quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A cerejeira floriu

Xico Sá, Duvivier, Jô Soares e o fenômeno da patrulha de direita. Por Kiko Nogueira

"Esquerdopata!": Donald Sutherland em "Os Invasores de Corpos"
“Esquerdopata!”: Donald Sutherland em “Os Invasores de Corpos”

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Xico Sá está apanhando nas redes sociais por um haicai (“viver é estouro/ sou mais Zé Dirceu/ q o tal do Mouro”) e alguns tuítes (“Não, não, nao, ñ me incomoda q o Psdb seja inimputável, o q me deixa puto é e q a justiça brasileira só veja um lado”, por exemplo).

Gregório Duvivier é chamado de esquerda caviar, comunista e petralha. No ano passado, chegou a ser agredido verbalmente num restaurante no Leblon. Um sujeito falou que ele deveria estar almoçando no bandejão, “já que gosta tanto de pobre”.

Jô Soares é um vendido e um cachorro que senta, deita e rola para Dilma. Uma manhã acordou com uma pichação pedindo sua cabeça no asfalto em frente a seu apartamento em Higienópolis.

Marieta Severo, ao discordar do discurso catastrofista invariavelmente pedestre de Faustão, foi acusada de viver às custas da Lei Rouanet.

Eu sou comunista. Você é comunista. Sua mãe, sua irmã e seu tio são comunistas.

A patrulha ideológica direitista é um fenômeno crescente no Brasil. O mesmo pessoal que vê a ditadura bolivariana debaixo da cama — a mesma ditadura bolivariana que, segundo uma lógica sinistra, manda prender Dirceu, do mesmo partido da ditadura bolivariana — não admite que qualquer pessoa desvie do pensamento único.

Se o sujeito não comunga da mesma visão de mundo, só pode ser por dinheiro, fora o desvio de conduta. Jamais por ideologia ou simpatia a outra causa.

Um dos que mais apontaram o dedo para os “inimigos”, recentemente, foi o dono do blog tucano Implicante, de um certo Gravataí Merengue, pseudônimo idiota de Fernando Gouvea. Gouvea recebia, no final das contas, 70 mil reais por mês do governo Alckmin para fazer esse papel.

Gente como Lobão adora reclamar que seus colegas são “paumolengas” por não embarcarem em sua cavalgada antipetista. Seus seguidores repetem a cantilena. Ora, por que deveriam? É obrigatório? Segundo quem?

De acordo com essas milícias, é crime ser de esquerda, especialmente se o cidadão ganha mais de dois salários mínimos — embora a Constituição assegure o direito de qualquer um crer no que quiser.

Por trás disso, há uma inversão de valores formidável. O artista, ou jornalista, ou engenheiro espacial que bate no governo é corajoso. Ora, vivemos num lugar onde um policial federal se orgulha publicamente de praticar tiro ao alvo com uma foto de Dilma e nada acontece — para ficar em apenas em um caso de “republicanismo”.

Liberdade de pensamento é algo proibitivo para quem vive nessa ilusão monomaníaca. O ex-comediante Danilo Gentili se diz indignado com o fato de seus pares não terem feito piadas com a declaração de Dilma sobre a mandioca (eis um tipo de humor refinado).

Ele, sim, se considera destemido. Agora, tirar um sarro de seu patrão Silvio Santos, nem pensar. Os Simpsons tripudiam com Murdoch, o dono da Fox, há anos.

Um clássico do horror e da ficção científica que serve para ilustrar esse momento é “Invasores de Corpos”. Numa cidade californiana, alienígenas criam clones de humanos, totalmente desprovidos de emoções. Ninguém move uma palha, até a situação ficar insustentável.

Don Siegel, o diretor da versão original, de 1965, fez uma alegoria da caça às bruxas do senador Joseph McCarthy e da omissão da sociedade diante de seus métodos totalitários. “Eu vi acontecer lentamente, ao invés de tudo de uma vez”, diz o herói, o médico Miles Bennel.

