terça-feira, 19 de maio de 2015

Velha mídia pode estar dando um tiro pela culatra

 Outras razões para a pauta negativa
Por Venício A. de Lima, no Observatório da Imprensa:

O sempre interessante Boletim UFMG que traz, a cada semana, notícias do dia a dia da Universidade Federal de Minas Gerais, informa, na edição de 4 de maio [Ano 41, nº 1.902], sobre trabalho desenvolvido por grupo de pesquisa do Departamento de Ciência da Computação (DCC) em torno da “análise de sentimento” que relaciona o sucesso das notícias com sua polaridade, negativa ou positiva.

Vale a pena conferir o artigo que originou a matéria (disponível aqui) e será apresentado, ainda este mês, em conferência internacional sobre weblogs e mídia social na Universidade de Oxford, Inglaterra.

Utilizando programas de computador desenvolvidos pelo DCC-UFMG, foram identificadas, coletadas e analisadas 69.907 manchetes veiculadas em quatro sites noticiosos internacionais ao longo de oito meses de 2014: The New York Times, BBC, Reuters e Daily Mail. E as notícias foram agrupadas em cinco grandes categorias: negócios e dinheiro, saúde, ciência e tecnologia, esportes e mundo.

As conclusões da pesquisa são preciosas.

Notícia negativa atrai mais leitores(as)

Cerca de 70% das notícias diárias estão relacionadas a fatos que geram “sentimentos negativos” – tais como catástrofes, acidentes, doenças, crimes e crises. Os textos das manchetes foram relacionados aos sentimentos que elas despertam, numa escala de menos 5 (muito negativo) a mais 5 (muito positivo). Descobriu-se que o sucesso de uma notícia [vale dizer, o número de vezes em que é “clicada” pelo eventual leitor(a)] está fortemente vinculado a esses “sentimentos” e que os dois extremos – negativo e positivo – são os mais “clicados”. As manchetes negativas, todavia, são aquelas que atraem maior interesse dos leitores(as).

Das cinco categorias de manchetes analisadas, a mais homogênea é a categoria “mundo”, onde só foram encontradas manchetes sobre catástrofes, sugerindo implicitamente que o país onde a notícia é produzida seria mais seguro do que os outros.

Descobriu-se também, ao contrário da expectativa dos pesquisadores, que os comentários postados por eventuais leitores(as) tendem a ser sempre negativos, independentemente do “sentimento” provocado pelo conteúdo da notícia.

Razões para a pauta negativa

Embora realizado com base em manchetes publicadas em sites internacionais – não brasileiros – os resultados do trabalho dos pesquisadores do DCC-UFMG nos ajudam a compreender a predominância do “jornalismo do vale de lágrimas” (ver, neste Observatório, “O vale de lágrimas é aqui”) na grande mídia brasileira.

Para além da partidarização seletiva das notícias, parece haver também uma importante estratégia de sobrevivência empresarial influindo na escolha da pauta negativa. Os principais telejornais exibidos na televisão brasileira, por exemplo, estão se transformando em incansáveis noticiários diários de crises, crimes, catástrofes, acidentes e doenças de todos os tipos. Carrega-se, sem dó nem piedade, nas notícias que geram sentimentos negativos. Mais do que isso: os(as) âncoras dos telejornais, além das notícias negativas, se encarregam de editorializar (fazer comentários) invariavelmente críticos e pessimistas reforçando, para além da notícia, exatamente os aspectos e consequências funestas de toda e qualquer notícia.

Existe, sim, o risco do esgotamento. Cansado de tanta notícia ruim e sentindo-se impotente para influir no curso dos eventos, pode ser que o leitor/telespectador(a) brasileiro afinal desista de se expor a esse tipo de jornalismo que o empurra cotidianamente rumo a um inexorável “vale de lágrimas” mediavalesco.

Triste mundo esse em que vivemos. Pautar preferencialmente o negativo se transformou, para além da política, em estratégia de sobrevivência empresarial.

Por enquanto, parece, está dando certo.

A ver.

Fonte: Blog do Miro

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A sobrevivência da mídia do capital depende de notícias negativas, ou notícias que estejam associadas a um sentimento negativo.  
Faz parte da lógica do capitalismo, independente se tais notícias indiquem um crescimento ou redução de tais tipos de assuntos abordados.

Se a criminalidade urbana cresce ou diminui, isso não importa, pois as notícias sobre os crimes estarão sempre lá, na mídia para midiotas.

