiro Pena e Resplendor.
Segundo os índios, crianças e idosos têm prioridade na distribuição da pouca água limpa estocada.
A família está acampada sob lonas pretas na margem da ferrovia, onde também se espalham barracas de camping e colchões ao relento. Ali, homens e mulheres fumam longos cachimbos, enquanto acendem pequenas fogueiras para aquecer o jantar coletivo.
À BBC Brasil, o professor de recursos hídricos Alexandre Sylvio Vieira da Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, disse que o rio precisará de pelo menos 10 anos para "começar a se estabelecer novamente". "Todas as plantas aquáticas que dão base ao ciclo biológico do rio morreram com a chegada esse rejeito, composto basicamente de ferro, alumínio e manganês. A água fica mais densa e o oxigênio não consegue se misturar", explicou Costa. "Por isso não sobrou nada. Nem caramujo."
Além do prejuízo na fauna e na flora, sete mortes foram registradas até este domingo. Dez dias após o acidente, pelo menos 18 pessoas ainda estão desaparecidas.
A tragédia ambiental é resultado do rompimento das barragens de Fundão e Santarém, em Mariana, a cerca de 100 km de Belo Horizonte.
As barragens represavam rejeitos de mineração - resíduos, impurezas e material usado para a limpeza de minérios - da Samarco, empresa controlada pela mineradora brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP.
A presidente Dilma Rousseff visitou o local na semana passada e anunciou cobrança de multa de R$ 250 milhões à Samarco.
"Nunca foi assim", diz o índio Geovani Krenak, enquanto a dupla de repórteres gesticula para afastar a nuvem de insetos. "Esses mosquitos vieram com essa água podre, com os peixes que nos alimentavam e agora estão descendo o rio mortos."
A 500 metros dali, dezenas de vagões, carregados de toneladas de minério de ferro que seguiriam para portos no Espírito Santo, estão parados na ferrovia.
A estrada de ferro também tem intenso movimento de passageiros - quem tinha bilhetes de viagem foi orientado a remarcar suas passagens ou aguardar reembolso após 30 dias.
À BBC Brasil, os índios informaram que foram notificados por uma decisão judicial que determina que eles deixem o local em até cinco dias - o prazo expira na próxima terça-feira.
Eles prometem continuar lá - a menos, dizem, que representantes da Vale apareçam para discutir com eles a recuperação do rio sagrado e um esquema de fornecimento de água por caminhões pipa.
Luis Kawaguti e Ricardo Senra
Enviados especiais da BBC Brasil a Conselheiro Pena (MG)
- BBCSem água há mais de uma semana, índios decidiram interromper ferrovia em protesto
"Com a gente não tem isso de nós, o rio, as árvores, os bichos. Somos um só, a gente e a natureza, um só", diz. Ele respira fundo, e continua: "Morre rio, morremos todos".
Parte dos 800 km de extensão do rio Doce, contaminado pela lama espessa que escoa há 10 dias de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, em MG, atravessa a reserva da tribo. Tida como sagrada há gerações, toda a água utilizada por 350 índios para consumo, banho e limpeza vinha dali. Não mais.
Sem água há mais de uma semana, sujos e com sede, eles decidiram interromper em protesto a Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale, controladora da Samarco e da ferrovia, transporta seus minérios para exportação.
"Só saímos quando tiverem a dignidade de conversar com a gente. Destruíram nossa vida, arrasaram nossa cultura, e nos ignoram. Não aceitamos", anuncia o índio Aiá Krenak à BBC Brasil.
Procurada, a Vale informa que "continua, com apoio da Funai, as tentativas de negociação com o Povo Indígena Krenak para liberação da ferrovia".
"Cabe ressaltar que a Vale, como acionista da Samarco juntamente com a BHP Billiton, tem atuado ativamente nas ações para atendimento às famílias afetadas pelo acidente do dia 5 de novembro e reitera seu compromisso em se relacionar com o Povo Krenak de modo transparente e participativo, mantendo uma relação construtiva, respeitando suas características próprias e a legislação vigente", disse a empresa por meio de nota.
A empresa afirma que a interdição está impedindo o transporte de água para as comunidades da região do Rio Doce. "Atualmente, cerca de 360 mil litros de água, sendo 60 mil litros de água mineral e 300 mil litros de água potável, provenientes de Vitória (ES), estão nos trens aguardando a liberação da ferrovia para distribuição", diz a Vale no comunicado.
