segunda-feira, 22 de junho de 2015

Maduro não é Dunga e Vuelco não é nome de jogador de futebol da Venezuela

O Engarrafamento Bolivariano
Marcelo Zero, via e-mail
22/06/2015
caracas mico
Aos que tentavam politizar todas as manifestações culturais, o grande crítico Sérgio Augusto costumava perguntar se o violão do Baden Powell era de direita ou de esquerda.

Há, de fato, coisas que não podem ser politizadas. Como o etéreo violão do Baden Powell, ou como as leis de ferro da física.

Um bom exemplo dessas últimas é a lei da impenetrabilidade da matéria, formulada, entre outros, por Newton, a qual afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.

É a lei que explica os engarrafamentos de trânsito. Com pouca pista (espaço) e muitos veículos (corpos) o trânsito invariavelmente engarrafa. Principalmente quando há acidentes.

Foi o que aconteceu manhã da última quinta-feira, em Caracas. Conforme todos os jornais venezuelanos, inclusive os da oposição,que funcionam livremente, uma carreta carregada de farinha tombou na já normalmente complicada autopista que liga Caracas ao seu aeroporto, provocando um enorme engarrafamento de trânsito.
Isso é um fato. Não é de esquerda e nem de direita. Simplesmente é.
Também é fato que, numa democracia, todos têm direito à manifestação. Pode parecer estranho para alguns, mas a Constituição da Venezuela, aprovada em referendo por mais de 70% da população, assegura, até mesmo aos chavistas, o direito à opinião e à manifestação.

Direitos são direitos. Não são de esquerda nem de direita. E democracia é democracia para todos. Não é prerrogativa exclusiva da direita.
Da mesma forma, é um dado da realidade que todos, de direita ou de esquerda, podem cometer equívocos. Esse parece ter sido o caso da flamante comissão senatorial que foi a Caracas na última semana.

Para ficar no terreno reconfortante dos eufemismos, era uma comissão que tinha pouco de elevada diplomacia parlamentar e demasiado de comezinha política eleitoral. Aparentemente, foi lá exportar o embate político interno do Brasil a um país já dilacerado por disputa intestina. Não foi lá para dialogar com as forças políticas responsáveis, apaziguar ânimos, propugnar pela solução à questão dos presos e, sobretudo, evitar mais violência e mortes, como faz a Reunião de Chanceleres da Unasul, da qual participa o Brasil. Conscientemente ou não, foi jogar mais lenha na descontrolada fogueira venezuelana. Tudo o que a Venezuela não precisava e não precisa.
Países que passam por crise grave e que estão à beira de uma guerra civil aberta precisam de bombeiros, não de incendiários, sejam de direita ou de esquerda. Isso também é fato.
Mas tem gente confundindo fato com ficção e Isaac Newton com Hugo Chávez.

É claro que se deve lamentar o constrangimento passado pela comissão de senadores brasileiros na Venezuela. Afinal, era formalmente uma comissão oficial do Senado, embora fosse, na realidade, uma comissão da oposição brasileira que foi lá se encontrar exclusivamente com as lideranças mais radicalizadas da oposição da Venezuela, as quais assumidamente querem derrubar o governo eleito de Maduro a qualquer custo, inclusive mediante o recurso à violência. É o beco sem saída do La Salida, proposto abertamente por Leopoldo López. Após o seu anúncio, oito chavistas foram assassinados na Venezuela. Outro fato.
Porém, lamentar o ocorrido, e pedir as explicações de praxe, não pode se confundir com uma concordância com a tese delirante de que o episódio foi ocasionado por um grande complô armado pelo governo da Venezuela, em conluio com o governo brasileiro e o Itamaraty.
Ora, o governo brasileiro, mesmo sabedor do caráter, assim digamos, pouco equilibrado da comissão deu todo o apoio à empreitada senatorial. O ministro Jacques Wagner providenciou o confortável jatinho e negociou exitosamente, com seu homólogo, o sobrevoo e o pouso da aeronave recheada de excelências. Fatos confirmados pela própria comitiva.