Por outro lado, as notícias associadas ao lado mais obscuro da natureza humana, assim como as mazelas criminosas impostas pela expressão atual do capitalismo, não param de crescer, no Brasil, com por todo o planeta.                                                                                                                               

E esse crescimento vem proporcionando um conhecimento de um número cada vez maior de pessoas sobre o estágio de barbárie líquida que assola o mundo.

                                                                                
Isso significa que quanto maior a insistência por notícias negativas, maior será a percepção das pessoas sobre o estágio do mundo atual, já que tais notícias que inicialmente eram apresentadas de forma exacerbada como estratégia de sobrevivência da mídia do capital, com o tempo , essas notícias tem se revelado como realmente verdadeiras no estágio atual do mundo.

Um dilema para a mídia do capital, que pensando em sobreviver ao mesmo tempo contribuiu para desmistificar o capitalismo, algo que essa mídia jamais faria.

                     
Diante dessa realidade , não será surpresa se tais notícias negativas comecem a diminuir em destaque na mídia do capital.


Tal diminuição, no entanto, não significa que tais barbáries estejam em queda, ao contrário , estarão em crescimento, mas serão omitidas para preservar o capitalismo e o noticiário ficará mais leve, delirante.
              
Quanto a esse tema, o PAPIRO publicou, recentemente uma postagem , em 4 de maio deste ano, com o seguinte título:                                                                                                                


Mídia do Capital. Fabricantes de Realidades.

Vale a leitura abaixo.

A mídia do capital e as mazelas do nosso povo.
E a partir de quando o capital se tornou hegemônico ?
A partir do início da década de 1990, por ocasião da queda dos regimes comunistas.

Antes de 1990 toda a mídia ocidental, capitalista , já mentia e manipulava as informações, no entanto, assim como o capitalismo do lado ocidental, a mídia tinha alguns cuidados, não permitia uma aparência selvagem e a mentira não era tão escancarada como hoje.
Isso não significa  que  não surgissem manipulações escancaradas, como existem atualmente, no entanto, tais manipulações  não significavam  a regra geral.
Os regimes comunistas ainda existiam, e se fazia necessário , no lado capitalista, mostrar uma imagem  de  civilidade e compromisso com as causas sociais, com a igualdade, com o apoio aos pobres e outros temas tão sensíveis aos regimes comunistas.
E tudo isso se deu , tanto nas política sociais dos países  capitalistas como no comportamento da mídia ocidental.

Do final da segunda guerra mundial até o final dos anos da década de 1980, os países capitalistas, para fazer frente aos regimes comunistas, implantaram uma série de medidas, políticas e programas com forte apelo social, garantindo aos povos um repertório considerável de direitos e serviços públicos gratuitos de alta qualidade.
Era como se desejasse mostrar para as pessoas do lado ocidental, que o capitalismo era melhor que o comunismo, já que podia oferecer os mesmo serviços e direitos e ainda garantia a liberdade e a democracia.

Era o período da guerra fria, e a propaganda dos regimes tinha um peso significativo, com cada lado tentando mostrar que era melhor que o outro.

Logo, para competir com o comunismo, os países ocidentais e capitalistas criaram o estado do bem estar social, um período  conhecido com os 30 anos gloriosos do capitalismo, ou seja, de 1950 até 1980.

A partir de 1980 e com evidências de que os regimes comunistas  estavam entrando em crise, deu início , no lado capitalista, ao desmonte do estado de bem estar social no países capitalistas, desmonte esse que se acelerou a partir de 1990 ganhando, inclusive, ares de selvageria.

De certa forma, a partir de 1990 o capitalismo mostrou sua verdadeira cara e a selvageria associada a um retrocesso civilizatório tomou conta do mundo, estando a mídia ocidental na defesa intransigente do capital e, para tanto,  a mídia vem criando ao longo dessas quase três décadas uma narrativa que omite, esconde, manipula , distorce, edita e inventa a realidade, apresentando o mundo e o capital como vencedores e responsáveis por um mundo civilizado e livre.
No entanto, a realidade de fato, é bem diferente, aliás, é muito diferente daquela apresentada pelos meios de comunicação, já que a hegemonia do capital a partir de 1990 tem levado o mundo a um retrocesso civilizacional.


