sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Orgânicos e reforma agrária

Feira da Reforma Agrária em SP oferece produtos sem agrotóxico a preços populares
23 outubro, 2015 - 09:44 — Vivian Fernandes


O Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo, segundo o Ministério do Meio Ambiente. A Anvisa aponta que 64% dos alimentos estão contaminados por essas substâncias.

22/10/2015 Do Saúde Popular


Primeira Feira Nacional de Reforma Agrária | Foto: Joka Madruga
Algas marinhas comestíveis produzidas no litoral do Ceará, azeite do coco do babaçu do Maranhão, caldo de tucupi do Pará e sabonetes produzidos com mel de abelha do Sergipe. Esses são somente alguns dos produtos trazidos pelos mais de 500 agricultores, de 23 estados e Distrito Federal, que participam da 1a Feira Nacional da Reforma Agrária, na capital paulista. Além de acessar produtos de todo o país, a feira é uma oportunidade de cuidar da saúde, comprando alimentos sem agrotóxicos e a preços populares. O evento, realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ocorre até domingo (25) no Parque da Água Branca, no bairro Barra Funda.

“São produtos sem nenhuma substância química. A gente quer uma reforma agrária sem agrotóxicos, que as pessoas estejam livres desses venenos”, explicou a educadora do campo Milene Bezerra, 21 anos, enquanto apresentava os itens trazidos de assentamentos do Maranhão. Ela destaca que a decisão de produzir alimentos orgânicos beneficia tanto os trabalhadores, como consumidores. “Se a gente olhar o que está acontecendo com as pessoas que se alimentam com agrotóxico, vemos que a qualidade da saúde das pessoas está prejudicada. Não queremos isso para a gente, nem para quem a gente vende”, acrescentou.

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 64% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos. Em abril deste ano, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) criticou o modo como os agrotóxicos são utilizados no país e recomendou a redução do uso desses produtos. O instituto ressaltou os riscos para a saúde e para a incidência de câncer. Entre os efeitos nocivos à saúde, o instituto apontou infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.

A professora Zélia Matos, 45 anos, decidiu consumir alimentos orgânicos há 5 anos. “Comecei a ver informações sobre isso em revistas, na internet e achei realmente que era um absurdo a gente ficar comendo veneno. A gente pensa que come verdura e é saudável, mas que nada”, declarou. Ela reclama, no entanto, que os preços de produtos com esta marca sejam vendidos por um valor mais alto em mercados convencionais. “Virou uma grande coisa isso de orgânicos. Acho que é só para vender mais. Uma pena. Prefiro comprar direto do produtor, porque além de ajudar, a gente paga menos, com certeza. Uma feira assim na cidade é boa por isso”, avaliou.

Nei Zavaski, do setor de produção do MST, explica que o custo de produção de orgânicos pode ser maior, mas, no geral, os valores se equiparam. “O que se tem é uma apropriação comercial do mercado dos orgânicos. O capitalismo utiliza esse mote, de ser alimento diferenciado, para ter taxa de lucro mais alta”, explicou. Ele destaca que a posição do Movimento é de buscar se relacionar diretamente com o consumidor para que esses alimentos cheguem a valores inclusive abaixo do valor convencional. “Não nos interessa produzir alimento de qualidade, saudável e vender só para a classe dominante, e o conjunto da classe trabalhadora continuar comprando veneno”, disse.

Zavaski destacou ainda que a luta do MST contra os agrotóxicos está relacionada à disputa pelo modelo de agricultura existente hoje. Ele explica que o agronegócio exclui o trabalhador do campo não só pela concentração de terra, mas também pelo modelo tecnológico. “É uma forma de libertar o agricultor também das grandes corporações, porque não é só a tecnologia, ela vem com o veneno, as sementes transgênicas, híbridas, geneticamente modificadas e que só atingem o seu potencial produtivos através dos adubos químicos e dos agrotóxicos”, acrescentou.

Médicos populares participam da Feira da Reforma Agrária
Entendendo que alimentar-se é um ato político e intrínseco à saúde, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares participa, no próximo domingo (25), da Feira Nacional da Reforma Agrária. A médica sanitarista, Ellen Rodrigues, e o médico de família, Thiago Henrique, ambos integrantes da entidade, participam, às 10 horas, do seminário “As conquistas do SUS e seus desafios” para discutir as demandas do sistema público de saúde e os avanços que ainda são necessários para entender a relação da saúde com os alimentos que vão para as mesas dos brasileiros. O debate contará também com a presença do secretário municipal de Saúde de São Paulo, Alexandre Padilha.