"A empresa repudia quaisquer manifestações violentas que coloquem em risco seus empregados, passageiros, suas operações e que firam o Estado Democrático de Direito e ratifica que obstruir ferrovia é crime."
41 graus, sem água
BBCSentados ao longo dos trilhos enferrujados, sob o sol de 41 graus, os índios cantam uma música de compasso lento, marcado pelas batidas de cajados de madeira no chão, tudo no idioma krenak. De cocar amarelo, apoiado por um tronco de madeira, o pajé, homem mais velho das redondezas, chora. Ernani Krenak, 105 anos de idade, se aproxima e traduz a canção para a reportagem da BBC Brasil.
"O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo rio que nos alimenta e banha. O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo nosso rio, pelo rio de todos."
Sua irmã pede a palavra. Dejanira Krenak, de 65 anos, quer lembrar que o sofrimento não é só dos índios. "Não é 'só nós', os brancos que moram também na beira do rio precisam muito dessa água, eles convivem com essa água, muitos pescadores tratam a família com os peixes, diz.
Atrás dos dois, uma índia molha os rostos suados das duas filhas pequenas com uma cuia mal cheia de água de um galão doado por moradores de cidades vizinhas, como Conselheiro Pena e Resplendor.
Segundo os índios, crianças e idosos têm prioridade na distribuição da pouca água limpa estocada.
A família está acampada sob lonas pretas na margem da ferrovia, onde também se espalham barracas de camping e colchões ao relento. Ali, homens e mulheres fumam longos cachimbos, enquanto acendem pequenas fogueiras para aquecer o jantar coletivo.
Rio morto
BBCÀ BBC Brasil, o professor de recursos hídricos Alexandre Sylvio Vieira da Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, disse que o rio precisará de pelo menos 10 anos para "começar a se estabelecer novamente". "Todas as plantas aquáticas que dão base ao ciclo biológico do rio morreram com a chegada esse rejeito, composto basicamente de ferro, alumínio e manganês. A água fica mais densa e o oxigênio não consegue se misturar", explicou Costa. "Por isso não sobrou nada. Nem caramujo."
Além do prejuízo na fauna e na flora, sete mortes foram registradas até este domingo. Dez dias após o acidente, pelo menos 18 pessoas ainda estão desaparecidas.
A tragédia ambiental é resultado do rompimento das barragens de Fundão e Santarém, em Mariana, a cerca de 100 km de Belo Horizonte.
As barragens represavam rejeitos de mineração - resíduos, impurezas e material usado para a limpeza de minérios - da Samarco, empresa controlada pela mineradora brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP.
A presidente Dilma Rousseff visitou o local na semana passada e anunciou cobrança de multa de R$ 250 milhões à Samarco.
Decisão judicial
A noite cai, e a quantidade de mosquitos é insuportável."Nunca foi assim", diz o índio Geovani Krenak, enquanto a dupla de repórteres gesticula para afastar a nuvem de insetos. "Esses mosquitos vieram com essa água podre, com os peixes que nos alimentavam e agora estão descendo o rio mortos."
A 500 metros dali, dezenas de vagões, carregados de toneladas de minério de ferro que seguiriam para portos no Espírito Santo, estão parados na ferrovia.
A estrada de ferro também tem intenso movimento de passageiros - quem tinha bilhetes de viagem foi orientado a remarcar suas passagens ou aguardar reembolso após 30 dias.
À BBC Brasil, os índios informaram que foram notificados por uma decisão judicial que determina que eles deixem o local em até cinco dias - o prazo expira na próxima terça-feira.
Eles prometem continuar lá - a menos, dizem, que representantes da Vale apareçam para discutir com eles a recuperação do rio sagrado e um esquema de fornecimento de água por caminhões pipa.
Fonte: BOL
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Mariana: essa não é uma tragédia ambiental
O que aconteceu em Mariana é uma catástrofe para as vítimas, para a região, para o país e para o mundo. É uma tragédia e ponto!Por Reinaldo Canto –
O rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco, em Mariana (MG) é mais um entre muitos exemplos de desleixo e falta de responsabilidade que congrega e une todos os setores diretamente e indiretamente envolvidos com a fiscalização e o sempre demonizado licenciamento ambiental.