 Racismo

Os casos de racismo crescem diariamente, a cada segundo, em todo o mundo, até mesmo incentivados de forma subliminar pelos meios de comunicação, sendo que os responsáveis por atos de racismo raramente são punidos e, quando punidos, as punições são brandas.
Os negros são as maiores vítimas por estarem associados a pobreza, no entanto, não são os únicos, já que populações indígenas estão sendo praticamente dizimadas em todo o mundo.
Antes de 1990, e no período dos 30 gloriosos, acreditava-se que o racismo era algo que estava em extinção, não pelo fato de não existir, mas sim pelo fato de não  ser incentivado em nome de um suposto  e hipócrita combate, como acontece nos dias atuais.
Quanto  mais a mídia do capital noticia casos de racismo, em nome de um combate a tais práticas, mais crescem as agressões racistas em todo o mundo
Na lógica do capital, o negro deve voltar a suas origens e servir como escravo.


 Escravidão

O trabalho escravo, desumano, voltou com força a partir da década de 1990, principalmente por conta da globalização do capital, algo que estava em extinção antes do final da guerra fria.
A globalização provocou um estrago considerável no mundo do trabalho, no trabalhador organizado, no sindicalismo. Com as grandes empresas se deslocando de um país para outro em busca de mão obra barata para produzir bens para uma civilização homogeneizada nos costumes, países com excesso de mão obra servem como reduto de fábricas que atualmente se assemelham aos campos  de concentração nazista da segunda guerra mundial. Trabalhadores chegam a trabalhar de 14 a 16 horas por dia, com um dia de descanso semanal, com salários irrisórios, sem nenhum direito trabalhista produzindo bens de consumo descartável  que são símbolos do capitalismo globalizado, do mundo dito civilizado e moderno.
Em pleno século XXI a escravidão voltou com força e o assunto não é debatido na mídia do capital, que procura preservar as grandes marcas mundiais, principais responsáveis por essa barbárie e grandes anunciantes - logo mantenedores - dos meios de comunicação.


 Direitos Trabalhistas

Enquanto os 30 anos gloriosos do capitalismo propiciaram a existência  dos estados de bem estar social, com todo tipo de direitos e serviços  assegurados aos povos, o mundo do capital globalizado está acabando com o pouco que restou desses direitos, em nome de uma lógica de darwinismo social, onde o normal será um mundo entre pessoas  vitoriosas e perdedoras, cabendo aos perdedores se sujeitar a escravidão , ou caso resistam , a opção é a morte, aliás, uma escolha do próprio perdedor, segundo o mantra que o  capital vitorioso repete com frequência na mídia do capital.
Nos direitos trabalhistas, que anos atrás garantiam até anos de seguro desemprego para desempregados, hoje a precarização é regra, já que no mundo trabalho o sindicalismo adotou a lógica de cada um por si, ou seja, o darwinismo sindical. Com as práticas de automação e robótica em expansão nas fábricas, os postos de trabalho naturalmente diminuem, a mão de obra desempregada aumenta, e o extermínio dos direitos trabalhistas ganha uma justificativa por parte dos defensores do mundo civilizado, cabendo a mídia do capital a defesa diária dos cortes em tais direitos, tudo em nome de redução de custos e de maior produtividade, já que a competição é a regra.
Em alguns países as aposentadorias já são totalmente privadas  cabendo as pessoas escolher ou não participar por décadas de um plano de aposentadoria privada ou fazer o plano por conta própria  ou, ainda, caso assim desejar, trabalhar até a morte.
Aliás , é uma constante nos meios de comunicação do capital , histórias enaltecendo pessoas vencedoras" , fruto de trabalho duro, ou seja, sem a necessidade de garantias de direitos trabalhistas.


 Xenofobia

Curiosamente foi com a globalização do capital, a partir da década de 1990, que se intensificaram os casos de rejeição a estrangeiros. A título de exemplo, na era dos trinta gloriosos, países como França e Alemanha tinham uma população considerável de empregados portugueses  e turcos, respectivamente, que gozavam  dos mesmos direitos sociais de cidadãos  franceses e alemãs Atualmente, de acordo com a lógica selvagem, os estrangeiros tem sofrido rejeição em muitos países , pois são vistos  como  ameaça já que competem por empregos em igualdade de condições. A irracionalidade é tanta, que isso acontece em países de um mesmo bloco econômico, com garantia de livre acesso entre as pessoas. Associada a questão do emprego, a xenofobia ganha maiores e mais nítidos contornos  com a questão racial e religiosa, que a mídia do capital incentiva diariamente seja de forma explícita ou de forma subliminar, que se dá na maioria dos casos através de programas de entretenimento.


 Religião

Talvez uma das maiores fontes de conflito seja a intolerância  religiosa .
Cabe lembrar que antes de 1990, durante a guerra fria, os países capitalistas adotavam uma postura extremamente democrática e tolerante com a religião e a religiosidade dos povos.
Hoje, percebe-se que tal postura devia-se ao fato que nos países comunistas as religiões e as práticas religiosas eram proibidas.
Atualmente as grandes religiões ocidentais, de uma maneira geral, seguem a lógica do capital, já que em suas propagandas para aumentarem seus rebanhos são recorrentes expressões de grande prosperidade financeira  entre fiéis que adeririam essa ou aquela corrente religiosa.
Curiosamente e paradoxalmente, o capitalismo se tornou uma religião, uma religião materialista, já que na mídia do capital não existe espaço para crítica do sistema hegemônico .
A negação de outras correntes religiosas por uma determinada religião é a regra geral, apesar das aparências.
No mundo do capital globalizado, Deus é propriedade de apenas uma religião, qualquer uma.
Ainda não se tem notícia se uma determinada corrente religiosa tentou patentear Deus, mas isso deve acontecer em breve.
As religiões de origem africana são as correntes religiosas que mais sofrem preconceitos e perseguições.


 Crime Organizado e criminalidade

O crime organizado sempre existiu e desde sua existência tem sido combatido  por  países e mesmo por organizações internacionais. A produção cultural mundial, ocidental, produziu um grande número de obras relatando os esforços de governos no combate ao crime organizado.
No entanto, a partir da década  de 1990, o crime organizado ganhou um impulso sem precedentes, chegando nos dias atuais a estar  em posição acima de governantes em muitos países, influenciando diretamente as ações de governos.
No caso de crimes financeiros, as organizações criminosas assumem uma fachada de legalidade e em conjunto com  outros tipos de corporações, definem os caminhos do capitalismo do século XXI, de ganhos astronômicos em atividades especulativas como jamais  vistos na história, mas no entanto em poder de pouquíssimas pessoas, os "grandes vencedores".
No mundo atual a maioria dos países e seus respectivos governos, apesar das aparências , são reféns dessa lógica financeira, criminosa, resultado da globalização do capital. Essa engrenagem não merece nenhum tipo de crítica na mídia do capital, que , ao contrário, procurar enaltecer o sistema.
Além do crime organizado que governa o mundo do capital globalizado, os crimes associados ao tráfico de drogas, armas e pessoas, também teve um crescimento assustador a partir desde 1990., apesar da grande propaganda que a mídia do capital faz diariamente dizendo que se combate com firmeza e eficácia a todo tipo de crime organizado.


 Qualidade de Vida

Não se pode negar que os avanços na ciência e na tecnologia no últimos 25 anos trouxeram ganhos consideráveis para a qualidade de vida das pessoas ,no entanto, o preço que se paga por tudo isso é alto e ainda mais, devastador.
Em uma economia baseada no descarte e em um tempo de vida dos produtos de consumo cada vez mais curtos, a sociedade de consumo turbinada vive diariamente hipnotizada, idiotizada, trocando de coisas novas  por coisa mais novas que , para muitos, significam os símbolos de sucesso e lugar garantido no pantheon dos vencedores.
O consumo se tornou um valor na religião materialista capitalista , consumo que é  o motor, o sustentáculo do sistema, sendo as coisas a sedução  que são apresentadas  diariamente, nas mídias do capital, sem qualquer tipo de análise critica.
As coisas também passaram a substituir as naturais  reflexões das pessoas, já que aquisição de coisas novas são indicadas para curar angústias, sofrimentos e outros.
De todas as coisas o automóvel talvez seja o maior de todos os símbolos, fazendo com que pessoas passem em média três horas por dia presos em uma caixa de ferragens, na mesma posição, sem que questionem a normalidade  de tais atos. É tão normal, que as montadoras de automóveis  criam facilidades e mais conforto dentro da caixa. Na mídia do capital, tais caixas são apresentadas como símbolo de poder , e o tempo que se perde de forma inútil , sequer é questionado. Nos transportes coletivos, que deveriam ser a solução ,o problema se repete, não apenas pelo tempo que se fica aprisionado, como também pelo desconforto, já que pela lógica do capitalismo o transporte coletivo  é um negócio que visa o lucro máximo com produtividade máxima.
Na saúde a medicina conseguiu avanços notáveis e a expectativa de vida das pessoas aumentou consideravelmente, já que  inúmeras doenças e epidemias foram controladas e até mesmo extintas, no entanto, morre-se cada vez, e em grande número, por doenças degenerativas ou derivadas do estresse associado ao estilo de vida dominante.
Nestes casos, a medicina como se expressa  no mundo atual , não deixa de guardar coerência com suas próprias práticas, já que grande parte dos medicamentos eliminam uma doença e criam outras.
Não se morre cedo de grandes epidemias como na antiguidade ;morre-se  mais tarde de problemas criados pelo estilo de vida e pelos próprios medicamentos.