O embaixador brasileiro em Caracas cumpriu rigorosamente o protocolo previsto em tais ocasiões. Alugou as vans para a comitiva, providenciou a devida escolta policial e recebeu os senadores no aeroporto. Não acompanhou a comitiva porque não lhe cabia. Ademais, seria insensato fazer parte de uma comitiva em que estavam presentes representantes da oposição mais radical da Venezuela. O embaixador representa o Estado brasileiro e, como tal, tem de manter equidistância das forças em conflito. Não cabe ao embaixador do Brasil se meter nos assuntos internos da Venezuela.
Esse é um princípio básico da diplomacia que não é nem de direita, nem de esquerda.

Também não cabia ao embaixador do Brasil revogar as leis da física e remover magicamente o engarrafamento bolivariano. Ou mandar prender os poucos manifestantes chavistas que foram ao aeroporto protestar contra o assassino de uma professora grávida, que morreu nas democráticas guarimbas organizadas por ordem de Leopoldo López, as quais já mataram 43 venezuelanos, na maioria chavistas ou gente sem filiação política. Entre os mortos, há, inclusive, sete policiais venezuelanos, três deles executados com tiros na cabeça. Fatos macabros.
Morte é morte. Não é de esquerda e nem de direita.
Quanto ao governo Maduro, cabe perguntar o que ele ganharia com isso. Com efeito, a comissão, caso tivesse tido êxito, teria caído no merecido olvido reservado aos equívocos políticos. Adquiriu toda essa notoriedade graças ao seu providencial fracasso.

Outras autoridades internacionais, como Felipe González, já tinham visitado López, condenado pela justiça por incitação à violência, sem nenhum problema.

Se Maduro tivesse querido demonstrar força ante a comissão senatorial, teria facilmente convocado 400 mil chavistas ao aeroporto, não 40. Também não parece factível que Maduro tenha ordenado paralisar o trânsito de Caracas para irritar Aécio e companhia. Essa hipótese simplesmente carece de bom senso e transborda megalomania e paranoia.

E o bom senso não é de esquerda nem de direita. Não é de bom senso politizá-lo.

Agora, os senadores, irritados com o engarrafamento e magoados com a manifestação, que abalou egos mas não a segurança, querem tirar a Venezuela do Mercosul, sob a alegação que houve ruptura da ordem democrática, conforme prevê o Protocolo de Ushuaia. Também insistem em acusar o governo brasileiro e o Itamaraty pelo fracasso anunciado da intrépida comissão. Querem até levar o caso à OEA.

O engarrafamento bolivariano e a gigantesca manifestação chavista seriam, aparentemente, as provas definitivas dessa ruptura e do complô comunista binacional.

O senso do ridículo não é apanágio da esquerda ou da direita. Ou não deveria ser.

Fonte: MARIA FRÔ

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Os documentos da violência golpista na Venezuela

Em posts anteriores, havia prometido publicar aqui o documento (ainda inédito nas redes sociais) do Ministério Público da Venezuela, que traz uma farta documentação sobre as chamadas “guarimbas”, as violências golpistas da oposição venezuelana do início de 2014.
Promessa cumprida, como todas – modéstia à parte – do Cafezinho. Aqui a gente trabalha com documentos, fotos, vídeos, gravações, evidências concretas, e não fofoca, delação premiada, disse-me-disse, como faz a grande mídia.
Essas violências foram convocadas e estimuladas por Leopoldo Lopez, Antonio Ledezma e Maria Corina Machado, os amiguinhos de Aécio Neves e da mídia brasileira.
No Brasil, a morte de um repórter, por acidente, levou a mídia a pedir, furiosamente, a prisão de um monte de garotos.
Na Venezuela, a morte de 43 pessoas não deveria fazer a mídia pedir também a prisão dos responsáveis políticos diretos pelas violências, visto que Leopoldo Lopes defendia abertamente a tática de manifestações violentas para derrubar o governo Maduro?
Não, a mídia brasileira trata Lopez como “preso político” e chancela a visita de um bando de senadores patetas a esse tipo de bandido, o pior tipo de bandido numa democracia, aquele que não aceita a voz das urnas e quer usurpar o poder através da violência.
Nota do PAPIRO: 
Os documentos citados na postagem podem ser lidos em www.ocafezinho.com.br
Fonte: O CAFEZINHO
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Venezuela: Aécio Neves e os sem 

