segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Turma do ódio

Cartazes de grupo inspirado na Ku Klux Klan ameaçam homossexuais e muçulmanos em Niterói

publicado em 21 de setembro de 2015 às 21:19


cartaz 3
Cartaz com ameaça a muçulmanos colados em praça de Niterói – Reprodução
Cartazes de grupo inspirado na Ku Klux Klan ameaçam homossexuais e muçulmanos em Niterói
Mensagens de intolerância racial, religiosa e sexual foram coladas em praça do Caminho Niemeyer, no Centro
POR GABRIEL CARIELLO, em O Globo, 21/09/2015 11:30 / ATUALIZADO 21/09/2015 11:49
NITERÓI — A Praça Juscelino Kubitschek, no Caminho Niemeyer, que fica no Centro de Niterói, amanheceu no último sábado, dia 19, com mensagens de intolerância racial, religiosa e sexual coladas em seus postes. Os cartazes, que fazem ameaças a muçulmanos, homossexuais e judeus, entre outros grupos, são assinados por uma organização que se denomina “Imperial Klans of America Brasil”. Junto, estão ilustrações de integrantes da Ku Klux Klan, a organização dos Estados Unidos conhecida pelo discurso de supremacia racial.
“Comunista, gay, judeu, muçulmano, negro, antifa, traficante, pedófilo, anarquista. Estamos de olho em você”, diz um dos cartazes.
— Os cartazes apareceram na praça na manhã de sábado. Não se sabe se foram colados na noite de sexta ou no próprio sábado. O local fica bem perto do Plaza Shopping e da estação das barcas. Pertence ao Caminho Niemeyer — explica advogado Rodrigo Mondego, da comissão de Direitos Humanos da OAB, que postou uma das imagens no Facebook (acima).
Em outra mensagem, o grupo afirma que tem “operado nas sombras” e assina como “Soldados e Cavaleiros Invisíveis United Klans of America Brazil”:
“Vocês estão sendo colocados sobre observação e que qualquer ato de agressão em solo brasileiro serão atendidas com a agressão contra vocês. United Klans of America Brazil não vai comprar a esta retórica RACIAL que está sendo espalhados por todo o país que se destina apenas a dividir o povo. Nós vamos caçar qualquer um que desejo nosso país e seus cidadãos mal. Temos operado nas sombras mais do que vocês, então não subestime o que você não entende. Gostaríamos de sugerir que todos os irmãos brancos se unissem contra o inimigo comum. E que todos nós tomamos um juramento de defender(sic)”.
Nos últimos anos, outras manifestações de intolerância aconteceram em Niterói. No carvanal de 2013, um grupo de neonazistas foi preso após agredir um nordestino no Centro, próximo a estação das barcas. O local fica a poucos metros da Praça Juscelino Kubitschek. Em 2014, a sede do Grupo Diversidade Niterói (GDN), que milita em contra a homofobia, foi atacada. Na ocasião, suásticas foram pichadas na parede.
— Não se pode atribuir todos os episódios ao mesmo grupo, mas com a internet, a gente percebe um crescimento nessas manifestações. Algumas pichações vem aparecendo, principalmente na Zona Norte. Isso demonstra um organização maior desse grupo, já como uma célula — afirma Renato Almada, ex-subsecretário de Direitos Difusos de Niterói e hoje assessor do deputado federal Wadih Damous (PT).

