sexta-feira, 20 de março de 2015

O invertidos da pós modernidade

Transformando inimigos em aliados: como Kierkegaard explica o ódio na democracia brasileira

Kierkegaard
Kierkegaard
POR FERNANDO F., no Manchete Digital. 

O escritor e pensador dinamarquês Soren Kierkegaard (1813 – 1855) viveu 42 anos, mas soube como poucos decifrar a alma humana, aliás, desumana. Ele fazia anotações em diários, o que rendeu uma obra de referência sobre a condição humana e as razões da vida. Como todo brasileiro que não desiste nunca, o jovem dinamarquês sofria na pele com a ignorância e os ódios incontidos daqueles a quem Jesus disse para amarmos uns aos outros.
Numa passagem do livro “O Diário de Soren”, editado por Peter Rohde, Kierkegaard realiza uma proeza que deveria ser comemorada como um gol de placa em final de campeonato de futebol no Maracanâ: explicar porque a democracia no Brasil se transformou em Fla x Flu.
Aos 34 anos anos de vida, ainda no século 19, Kierkegaard acerta na mosca, quando observa uma patologia generalizada de nossa humanidade falível, explicando a mesma psicologia básica que se esconde por trás de fenômenos contemporâneos, como o bullying, a presunção e a demagogia só para ficar nos assaltos gerais de críticos comentaristas da mídia e da web, bastante conhecidos como criadores de “adversários”.
Diz o autor do Diário:

Há uma forma de inveja de que eu frequentemente tenho visto exemplos, em que um indivíduo tenta obter algo por assédio moral. Se, por exemplo, eu entro em um lugar onde muitos estão, muitas vezes acontece que um ou outro imediatamente pega em armas contra mim, começando a rir; presumivelmente, ele sente que está sendo uma ferramenta de opinião pública. Mas eis que, se eu então fizer uma observação casual dele, essa mesma pessoa se torna infinitamente maleável e subserviente. Essencialmente isso mostra que ele me considera como algo grande, talvez até maior do que eu, mas se ele não pode ser admitido como um participante na minha grandeza, pelo menos ele vai rir de mim. Mas assim que ele se torna um participante, como se fosse, ele se gaba de minha grandeza.”

O autor conclui com uma receita de comportamento para sobreviver na selva:

“Ao mostrar a eles que não se importem comigo, ou tomando o cuidado para que saibam que eu sei que eles não estão nem aí para mim, isso reforça uma relação de dependência…Ou seja, eles me demonstram respeito precisamente quando demonstram que não me respeitam”.

Essa psicologia reversa usada por Kiergaard já era conhecida na época como Efeito Benjamin Franklin e ainda hoje é utilizada em terapias cognitivas de comportamento. Significa mais ou menos o seguinte: transforme seus inimigos em aliados, fazendo com que eles experimentem coisas que só poderiam fazer se fossem seus amigos.
Uai, não é isso que os governos lulopetistas tentam fazer há 12 anos!?

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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 " independente daquilo que você faça com frequência, seja um trabalho  doméstico, um serviço burocrático, ou algo extremamente qualificado e difícil, se você executa suas tarefas com dedicação, envolvimento, pertencimento e prazer, você verá que as pessoas ao seu redor irão se sentir incomodadas, esteja você fazendo suas tarefas em sua casa, no trabalho, ou em qualquer lugar.
Se você  faz tudo com dedicação e prazer, você é a pessoa menos indicada para fazer essa tarefa, principalmente se tal tarefa for de seu local de trabalho. Sua alegria, sua dedicação, seu estar presente, irão incomodar as pessoas ao seu redor ,e você , seguramente, passará a ser perseguido.
Sua tarefa, ainda mais se for uma idéia nova, será criticada, bombardeada, e rejeitada.
As pessoas dirão que você não deve seguir o caminho que escolheu, que não terá sucesso, que os  erros serão inúmeros. Você, no entanto, está consciente do que faz, sabe os riscos e continua realizando de forma bem sucedida suas tarefas. A partir de então, você se tornará um estorvo para as pessoas que passarão a criar e apontar uma infinidade de defeitos em você, defeitos reais e a maioria imaginários. Seu trabalho, seja original ou a execução de uma rotina, será duramente criticado, modificado, totalmente transformado, até que você desista. Se você não for brasileiro, certamente você desistirá, e então aquilo que você fazia, criado por você ou não, estará totalmente alterado, modificado , e a partir de então apropriado pelas pessoas ao seu redor, que irão executá-lo de forma mecânica, já que toda a opressão existente no imaginário coletivo e no inconsciente das pessoas , fará com que todos façam o que digam que deve ser feito, porém jamais, por prazer , satisfação ou pertencimento."

