sábado, 5 de setembro de 2015

Analfabetos chiques e o colapso mundial

Rumo a um colapso climático antropogênico?

A comunidade científica internacional alerta para o fato de que as oportunidades

para se evitar uma catástrofe bioclimática podem estar terminando.

Asian Development Bank / Flickr

John Saxe-Fernández */ La Jornada, México
























Entre tantos estudos oferecidos pelas mais importantes publicações da comunidade científica internacional sobre o aquecimento global a respeito da emissão humana de gases de efeito estufa, e devido à aceleração dos danos à biodiversidade, também por causas antropogênicas – ou seja, derivadas das atividades humanas –, escolho duas pesquisas que conheci recentemente e que considero imprescindíveis para entender o momento em que vivemos. Uma delas, realizada por Richard Heede, para a revista Climatic Change (2014), a outra de Gerardo Ceballos, para a revista Science (2015). Assim como colunas e entrevistas publicadas pelo diário britânico The Guardian, que apontam a uma resposta da pergunta que proponho neste título. As advertências e o inusitado consenso da comunidade científica sobre a necessidade urgente de diminuir imediatamente e de forma significa as emissões devem pautar a COP21 – a cúpula climática que se realizará em Paris, entre novembro e dezembro de 2015. As mesmas fontes alertam para o fato de que as oportunidades para se evitar uma catástrofe bioclimática podem estar terminando.

No diálogo entre as ciências naturais, as humanidades e as ciências sociais, é possível alcançar com a precisão necessária a determinação sobre o que fazer. Um dos focos necessários é o dos fatores atmosférico, geofísico e biológico, outro tem a ver com o histórico do problema e seu contexto econômico, político e social. O estudo de Heede é uma bem trabalhada investigação sobre as emissões de dióxido de carbono e metano proveniente dos produtores de combustíveis fósseis e de cimento, acumulada entre 1854 e 2010. Esse estudo mostrou que tão somente 90 corporações, algumas descendentes da Standard Oil Company – Chevron/Texaco, Exxon/Mobil, BP, Total e Shell, as chamadas cinco grandes – geraram dois terços dos gases do efeito estufa (Co2/metano, etc) acumulados na atmosfera desde os inícios da Era Industrial (por volta de 1750).

Susanne Goldenberg – em artigo publicado no The Guardian, no dia 20 de novembro de 2013 – contou que Heede tardou vários anos em realizar sua investigação, que foi divulgada pela primeira vez antes mesmo de ser concluída, durante as negociações sobre as mudanças climáticas em 2013. Naquela oportunidade, ele mostrou que metade do CO2/metano foi lançada na atmosfera nos últimos 25 anos, ou seja, quando tanto os governos quanto as grandes corporações já estavam cientes de que o aumento dessas emissões e a queima inconsequente de carvão, petróleo e gás natural era a principal causa das perigosas mudanças no clima do planeta. O Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC, em sua sigla em inglês) destacou, naquele ano, que se aquelas taxas de emissão fossem mantidas, em 30 anos seria lançada na atmosfera uma quantidade de gases que levaria a um aumento de não mais de dois 2 graus centígrados (até agora, já aumentou 0,8ºC) , o maior aumento registrado desde a era pré-industrial. Ainda assim, estudos do pesquisador James Hansen advertem que mesmo um aumento de dois graus centígrados, considerado seguro por alguns cientistas, seria catastrófico, pois diminuiria os prazos e a capacidade de recuperação do planeta. Hansen é um ex-cientista da NASA e da Universidade de Columbia, cujo testemunho diante do Senado dos Estados Unidos, em 1988, tornou público o fenômeno do aquecimento global vinculado à queima de combustíveis fósseis.

A relevância política do estudo de Heede foi sintetizada por Al Gore. Diante de fortes discussões sobre as responsabilidades das nações, o ex-vice-presidente estadunidense deu importância à identificação daqueles que são historicamente responsáveis pela contaminação da atmosfera, que deveriam ter a obrigação clara de ser parte da solução. Por isso a necessidade de revisar os detalhes e o modus operandi das cerca de noventa plantas industriais de energia e de cimento, responsáveis pelas emissões de CO2 e metano nesse período – quase um bilhão, ou trilhão, de toneladas. Dessas noventa empresas, cinquenta são privadas, a maioria petroleiras, como as cinco grandes acima citadas, às quais se somam outras campeãs da contaminação, como a British Coal Corp, Peabody Energy e BHP Billiton. Também merecem menção a saudita Aramco, a russa Gazprom e a noruega Statoil. Esta informação, que inclui entes petroleiros do México (Pemex), Polônia e Venezuela (PDVSA), foi usada numa tentativa de desbloquear a discussão na COP de 2013. Sem sucesso. O poder persuasivo dos defensores dos hidrocarburetos é grande e tem forte penetração nos governos que integram e debatem esse assunto tão grave, tanto na ONU (Organização das Nações Unidas) como em outras instâncias, e ao mesmo tempo oferecem crescentes subsídios econômicos as iniciativas que promovem as energias fósseis.