 Meio Ambiente

No mundo do capital o meio ambiente se transformou em uma gigantesca lixeira, sem que isso seja questionado pela mídia dominante. Em meio a uma  enxurrada de anúncios sobre produtos de higiene pessoal e de  beleza, a humanidade, que vive em sua maioria em grandes  aglomerados urbanos, respira uma ar sujo e por vezes tóxicos, sendo que em algumas cidades o uso de máscaras para filtrar o ar já faz parte do vestuário das pessoas. Se isso já não  fosse grave, a economia baseada no descarte produz uma quantidade absurda e irracional de lixo que poluem os rios , lagos e mares, aumentando o  transtorno das pessoas que vivem nos grandes centros urbanos. Tudo isso é tratado como sendo  normal pela mídia do capital.
O excesso de gases despejados na atmosfera, fruto da atividade humana,  já vem alterando o clima pelo mundo, no entanto, como os remédios para mudar esse quadro de sujeira implicam em uma revisão profunda , e até mesmo estrutural  no modelo capitalista, a mídia do capital trata esse problema como sendo algo a ser resolvido  no futuro, isso quando assume o problema, já que a maioria da mídia do capital coloca a questão das mudanças climáticas como algo a ser estudado com mais profundidade. Em alguns casos, e não são poucos, a mídia do capital afirma que tais alterações climáticas simplesmente não existem e , que são inventadas por cientistas  de orientação marxista. No mundo das aparências, onde os símbolos de status
são luxuosos, as pessoas vivem em meio ambiente sujo, e as doenças decorrentes desse quadro, principalmente as doenças respiratórias, crescem em todo o mundo.
A revolução verde da década de 1970 que aumentou consideravelmente a aérea plantada e consequentemente a produção de alimentos, por outro lado vem causando um grande estrago no campo, seja pelo uso criminoso e irracional de agrotóxicos e pela domínio da monocultura. Os alimentos, cada vez mais industrializados e até mesmo super processados, também tem sido a fonte de inúmeras doenças, por contaminação com substâncias tóxicas e mesmo pelo ganho de peso que proporcionam às pessoas com vidas cada vez mais sedentárias.
Na mídia do capital, as indústrias alimentícias estão entre os principais anunciantes, com o foco predominante no público infantil e no publico adulto imbecilizado, que é a maioria.


Mídia e Entretenimento


O braço poderoso do capital para entorpecer, imbecilizar e desinformar as pessoas.
Através dos meios de comunicação da mídia do capital, o capitalismo, assim como os valores e estilos de vida decorrentes deste modelo, são enaltecidos e blindados de qualquer crítica, sendo apresentado como única alternativa de organização social e até mesmo de vida.
O entretenimento é de uma imbecilização sem precedentes na história das várias modalidades de mídia, fazendo com  que os consumidores não sejam levados a nenhum tipo de reflexão, já que todas as formas de expressão artística mergulham em estereótipos, reforçando , com isso, todas as mazelas do mundo atual citadas até aqui. O entretenimento na mídia do capital  é a indigência cultural em sua expressão mais medíocre, sendo assimilado por uma grande parcela das pessoas que veem e consomem tais produtos como sendo os melhores e mais apropriados  produtos de entretenimento do mercado.
No campo do jornalismo,  a mídia do capital  constrói, diariamente, uma realidade que tenha sempre por objetivo defender os interesses do sistema dominante. As narrativas não permitem qualquer tipo de crítica ao sistema, assim como quaisquer índícios de que outras formas de organização social possam ser discutidas. Para a mídia do capital, não existem outras alternativas ao sistema atual, e os governos que venham a construir desvios, mesmo que  ainda dentro do sistema, são duramente combatidos , perseguidos e , caso insistam em suas teses, podem mesmo até terem seus principais governantes depostos ou presos, já que o Judiciário do Capital trabalha em sintonia coma mídia.
Assim sendo, diariamente, colunistas , jornalistas  e especialistas escrevem ou falam nos meios de comunicação sobre  a realidade dos fatos que esse meios desejam que seja a verdade, independente da veracidade dos fatos.  Isso se dá não pelo estado avançado de demência de profissionais da mídia - alguns poucos são de fato dementes -, ao contrario, se dá por uma forma criteriosa e cuidadosa de construir uma realidade onde as pessoas que a assimilam acreditam que vivem em um mundo próspero, civilizado e feliz, onde as oportunidades estão aí, disponíveis para todos, e aqueles que não usufruem de tantas chances são os vagabundos e preguiçosos, os perdedores, que não podem , em hipótese alguma , serem sustentados pelo estado.
Essa narrativa dominante na mídia do capital atinge de maneira profunda as pessoas com menos de 35 anos, que não viveram ou mesmo desconhecem que novas formas de organização social e de vida civilizada existem e são possíveis, sem que se tenha de retornar ao passado.
Passado, aliás, que se manifesta no mundo atual em uma expressão medievalesca, apesar dos avanços da ciência e da tecnologia.


 
E a barbárie continua, fazendo com que as relações inter pessoais se transformem em casos de vida ou morte.

A criminalidade atinge um ponto onde pessoas se matam por motivos fúteis, quase sempre fruto de frustrações em suas vidas pessoais.

Recentemente, como é do conhecimento de todos, uma aluna em uma faculdade de São Paulo quase foi linchada pelos "colegas" de faculdade pelo fato de ser apenas... bonita e volumosa nas formas.
 
A estudante virou notícia nas emissoras de TV e, hoje, tornou-se mais uma celebridade para deleite do universo midiota.

Ontem, enquanto aguardava  a exibição de mais um capítulo da novela Dez Mandamentos, da TV Record, o programa que antecede a novela é mais um sobre o mundo da criminalidade, e o apresentador informava que uma mulher, com seus vinte e poucos anos, tinha sido assassinada pelo fato de ser bela, o que incomodava os demais "amigos e amigas " da moça.

Esses fatos escancaram os valores do capitalismo, onde um número crescente de pessoas em todo o mundo, não mais suportam vivenciar suas frustrações - oriundas de valores decorrentes do capitalismo - através do outro, que consideram bem sucedido em algum aspecto da vida.

Sintonizado com essa escalada selvagem em todo o mundo, O PAPIRO, no ano de 2012, publicou um conto, da série Rio - Zona Norte abordando a violência.
Vale a leitura abaixo.

Rio Zona Norte - 5 

O Sucesso de Maria das Graças

Em mais um dia, como em todos os outros dias da semana, Maria das Graças , pontualmente às seis horas da manhã aguarda, de pé em uma fila, o coletivo que a levará para seu trabalho.
Jovem, bonita, simples, de bom astral, paupérrima e vivendo na baixada fluminense, ficará por volta de uma hora no ônibus até chegar no seu local de trabalho, no bairro da Penha, zona norte da cidade do Rio de Janeiro.  

Na plenitude de seus vinte anos de idade, a jovem  que deixou sua cidade natal e sua família no interior do estado de Tocantins ainda com dezessete anos fugindo da pobreza extrema para tentar a sorte na cidade maravilhosa, alimenta sonhos, planos e esperanças de uma vida melhor. Uma vida que ela vê, ouve , diariamente nas mídias, como sendo o ideal para qualquer pessoa que queira ser feliz e alcançar o sucesso.

Vivendo em uma pequena casa de apenas um cômodo , em que paga aluguel  e sobrevive com o salário mínimo que recebe pelo trabalho de operária em uma fábrica de roupas esportivas, espera um dia ser uma vencedora, uma mulher chique, bem cuidada e se possível famosa como os exemplos de seus ídolos das novelas e programas de TV, que saíram de baixo, lutaram e alcançaram o sol.

Nem sempre, mesmo chegando com antecedência na fila do ônibus, Maria das Graças consegue fazer a viagem sentada, confortável, ainda que os coletivos não tenham ar condicionado e o calor na região costuma ser infernal mesmo nas primeiras horas do dia, o que , por vezes, faz com que chegue ao local de trabalho já cansada.

Responsável e dedicada, nos dois anos em que trabalha na fábrica jamais chegou atrasada ou foi repreendida por mau comportamento ou qualquer infração no seu trabalho.

Cumpre, diariamente, de segunda a sábado, uma jornada de doze horas de trabalho, das sete horas da manhã às sete da noite, tendo quinze minutos antes de iniciar o trabalho para um lanche, uma hora para o almoço, e mais quinze minutos na parte da tarde para outro lanche.


A fábrica é terceirizada de uma gigante transnacional de material esportivo que tem alguns de seus ídolos como garotos propaganda de seus produtos. A maioria das operárias é de mulheres, jovens, com o mesmo perfil de Maria das Graças.
O trabalho é extremamente cansativo e repetitivo e as condições do local são totalmente inadequadas, no tocante a temperatura ambiente o calor é constante. As instalações, as cores da edificação e equipamentos e o excesso de ruído proporcionam condições mínimas de segurança com total desconforto para as operárias.
Os sanitários não tem uma higiene adequada e os aspectos ergonômicos para execução do trabalho baseiam-se em improvisações.

As equipes de operárias são divididas, no local de trabalho, em estações onde dez meninas realizam tarefas de corte e costura de tecidos.
Para cada estação existe um supervisor que fiscaliza , em tempo integral, o trabalho e a produção das meninas, não permitindo qualquer tipo de conversa que possa levar a uma interrupção no ritmo de produção. Saídas para o banheiro são acompanhadas por uma supervisora , exclusiva para esse fim.

As meninas só podem conversar um pouco, nos horários de lanche, e no tempo que sobra da hora de almoço, que aliás é oferecido no restaurante da empresa e descontado no salário das operárias. Muitas operárias preferem trazer o almoço de casa, não apenas para economizar o almoço da empresa, como também pela péssima qualidade das refeições oferecidas. A empresa , sequer disponibiliza um local para que as operárias possam aquecer suas marmitas.

Maria das Graças tornou-se uma referência na sua estação,ou seja no seu grupo de dez operárias. Sempre feliz, esbanjando simpatia e acreditando na vida, sua presença quebra, pelo menos em parte, o clima de terror dentro daquela fábrica . Entoando canções, em voz bem baixa mas percebidas pelas outras colegas da estação enquanto realiza suas tarefas, cria uma atmosfera de paz e otimismo que ajuda a superar a dura realidade em que vivem. Nos horários de lanche e almoço, sempre pode ser vista como o centro das atenções com as demais colegas a da estação, que se encantam e adquirem forças com o alto astral de Maria das Graças.

Na hora em que deixam a fábrica, já do lado de fora, conversam rapidamente antes que cada uma tome seu destino. Nesse momento, como de costume , Maria das Graças é vista , no centro da roda e as demais sorrindo , felizes com suas histórias.

Em um dia, o coletivo que conduzia a jovem para o trabalho quebrou durante o percurso, o que fez com que Maria das Graças tivesse que aguardar um outro coletivo e com isso chegasse atrasada, pela primeira vez em dois anos, no seu trabalho. Antes de assumir seu posto na estação, foi chamada pela gerência e advertida que caso o atraso se repetisse seria demitida por justa causa. Ainda foi informada que os setenta minutos de atraso daquele dia seriam descontados de seu salário. Não se abateu, assumiu seu posto e realizou suas tarefas com as competência e dedicação costumeiras.

Conversou com as colegas da estação, que ficaram revoltadas com o tratamento dado a menina, já que não tivera nenhuma culpa ou responsabilidade pelo que tinha ocorrido. Maria das Graças não comprou a revolta, preferiu esquecer o assunto e conversar sobre a novela das nove que ela tanto adorava e não perdia um capítulo.

Reunidas na porta da fábrica, já na saída para casa nem parecia que a jovem tinha sido advertida, ameaçada de perder o emprego e ter sua ficha manchada.

No dia seguinte, pontualmente as seis horas da manhã, lá estava a jovem embarcando no coletivo que a levaria para seu trabalho. Não poderia imaginar o que aconteceria na viagem. Desta vez, sentada no banco ao lado da janela, sonhava e fazia planos caso ficasse rica. Tinha certeza que ficaria, era uma questão de tempo, pouco tempo. E foi em puco tempo que tudo mudou dentro coletivo.

Dois homens armados anunciaram um assalto, isso em um ônibus cheio, porém não lotado, mas com pessoas de pé. A menina entrou em pânico e ficou paralisada, era a primeira vez que vivia a experiência, de que já tivera conhecimento pelos programas de TV que tanto adorava e os tinha como referência.

O passageiro sentado ao seu lado no ônibus, um senhor, também ficou imóvel. De repente, um passageiro reagiu e sacou uma arma , dando início a um tiroteio dentro do coletivo. O passageiro ao lado da jovem tentou se proteger rapidamente, jogando a parte de cima de seu corpo, o tronco, quase que no colo de Maria das Graças.

Terminado o tiroteio e tendo os assaltantes sido imobilizados, o passageiro ao lado de Maria das Graças estava imóvel, já morto, com um tiro na cabeça que acabou servindo como um escudo para o peito da jovem, o provável destino daquele projétil. A menina , com a roupa já suja de sangue do senhor morto, tentava sair do local, o que conseguiu com a ajuda de outro passageiro e a ação de alguns policiais que passavam pelo local e prenderam os assaltantes. Traumatizada, porém sem ferimentos, conseguiu sair do coletivo,e com as roupas sujas de sangue, foi para seu trabalho, desta vez chegando quase que na hora do almoço, por causa dos tramites legais que acompanham casos como este.