O texto acima é uma adaptação minha a uma passagem de um livro de Ben Okri, escritor nigeriano que no início deste século ganhou o conceituadíssimo prêmio Booker.

De alguma forma, Okri  caminha pelo conceito de Kierkegaard.

Ambos tentam demonstrar que aquilo que é bem sucedido, seja executado por uma pessoa ou por governos, gera  até mesmo um ódio por parte das pessoas , que em seus íntimos e mesmo sem  ter consciência, gostariam de fazer o mesmo.

O desejo de ser um igual a algo referencial, de pertencer, leva a maioria das pessoas a apelar para a crítica,o ódio irracional, que na verdade significa admiração, respeito e até  mesmo idolatria.

Você, caro leitor, também assim se comporta , seja você do campo da direita, do centro, ou da esquerda.

Na era atual, das redes sociais, esse comportamento ficou bem explícito, pois o anonimato e o esconderijo proporcionado às pessoas nas redes, permite que elas sejam elas mesmas e manifestem, conscientes ou não, suas idéias , sua natureza.

A maioria que se manifesta nas redes sociais, jamais teria o mesmo comportamento em um ambiente real.

Por exemplo, é comum ler nas redes sociais,que quando alguém vem a falecer , pessoas dizem algo do tipo;
" já vai tarde", "ainda bem que morreu", " não vai fazer nenhuma falta" e outras coisas do tipo. 

Esses comentários, por vezes são dirigidos não para bandidos , terroristas , ou assassinos, mas para pessoas de bem, bem sucedidas e até mesmo laureadas em suas vidas. 

Os comentários se devem, em parte ,ao que foi escrito acima por Okri e Kierkegaard.

Não imagino o caro leitor dizendo tais comentários , com pessoas reais ao seu redor em um ambiente social.

As redes sociais quebraram esses códigos de sociabilidade e tem revelado o que em essência as pessoas são.

As defesas explícitas de ditadura militar, assassinato de políticos, como Lula e Dilma, por exemplo, não seriam possíveis de serem lidos ou ouvidos em encontros físicos entre as pessoas, no entanto, tais desejos se faziam e se fazem  presentes no imaginário, assim como outros tantos, sendo que o que mais assusta, pelo menos para mim, é  o fato de a maioria das pessoas , seja de centro, de esquerda ou  de direita, demonstrar através de seus comentários uma incompatibilidade, repleta de incongruências, com aquilo que mais defendem, que é a democracia.

Com o surgimento das redes sociais, a falácia da civilidade , da sociabilidade e da defesa da democracia, se revelaram por inteiro, mostrando o que as pessoas são, de fato, como citou Okri  em seu livro como sendo uma maneira de repetir, também,  aquilo que os oprime ao longo da história da humanidade.

Inconscientes da opressão que habita seus inconscientes, a maioria rejeita a liberdade e o sucesso do outro, já que ainda não são livres e saudáveis.

Será o caro leitor opressor, sem ter consciência do que move seus desejos de oprimir ?

Esses desejos se manifestam de forma escancarada sempre quando qualquer pessoa assume uma posição ou função que lhe confere algum tipo de poder sobre os demais.
Seja um guarda de trânsito, um funcionário público atendente de serviço, um porteiro de banheiro público, um porteiro de edifício, um árbitro de uma partida de futebol, um reles chefe de um grupo de pessoas em uma empresa privada ou em uma autarquia pública, um marido, uma esposa ,alguém escondido em uma rede social, etc..

Controlar e oprimir é a regra, com todos se dizendo democráticos e civilizados.

A democracia de verdade é algo ainda distante para a maioria dos países, já que a imensa maioria da pessoas pelo mundo ainda não sabe o que motiva seus comportamentos, ações e reações.

Soa cômico e grotesco ler comentários de pessoas pelas redes sociais,quando dizem que para garantir a democracia deve-se assassinar todos os comunistas.

Com o surgimento das redes sociais, caem por terra, também as declarações de que  quase todo mundo, qualquer pessoa, convive bem com as diferenças.

A maioria esmagadora das pessoas não sabe conviver com diferenças, ideológicas, políticas , religiosas, e outras e, tudo fazem , para que o mundo seja algo homogêneo, igual, padronizado,  apesar dos discursos e das aparências.

Isso vale para centro, esquerda e direita e, principalmente  para os mais fervoroso defensores da democracia, da moral, dos costumes e da ética.

Imagine,então, caro leitor, o que grupos conscientes desse comportamento das pessoas nas redes sociais podem fazer para turbiná-los ainda mais em prol de seus interesses políticos , doutrinários e outros .

Imaginou ? 

Um cenário nada agradável, que pode desembocar até mesmo em conflitos civis e guerras, dependendo dos interesses envolvidos.