PS do Viomundo: A propósito da recente polêmica envolvendo fardamento nazista utilizado de forma teatral numa universidade de Bauru, nossa caixa de correios se encheu de argumentação de gente que pensa assim:
Vestimentas nazistas: A carta de repúdio de alunos da USC e a resposta da universidade
publicado em 21 de setembro de 2015 às 09:42
Captura de Tela 2015-09-20 às 12.57.10
Carta de repúdio de alunos do 4º ano de R.I ao estande do curso de História na Feira de Profissões
Do Facebook
Nós, alunos do 4º ano de Relações Internacionais da USC, muito nos surpreendemos com o estande do curso de História na Feira de Profissões da Universidade hoje, dia 16 de Setembro.
Ao querer apresentar a alunos do último ano do Ensino Médio fatos sobre a Segunda Guerra Mundial cometeram o grave erro de enaltecer os regimes totalitários responsáveis pelo início do conflito, utilizando as vestimentas e os símbolos representantes de tais grupos, dentre os quais a suástica nazista. Não suficiente, o estande também apresentava discursos do ditador Adolf Hitler.
O Nazismo foi responsável pelo genocídio e perseguições à negros, judeus, homossexuais, e todas as minorias étnicas que não condiziam com a suposta raça ariana. É inadmissível que um curso de História, sendo seus estudantes e coordenação conhecedores de todas as mazelas praticadas por esse regime, possa não ter a sensibilidade de percepção ao contexto atual, onde partidos neonazistas voltaram a participar de eleições na Europa, o que traz reflexos até mesmo nas ruas do Brasil.
Como exemplo, citemos: somente esse ano foram mortos 85 LGBT’s. No ano anterior, 312. Há um mês atrás seis imigrantes haitianos foram baleados em frente a Paróquia Nacional da Paz. Anteontem (14/09) um senegalês foi queimado vivo nas ruas de Santa Maria, RS.
Toda e qualquer menção ou veiculação de símbolos nazista no Brasil é crime previsto no Artigo 20 do Código Penal:
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada para fins de divulgação do Nazismo.
Apesar de haver representação também dos Judeus (um dos grupos que foram perseguidos, torturados e assassinados) a falta de sensibilidade se denota quando temos a certeza de que o cenário ideal seria apenas o de representações dos oprimidos, sem precisar conter as vestimentas nazistas e fascistas, que eram maioria. Este curso de Humanas perdeu uma oportunidade ímpar de mostrar a jovens em formação a única parte que não deve ser esquecida: a morte de mais de dez milhões de pessoas derivada do ódio político, do racismo, da xenofobia e da homofobia.
Nós repudiamos veementemente essa exibição do curso de História, e aconselhamos a Universidade do Sagrado Coração a fazer o mesmo, além de exigir um pedido de retratação por parte da coordenação do curso.
Assinam a carta:
Matteo Netto
, Alexandre Criscione,
 Ana Lívia Rodrigues
, Thaís Helena Tambara
, Natalie Alves
, Júlia Lourenção
, Débora Ani Marchi
, Mariana Marcelino Florenzano
, Julia Concuruto Reche, Lilian Lacerda
, Isabela Andreatta
, Matheus S. Contreira
 e Gabriel Cara.

Fonte: VIOMUNDO
___________________________________________________________ 

Lelê Teles conhece os bastidores dos OA e relata o que viu e ouviu


Por Maria Frô setembro 21, 2015 10:51
Lelê Teles conhece os bastidores dos OA e relata o que viu e ouviu
Lelê Teles conseguiu penetrar num grupo de Odiadores Anônimos e nos relata incríveis depoimentos.

SÓ POR HOJE
LeLê Teles


uma amiga alugou uma sala na comercial da Asa Norte de Brasilia para uma turma de liberais, jovens e endinheirados, como ela definiu.

ela os conhecia e sabia que eram da turma de midiotas verde-amarelos que marcham pelas ruas a bater panelas e mostrar o dedo médio para as câmeras.

“achei estranho, devem estar a conspirar, a sala deve estar sendo usada para dar palestras, só há cadeiras nela e em semicírculo”. contou-me pelo telefone.

há, pensei, darei um bisbilhote. sou um perdigueiro e farejo fuleiragens de longe. tinha que pensar em um disfarce para penetrar naquela reunião.

não poderia me transformar em uma mosca, não sou chegado a plantar escutas, não aprecio arapongagens, não ficaria abjetamente escorado atrás da porta, ouvido colado, a decifrar o burburinho lá de dentro.

como proceder?

minha curiosidade aumentava. e se tramam matar a presidenta, se planejam plantar uma outra bomba por aí?, tá cheio de tarados nas ruas.

ah, já sei. o melhor seria me tornar invisível e ver aquela reunião do início ao fim. e você sabe, é muito fácil se tornar invisível em meio a machos brancos de direita. é só ser negro e vestir-se de serviçal.

os burguesotes costumam ignorar garçons, domésticas, motoristas, porteiros… toda sorte de serviçais. falam na frente deles sobre qualquer assunto, sem pudor; como se aquela gente não os pudesse ouvir, ou não compreendessem o que dizem, ou simplesmente por ignorá-las como pessoas.

bingo.

botei um macacão de firma e me converti numa não-pessoa. entrei na sala antes da reunião começar e disse que o condomínio me contratara para retificar o ar-condicionado. nem me deram ouvidos.

as janelas estavam abertas e a manhã de domingo era fresca. em Brasília é assim, pela manhã cantam cigarras, à noite, guitarras.

fui tirando delicadamente as ferramentas enquanto os convidados chegavam à sala. achei tudo muito estranho, as paredes estavam decoradas com fotografias de gente sorrindo, crianças, velhos, adultos e até cães sorridentes.

que diabos aconteceria ali?

de repente a coisa começou.

me chamo Paolo Luccinni, sou advogado, tenho escritório próprio e fui membro do Movimento Pátria Livre.

todos falaram em coro: bom dia Paolo. e Paolo prosseguiu.

vivi meses alimentando-me de ódio. de repente, não podia mais viver sem ele. e a cada dia eu precisava de uma dose maior. comecei comentando posts em blogs progressistas, depois destratava amigos e parentes em churrascos, frequentei passeatas, passei a xingar vizinhos no elevador se usavam algo vermelho nas vestes, quando me vi a noite a bater panelas na minha varanda percebi que algo muito grave se passava.