A destruição ainda está longe de conseguir ser devidamente contabilizada, pois o movimento da onda de rejeitos continua a espalhar seu legado de terror sepultando em seu caminho onde antes existia vida, rios, plantas, animais, cidades e pessoas. As próprias autoridades já decretaram a morte de Bento Rodrigues, pois o distrito de Mariana não deverá ser uma localidade habitável tão cedo. Faltam ainda também descobrir os danos que serão causados na passagem dessa lama pelo estado do Espírito Santo.
A multa de R$ 250 milhões aplicada recentemente pelo Governo Federal à Samarco representa apenas um pequeno paliativo quando o que deveria ter sido feito é trabalhar a prevenção evitando o caos e não a remediação caso dessa multa e, com certeza, das muitas declarações indignadas já divulgadas e as outras mais que certamente ainda virão. Atividades suspensas, novas multas e até mesmo o encerramento dos trabalhos realizados nessa planta mineradora são esperados, mas nem de longe vão compensar o absurdo desse acontecimento.
E como neste nosso Brasil varonil, desgraça pouca é bobagem, o que, no mínimo deveria servir como alerta para evitar novos casos semelhantes, eis que o nosso Congresso Nacional, aquele já devidamente identificado como o mais reacionário desde os tempos da ditadura, está a discutir o afrouxamento das leis que tratam exatamente dos riscos ambientais de grandes obras.
Em recente artigo, Mauricio Guetta, advogado e assessor do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), apontou que entre outros, tramita um projeto de Lei, o de número 654/2015, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), criando um “diminuto rito de licenciamento ambiental” para os empreendimentos de infraestrutura “estratégicos para o interesse nacional”, tais como, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e de energia ou quaisquer outros destinados à exploração de recursos naturais. Para o advogado do ISA, isso significa, simplesmente que “as obras com maior potencial de causar significativos danos socioambientais seriam justamente às que seriam contempladas com menores controles e prevenção”.
Poderia e deveria ser uma brincadeira de mau gosto, mas com certeza não é! Até porque historicamente, quaisquer medidas compensatórias ou preventivas sempre foram consideradas empecilhos ao desenvolvimento. Mesmo que a realidade se imponha, a ganância ainda consegue prevalecer em detrimento do futuro.
O circo de horrores provocado pela lama da Samarco está longe de cumprir seu roteiro destruidor. Mas, pelo que podemos vislumbrar ao cessar esse espetáculo nefasto, nossas autoridades certamente irão nos contemplar com novos capítulos, já que para isso já vimos que empenho não deverá faltar.
O que poderíamos tentar, ao menos, é usar as expressões mais próximas da realidade, como por exemplo, substituindo licenciamento ambiental, simplesmente por “licenciamento responsável e sustentável para o futuro de todos” e nomear corretamente uma tragédia como tal e não como ambiental. Basicamente, porque para muitos, a tragédia ambiental ainda soa como algo distante da vida das pessoas, o que demonstra cabalmente a sua inverdade no caso da Samarco.
Tragédias que matam pessoas, destroem casas, sepultam rios e consomem florestas são tragédias, simples e tragicamente assim! (#Envolverde)
* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.
Fonte: ENVOLVERDE
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Entre o luto e a saudade: um panorama do maior desastre ambiental do Brasil
Entenda as consequências da enxurrada de lama de rejeite da mineração.
16/11/2015
Por Caio Santos, para os Jornalistas Livres
Foto: Douglas Resende e Rafael Lage |
Quem
chega em Gesteira, distrito rural no município de Barra Longa, MG,
nunca vai imaginar que antes passava um córrego com água cristalina e
havia um campo verde amplo na frente, onde bois e cavalos pastavam.
Porque quem chegar hoje em Gesteira não verá um pasto, nem um animal ou
um riacho. Verá apenas uma gigantesca lagoa de barro escuro onde antes
era um vale. Os moradores descrevem para mim, entre o luto e a saudade, a
paisagem onde cresceram e que, provavelmente, nunca mais verão na vida.
“Antes esta paisagem daqui era tudo verdinho com uma pastagem e tinha um rio com água clarinha. Acabou tudo.” — diz Claudiano da Costa, morador de Gesteira.