Naturalmente, os serviços de inteligência de muitos países já mapearam esse "potencial" das redes sociais e não é por acaso , ou de forma espontânea, que  atualmente no Brasil, na Venezuela e na Argentina, ao mesmo tempo, estejam ocorrendo crises e conflitos sociais de dimensões imprevisíveis, onde os desejos de oprimir e o ódio vem sendo alimentados cuidadosamente em consciências frágeis, confusas e pouco, muito pouco evoluídas.

Veja o ótimo  texto abaixo de Maria Inês Nassif:

A intolerância ocupou a Avenida Paulista

Por Maria Inês Nassif, no site Carta Maior:

As manifestações do domingo, dia 15 de março, tiveram o dom de revelar o DNA da elite brasileira. Os cartazes nas ruas, a forma como os manifestantes lidaram com as divergências, a rebeldia contra o resultado de eleições livres, limpas e populares revelam mais do que uma crise de poder. O Brasil vive uma quase crise civilizatória.

As pessoas que foram para as ruas no domingo não eram homogeneamente de direita, ou de extrema direita. Eram majoritariamente eleitores da oposição: segundo o Instituto Datafolha, 82% dos entrevistados na avenida Paulista, no dia do ato, votaram em Aécio Neves (PSDB) e 37% revelaram simpatia pelo partido tucano. Na sexta-feira, no ato promovido por movimentos sociais e sindicais em defesa da Petrobras e da democracia, 74% dos entrevistados revelaram ter votado na presidenta Dilma Rousseff, nas eleições de novembro.

Votar na oposição é do jogo. Arrepender-se de ter votado em um determinado candidato é do jogo. Ir para as ruas protestar contra o governo é do jogo. O que não é do jogo, e pode ter passado desapercebido para uma parcela que protesta contra os erros do governo mas não contra a democracia, é que o ódio às instituições democráticas contaminou as multidões.

Nem todos os manifestantes empunharam cartazes contra a democracia ou pediram a volta dos militares – justo no aniversário de 30 anos do fim do regime militar –, mas o fato é que a intolerância com a diversidade de opiniões, a indisfarçada ignorância a princípios de respeito à diversidade social, de gênero ou cor e a violência contra opositores políticos foram legitimadas pelos que agiram de forma antidemocrática, e também pelos que foram indiferentes a isso. A agressividade não apenas foi tolerada pela multidão, mas grassou livremente pelos quarteirões da avenida Paulista livre, leve e solto, como se não existisse amanhã.

O ambiente cultural em que essas manifestações ocorrem, principalmente em São Paulo, onde se concentra boa parte da elite brasileira, é de coação. O ódio – expresso em vulgaridades como a de ofender a honra de uma presidenta da República legitimamente investida na sua função com palavras de baixo calão, ou na agressão física contra opositores, ou no pedido aberto para que as Forças Armadas intervenham no processo democrático – é taticamente investido de alta agressividade, para inibir reações contrárias. É um ambiente extremado, criado para obrigar os que se opõem a isso a aceitarem passivamente, por exemplo, os aplausos recebidos por um torturador da ditadura na avenida, ou a agressão física cometida por um homem adulto, acompanhado de um filho pequeno, a um adolescente de 16 anos que, num vagão do Metrô, cometeu a “imprudência” de vestir uma camiseta vermelha.

Isso não é um fato isolado na história, mas a semelhança com outros momentos dá um frio na barriga. Os golpes reacionários normalmente são precedidos de momentos em que os grupos à frente dos ataques a instituições passam a achar que suas razões são universais, e jamais passíveis de questionamentos. Os argumentos para a ódio são de ordem quase pessoal – o “meu” direito, o imposto que “eu pago”, o ódio pelo desfavorecido (“aquele vagabundo”) que está sendo amparado pelo Estado às custas do “meu” dinheiro – mas as razões individuais são jogadas como responsabilidade coletiva. Nessa situação, a reação dirigida ao que pensa diferente é a coação física ou moral.

Olhar para as ruas, enxergar a realidade e partir para uma contraofensiva capaz de afastar os riscos de retrocesso democrático é parte da missão civilizatória das forças democráticas brasileiras, nesse momento nebuloso da vida brasileira.

O rompimento cultural com a lógica que se forma nas ruas, desde as eleições passadas, tem que se dar pela coragem. Não existe outra forma de confrontar a agressão. Dilma Rousseff usou dessa lógica quando, muito jovem, optou por uma oposição radical ao governo militar, num cenário de radicalismo de direita.

A reação dos que se sentem coagidos nas ruas pela extrema-direita é a de não se deixar coagir. É prestar a sua homenagem à democracia, às urnas e ao voto. A resposta ao 15 de março é um grande viva à democracia.
 
Fonte: Blog do Miro


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