quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Globo não gosta de Jéssicas

É Fantástico: Depois de transformar críticas em elogios a Roberto Carlos, Globo retrata apartheid doméstico como história de amor

publicado em 14 de setembro de 2015 às 21:26
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Globo manipula até Cinema: “Fantástico” transforma “Que Horas ela Volta” numa fábula de amor entre patrões e empregados

por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador

Ricardo Calil não entendeu nada. No blog que mantem no UOL, o crítico de Cinema estranhou a forma como o jornalismo da TV Globo tratou o filme “Que Horas Ela Volta?”.
O filme, diz Calil, é “uma reflexão crítica sobre as contradições sociais brasileiras centrada nas relações entre uma família de classe alta de São Paulo, sua empregada doméstica e a filha desta (que chega do Recife e fica morando um tempo na casa dos patrões). O filme de Anna Muylaert – que vem fazendo merecido sucesso mundo afora e foi escolhido como candidato brasileiro ao Oscar – revela o quanto ainda há de Casa Grande e Senzala nessas relações e o quanto o Brasil se libertou das heranças escravagistas nos últimos anos.”
Mas o programa dominical da Globo conseguiu transformar o filme estrelado por Regina Casé em “uma história de amor entre patrões e empregadas – ao colocá-lo lado a lado com duas histórias reais ‘edificantes’ que versam sobre o mesmo tema.”
O Jornalismo da Globo, dirigido por Ali Kamel, não gosta muito de explicitar contradições. O diretor de Jornalismo da Globo acredita que não há racismo no Brasil: “não somos racistas”, diz ele.
O curioso é que o filme de Muylaert é uma co-produção da Globo Filmes, braço cinematográfico da Rede Globo.
“Isso significa que a reportagem do “Fantástico” é um curioso caso em que se fez o marketing de um filme afirmando o contrário do que ele defende“, estranha Calil, que emenda: “Não se via nada parecido desde que a Globo transformou em elogios as críticas do filme Tim Maia a Roberto Carlos.
O crítico também reproduz entrevista da diretora – em que ela explica do que o filme trata…
– “O filme retrata a diferença social entre os personagens e a quebra de regras sociais pré-estabelecidas. Como você avalia essa relação patrão x empregadas no Brasil?
(Anna Muylaert) Acho que a PEC das empregadas deu um grande passo no sentido da profissionalização da doméstica, mas acho que ainda falta bastante para a sociedade brasileira abandonar seus arraigados hábitos coloniais.
– A PEC influenciou na construção do filme?
Eu escrevi este roteiro pensando em falar das regras de convivência sociais no âmbito doméstico. Essas regras separatistas, nós sabemos, não são faladas, mas estão aí. Quando eu criei a Jéssica tão segura de si, não estava pensando em política, mas em fugir de um clichê dramatúrgico da coitadinha da filha da empregada. Mas, quando o filme ficou pronto, todos reconheceram que ele estava falando de um Brasil pós-Lula. E eu concordei. Uma personagem como a Jéssica não seria verossímil antes de seu governo. Acho que, entre erros e acertos, houve uma melhora da autoestima do povo brasileiro. E a PEC das empregadas, sem dúvida, tem a ver com o final do filme. Acho que foi um grande passo para tirar o estigma do escravagismo e tornar a empregada doméstica uma profissional como qualquer outra.”
Ou seja, quem for ao cinema assistir a “Que Horas Ela Volta?” esperando encontrar uma história de amor entre patrões e empregados vai se sentir tão “satisfeito” quanto os espectadores que foram ver “Praia do Futuro” para reencontrar a macheza do Capitão Nascimento.