Mais
de dez dias após a queda das barragens da mineradora Samarco, ainda se
desconhece todas as extensões do impacto ecológico liberado na forma de
62 milhões de litros de lama residual da mineração. O barro de rejeitos
saiu de Bento Rodrigues, na cidade histórica de Mariana, em Minas, e
ainda percorrerá mais de 850 km até chegar ao mar, deixando um rastro de
destruição à fauna, à flora e às comunidades que estiverem em seu
caminho. Só é preciso observar a área destruída — seja do leito do rio,
seja do espaço — para compreender que é um dos maiores desastres
ambientais na história do Brasil.
No
entanto, ainda há muitas perguntas buscando entender como esta tsunami
de lama afetou todo um ecossistema. Aqui está um panorama do que já
sabemos.
Lama Tóxica?
Para
ter compreensão do impacto é preciso primeiro entender qual é o
conteúdo da enxurrada de lama que vêm das minas. Segundo a mineradora
Samarco, as barragens apenas continham rejeitos de minério de ferro e
manganês, misturados basicamente com água e areia. A empresa insiste que
o material é inerte, não causando danos ao ambiente ou à saúde. No
entanto, análises do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo
Guandu, ES, mostram a presença de diversos metais pesados na água do Rio Doce, como arsênio, mercúrio e chumbo.
Foto: Douglas Resende e Rafael Lage |
Estes
elementos são extremamente tóxicos ao ambiente e à saúde humana, sendo
absorvidos nos corpos dos diferentes organismos e dificilmente
eliminados. Normalmente, eles acumulam nos tecidos de seres vivos e, com
o tempo, na própria cadeia alimentar. Ao ingerir a carne ou folhas
contaminadas, o metal pesado não é processado, envenenando o bicho ou
pessoa que consumiu a comida intoxicada. Com o tempo, os metais pesados
podem gerar problemas sérios à saúde, como câncer, úlceras e danos neurológicos.
Na
tarde de sábado, 14/11, o governador de Minas Gerais, Fernando
Pimentel, apresentou um laudo da Companhia de Saneamento de Minas Gerais
(Copasa) negando a existência de metais pesados na água e contrariando os laudos de Baixo Guandu.
Nesta quinta-feira, 12/11, uma equipe de pesquisadores da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) também foi coletar amostras da lama e da
água no Rio Doce para apurar o grau da devastação e verificar, entre
outros aspectos, a presença de metais pesados. Ainda resta esperar os
resultados da investigação dos cientistas mineiros, que devem chegar no
decorrer da semana.
O Fim da Vegetação
No entanto, mesmo sem arsênio e mercúrio e ao contrário do que a mineradora sugere, a lama está longe de ser inofensiva.
Apesar da presença do ferro e manganês não significar um perigo à
saúde, estes elementos causam consequências profundas à terra.
Foto: Augusto Gomes/ Andirá Imagens |
“O
ferro (e o manganês) tem uma facilidade muito grande de reação, sendo
um ligante por sua própria natureza. No caso, essa lama vai formar uma
capa muito dura devido à presença do ferro. A tendência é fazer uma
ligação muito forte e ficar sobre a superfície formando uma crosta” —
diz a professora do Instituto de Geociências da UFMG e especialista em
geologia ambiental, Leila Menegasse. Segundo ela, esta cobertura poderá
impedir a infiltração da água e também cobrirá a própria vegetação, tornando o ambiente estéril.
“As
raízes ficam soterradas, desaparece a possibilidade da fotossíntese
porque a água fica muito turva e as folhas ficam todas fechadas pela
deposição de materiais. As plantas que entrarem em contato com essa lama
certamente irão morrer” acrescenta o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Francisco Barbosa.
Rio Doce Morto
Quem
se aproximar do Rio Doce, seja em Minas seja no Espírito Santo, verá
ele amarronzado, escuro e com diversos detritos boiando. Essa imagem não
é apenas feia e desagradável, ela também é extremamente danosa à vida
aquática. Esse barro, mesmo diluído, torna á água turva e barra a
passagem de raios solares, escurecendo o rio e impedindo que algas façam
fotossíntese. O baixo nível de oxigênio na água é insustentável para os
animais, fazendo com que, em um ato de desespero, muitos peixes simplesmente pulem fora d’água.
