quinta-feira, 9 de julho de 2015

A foice, o martelo e o teclado. O triângulo equilátero do ecossocialismo

Papa elogia governo de Evo Morales e ganha uma “cruz comunista” de presente

Foto: Lusa
Em seu discurso, Franscisco criticou o consumismo e a degradação ambiental, além de destacar a violência doméstica, o alcoolismo e o machismo como ameaças à família; Morales saudou o papa e disse que ele representa “esperança”, presenteando-o com uma cruz formada por uma foice e um martelo








Morales dá a Francisco um Cristo crucificado sobre foice e martelo


  • 09/07/2015

  • Da Fórum

  • O papa Francisco chegou ontem (8) à Bolívia e foi recebido pelo presidente do país, Evo Morales. Os dois trocaram presentes no Palácio do Governo, em La Paz. O pontífice elogiou a gestão do líder indígena, recebeu uma cruz formada com um martelo e uma foice, e também o “Livro do Mar”. Morales ainda deu a Francisco a medalha Condor dos Andes, condecoração máxima da Bolívia, e a distinção Luis Espinal, que foi criada para reconhecer quem possua uma fé religiosa e se destaque por defender os pobres, marginalizados e doentes.
Em seu discurso, o presidente saudou a melhoria nas relações com a Igreja, após um passado turbulento. “Em muitos momentos históricos, a Igreja foi utilizada para a dominação, subjugação e opressão. Agora, o povo boliviano te recebe com alegria e esperança”, disse Morales. “Nós te recebemos como o principal representante da Igreja Católica que vem apoiar a libertação de nosso povo boliviano.”
Na Catedral de La Paz, o religioso falou sobre a “especulação financeira” e o consumismo dos dias atuais. “Se a política se deixa dominar pela especulação financeira, ou a economia se deixa reger apenas pelo paradigma tecnocrático e utilitarista da produção máxima, não poderão sequer compreender – e muito menos resolver – os grandes problemas que afetam a humanidade”, afirmou.
Em sua fala, ele abordou ainda temas como a degradação ambiental, além de destacar a violência doméstica, o alcoolismo e o machismo como ameaças à família. Ele pediu uma “particular atenção à justiça distributiva” e uma aposta na cultura e na educação “ética e moral”, que cultive “atitudes de solidariedade e corresponsabilidade entre as pessoas”.
Ao final do encontro, o papa seguiu para o aeroporto de El Alto para o segundo voo do dia, rumo a Santa Cruz de la Sierra, evitando assim os efeitos de altitude da capital. Para evitar problemas, Francisco bebeu uma infusão de folhas de coca, camomila e anis.
Fonte: BRASIL DE FATO
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E tudo começou no final da década de 1990.
Os protestos anti-globalização pelo mundo, e na América do Sul a eleição de Hugo Chávez , na Venezuela.
A partir de então, o continente sul americano foi tomado, pouco a pouco, de novos governos progressistas de esquerda.
Com quase duas décadas desse processo, que muitos diziam que seria breve, as vozes do fim do mundo , hoje, se fazem ouvir  do Vaticano, na Europa,  na emblemática figura do Papa Francisco, argentino, sul americano.
Não por acaso, já que nada em política é por acaso, uma violenta ofensiva conservadora , retrógrada e nazifascista com objetivos claros de golpes de estado tenta se impor no continente sul americano, de Chávez, Maduro, Lula, Dilma, Morales, Correa, Bachelet, Mujica, Vásquez,  Lugo, Kirchners e Francisco, justamente após a  escolha de Jorge Mario Bergoglio como Papa. 
Ao receber como presente de Morales uma cruz com uma foice e um martelo, os povos da América do Sul saúdam Francisco nas três pontas do triângulo, a foice, o martelo e o teclado. O campo, a fábrica e a escola. Os alimentos, os bens manufaturados e o conhecimento. Tudo integrado em um triângulo equilátero, com a mãe Terra ao centro. O ecossocialismo,  que talvez melhor simbolize o socialismo do  século XXI idealizado pela revolução Bolivariana , pela revolução Zapatista e pelo Bem Viver dos povos indígenas da America Latina.
Na economia do descarte, tão criticada corretamente por Francisco, o que hoje corre o sério risco de ser descartado é o próprio capitalismo em sua versão selvagem e desregulada.
Todas as formas e expressões de violência, criticadas por Francisco, tem origem na expressão atual do capitalismo no mundo.