O neomacartismo vagabundo brasileiro viceja mais rápido do que se esperava.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Ontem publiquei um texto do The Guardian sobre o início do fim do capitalismo.

Talvez ajude a explicar o desespero da direita, da mídia de direita, dos acéfalos da rede de extrema direita.

Sem essa de volta de esquerda como era conhecida no século XX, mas também sem medo de encarar a nova realidade.

Essa nova realidade é o início do fim do capitalismo, que grande parte da  extrema direita da rede não sabe, não vê, não entende, porém, percebe de alguma forma , e com isso tem medo.

Do medo surge a reação irracional, surgem os ataques, e , principalmente, a insegurança.

A direita totalitária vive seu auge de insegurança e medo, deixando para os replicantes  acéfalos o trabalho sujo e violento.

O auge da insegurança e da irracionalidade se apresenta em um congresso nacional - representantes das pessoas - empenhado em uma disputa política, distante das pessoas , da economia real, do país. 

Um outro país  acreditando estar discutindo o país, enquanto o dia-a-dia das pessoas continua , distante da realidade do país, do congresso, local que reúne os representantes das pessoas, pessoas que seguem no dia -a dia e que não tem interesse em mudar o nome do boteco, ou o  dono  do estabelecimento.

O outro país que acredita estar discutindo o país,  um dos sintomas do início do fim do capitalismo,  tem também sua imprensa, sua mídia, seu judiciário, que, diariamente despejam conteúdos noticiosos sobre os caminhos supostamente moralizantes que o país vem trilhando.

No entanto, o dia-a-dia das pessoas, pessoas que elegeram os representantes do congresso  e que se informam pela velha mídia, é bem diferente do país que discute o país.

Os anseios, as necessidades, as trocas,  e as relações das pessoas, estão em um outro país, diferente do país do congresso nacional, do executivo, do ajuste fiscal, do judiciário, da imprensa.

A imprensa , a grande imprensa e a velha mídia estão muito distantes da realidade das pessoas, seja pelo conteúdo jornalístico, informativo, entretenimento e até mesmo estético.

Para a grande maioria das pessoas o dia- a - dia do país não se resume a agenda das instituições, suas idas e vindas , seus erros e acertos. Durante as últimas  décadas a notícia é sinônimo de instituição, como se a vida das pessoas dependesse somente das instituições.

O que acontece hoje no Brasil, de certa forma, é que vem acontecendo em todo o mundo, onde algo real, concreto, novo, em rede, compartilhado, solidário, vem crescendo independente do país que está discutindo e moralizando o país.

As pessoas veem, ouvem, e seguem, fazendo suas escolhas , vivendo a realidade.
Escolhas que não tem se alterado por mais de uma década, apesar da "crise", da imprensa, da agenda,  do câmbio, do Levy, do Lobão.

Hoje, a imprensa e a mídia não falam de outra coisa que falaram ontem, no domingo , no ano passado, no passado.

Moro mandou Dirceu para a prisão.
A imprensa gostou, bateu palmas, elogiou o justiceiro fanfarrão.
Todo mundo leu, todo mundo viu, a vida segue, a imprensa não comove, no entanto, algo novo pelo mundo se move.

O excesso de discurso moralista assusta, as pessoas desconfiam, pois, conscientes ou não, sabem que a imperfeição é a regra e , desta forma, a acusação é o desejo de estar no lugar do acusado,  a ordem de prisão é a abertura de vaga para o moralista ladrão, as palmas são a expressão da ansiedade pela chegada tão esperada vez, tentada, vezes em vão.

O herói e o agora vilão se confundem, se misturam, tornam-se uma só pessoa, real, desejada.
O inconsciente é mais forte, e a realidade vence.


Enquanto se discute a cor das cadeiras e das mesas do boteco, as pessoas de pé, no balcão, fazem suas trocas.

Moro manda Dirceu para a prisão.
Todo mundo leu , todo mundo viu.
A imprensa gostou, bate palmas.
A cerejeira floriu e o povo aplaudiu.

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