Fonte: VIOMUNDO
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Que Horas Ela Volta? e os patrões que não querem pagar FGTS a quem cria seus filhos
reginacrianca
(Regina Casé, a empregada Val, cuidando do filho dos outros)
Na tarde do dia em que iria assistir Que Horas Ela Volta?, fui ao supermercado. Na fila do caixa, observei que a moça que ia me atender conversava com uma senhora parecida com ela, ao mesmo tempo que fechava a conta de outro freguês. A caixa era uma jovem negra linda, de coque no cabelo, que chamou a minha atenção. A senhora com quem falava também tinha traços bonitos, embora mais velha e com aparência castigada. Reparei que a menina tratava a mulher pelo nome, mas achei que pareciam parentes. Tia e sobrinha, talvez?
Quando chegou a minha vez de pagar, perguntei: “Aquela senhora com quem você estava conversando era sua tia?” Ela respondeu: “Não, é minha mãe. É que ela trabalha como babá a semana toda, só vai para casa domingo de manhã. E a gente só se vê quando ela vem aqui no supermercado comprar alguma coisa.” Achei tão triste… “Puxa, que duro, né? Ela cuida dos filhos dos outros e mal vê os dela.” A mocinha concordou: “É, sim, uma vida difícil.”
Foi muito curioso ter vivido esta cena justo horas antes de ir ao cinema, porque o filme de Anna Muylaert trata exatamente disso: de uma babá que cuida, com todo amor e dedicação do mundo, do filho de outras pessoas em São Paulo enquanto a própria filha está sendo cuidada por parentes em um Nordeste distante. Conto essa história não porque tenha sido uma tremenda coincidência: as Val (a empregada vivida brilhantemente por Regina Casé) estão em toda parte Brasil afora, de preferência usando uniforme branquinho.
Esta, aliás, foi a primeira coisa que pensei ao assistir ao filme: o que será que um estrangeiro vai pensar ao descobrir este “segredo” brasileiro, o de que até hoje existe empregada doméstica vivendo em um quartinho dos fundos nas casas da burguesia? Que, em pleno século 21, mantemos este resquício da escravidão? Que ainda há doméstica sem o direito de nem mesmo ter sua própria casa, sua própria família e de poder cuidar dos próprios filhos?

Imaginem, este filme poderá ser indicado ao Oscar e visto por gente no mundo inteiro… O profundo sentimento de vergonha que dá de ser brasileiro diante destas cenas só não é maior do que a raiva de saber que, não faz muito tempo, houve uma revolta no País quando se deu às empregadas o direito de receber o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), como todo trabalhador. Esta gente esperneou por pagar direitos trabalhistas a pessoas que cuidam de seus filhos como se fossem delas! É um misto de ingratidão e descaramento que enoja. Pior ainda é lembrar que muitos destes patrões se sentirão incomodados se uma destas mulheres que criaram seus filhos sentar a seu lado em um avião.
No filme, os patrões de Val são aquele tipo de família paulistana pseudoprogressista, aparentemente moderninha, que “trata bem os empregados”. “Ela é quase da família” (atente para o “quase”), costumam dizer sobre a sua “Val”. Isto até a hora em que Val precisa receber, no quartinho onde vive, sua filha, que vem do Nordeste para prestar o vestibular –a filha dela, como a menina do supermercado, tampouco a chama de “mãe”. A fachada “humanista” dos donos da casa cai por terra na hora, ao ponto de mandarem desinfetar a piscina porque a adolescente pobre ousou entrar nela para brincar com o menino que Val criou enquanto a mãe dele se dedicava à carreira. “Que horas ela volta, Val?”
Não fosse por Jéssica (Camila Márdila), a filha de Val, passaríamos o filme inteiro com este nó na garganta, de raiva e vergonha. Jéssica chega para abalar: inteligente, cheia de convicções, é a legítima representante da geração que foi incluída pelos programas sociais dos últimos anos. Não deixa pedra sobre pedra nem na cabeça do espectador nem na de Val. Lava a alma. E faz pensar sobre a importância da conscientização política da juventude, tão negligenciada pelo PT nestes 12 anos em que está no poder… Com mais Jéssicas, o Brasil seria outro. E a vida das Vals, também.
Excelente filme. Não deixem de assistir

Fonte: SOCIALISTA MORENA
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Ainda não se tem notícia que a TV Globo manipulou o sistema solar.

No entanto, em breve, isso pode acontecer
.
Tudo em globo vira fábula.

Até mesmo a queda acentuada nos índices de audiência da emissora é explicada por Globo como sendo resultado do excesso de conservadorismo da sociedade brasileira.

Ou seja, uma suposta rejeição baseada em sentimentos e emoções passageiras, já que o telespectador é fiel a emissora.

A realidade, por outro lado, é bem diferente já que os jovens, independente do conservadorismo , rejeitam o conteúdo das emissoras de TV's abertas, tendo em vista as inúmeras opções proporcionadas pelas novas tecnologias de informação e entretenimento.

Adicione a tudo isso críticas políticas e sociais - que ao que parece pelos artigos acima estão presentes no filme em questão - e logo tudo vira fábula e até mesmo um soco é retratado como um ato de afeto.

Realmente é fantástico.

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