sexta-feira, 24 de abril de 2015

Midiota foi visto vivo e falante perto de um shopping center

A dor da gente não sai no jornal

24 de abril de 2015 | 10:29 Autor: Fernando Brito
liberdade1
Tive muita vergonha de minha profissão, hoje, quando vi a campanha da ONG Teto, voltada para habitação popular.
Ela é uma bofetada no que se tornou a máquina de comunicação meste país.
“O problema não é o que vira notícia, mas o que deixa de ser”
Não é assim, é pior que isso.
Claro que sempre houve, aqui e em toda parte, o chamado “jornalismo de entretenimento”.
Sou velho o suficiente para lembrar da “Revista do Rádio”, das fotonovelas.
Mas é impressionante o nível de empobrecimento mental que mídia brasileira se esforça – sim, é um esforço ser cínico num país como o Brasil! – em  impor ao nosso povo.
Os modelos de “virtude”, os “desejos”, o mundo imbecil da futilidade  tornaram-se uma avalanche monstruosa sobre uma população carente que não tem, de outro lado, quem verbalize, senão por oportunismo político, os sofrimentos do povo brasileiro.
A classe média – inclusive a que recém-ascendeu a essa condição – perdeu quase todos os contrapontos políticos e ideológicos que faziam de parte dela uma aliada do nosso povão e, do Brasil, um projeto de país.
Quem se aventura – e são poucos – a dizer que não haverá país sem povo é “sujo” e mandado “ir pra Cuba”.
Aliás, com a ajuda do embrião da estupidez que nos chamava de “populista”.
Quem despreza o Estado, ama o “mercado”.
O “mercado” é a salvação e é por ele e só por ele que virá a perfeição do mundo.
O Estado é a danação corrupta, ineficiente e medíocre.
Os jornais e os jornalistas se tornaram arautos deste futuro desejável, onde as “celebridades” se tornam o modelo de uma existência pródiga e vazia.
Nulidades como as Sheherazades e Joyces se tornam, com seus cabelos louros e lisos, as opiniões nacionais.
E a mídia, “livre”, vomita preconceito e ódio contra os pobres, estes “vagabundos”.
A “liberdade de imprensa” é plena: todos tem o direito e o dever de pensar o mesmo.
Os pobres, afinal, nunca foram notícia, não deixaram, portanto, de sê-lo.
O problema é aquilo que se tornou notícia, a única notícia.
Fonte: TIJOLAÇO
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Para ser feliz você precisa ganhar dinheiro, muito dinheiro.

Esse é o caminho da salvação, disse o novo Messias, o Mercado.

Então tá.

Todos devem seguir os padrões estabelecidos pelo Mercado, comprar as mesmas coisas, se vestir do mesmo jeito, com as mesmas marcas, morar nos mesmos lugares badalados ( não sei como se todo mundo seguir as regras ), se alimentar da mesma maneira e , por fim, ser midiota, midiotaço. 

Lá pelo ano de 2003, um dos primeiros exemplares da Revista Fórum trouxe uma excelente entrevista com um psicanalista( acredito que foi com Gaiarsa) que abordou essa questão do novo , ou seja, o Mercado.

Na entrevista, o psi afirma que esses valores são geradores de muita frustração e também de muita inveja, podendo descambar em muitos casos para a violência, já que são estabelecidas condições materiais para a felicidade e também para a aceitação social.

Por outro lado, pessoas bem informadas e seguras que não se deixam levar por essas idiotices, ou são mandados para Cuba - caso tenham uma boa condição financeira - ou são rotulados como sujos agitadores perigosos que desejam subverter a ordem - caso sejam pobres e felizes.

O rótulo de celebridade, pelo menos para mim, é visto como uma ofensa gravíssima, já que para preencher os requisitos de uma celebridade , se fazem necessários um alto grau de embotamento mental, uma adoração a futilidade e um extenso vazio cultural.

No entanto, uma grande parcela da população não pensa assim, e se deixa levar pelos valores, códigos e práticas do mundo dos "vitoriosos", das "celebridades famosas" e, assim sendo, sofrem todo tipo de angústia e frustração.

Essas idiotices foram importadas da cultura americana, e tiveram no Grupo Globo seu maior incentivador e divulgador em nosso país.

Pra se ter uma ideia, jornalista de TV Globo se veste do mesmo jeito de atrizes e atores famosos de Hollywood, por ocasião da festa de entrega do Oscar.

E isso só para ficar na porta de entrada, perto do tapete vermelho.

É brega demais.

No mundo da futilidade, os pobres não existem, são vistos como um problema social do presente e que deve-se evitar que existam no futuro.

A maneira para acabar com a pobreza, na lógica do Mercado, é eliminando todos os pobres, isso mesmo matando todos, ou criando condições para todos se auto destruam.

Entende-se, de forma clara, as razões para se definir o que é notícia.

De minha parte, a melhor maneira de se combater essa idiotice é com o deboche, já que essa turma fornece matéria - prima abundante, diariamente, sobre as mais variadas expressões da midiotice.

Noticia de Jornal
Chico Buarque

Tentou contra a existência
Num humilde barracão
Joana de tal, por causa de um tal João
Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal

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