Desnorteada com o discurso do Papa na Bolívia, mídia foca em crucifixo e ignora História; veja o discurso de Francisco

publicado em 10 de julho de 2015 às 00:13
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As fotos escolhidas pelos editores para ilustrar a entrega do crucifixo, ao contrário da que aparece acima, buscam mostrar o papa Francisco supostamente contrariado (Foto Agência Boliviana de Informação)
Por Luiz Carlos Azenha
O Papa Francisco fez um discurso anticapitalista ontem na Bolívia, referindo-se ao sistema econômico como “ditadura sutil”.
Foi no Segundo Encontro Mundial de Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra.
“A distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral”, afirmou.
Também disse que a concentração da mídia é instrumento de “colonialismo ideológico”, pois “a concentração monopólica dos meios de comunicação social pretende impor pautas alienantes de consumo e certa uniformidade cultural”.
O papa pregou “mudança de estruturas” e disse que mesmo entre a elite econômica que se beneficia do sistema “muitos esperam uma mudança que os libere dessa tristeza individualista que os escraviza”.
Para João Pedro Stélide, líder do Movimento dos Sem Terra, que estava presente, o discurso do papa foi “irretocável”, ao atacar a busca do lucro sem considerações sociais e ecológicas como um dos grandes problemas da atualidade.
O colunismo brasileiro preferiu focar no presente inusitado que o presidente da Bolívia, Evo Morales, deu a Francisco: um Cristo crucificado em foice e martelo.
Na Folha, Igor Gielow chamou de “aberração” sem explicar a origem do presente.
É a reprodução de uma escultura do sacerdote espanhol Luis Espinal, que tinha ligação com movimentos sociais bolivianos e foi assassinado por paramilitares em 1980.
Fez parte da programação do papa em solo boliviano uma homenagem a Espinal, que era jesuíta como o atual pontífice.
A “aberração” a que se referiu o colunista da Folha demonstra o quanto ele desconhece a História dos jesuítas no período colonial.
Na introdução de A República Guarani, de Clovis Lugon, Antônio Cechin descreve:
Na América Latina, entre o século 16 e o século 18, a expansão da Companhia de Jesus (jesuítas), exerceu um papel de contrapartida humanista e espiritual da conquista militar e da dominação política. A metodologia de ação dos padres consistiu em reagrupar os índios em cidades-paróquias autônomas, propícias ao ensino e à evangelização. Surgiram assim 33 “Reduções” da Província Jesuíta do Paraguai, edificadas e habitadas pelos Guarani. Graças às disposições metafísicas desses Índios, a suas afinidades espirituais e culturais com os Jesuítas, à ação ao mesmo tempo prudente e audaciosa desses últimos, aquilo que se chamou “República Comunista Cristã dos Guarani” iria ser, durante 150 anos (1610 a 1768), o teatro de uma experiência humana e religiosa única, portanto sem similar na história, permitindo aos índios aceder ao estatuto de cidadãos livres, em tudo semelhantes aos espanhóis e, em muitos aspectos, culturalmente superiores a esses.
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Foto arquivo pessoal
No bairro que fica bem atrás do Palácio Miraflores, em Caracas, o 23 de Enero, um dos bastiões do chavismo, eu vi pessoalmente numa parede a imagem de Che Guevara retratado como Cristo, de metralhadora na mão.
Hugo Chávez era ao mesmo tempo socialista e católico fervoroso. Bebia na fonte de Enrique Dussel, o filósofo argentino radicado no México autor dentre muitos outros de Filosofia da Libertação,Teologia da Libertação e Ética da Libertação, nascidos de reflexão sobre a história da Igreja Católica durante a colonização das Américas.
Nosso ponto é que o espanhol Luis Espinal não é maluco por ter juntado numa escultura Cristo, a foice e o martelo, que acima de tudo são símbolos de camponeses e operários.
Independentemente de você concordar ou não com isso, existe uma longa tradição de cristianismo “de esquerda” ou de socialismo “cristão” na América Latina.
Obviamente, o jornalismo “ligeiro” desconhece isso.
O governo boliviano desmentiu oficialmente boatos disseminados pelas redes sociais segundo os quais o Papa teria manifestado desconforto ao receber o presente.
Francisco, segundo difundido por parte da mídia boliviana, teria dito “não se faz isso” ao receber o presente, quando o áudio deixa claro que ele afirma “não sabia disso” ao ouvir a explicação de Evo Morales sobre a escultura.
Em outras palavras, a direita midiática boliviana pirou com o progressismo de Francisco e, por extensão, a brasileira.
Fonte: VIOMUNDO

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