dormia com estremecimentos musculares, sonhava com refregas e cheguei um dia a socar minha esposa enquanto dormíamos. o médico me disse que eu poderia enfartar a qualquer momento, por isso estou aqui para compartilhar com vocês minha experiência.

só por hoje não vou mais sentir ódio.

disse isso e baixou a cabeça, foi aplaudido. alguns colegas se levantaram e lhe afagaram, bateram-lhe nas costas, cafunaram-lhe.

com mil diabos, tratava-se de uma reunião dos Neuróticos Anônimos. parei de mexer no ar-condicionado e fiquei a escutar aqueles interessantíssimos relatos.

na outra extremidade da sala uma outra voz.

sou Roberto Tomazio Neubarth, empresário, herdei de meu pai uma concessionária de automóveis e alguns imóveis. também sofro do mal da histeria coletiva. razão para sentir ódio não tenho. vivo confortavelmente, compro o que quero, não deixei de ganhar um centavo por causa de governo algum.

porém, no facebook bloqueei e fui bloqueado, fiz da rede social uma rede antissocial, me converti de pacato cidadão liberal em visceral sociopata de plantão.

passei a malhar e a praticar jiu-jitsu para dar vazão à minha revolta. mas nada suplantava o meu desejo de socar, arrancar sangue vermelho do nariz de um comunista.

fui um dos primeiros a entoarem o refrão vai pra cuba, e sempre rezava o pai nosso com meus amigos antes das caminhadas cívicas.

de repente eu vi o papa indo a Cuba, aquilo deu um nó na minha cabeça. me vi como um autômato que sofria lavagem cerebral e agia descerebradamente.

de repente tudo o que eu defendia se materializava na minha frente de outra maneira.

Obama foi a Cuba, os estadunidenses estão a parar cruzeiros na costa cubana, o papa está lá e Raúl Castro, como pude me deixar enganar?, tem formação jesuítica.

senti-me um idiota. só por hoje não vou mais sentir ódio.

foi aplaudido e afagado.

e as falas iam se sucedendo. um coroa, médico conhecido por todos, disse que percebeu que estava doente quando convidado a se retirar de um shopping – manu militari – na presença da filha pequena, porque xingava e gritava com o papai noel, chamando-o de comunista.

minha esposa convenceu-me a fazer análise. ao chegar no analista ele me disse: logo o papai noel, amigo, símbolo maior do capitalismo, ali dentro de um shopping, templo do consumo?

só por hoje não vou mais sentir ódio.

uma senhorinha confessou que foi às ruas pedir intervenção militar e o marido, que é militar reformado, a aconselhou uma internação psiquiátrica. ela disse que por alguns meses agia como um animal de tourada, esticavam-lhe um lenço vermelha e ela bufava, abaixava a cabeça e mostrava os chifres.

um jovem universitário disse ter percebido que era um ódio adicto quando se apaixonou por uma estudante de antropologia.

ela o corrigia sempre com muita paciência. até que um dia ela lhe falou: Giuliano, você estuda numa universidade federal e recebe pensão vitalícia, cara. quando seu pai era vivo você vivia em um apartamento funcional. como você pode pregar o estado mínimo se você suga o máximo do estado, fera?

só por hoje não vou mais odiar. aplausos e afagos.

me chamo Rebeca Werneck, funcionária pública. comecei como quase todo mundo aqui, lendo a revistaveja e compartilhando qualquer coisa que eles dissessem. via o jornal nacional todos as noites, ia jantar espumando pela boca; depois passei a comentar, anonimamente, em blogs progressistas, colei o adesivo da Dilma de pernas abertas no meu carro e, como dizer?, meu último ataque de ódio foi atropelar um ciclista.

com ele caído no chão eu gritei: vai pra cuba comunista. com ódio nem o vi. ele me reconheceu, era meu sobrinho e estava voltando da faculdade.

quase ficou paraplégico. detalhe, ele odeia falar em política.

só por hoje não vou mais sentir ódio.

os depoimentos foram se sucedendo. antes da pausa para o lanchinho – sucos variados e pães integrais com geleias de frutos do cerrado – um dos presentes leu um aforismo que ele atribuiu a Shakespeare:

amigos, reflitamos sobre as palavras do grande dramaturgo e façamos dela um mantra: “sentir ódio é como tomar veneno e querer que o outro morra”.

só por hoje, gritaram em coro.

se auto aplaudiram, se abraçaram olhando nos olhos uns dos outros e sorrindo com todos os dentes para cada um dos presentes.

a ambiente exalava felicidade, era como uma selfie.

é isso, pensei comigo, mais amor e mais alegria. be your selfie.

entrei e saí sem que ninguém desse pela minha presença. aqueles mentecaptos deixaram de sentir ódio por uma questão de saúde, por egoísmo, mas continuam indiferentes aos do andar de baixo.

peidei silenciosamente e saí da sala como entrei, invisível como um flátulo. palavra da salvação

Fonte: MARIA FRÔ
______________________________________________________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário