quarta-feira, 17 de junho de 2015

Até o diabo está assustado

Mão que apedreja crianças só tem fé na maldade

16 de junho de 2015 | 17:33 Autor: Fernando Brito
candom
Do jornal O Dia:

“Com apenas 11 anos de idade, K. conheceu a intolerância religiosa na noite de domingo de forma dolorosa. A menina, iniciada no Candomblé há quatro meses, seguia com parentes e irmãos de santo para um centro espiritualista na Vila da Penha, quando foi atingida na cabeça por uma pedra, atirada, segundo testemunhas, por um grupo de evangélicos. Ainda segundo os relatos, momentos antes, eles xingaram os adeptos da religião de matriz africana.
“Eles gritaram: ‘Sai Satanás, queima! Vocês vão para o inferno’. Mas nós não demos importância. Logo depois, o pedregulho atingiu minha neta e, enquanto fomos socorrê-la, eles fugiram em um ônibus”, contou a avó da menina, Kathia Coelho Maria Eduardo, de 53 anos, conhecida na religião como Vó Kathi”.

Está na hora de as igrejas protestantes de gente de bem – e não de picaretas fanatizadores – lembrarem o que fez a intolerância religiosa contra eles próprios. A Noite de São Bartolomeu, na França, a Grande Expulsão, na Inglaterra, os conflitos armados na Alemanha e as que envergonham – como envergonha a Católica a barbárie da Inquisição – a própria história do protestantismo, como o massacre de Salem, no século 18, no EUA.
Porque, seja qual for a religião ou a não-religião, quem apedreja uma criança não o faz em nome da fé.
E que, se disser que tem alguma, certamente não é em algum deus que deva ser cultuado.

Fonte: TIJOLAÇO
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A mão dos malafaias e felicianos na agressão da menina que saía de uma festa do candomblé

A menina Kailane
A menina Kailane

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Os homens que apedrejaram a menina carioca Kailane Campos, de 11 anos, que saía de uma festa do candomblé têm um segredo. Se não um segredo, algo que preferem fazer longe de olhos curiosos.

Trancados em uma sala, enchem-se de coragem e se entregam a um ritual bem ensaiado.
Sob a liderança de um homem de temperamento febril, exaltam histórias envolvendo crimes violentos, tortura, morte de crianças, escravidão, incesto e banhos de sangue.
As histórias são saudadas com urros desumanos. Uma das mais populares é sobre um alguém espancado que sangrou até a morte atado a pedaços de pau.
Olhado assim, um culto baseado na história de Jesus Cristo – seja ele católico, ou protestante, ou de qualquer outra denominação cristã –, não parece ele alguma coisa torpe e repulsiva?
Senão, vejamos. Qual é, então, a diferença entre o que foi dito acima e acompanhar o que prega uma mulher vestida de branco que dança rodando e fumando um charuto e fala com a voz grossa? O charuto que ela fuma durante o culto, talvez.
O que dá o direito a este grupo de pessoas, então, de jogar uma pedra na cabeça de uma criança de 11 anos? A Lei, certamente, não é. Em vigor desde 5 de janeiro de 1989, a lei nº 7.716 considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões no país.
“O que chamou a atenção foi que eles começaram a levantar a bíblia e chamar todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’”, disse a avó de Kaliane, a mãe de santo Kátia Marinho, de 53 anos.
Kaliane, segundo a avó, foi criada nesta religião e até já frequentou a escola pública com a indumentária típica do candomblé, que usava naquele dia: um pano de cabeça e a saia de ração branca.”Continuo na religião, nunca vou deixá-la. É a minha fé. Mas não saio de mais de branco. Nem no portão eu vou. Estou muito, muito assustada. Tenho medo de morrer. Muito, muito medo”, disse Kaliane.
Como dormir em paz sabendo-se que somos uma sociedade em que um bando de adultos pusilânimes é capaz de atirar pedras na cabeça de uma criança por causa de sua religião?
Que sejam encontrados e punidos. Mas fico pensando: a razão não lhes falta à toa. Ela foi tirada, a golpes de falácia fundamentalista, por pastores que não fazem senão incitar o ódio.
Vou soltar uma frase dita em um culto evangélico e que acabou vazando para a imprensa. Tentem adivinhar o autor.
“Eu profetizo a falência do reino das trevas. Profetizo o sepultamento dos pais de santo. Profetizo o fechamento dos terreiros de macumba. Profetizo a glória do Senhor na Terra.”
Nosso deputado federal Marco Feliciano.
O notório pastor Silas Malafaia já ordenou a seus fiéis que boicotassem a novela “Salve Jorge”, de 2012, porque esta seria uma expressão usada para invocar a entidade Ogum, presente em religiões de matriz africana. Disse, na TV, que se um pastor invadisse um centro da macumba, deveria ser metido na cadeia.
No discurso ladino dos pastores milionários, as religiões trazidas pelos escravos são a representação do inimigo, e seus seguidores, perigosos enviados do demônio.
Tal é a situação que quando Malafaia quer bater em Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus e da Rede Record, diz que não há diferença entre um templo da IURD e um terreiro de macumba. “Como exemplos, podemos citar a sessão dos descarrego, o culto da rosa branca, os banhos de arruda, a sexta-feira forte, o culto dos empresários, sem contar a utilização do sal grosso”, escreveu Malafaia.
A questão que nos está posta, como sociedade, é uma de responsabilidade. Somos chamados a agir mais.
A mensagem de tolerância, de aceitação do diferente, que está chegando a lugares em que nunca chegou, não pode vir desacompanhada de ação.
Quem é diferente está colocando a cara no sol. A menina Kailane se sentiu segura a ponto de desfilar suas roupas do candomblé na rua. Levou pedradas.
O menino Rafael Barbosa de Melo, de 14 anos, foi espancado até a morte no fim de semana no Espírito Santo porque se vestia com roupas chamativas e tinha trejeitos “diferentes”.
Na medida em que a discussão avança e mais gente aceita a diversidade do mundo, quem toma coragem para se assumir como o que é corre mais perigo na mão de monstros estimulados pela pregação psicopata de malafaias e felicianos.
Enquanto tudo isso acontece, os homens que fazem leis com bíblias debaixo do braço rezam um Pai Nosso contra a parada gay na Câmara de Deputados, uma das mais nobres casas de nosso Estado laico.
E o sangue das crianças escorrendo.


Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Desde que existe religião, a intolerância religiosa está presente.

Atos de intolerância religiosa acontecem com frequência, sendo que em determinados períodos com mais ou menos intensidade.

O momento atual do mundo favorece atos de intolerância religiosa.

A decadência civilizacional  em curso ainda irá produzir muitos outros atos de barbárie, seja por religião ou por outros motivos, até mesmo fúteis.

A negação do diferente parece que se consolida como um valor universal, fazendo com que negros, pobres, indígenas, comunidade LGBT, mulheres, idosos, defensores dos direitos humanos, socialistas,   religiões e imigrantes, sejam vistos pela sociedade como diferentes e, assim percebidos, devem ser atacados e rejeitados de todas as formas, tal qual ocorreu com os judeus durante a segunda grande guerra.

O pensamento único decorrente da vitória do capitalismo no início da década de 1990, certamente é o maior responsável por esse estado da arte.

Por outro lado, esse retrocesso civilizacional pode ser entendido como a agonia de algo que se aproxima de seu fim.

Seja lá o que for e independente do que se pense sobre o assunto, agredir com uma pedrada uma menina de apenas 11 anos  pelo fato de pertencer a uma outra religião diferente da religião  do agressor, revela o estado de insanidade coletiva que vem tomando conta do mundo.

Evangélicos teriam sido os responsáveis pela barbárie contra a menina candomblecista, no entanto poderiam ter sido  católicos e outros.

O certo é que no Brasil, as religiões de matriz afrodescendente são sempre as vítimas das agressões.

Essas agressões ganham mais destaque a partir do momento em que correntes religiosas passaram a ocupar de forma ostensiva os meios de comunicação de massa.

É uma indecência, ou melhor, um pecado, o grande número de emissoras de rádios e de TV's  que operam exclusivamente em prol de determinadas correntes religiosas, fazendo do proselitismo religioso o fio condutor de toda a programação dessas emissoras.

Agressões explícitas contra outras correntes religiosas, principalmente contra a umbanda e o candomblé, são vistas e ouvidas diariamente em emissoras de TV e de rádio, onde supostos religiosos descarregam ensandecidos sermões contra tudo que for diferente de seus pensamentos.

E tudo isso acontece, a qualquer hora do dia, em concessões públicas que tem por objetivo zelar pelo interesse público.

O governo federal se omite e a barbárie caminha a passos largos, em meio a cenas de exorcismo, diabos ameaçadores e até mesmo distúrbios neurovegetativos de fiéis em transe.

Um horror que deve deixar assustado até mesmo o capeta.

Por outro lado, não se pode afirmar que a orgia de proselitismos religiosos em veículos de comunicação de massa seja a principal causa da barbárie civilizacional, mas que ajuda a consolidar a violência, isso ajuda e muito.

Se a liberdade para tais sermões em emissoras de rádio e TV são permitidas, pode-se imaginar o tipo de sermão preconceituoso e violento proferido em templos, igrejas e similares.

Algumas correntes religiosas, diante dessa realidade, já possuem em seus rebanhos grupos de fiéis treinados que se manifestam como guerreiros ou exércitos, tudo, claro, em nome de Jesus e do Senhor, para combater o Diabo no inferno da vida diária da sociedade decadente e agonizante, justamente por conta desses valores.

Atos como a agressão a uma menina deveriam ter uma resposta imediata de todas as correntes religiosas e mesmo de toda a sociedade, porém, nada disso acontece já que para a maioria das pessoas isso não é um problema delas, uma vez que  que o individualismo é também  mais um valor universal do mudo atual.

Assim sendo, e em nome do Senhor ou de Jesus, se joga pedra contra quem bate tambores, em total ignorância quando a presença da música, do som, do canto, dos mantras, em todas as expressões religiosas.

Não se pode acusar todas as correntes evangélicas  de ignorância profunda, ao contrário, a maioria do evangélicos não aprova tais atos.

No entanto, o proselitismo evangélico nas mídias é diabólico e contribui de forma significativa para a violência na sociedade brasileira.

O governo federal deve agir , imediatamente, para criar regras claras para as concessões de rádio  e de TV .

Quanto a sociedade, espera-se que acorde e se mobilize para protestar , mesmo com frequência, contra o estado de barbárie que ameaça se solidificar no país, onde até o diabo está assustado.

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