O importante, pensando na próxima COP 21, é saber que as noventa empresas operam no mundo inteiro. Algumas chegam a alcançar mais de quarenta países diferentes, explorando todas as fontes de petróleo, gás e carvão, visando um aumento de 40% do consumo de energia previsto até 2035. As vinte empresas mais poderosas da lista são responsáveis por 30% das emissões acumuladas. A atenção sobre os grandes impérios privados, como a Exxon, bem estudados por Robert Engler (durante vários anos) e Steve Coll (em 2012) se justifica pelas responsabilidades acumuladas, e os esforços estão voltados a questionar os monopólios fósseis vitais à etiologia do capitalismo. O problema não é a humanidade, nem o homo sapiens, mas sim o capitalismo existente: aí estão a Chevron e a Exxon, em defesa dos lucros, desafiando a comunidade científica e internacional, e até os seus acionistas. Continuam com seu programa de investimentos em ascensão, empurrando todo o planeta para o abismo.

(Continuará)

* Nascido em Costa Rica e cidadão mexicano, é doutor em Estudos Latino-americanos da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).


Fonte: CARTA MAIOR
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Lições a considerar desde Berlim

A direita insiste em afirmar que ciclovia, limites rígidos de velocidade, 

saúde pública, etc, tudo isso é bom pra Europa, não para o Brasil.



Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas


Flavio Aguiar - do Blog Velho Mundo, na Rede Brasil Atual
Uma das características de muita gente da direita brasileira é sua extrema falta de educação, selvageria, incivilidade, grossura e desprezo pelo próprio país. Com exceção deste último item, os restantes não são exclusivos do Brasil. Por exemplo, aqui na Alemanha a extrema-direita tem-se esmerado em atos de selvageria, grossura, etc., contra os imigrantes, refugiados, que aqui acorrem (embora muitos cidadãos daqui estejam se esmerando em bem recebe-los). Recentemente houve casos como o do cara que entrou numa estação de metrô e urinou - urinou (!) - em cima de imigrantes que lá estavam, inclusive uma criança. Houve atentados a faca em casas de refugiados, ou até com gás pimenta, mandando gente para o hospital. Sem falar nos incêndios criminosos que se multiplicam contra estes abrigos durante a noite.

Mas no Brasil predomina um “gestus” da direita que consiste em afirmar constantemente que “o que é bom para a Europa e os Estados Unidos não é bom para o Brasil”. Transporte público privilegiado em relação ao individual, corredores de ônibus, restrições ao uso de carro, controle rígido de velocidade, saúde pública, etc., etc., etc., tudo isto é bom para a Europa, mas não para o Brasil, “nem existe no Brasil” o que, aliás, é mentira, porque o SUS é muito melhor do que muito do que existe em muitos países na Europa e também nos Estrados Unidos (onde o sistema público de saúde claudica e está sendo reerguido por Barack Obama, contra uma feroz oposição dos republicanos).

Tome-se o exemplo do controle de velocidade. Li estarrecido que há uma ação judicial movida pela OAB-SP (corrijam-me se eu estiver errado) contra a diminuição da velocidade máxima nas marginais de S. Paulo. Apesar do número de acidentes ter baixado depois da medida. Vi outras manifestações grosseiras na mídia velha, por parte dos arautos do individualismo feroz, contra a extensão de corredores de ônibus e de ciclovias em São Paulo. Um descalabro político e moral, só compreensível pelo desvario mal-educado que tomou conta dos direitistas no país desde a Copa do Mundo e em especial depois da inesperada (só para eles) derrota do Aécio em outubro passado.

De vez em quando vale mesmo prestar atenção em lições que podem ser lidas a partir da Europa, desde que sem eurocentrismo nem aquilo de acreditar que o Brasil não tem jeito.

1. Aqui em Berlim, como em todas as cidades da Alemanha, o limite de velocidade nas ruas é de 50 km. por hora. Perto de escolas ou em regiões densamente povoadas, 30. Exceções: as auto-estradas de administração municipal, onde o limite é 100.

2. Pedestre tem preferência em qualquer lugar.

3. Nas auto-estradas federais, a responsabilidade é do governo nacional. Em muitas delas não há limite de velocidade. Mas em outras há: 130, 100, 80.

