quinta-feira, 30 de julho de 2015

Lixo Zero

  

A companhia de limpeza urbana do Rio de Janeiro, COMLURB, está implantando um programa de lixo zero na cidade.

Quem jogar lixo na rua será multado, mesmo que seja um papel de bala ou uma ponta de cigarro.

Por ter jogado uma ponta de cigarro,recebi um auto de infração. 

Os garis do Rio de Janeiro tem a simpatia de toda a população, e , mesmo assim, tem jornalista que não gosta.

Disponibilizo, abaixo, a correspondência que enviei a COMLURB, pois entendo que em sua cidade, caro leitor, os problemas são similares.



Prezados Senhores,

Segunda-feira próxima passada, dia 27.07.2015, fui autuado corretamente por fiscal da COMLURB e um policial da Guarda Municipal por dispor  uma ponta de cigarro em logradouro público, mais precisamente na Av. Presidente Vargas próximo da Praça Onze, na região central da cidade do Rio de Janeiro.
Recebi um auto de infração protocolado com o número 6415465152085663914.

Entendo que o programa da COMLURB  que visa minimizar, ou mesmo acabar, com o lixo jogado por pessoas nos logradouros da cidade é uma iniciativa  excelente, tendo em vista os inúmeros problemas causados pelo lixo nas ruas da cidade, o que sempre provoca transtornos para as pessoas e até mesmo facilita o desenvolvimento de vetores que causam doenças.

Por ser um hábito cultural e histórico do carioca, eliminar a disposição do lixo nas ruas ( vem do tempo em que a aristocracia residia nas partes mais elevadas da cidade e jogava o lixo nas partes baixas onde residiam os escravos e restante da população ) é de suma importância, e , para o sucesso do Programa se faz necessário que a COMLURB faça um amplo programa de conscientização da população, quanto a questão do lixo , seus diversos tipos e suas formas adequadas de disposição.

A questão do lixo , hoje, é um problema mundial, fruto de uma economia que prioriza o descarte dos produtos, em detrimento de um maior tempo de vida útil , principalmente dos equipamentos eletrônicos.
Outras formas de lixo, também são frutos da chamada "praticidade" dos produtos de consumo imediato, fazendo com que tais produtos tenham um grande número e variedade de material de embalagem que são descartadas.
Tudo isso, e muito mais como veremos a seguir, contribui para que , até mesmo montanhas de lixo fossem apresentadas como atração turística, como a extinta Fresh Kills, nos EUA.

Assim sendo, a questão do lixo está diretamente ligada a questão ambiental e, deve ser avaliada, entendida e combatida de forma ampla  e abrangente.
Assim, temos o lixo doméstico,  industrial, hospitalar e o lixo urbano, fruto da movimentação de pessoas  e veículos automotores. 
O lixo, assim sendo, se apresenta em todos os estados, ou seja, sólido, líquido e gasoso e, ainda , na forma de vibrações sonoras, como o caso do ruído excessivo.

Toda poluição, seja ela decorrente do lixo sólido, do ar saturado com partículas  tóxicas e mesmo o barulho excessivo , são compreendidos como lixo, e como tal, devem ser combatidos em prol da qualidade de vida e da saúde do planeta.

A COMLURB, uma empresa que goza de boa reputação com o carioca ( talvez estando apenas atrás da Corporação dos Bombeiros ) deveria implementar seu Programa de Lixo Zero, de forma mais abrangente e eficaz, priorizando inicialmente suas atividades , fazendo com que tais atividades tenham um padrão de excelência no tocante ao meio ambiente e qualidade vida, buscando, até mesmo como exemplo, a certificação  de organismos internacionais na gestão ambiental através da norma ISO 14000.