Se
em cima cadáveres boiam, embaixo o rio encolhe. “Toda essa área que
recebeu uma carga de segmentos irá sofrer um processo de deposição de
material no fundo do rio. Isto vai aumentar a altura da calha e, a
grosso modo, vai entupir o rio” explica o coordenador do Centro de
Pesquisas Hidráulicas, Carlos Barreira Martinez. O processo é
intensificado pela destruição da mata auxiliar, ainda existindo a
possibilidade de a lama cobrir as nascentes, diminuindo
consideravelmente o volume da água. Este perda não significa apenas
menos água, mas compromete sua qualidade e a torna imprópria para o uso.
Os
mananciais oriundos do Rio Doce são usados para abastecer diversas
comunidades rurais, seja para o uso pessoal, seja para irrigação de
plantações ou consumo pelo gado. Essas comunidades rurais serão
profundamente afetadas e não poderão recorrer ao rio mais. Mesmo
considerando apenas a população urbana, a
enxurrada de lama passa por, no mínimo, 23 cidades de Minas Gerais e do
Espírito Santo, o que representa meio milhão de pessoas com a torneira
seca.
Milhares de pessoas sem água
A
cidade mais afetada pelos rejeitos da Samarco é também a maior da bacia
do Rio Doce: Governador Valadares, MG, com 280 mil habitantes. Mesmo a
300 km de Mariana, sua SAAE, em laudo preliminar da água, encontrou um
nível de turbidez oitenta vezes maior do que o tolerável, além de níveis
de ferro que chegaram a superar treze mil vezes o tratável. Esta
condição insalubre do rio fez com que o abastecimento de água fosse cortado no domingo, 08/11. Dois dias após a interrupção, a prefeita Elisa Costa declarou estado de calamidade pública.
“Todo o dia esse caos. Todo dia gente transportando água. Todo mundo carregando água como pode”
descreve de Marcos Renato, habitante da cidade. Em longas filas, a população gasta horas em pontos de distribuição de água, sofrendo, além da seca e da sede, das altas temperaturas. “Estamos atendendo normalmente nas unidades de saúde e nos preparando para possíveis doenças que venham a surgir pela falta de água e pelo uso da água contaminada. Enfim, a situação aqui não está nada fácil” comenta Flávia França, médica local e membro da Rede de Médicas e Médicos Populares.
Segundo
a prefeitura do município, as companhias Samarco e Vale fizeram pouco
ou mal esforços para ajudar a população. Na sexta-feira, 13/11, em nota
ela comunicou que a mineradora só tinha aceitado pagar os caminhões
pipa. Mais tarde do dia, a primeira remessa de água, com 280 mil litros,
estava contaminada com querosene, não servindo para consumo. A
situação só começou a melhorar no sábado, quando o governador de Minas,
Fernando Pimentel, anunciou o uso de um coagulante que permitirá o
tratamento da água. A substância facilita a separação da lama e da água,
permitindo assim que ela seja filtrada e volte a ser potável. A
expectativa é que o abastecimento na cidade retorne nesta segunda-feira,
dia 16/11.
Um Oceano Inteiro Afetado
É
importante lembrar que o rio não é só água em movimento, mas também
funciona como transporte de nutrientes para o mar, que acabam
sustentando diversos organismos. Coincidentemente, na foz do Rio Doce,
ocorre também o encontro de correntes marinhas do Sul e do Norte,
formando um “rodamoinho” de água de cerca de setenta quilômetros de
diâmetro. Esta área é rica em nutrientes e também reúne espécies
marinhas de todo o mundo. Por isso, segundo o diretor da Estação de
Biologia Marinha Augusto Ruschi, o biólogo e ecólogo André Ruschi, a foz
do Rio Doce se torna uma dos maiores pontos de desova de peixes
marinhos do mundo.
“É o maior criadouro do Oceano Atlântico. Todos os grandes peixes do Oceano, do hemisfério sul e norte, vêm para lá se reproduzir,
sendo um fenômeno impar. É uma das regiões marinhas mais importantes do
planeta e, da costa brasileira, é a mais sensível de todas”. A
chegada de diversos rejeitos da mineração significa um risco para todo o
ecossistema do oceano. Como ainda resta a chance da presença de metais
pesados na lama, há a possibilidade de contaminação da imensa
biodiversidade do local. Todos os seres vivos, desde o minúsculo
plâncton ao gigante marlim, podem acabar envenenados por estes
elementos.