noção e sem limite

Em nenhum momento de sua vida Aécio Neves fez algo pelos direitos 

humanos ou pela liberdade de expressão.

Eric Nepomuceno
Geraldo Magela /Agência Senado
Teria sido apenas um gesto um tanto bizarro, um tanto patético, um desses vexaminosos momentos em que um garoto mimado reúne um grupo de ressentidos para demonstrar sua contrariedade. Para isso, contou com meia dúzia de desconhecidos em busca de protagonismo, figurantes opacos reforçando o destempero de um político que deveria respeitar um pouco mais a própria trajetória.

À frente de tudo, ele, esplendoroso garotão provinciano que insiste em querer virar um jogo jogado.

Poderia ter sido, sim, um gesto um tanto bizarro, um tanto patético. Mas que também poderia ter sido encarado, pela Venezuela, como uma intromissão inadmissível, colocando em risco algo muito mais sério que as figuras que participaram da pantomina.

Feitas as contas, o resultado final é inócuo. Mas ainda ocupa amplo espaço nos grandes meios de comunicação, que uma vez mais irão prestar sua robusta contribuição para que o ambiente político brasileiro permaneça nessa tensão estéril.

Sem medo algum do ridículo, Aécio Cunha, que usa o nome político de Aécio Neves, agora quer simplesmente que se debata, no Senado brasileiro, a expulsão da Venezuela do Mercosul. Já o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira – o iracundo que deveria respeitar um pouco mais a própria história – culpa, claro, Dilma Rousseff por alguma coisa que ele mesmo não consegue demonstrar. E, claro, exige (é curioso como a direita não propõe, defende, reivindica ou pede: a direita exige) a expulsão sumária da Venezuela do bloco regional.

Outra figura bizarra, José Agripino Maia (este sim, faz jus ao próprio passado de parlamentar da ARENA, e se mantém, rigoroso e impassível, na defesa de suas convicções desavergonhadas) quer convocar o embaixador brasileiro na Venezuela. Para quê? Ora, para manter acesa a fogueira da sua inutilidade. Na falta de propostas viáveis de alternativa, nada melhor, para esse velhote birrento, que espicaçar o governo.

Quando embarcaram num avião da Força Aérea Brasileira – portanto, do Estado brasileiro – numa missão autonomeada (afinal, para isso o destemperado Aloysio Nunes Ferreira preside a Comissão de Relações Exteriores do Senado), os viajantes tinham um só objetivo evidente: ganhar espaço nos meios de comunicação e continuar seus desvairados ataques contra Dilma e seu governo.

Dizer que estavam realmente comprometidos com a defesa dos direitos humanos dos políticos presos na Venezuela seria uma ofensa e um escárnio, não fosse ridículo. Em nenhum momento de sua vida de coloridas frivolidades Aécio Neves dedicou três gotas de suor a essa questão. Mencionar a liberdade de imprensa deveria enrubescer suas faces rechonchudas, diante do que ele fez durante seus oito anos de governador de Minas Gerais.