O lixo coletado pela COMLURB, em sua totalidade, deveria ser disposto em local adequado, separado e reciclado, uma vez que  uma enorme gama de materiais podem ser reaproveitados , como vidro, metais ferrosos, não ferrosos, papel e papelão, plásticos e outros.
Separar todos os materiais e vender  como matéria prima para indústrias deve fazer parte do reaproveitamento do lixo.
A população do Rio de Janeiro não tem conhecimento de como a COMLURB trata a questão  do reaproveitamento do lixo.

Outro aspecto, de extrema importância no lixo coletado, diz respeito ao lixo orgânico, que como é do conhecimento de V.Sas. pode ser aproveitado  em unidades de biodigestores produzindo o biogás.
O biogás é um combustível de origem não fóssil , que no balanço de massa não é prejudicial ao aumento do aquecimento da temperatura na atmosfera da Terra.
Um gás que pode ser produzido do lixo e com aplicação em fogões domésticos, combustíveis de veículos automotores e como combustível para queima em indústrias.
Questiona-se, no meio técnico e científico, se as companhias de limpeza urbana espalhadas pelo país não poderiam produzir o biogás do lixo e fornecer o gás , através de gasodutos, como insumo  para as indústrias, minimizando o uso de combustíveis fósseis derivados do petróleo.

Outra forma de aplicação do biogás, poderia ser como combustível da própria frota de veículos  da COMLURB, por exemplo, uma vez que hoje a maioria dos veículos da empresa são movidos com combustíveis  derivados do petróleo, o que polui , ou melhor, contribui para sujar ainda mais o ar que respiramos.
Com se vê o Biogás tem várias aplicações, ecológicas, e não é priorizado pelas companhias de limpeza urbana, que detém grande quantidade matéria prima para produzi-lo
.
Outro aspecto da matéria orgânica do lixo, é a questão da produção de adubos, fertilizantes e corretivos para o solo.
Com o espetacular e exponencial  crescimento da agricultura orgânica no país, a demanda por adubos orgânicos  cresce  e a COMLURB poderia,  através do lixo coletado, produzir tais adubos, contribuindo para a agricultura orgânica fluminense, principalmente no arco verde que circunda a  região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, que tem na região serrana  grandes produtores de frutas , legumes, verduras e hortaliças de uma maneira geral.

Outro aspecto da poluição e sujeira da cidade diz respeito ao barulho excessivo, o que pode inclusive causar problemas de deficiência auditiva na população.
Neste caso específico é lamentável que a COMLURB seja alvo de frequentes reclamações por parte da população, já que seus equipamentos ( caminhões ) para coleta de lixo tem ruídos excessivos e ainda, a Cia , em alguns locais da cidade, faz a coleta do lixo em horário destinado ao silêncio , depois das 22 horas , violando, com isso, a legislação local.
Tal  problema poderia ser resolvido se a COMLURB adquirisse equipamentos mais modernos, silenciosos, ou até mesmo fizesse um tratamento acústico em seus equipamentos atuais, minimizando, com isso, o excessivo ruído causado pelos equipamentos.

Outro aspecto, é a movimentação dos garis, em coletas na noite avançada, que também geram barulho excessivo pela movimentação das caixas coletoras  e com a conversa entre  eles.
Esse último aspecto pode ser facilmente resolvido com treinamento dos garis, e , assim sendo, a COMLURB pode inserir em seu programa de treinamento e reciclagem  anual, que imagino que exista, esse item para minimizar o barulho nas coletas noturnas.

Outro ponto importante são as pequenas caixas, colocadas em postes pelas ruas cidade.
Essas caixas foram introduzidas nos logradouros  por ocasião da gestão do prefeito César Maia, que adquiriu esses equipamentos de Portugal, sem priorizar os hábitos de consumo do carioca.
As caixas tem uma boca de coleta que não permite que se  disponha um coco, hábito comum entre os cariocas ( principalmente na orla da cidade, o que não é pouco ), ou seja, comprar um coco, caminhar, beber a água e jogar fora o coco.
Com as caixas coletores, tipo contêiner, que  estão chegando  nas ruas, esse problema pode ser minimizado.

Recentemente o carioca foi informado pelos meios de comunicação de que a COMLURB estaria fazendo testes com os carrinhos que os garis usam nas ruas.
Tais testes seriam com carrinhos fabricados com plástico vegetal, que poderiam, no futuro próximo, substituir os carrinhos de plástico derivados de petróleo usados pela Cia.
Não se teve mais notícia sobre tais equipamentos e o resultado dos testes.

Como se vê, muito pode  e deve ser feito para que se alcance de fato, o tão desejado Programa  Lixo Zero, que faço questão de repetir, uma excelente inciativa da COMLURB.

No entanto, priorizar no programa  a aplicação de  multas para pessoas que joguem lixo nas ruas ( não que as multas não devessem existir, sim elas devem existir ) parece, para o cidadão carioca, que se está instalando mais uma indústria de multas , indústria essa em nome de um meio ambiente limpo em que a COMLURB deveria servir de exemplo.

Entendo que as questões aqui tratadas serão de utilidade para a Cia e estão longe de se esgotar o assunto sobre um meio ambiente limpo.
Caso queiram entrar em contato, disponibilizo meu e-mail:
ribaroli@zipmail.com.br

Outrossim, informo que irei disponibilizar essa correspondência para os milhares de leitores diários de meu blogue, O PAPIRO, que V.Sas podem acessar pelo seguinte endereço:
www. ribaroli.blogspot.com.br.
Assim o farei, pois entendo que os problemas  e práticas  bem sucedidas das Cias de Limpeza urbana, são similares em todas as cidades do país.

Sendo que se apresenta pelo momento e me colocando a disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais,
subscrevo-me,
cordialmente

Ricardo Barbosa de Oliveira

Aproveite  o tema e leia , abaixo, o excelente texto publicado em ENVOLVERDE:

Os muitos lixos na nossa vida     

Por Washington Novaes –

É muito bem-vinda a notícia (28/7) de que o Brasil acaba de adotar um projeto comum com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês) e o Global Environment Facility (GEF) para pesquisar o ciclo do mercúrio e a capacitação do País em gerenciar os riscos desse tipo de substância metálica. Pode ser um passo muito importante para o controle/eliminação desse tipo de lixo tóxico no País – e talvez abra caminho para outros resíduos tóxicos.



Engenheiro ambiental mede a poluição em aterro sanitário municipal. Foto: Shutterstock
 Também pode facilitar a homologação, pelo País, da Convenção de Minamata, que o Brasil assinou (ela só foi homologada por 13 países dos 50 necessários para entrar em vigor). O tratado fixou normas para essa área e estabeleceu que até 2020 o mercúrio deve ser eliminado de pilhas, baterias, lâmpadas, cosméticos, pesticidas e outros materiais, tendo em vista os riscos que implica para a saúde humana (danos à tireoide e à função hepática, tremores, irritabilidade, perda de memória, problemas cardiovasculares e na visão). Os riscos podem estar no consumo de pescado, em amálgamas dentais, na exposição no trabalho, em muitas formas. Envenenamento agudo pode levar à morte em uma semana.

O Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química, é a sétima maior economia no setor químico. Mas tem dificuldade em implantar estratégias para controle e redução do mercúrio, por falta de dados. Também tem pouca experiência na coleta e no armazenamento separado de mercúrio e de seus resíduos, como o encontrado em lâmpadas (das quais o País consome 300 milhões por ano – só 16 milhões são recicladas e têm destinação correta). O custo do projeto agora acordado será de US$ 2,5 milhões.

O mercúrio é apenas um dos vários tóxicos perigosos. Ainda há pouco tempo divulgou-se que uma pesquisa da engenheira ambiental Bruna Fernanda Faria (Unicamp, julho) encontrou, num aterro sanitário para onde vai todo o lixo de Campinas (SP), alta concentração de metais pesados, inclusive em águas superficiais e subterrâneas – chumbo, cromo, níquel, zinco e cobre. Em dois outros aterros desativados há mais de 20 anos também se registrou a presença de metais tóxicos.