Fonte: BRASIL DE FATO
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I Encontro Nacional de Agricultura Urbana: agroecologia e direito à cidade

 Coletivos trocam conhecimento e redes locais produzem alimentos saudáveis: tudo isso sem a cobertura da velha mídia, que finge que não existem. 
Najar Tubino




Rio de Janeiro –Mais de 250 participantes de 20 estados estão presentes no campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro desde ontem – dia 21 – para discutir comida de verdade e qual a cidade que queremos construir. Até sábado, os participantes debaterão as políticas públicas que são necessárias para tirar do limbo uma história que se distribui pelo Brasil, marcando a resistência de comunidades contra a especulação imobiliária, pelo direito de produzir alimentos e remédios naturais em espaços públicos e privados nas cidades brasileiras. Uma feira de saber e sabores dá o colorido especial ao evento. Além disso, seis instalações pedagógicas contam a história de milhares de brasileiros que diariamente são massacrados pelo cotidiano das metrópoles.
Como registra o texto de apresentação do I ENAU:
“-Estas diversas experiências ainda tem em comum o desafio de buscar espaço de reconhecimento e visibilidade nas cidades. Temos observado que os territórios onde se desenvolvem estas práticas, bem como as comunidades que as constituem estão em constante vulnerabilidade, sujeitas à descaracterização e a desapropriações, que enfraquecem os laços culturais e comunitários”.

Ocupe Passarinho contra o despejo de cinco mil famílias
Os exemplos estão por toda parte. A Vila Autódromo no Rio que luta contra o despejo da prefeitura e onde os moradores se organizam entorno de uma horta comunitária. No Recife, conforme relato de Uschi Silva, mestranda em geografia da UFPE, o movimento Ocupe Passarinho continua firme contra o despejo que foi decretado por um juiz de primeira instância no ano passado. São cinco mil famílias – 20 mil pessoas -, que querem o direito à cidade, com moradia digna, lazer, saúde, cultura, conforme relataram os moradores em carta enviada para as diversas secretarias que compõem o aparato estatal em 10 de outubro:
“-Tínhamos um rio que era lugar de lazer, hoje poluído pela falta de um sistema de esgoto. A beira do rio foi ocupada por casas, bares e mercados e a mata está sendo destruída. Estamos no atraso dos serviços públicos de saneamento, coleta de lixo e abastecimento de água. Na educação o sistema de ensino é precário, temos mais de 150 crianças com idade para estar em creche, mas não temos creche. Passarinho não é beneficiado com nenhuma política ou programa para geração de renda, principalmente para mulheres”

Direito à cidade e a comida de verdade
Ocupe Passarinho envolve uma luta da comunidade desde os anos 1980 em uma área de 33 mil hectares, que é reivindicada para uma indústria de pré-moldados. São temas que estarão em discussão até sábado, incluindo oito visitas a experiências de agricultura urbana na região metropolitana do Rio de Janeiro e em Guapimirim, onde a Articulação Nacional de Agroecologia desenvolve um estudo de sistematização das práticas da comunidade do Fojo. Nas nove oficinas que se realizam nesta quinta-feira, dia 22, o impacto econômico e agroecológico nas comunidades com as práticas desenvolvidas pelas comunidades, que vão desde hortas comunitárias, produção de húmus, compostagem, tratamento de lixo orgânico e sistemas agroflorestais, com recuperação da mata atlântica.

O painel da quinta-feira trata do “Direito à cidade e à comida de verdade”, com participação de representantes da Vila Autódromo, depoimentos de experiências de São Paulo e Roraima, além da presidente do CONSEA, Maria Emilia Pacheco, entre outros. Na sexta-feira, o assunto é a política nacional de agricultura urbana, com a discussão do projeto de lei apresentado pelo deputado federal Padre João (PT-MG), e representantes do MDA, MAPA, porém sem a participação do MDS, que até 2012 apoiou as políticas públicas da agricultura urbana.

Discutir a cidade do futuro – sem despejos
A promoção do I ENAU já é uma amostra das transformações que ocorrem no Brasil com o total desconhecimento da mídia tradicional e conservadora. Grupos que se associam, coletivos que intercambiam conhecimento e experiências, redes locais que produzem alimento, dão perspectiva de vida às comunidades abandonadas pelo poder público, mais preocupado em atender os interesses das corporações financeiras e da especulação imobiliária do que no bem- estar da população. O Coletivo Nacional de Agricultura Urbana vem sendo construído há vários anos e finalmente se estruturou em 2014 durante o III Encontro Nacional de Agroecologia em Juazeiro. Também participa a própria ANA, que sempre apoiou as iniciativas das redes, e o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional. Aliás, o tema da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que começa no início de novembro é “comida de verdade no campo e na cidade”.