Recuperação?
Restam ainda muitas dúvidas em relação a como e quanto o ambiente será afetado pela lama da Samarco. Mas uma merece destaque: é possível recuperar o estrago? Ainda é muito cedo para afirmar com certeza, porém se estipula que o volume de água do rio talvez será o primeiro a normalizar.
“A
natureza é muito mais forte do que podemos imaginar. Com o passar do
tempo e muito lentamente os rios vão se recuperando. A vida dos
tributários vai voltar a ocupar o rio e ele, em uma ou duas décadas, vai
se recuperar. O que é muito tempo.” afirma o coordenador do Centro
de Pesquisas Hidráulicas, Carlos Barreira Martinez. No entanto, para
que isto ocorra é necessário que a lama se dilua e escorra para outras
áreas, o que só é possível com a ação da chuva. A estiagem que a região
sudeste enfrenta é um agravador deste cenário, atrasando muito uma
possível revitalização do Rio Doce.
Obviamente, a biodiversidade animal e vegetal da região não pode esperar décadas para ver o rio novamente. “O
conjunto de seres vivos vai estar todo ameaçado e vários desses
organismos vão desaparecer, ainda que, vamos esperar, seja localmente.
Eventualmente alguns desses organismos podem ter a chance de voltarem a
colonizar essas áreas. Para que isso aconteça, vai precisar de tempo. No
entanto, outros organismos não vão ter a chance de colonizar porque
requer um tempo muito mais longo para que as cadeias alimentares se
restabeleçam”explica o professor do ICB da UFMG, Francisco Barbosa.
Ele estima que o começo dessa recuperação só irá acontecer em um futuro
distante, precisando de 20 a 30 anos para a maioria dos diversos
processos se sucederem.
Mas, se este
prazo já é muito grande no continente, no oceano, ele é ainda maior. O
especialista em biologia e ecologia marinha, André Ruschi lembra que a
chegada de nutrientes ao oceano depende dos ciclos da maré, definidos
pelos movimentos dos astros, como a lua e o sol: “A cada onze anos, com as enchentes, as cheias carregam grandes quantidades do material do rio para o mar”.
Como a região também é onde ocorre a confluência de espécies e correntes de todo o Oceano Atlântico, sendo uma das áreas de maior biodiversidade no mundo, o impacto, segundo o cientista, representará um atraso de séculos ao ecossistema.
Fonte: BRASIL DE FATO
Foto: Douglas Resende e Rafael Lage
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A apresentadora de telejornal da TV Globo, Sandra Anenberg se desmanchou em lágrimas, ao vivo, ao noticiar os ataques em Paris.
A indignação tomou conta dos jornalistas e comentaristas de Globo, por conta dos mortos da França.
Indignação justa, porém seletiva, já que o maior desastre ambiental da história do Brasil, como um número de mortos que cresce a cada dia, não merece lágrimas ou comentários indignados.
Nem mesmo uma análise jornalística sobre as responsabilidade das empresas responsáveis pela tragédia de Mariana é possível ser ver no jornalismo indignado e emotivo com a tragédia francesa.
Para a velha mídia brasileira e seu jornalismo de defesa das corporações, os mortos de Mariana, diferentemente dos mortos de Paris, não tem rostos nem histórias de vida, e a natureza devastada não significa um atentado contra valores universais da humanidade.
A cidade que pode sumir do mapa, fruto do lucro e ganância extremas, não é citada na velha mídia como um ataque aos valores democráticos e civilizados.
A intolerância do capital em relação a vida das pessoas, o que também é uma expressão fundamentalista, é exaltada na velha mídia como a vitoriosa economia de mercado , tão odiada pelos fundamentalistas que mataram centenas de pessoas em Paris e fizeram com que os jornalistas de globo se desmanchassem em lágrimas.
Um modelo econômico mundial que despreza todas as formas de vida é o outro lado da mesma moeda em que terroristas fanáticos matam centenas de pessoas inocentes.
As lágrimas dos jornalistas da velha mídia estão cheias de lama, assim como o próprio jornalismo.
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