4. Em estradas de zonas rurais o limite é 100, 90, 80, 70. Mas atravessando zonas urbanas ele cai para 50, e em centros de cidades, 30.

5. O controle destes limites é rígido. Não há recurso, a menos que se comprove um erro por parte da autoridade ou de radares, etc.

6. 3 vezes passado um sinal vermelho, adeus carta de motorista. Alcoolizado, idem. Multas enormes. Penas penosas, no caso de acidentes.

7. Para completar este quadro que muita gente da nossa “élite” acharia dantesco se fosse no Brasil, o Senado de Berlim (em termos brasileiros o conselho de secretários municipais) adotou uma nova lei, estabelecendo um limite de 30 km em certas ruas durante a noite, para diminuir o ruído, pois está comprovado que a submissão constante a ruídos acima de 55 decibéis durante o sono aumenta o risco de problemas cardiovasculares.

 Durma-se com um silêncio desses!

Fonte: CARTA MAIOR
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A possibilidade de um colapso climático e a crescente cultura de selvageria no mundo caminham juntos , em harmonia, em defesa de um modelo capitalista que também caminha para um colapso.

Qualquer tese sobre o colapso climático, mesmo que comprovada pela comunidade científica internacional, é rejeitada pelos defensores do ultra capitalismo que atualmente tem se expressado na sociedade através de uma ultra direita que nega qualquer tipo de civilidade.

Seja no Brasil ou na Alemanha, conforme o artigo acima, essa nova velha direita rejeita qualquer tipo de debate ou argumento que possa contrariar, ou questionar, as teses capitalistas, principalmente se o assunto diz respeito ao meio ambiente e novas formas de organização social, de mobilidade urbana e de qualidade de vida.

Como é do conhecimento do atento e bem informado leitor deste blogue, o tão alardeado e agora  propositalmente desgastado conceito de desenvolvimento sustentável, implica em uma mudança  até mesmo radical nas formas de organização social, mobilidade urbana , consumo, produção e distribuição de produtos,  dentre outros aspectos tão sensíveis ao modelo capitalista atual.

Implica, também, em perfeita harmonia com as fronteiras do conhecimento científico, em formas socialmente equilibradas e participativas, o que , necessariamente se aproxima para modelos de social democracia participativa e de socialismo democrático.

Esses caminhos naturalmente se consolidarão, restando saber em quanto tempo, ainda, para que sejam hegemônicos.

Na contramão da vida , do desenvolvimento sustentável  e das formas de convivência social civilizadas, encontram-se grupos de ultra direita - majoritários - e também de extrema esquerda em disputas por modelos ultrapassados e obsoletos.

Atualmente os grupos de ultra direita dominam a cena no mundo e tentam se impor através da violência e da selvageria, negando a civilidade , a democracia, a ciência.

Sinais inequívocos de algo que etá próximo do fim, já que a evolução natural do homem  e das formas de organização e convivência social não caminham, ou não deveriam caminhar, para a barbárie., mas sim para um aprofundamento da Democracia  pelo mundo.

No entanto, cada vez mais nos tempos atuais, a expressão atual do capitalismo tem se demonstrado incompatível com regimes democráticos.

Assim sendo, as grandes empresas citadas no artigo acima, assim como outras empresas interessadas em manter o status quo - como a maioria esmagadora das empresas de jornalismo, emissoras de TV  e similares - criam todas as formas , meios e ambientes para que grupos selvagens e violentos possam proliferar nas sociedades em defesa do capitalismo atual.

Para  isso, esse conjunto de corporações explora e divulga todo tipo de preconceito social, ancorando no medo uma parcela da sociedade tradicionalmente  analfabeta em questões políticas, que  a partir do período hegemônico do capitalismo tornou-se ainda mais analfabeta, tendo em vista o papel  político assumido pelas empresas de mídia e jornalismo.

Assim sendo, pessoas saem às ruas do Brasil pedindo o fim do comunismo no país ou mesmo a volta de regimes ditatoriais e de exceção.

A dissonância cognitiva conseguida  em parcela da população tem produzido  em vários países expressões de barbárie, que assolam a democracia e  o estado democrático de direito, além, claro ,da solidificação de um clima social de confronto pela violência.

A negação dos problemas decorrentes das alterações climáticas deve perdurar até que todas as sepulturas do cemitério das nações estejam  ocupadas, para  que então uma nova expressão de um capitalismo sustentável  passe a ser considerado como a nova ordem, claro, para uma minoria rica.

Enquanto isso, analfabetos úteis desfilam e destilam ódio pelas ruas das cidades e pelas infovias do mundo.

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