As colegas da estação ficaram chocadas com a história contada pela jovem e deram todo apoio , carinho a atenção na tentativa de amenizar o trauma da menina. Não faltaram abraços e beijos para acalmar a querida amiga. Entretanto, a gerência chamou Maria das Graças para se explicar do segundo atraso, agora de quatro horas, em dois dias seguidos. A jovem, com as provas do terror em suas roupas, explicou todo o ocorrido e ainda indicou a delegacia onde se processou o registro de ocorrência com o seu nome. De nada adiantou. Maria das Graças foi demitida por justa causa, sem direito a nenhuma indenização.

As colegas da estação, quando souberam da demissão da amiga ficaram ainda mais revoltadas, mas nada puderam fazer a não ser chorar e consolar a jovem, que apesar de perder o emprego não demonstrava irritação, revolta ou tristeza. O pior ela já tinha passado, ou pensou que tinha sido o pior. A tristeza tomou conta das colegas , não mais teriam a alegria de Maria das Graças, uma igual a elas, para amenizar o terror daquela fábrica.

A jovem foi para casa, fora um dia estressante, deitou na cama e dormiu sem se preocupar com horário. Mesmo assim acordou cedo no dia e seguinte e começou a pensar em conseguir trabalho. Antes disso teve tempo para fazer o que não fazia nos dias de trabalho, foi a padaria, no mercado fazer umas comprinhas e ainda fez uma aposta em uma casa lotérica. Cantando , a jovem não perdeu tempo nem se lamentou.

No dia seguinte, bem cedo, já estava em uma agência de empregos se candidatando a um novo emprego. Preencheu fichas, fez entrevistas e conseguiu um emprego de balconista em uma lanchonete na Gávea, zona sul do Rio de janeiro. Deveria começar em três dias, porém a aposta de loteria que fizera no dia anterior mudou totalmente sua vida. Acertou as dezenas premiadas e ganhou uma quantia que lhe garantia a independência financeira.

Maria das Graças explodiu em felicidade. Sorria, cantava, chorava sozinha em sua casa, mostrando toda sua beleza. Nada falou sobre o prêmio, nem para vizinhos ou com as amigas da estação que não via desde o dia em que fora demitida. Com a quantia ganha a jovem, esperta e segura voltou para sua cidade natal , no interior do estado de Tocantins. Lá, com o auxílio da família, aplicou o dinheiro em imóveis, comprou uma casa nova para ela e os pais , e garantiu a independência financeira para a família. Tinha agora, como renda, de suas aplicações vinte vezes o salário que recebia na fábrica. Era uma vida confortável para eles.

Passaram seis meses de sua saída da fábrica e Maria das Graças tinha outra aparência. Usava roupas idênticas aos personagens de suas novelas favoritas, comprova produtos de beleza e fazia os tratamentos de beleza sugeridos pelos comerciais de TV. Estava ainda mais bonita e radiante.

Resolveu ir ao Rio de janeiro, para passeio, e aproveitou para visitar as colegas da estação na fábrica do terror. Planejou chegar na fábrica no final do expediente pois poderia encontrá-las no lugar de sempre, ao lado , porém, não muito distante, do portão principal. E assim aconteceu. Avistando as colegas da estação. acenou , esbanjando a mesma alegria , simpatia e simplicidade de costume, que em nada mudaram com a mudança de sua condição financeira.

As colegas se aproximaram, não acreditando no que viam, e ficaram perplexas quando souberam de toda a história contada por Maria das Graças.

Após ouvirem tudo foram se aproximando da jovem e inicialmente, sem que nada combinassem, começaram a rasgar sua roupa, agredi-la com socos e pontapés. A jovem , indefesa, estava quase desmaiando, semi nua, foi jogada ao chão, pisoteada e com uma pedra, uma colega bateu em seu rosto até afundar a face e o crânio, quase que esmagando o rosto da menina. Uma outra colega arrancou-lhe os olhos com as mãos enquanto as demais com pedaços de pau tentavam furar seu corpo no abdômen. Saciadas, as nove colegas se retiraram, sem falar uma palavra uma com as outras e deixaram o corpo de Maria das Graças, mutilado, sem vida ao lado do portão principal da fábrica do terror.

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