Em resumo: tudo não passaria de uma desastrada bizarrice, mas há dois pontos a serem levados em conta. O primeiro: o apoio incompreensível dos grandes meios de comunicação, que não apenas abriram espaço nobre para essa bobagem, sem dedicar um ínfimo parágrafo a uma análise responsável sobre a aventura, como continuam insuflando a história. E segundo: o momento extremamente delicado vivido pelo Congresso brasileiro, cujas duas casas – a Câmara de Deputados e o próprio Senado – são presididas por dois elementos de qualificação mais do que discutível. O país tem, hoje, um dos Congressos mais conservadores e lamentáveis, em termos do nível de seus integrantes das últimas décadas. E se o impoluto Renan Calheiros aceita levar essa patuscada adiante?

Será que ninguém vê até que ponto vai a falta de noção do playboy provinciano, sua falta de limites? Até quando o presidente do maior partido de oposição continuará se portando como se estivesse numa de suas alegres e saltitantes tardes de sábado, cercado por um punhado de cafajestes, num bistrô de Ipanema?

Será que nenhum dos sem-noção desse turismo ridículo percebe que essa farsa pode trazer consequências para o já tão enredado cenário político interno que vivemos, e ao mesmo tempo respingar nas relações com um país cujo peso na balança comercial brasileira – para não mencionar o difícil equilibro geopolítico regional – é importante?

Há uma evidente cumplicidade irresponsável de quem abre espaço e leva a sério tudo isso, querendo criar espaço para um debate ao redor dessa bizarrice oportunista, cuja base tem a consistência de um pudim de caramelo. Será que não surge uma única e solitária voz para desnudar essa brincadeira irresponsável?

Lástima que Nicolás Maduro careça de sentido de humor. Tivesse permitido a essa caravana Brancaleone chegar até o centro de Caracas para um almocinho frugal, e a manobra patética teria sido esvaziada. Pena que até o governo venezuelano tenha levado essa esparrela a sério.

Ao exigir respeito de quem não merece respeito algum, acabou facilitando a manobra de desinformação, contribuindo para que a maioria dos brasileiros, cuja noção do cenário da América Latina é muito parecida à sinceridade dos integrantes da caravana do ridículo, continue sem saber o que realmente está acontecendo na Venezuela.

Fonte: CARTA MAIOR
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E a patetada dos senadores brasileiros na Venezuela continua repercutindo, seja pelo ato patético, seja pelo apoio que a velha mídia tem dado aos intrépidos senadores.

No sábado passado, em um programa sobre arte na rádio CBN, a rádio que troca notícia, o artista entrevistado aproveitou um momento da entrevista que se referia a Venezuela para dizer que ninguém em sã consciência pode defender o regime Bolivariano, classificado pelo artista de anti-democrático. 

E não ficou por aí.

No domingo, durante a transmissão do jogo de futebol entre as seleções do Brasil e da Venezuela, o narrador e o comentarista da rádio Tupi misturaram Dunga com Maduro ao afirmarem que na Venezuela existe censura e o regime não é democrático.

Censura em um país em que a imprensa tem liberdade até para xingar a mãe de Hugo Chaves ?

Anti democrático em um país com eleições livres e plebiscitos em meio de mandato para avaliar a permanência dos presidentes ?

Não satisfeitos, narrador  e comentarista , ambos remanescentes ideológicos da ditadura militar brasileira , saíram em defesa da missão patética dos senadores brasileiros.

O vuelco da gandola que originou o engarrafamento em que ficou retida a missão patética, afetou ainda mais os neurônios de nossa velha e decadente imprensa e, o jogo ficou ainda mais patético quando a alegre e cômica imprensa esportiva resolveu dar seus pitacos sobre questões políticas que desconhece.

Essa mesma imprensa esportiva, aliada de um modelo de futebol brasileiro ultrapassado  , dentro e fora de campo,  que se vê desconfortável em meio a regimes livres e democráticos.

De fato, Isaac Newton não e´Hugo Chávez , Maduro não é Dunga, e a  seleção de futebol da Venezuela é apenas um time de futebol, não muito distante tecnicamente do time brasileiro.


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