São propostas simples, como enfatiza Denis Monteiro, baseado na experiência e no dia a dia da população, que deseja comer comida sem veneno, sem transgênicos, quer espaço verde em seus bairros, quer restabelecer os laços comunitários, construir novos entendimentos do que será a cidade no futuro, sem desigualdades, ou pelo menos, sem despejos, sem destruição do pouco que resta de vegetação nos entornos das cidades.

Trabalho coletivo em meio ao tiroteio
Um poeta chamado Luiz, ex-guerrilheiro e ambientalista, fundador da organização Verdejar, que atua há 18 anos no Complexo do Alemão, registrou em um dos seus textos: “a baía que jazia”, ao se referir a Baía de Guanabara. O estado é privilegiado pela geografia, por duas baías hoje completamente poluídas, mas ainda conserva um povo que não esqueceu de suas tradições rurais, ou dos seus antepassados que viviam no campo. A Serra da Misericórdia, que abriga 27 bairros da zona norte do Rio, onde ainda hoje uma pedreira é explodida diariamente para retirar o basalto, que vai compor a brita, que entrará na composição do concreto das obras que já foram da Copa do Mundo e agora são das Olimpíadas. A fonte de nascentes, do último trecho em pé da Mata Atlântica é o palco de utopistas, que assim podem ser chamados, porque trabalham em meio ao tiroteio dos fuzis do tráfico de drogas e da PM carioca.

Marcelle Felippe, da ONG Verdejar é uma dessas pessoas. É responsável pela parte cultural no trabalho no Complexo do Alemão. Está emocionada com o resultado dos 18 anos de trabalho – quase uma geração de crianças do Complexo que passaram pelos quintais, hortas, trilhas, rodas de capoeira e oficinas da Verdejar. Um grupo de moradores, todos jovens, alguns filhos de soldados do tráfico, criou uma produtora de cinema, depois dos estudos promovidos pela Verdejar em oficinas locais. Chama-se “Pega a Visão” e ganhou o primeiro edital do projeto Viva o Cinema, da Rio Filmes. Vão criar um canal online para divulgar o trabalho. As crianças nas comunidades, mesmo aos quatro anos, brincam com as armas da realidade cotidiana, com a violência individualizada, ou até mesmo, da violência patronal alimentada pelo tráfico – “vou falar com o meu pai”, diz um garoto, quando discute com outro colega.

A televisão ignora a realidade
A Verdejar trabalha com tecnologias de baixo custo, garantindo suprimento de água da chuva, aquecedor solar e a produção de húmus, utilizando resíduos da comunidade. Fazem educação ambiental, alimentar, cultural em meio aos AR-15 do tráfico e da PM. E serviu de exemplo para outros grupos. Um deles atua no Complexo da Penha, no bairro do Grotão que seguidamente aparece nas televisões como palco de tiroteios. Nunca falaram da empresa que administrava uma pedreira de granito amarelo, faliu, mas continua mantendo uma área de 26 mil hectares, uma floresta dentro da Cidade Maravilhosa. Marcelo Correia é um dos organizadores do Centro de Educação Multicultural, que atua no Grotão. Ele era programador de computadores, largou a informática, pegou o fundo de garantia e aplicou no projeto. Trabalham para recuperar o que já foi desmatado, recuperando uma área de dois hectares com mata atlântica, e também produzem em hortas, frutíferas, mudas, fazem passeios, trilhas e vendem os produtos na feira de orgânicos do bairro Olaria, no circuito que eles chamam aqui de Bio.

O I ENAU é uma novidade na organização das comunidades carentes do Brasil, com assessoria, conhecimento, técnica e muita disposição para implantar uma nova utopia nas cidades brasileiras.


Fonte: CARTA MAIOR
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Adquirir produtos orgânicos diretamente do produtor com preço justo, é algo fantástico.

De fato, os orgânicos em supermercados são vendidos com preços nas alturas, o que não é justo.

O ideal seria que os produtores pudessem vender seus produtos em feiras livres ou em "consulados" - estabelecimentos comerciais para venda dos produtos orgânicos - garantindo, assim , produtos de qualidade para o consumidor.

Tanto o MST como outros movimento de agricultura orgânica poderiam criar uma organização que viabilizasse a comercialização dos produtos orgânicos nos grandes cidades brasileiras.

Sabemos das dificuldade para viabilizar tal organização assim como os desafios de logística para que os produtos venham diretamente do produtor para o consumidor.

Se possível, pelo menos, poderíamos ter feiras para comercialização dos produtos, com data e locais de comercialização previamente definidos e divulgados na mídia alternativa .

Além disso, se possível, com comercialização frequente, tipo toda semana ou todo mês em um determinado lugar.

Ganham produtores e consumidores e ainda se promove a importância de uma agricultura orgânica, familiar, conquistando mais corações e mentes para a importância de uma reforma agrária que tenha como foco a agricultura familiar e orgânica.



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