Em Paracatu (MG), relatório aponta (El País, 26/5) concentrações de arsênio até 200 vezes mais altas que as permitidas. O arsênio é liberado na atmosfera pela explosão de rochas para retirar ouro da maior mina a céu aberto no mundo (US$ 3,4 bilhões/ano), operada por uma empresa canadense (25% da produção nacional do minério). E contamina a água e o solo. Em um córrego foi encontrada concentração de arsênio 252 vezes mais alta que a admitida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

No final do ano passado, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, assinou com entidades do setor de lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista um acordo setorial que estabeleceu a logística reversa desses produtos, prevista na lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010. Fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes desse tipo de produto que possa prejudicar o meio ambiente ou a saúde humana devem criar um sistema de recolhimento e destinação final, independentemente dos sistemas públicos de limpeza urbana. Ele garante o retorno dos resíduos à indústria, para reaproveitamento.

Outro tipo de resíduo muito problemático é o eletroeletrônico, que pode envenenar pessoas e gerar doenças crônicas. É bastante provável que, a partir do ano que vem, cresça bastante o volume de lixo eletrônico no Brasil, porque começa a ser desligado o sinal analógico para a televisão aberta. Os donos de casas podem implantar antenas adequadas para o novo sistema. Mas é provável que boa parte prefira comprar novos aparelhos e descartar os antigos.

Há países que resolvem por outros caminhos – muito contestados – os problemas nesta área. Os Estados Unidos, por exemplo, até recentemente exportavam 80% dos seus resíduos eletrônicos, principalmente para países mais pobres da África, onde eram parcialmente recolhidos pela população mais pobre e reaproveitados – uma prática chamada de “colonialismo da miséria”. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também exportou da Europa (O Estado de S. Paulo, 24/7) enormes quantidades.

No Brasil, é difícil de ser otimista nesta área, tendo em vista o desolador panorama mostrado há poucas semanas na área do lixo por este jornal, com base em números de 2014. Praticamente nada mudou, por exemplo, na questão dos lixões, para onde continuavam a ir 41,6% dos resíduos nacionais (eram 42,4% em 2013) – apesar dos muitos pronunciamentos do Ministério do Meio Ambiente. Ouvidos moucos, o Senado Federal aprovou no início de julho projeto que prorroga até 2018 o prazo para eliminação dos lixões, que uma lei de 2010 previa para 2014.

Agora, se a Câmara também aprovar, as capitais e municípios de regiões metropolitanas terão prazo até 31 de julho de 2018; municípios de fronteira e com mais de 100 mil pessoas terão um ano além desse limite; e os de 50 mil a 100 mil habitantes, até julho de 2020. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, até 2014 só 9% os eliminaram. Mais de metade das cidades consultadas nem sequer tinha planos para a eliminação.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza e Resíduos Especiais (Abrelpe), serão necessários R$ 11,6 bilhões até 2031 só para implantar a infraestrutura indispensável para a destinação final adequada de resíduos; e R$ 15,59 bilhões anuais para controle de aterros, coleta seletiva, reciclagem e aproveitamento para biogás. A quem se espantar, a associação lembra que serão apenas R$ 6,50 por pessoa a cada mês para ter os recursos.

No mundo, dizem a ONU e o Banco Mundial, a geração de lixo urbano em três décadas cresceu três vezes mais que a população. Está em 1,4 bilhão de toneladas/ano e chegará, em dez anos, a 2,2 bilhões de toneladas/ano. Perto de 250 kg anuais por habitante. Não consola saber. (O Estado de S. Paulo/ #Envolverde)

* Washington Novaes é jornalista (wlrnovaes@uol.com.br)

Fonte: ENVOLVERDE

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