quarta-feira, 18 de março de 2015

Para voltar a ficar bem na foto

IMPRENSA & CRISE POLÍTICA

Uma pesquisa oportunista

Por Luciano Martins Costa em 18/03/2015 na edição 842
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 18/3/15
Os principais diários de circulação nacional trazem na quarta-feira (18/3) duas reportagens valiosas para a análise da crise política. Numa delas, a Folha de S. Paulo apresenta um levantamento da popularidade da presidente da República, onde ela, evidentemente, aparece com alta taxa de reprovação. No outro assunto, tanto a Folha como o Estado de S. Paulo e o Globo citam um documento supostamente reservado, com uma análise extremamente negativa sobre a política de comunicação do governo federal.
A pesquisa Datafolha não pode ser considerada apenas em seus aspectos estatísticos. Aliás, embora o jornal dê toda ênfase aos números – que apontam o mais baixo índice de aprovação de um governante desde o fim do mandato de Fernando Collor de Mello –, o que importa aqui é a circunstância em que foram colhidas as opiniões. Os pesquisadores do instituto saíram às ruas precisamente nos dias 16 e 17, logo após as manifestações de protesto contra o governo – estimuladas pela imprensa –, o que, com certeza, condiciona um grande número de respostas.
Interessante observar também que o levantamento inclui perguntas sobre a situação econômica, que revelam igualmente um aumento do pessimismo, curiosamente numa circunstância em que o noticiário aponta perspectivas mais otimistas sobre a economia (ver aqui, aqui e aqui).
Evidentemente, as respostas sobre a avaliação da presidente sofrem forte influência das manifestações e da cobertura intensamente negativa feita pela imprensa no período. Da mesma forma, é ocioso afirmar que, no clima conflagrado, a perspectiva dos consultados sobre a situação econômica tenderia a ser a pior possível.
Para os observadores da imprensa, a quarta-feira produz um exemplo de como funciona o círculo de convencimento da mídia tradicional. Como se sabe, a Folha de S. Paulo estimulou a participação dos leitores nas manifestações do domingo, dia 15, oferecendo espaço em seu portal, o UOL, para fotos e vídeos dos protestos. A iniciativa foi copiada por outros jornais e portais da internet. Em seguida, o Datafolha sai a campo para referendar, com uma pesquisa oportunista, o que seria o ânimo da população com relação ao governo e à economia do país.

A comunicação errática

O outro assunto destacado pelos jornais – um estudo interno do Planalto sobre a crise política – é o reverso do quadro. Esse quadro mostra, de um lado, uma imprensa partidarizada agindo de maneira extremamente eficiente no processo de demonizar o grupo político que ocupa o Planalto e, do outro, um governo incapaz de produzir uma estratégia de comunicação minimamente funcional.
O próprio vazamento do estudo, apontado como um “informe interno”, revela a incapacidade do Executivo de sequer manter em território restrito documentos de seu interesse. Trata-se de um relatório não assinado (ver aqui), portanto anônimo e, por isso, possivelmente apócrifo.
O que fez com que os três principais diários de circulação nacional o aceitassem como um documento oficial? Evidentemente, o que dá credibilidade ao texto é sua fonte, ou seja, quem vazou o documento é reconhecido como alguém ligado ao governo.
A situação lembra um episódio ocorrido durante o governo do ex-presidente Lula da Silva, quando a Folha de S. Paulo publicou uma nota dizendo que havia um “espião” no Planalto vazando informações para a imprensa. Ora, conforme se revelou posteriormente, o “espião” era um funcionário de confiança da Secretaria de Comunicação, que havia feito carreira na própria Folha, e que se dedicava, em suas relações sociais, a contar anedotas sobre reuniões ministeriais e sobre o próprio presidente Lula.
Não é de hoje, portanto, que os governos do Partido dos Trabalhadores se veem em situação desconfortável diante da chamada opinião pública, por conta de uma comunicação amadorística, sem rumo e, quase sempre, vulnerável às manipulações da mídia tradicional. Nos três mandatos sucessivos da aliança que governa o país desde 2003, são raros os momentos em que a Secom deu demonstrações de ter uma estratégia coerente com o que se espera de um governo com o perfil petista.
O relatório que a imprensa reproduz diz que o Brasil vive “caos político”, conforme destaca o Estado de S. Paulo em manchete, e afirma que o governo produz uma comunicação “errática”.
Não se pode afirmar que se trata de um documento válido, ou se é parte de conspirações internas entre assessores da presidente. Mas a surra que o Planalto está sofrendo na disputa pelo apoio da população mostra que o autor do texto sabe do que está falando.

Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
____________________________________________________________


Desde 2003, primeiro governo Lula, que o governo do PT não tem uma comunicação eficaz.
Pode-se dizer que tal afirmativa é , ao  mesmo tempo, certa e errada.

Durante o primeiro governo Lula, de 2003 a 2006, a internete e as redes sociais ainda não tinham a influência que tem hoje na sociedade, tanto que, o fenômeno dos debates por conta  do estouro do mensalão, em 2005, foi o surgimento dos blogues. 

Uma nova palavra surgia no vocabulário, e passou-se a conhecer , melhor, o poder da internete.

A partir dali, os blogues proliferaram no país. Isso é fato.

Por outro lado, a comunicação institucional do governo Lula nunca foi das melhores , no entanto, isso não foi um grande problema , já que Lula, como é de conhecimento de todos, tem uma oratória invejável.

Tanto que, durante o estouro do mensalão e mesmo com o governo acuado e com a popularidade em baixa, Lula não se escondeu em gabinetes, ao contrário, estava sempre discursando em eventos do governo federal por cidades brasileiras.

Em seus discursos, invertia sempre a agenda, disponibilizando um tempo mínimo para os assuntos para os quais se apresentava nas cidades, e levava a maior parte do tempo debatendo e defendendo o governo por conta das acusações do mensalão. 

Essa postura de Lula, mereceu o seguinte comentário da comentarista tucana, Dora Kramer, na rádio Band News FM:

" é visivel que Lula está fragilizado com as denúncias e , na minha opinião, ele não deveria se pronunciar dessa maneira"

Kramer, desejava que Lula ficasse calado , talvez por ser conhecedora da sua extraordinária capacidade de se comunicar com as massas.

Isso aconteceu em 2005, e está lá, nos arquivos da emissora.

Lula continuou sua peregrinação com seus discursos inflamados, quando, no final de 2005, alguns jornalistas , e  eram muitos, apontavam Lula e o PT como mortos politicamente, o que motivou os seguintes comentários de Delfim Neto  e de Fernando Henrique Cardoso, respectivamente:

" eu discordo. Lula tem um capital político e uma força que não podem ser desprezadas"

" você acha ? ( perguntou  respondendo FHC ao jornalista ) . tenho minhas dúvidas"

Essas declarações, de ambos, ocorreram quando o governo Lula, em dezembro de 2005 , apresentava os menores índices de aprovação.

O restante da história todos conhecem, Lula venceu as eleições de 2006 e ainda fez sua sucessora em 2010, tudo isso com todos os problemas de comunicação institucional dos governos do PT.

Estamos em 2015, e Dilma não é Lula e, além disso, a comunicação do governo continua a mesma, com os mesmos problemas.

No entanto, a política, assim como a fotografia, revela o momento. 

Em pouco tempo tudo pode ficar diferente, para melhor ou mesmo piorando a vida do governo.

Dilma sangra com sua pior avaliação, hoje, no entanto, o capital político do PT não pode ser desprezado e, cabe ressaltar que  Lula entrou em campo, articulando e mobilizando o partido.

Não tenho a menor dúvida que a resposta virá em breve.

O eleitor de Dilma se mobilizou durante as eleições, e o fez de forma assertiva e eficaz, em uma disputa violenta e acirrada conseguindo a quarta vitória para o PT.

Terminadas as eleições , o relaxamento foi natural , o que não aconteceu com a oposição, ainda com a faca nos dentes e sem entender como perdeu mais uma eleição, e mais, disposta a incendiar tudo que aparecer em sua frente.


O governo Dilma cometeu  um relaxamento nesses meses após a vitória de outubro último, e ainda empurrou para seus eleitores alguns ministros que são difíceis de digerir.

Lula , certamente colocaria ministros que seus eleitores aprovariam e, que iriam  tomar as mesmas medidas, sem grandes traumas,  que os eleitores agora não aprovam.

Tudo isso , de certa forma, faz parte da política, e uma carcterística  do PT é uma certa demora em dar respostas para as crises , que , as vezes , o próprio partido cria.

Por outro lado, com doze anos governando o país, em meio a crises , tentativas de golpe e convívio nada saudável com uma imprensa hostil e até mesmo criminosa, os quadros do PT tem experiência acumulada e sólida para poder  reverter o momento  e ficar bem , de novo, na próxima fotografia.

Alguns quadros do PT, e até mesmo blogueiros ditos sujos, defendem que o partido tente suavizar na direita o ódio que agora se manifesta contra o governo.

De minha parte, penso o oposto.

Quanto maior o ódio da direita, maior a irracionalidade, e maiores as chances da razão petista - se bem conduzida e acredito que será - vir a prevalecer.

O leitor atento  e fiel deste blogue, já percebeu  que estimular o ódio na direita e na mídia  tem sido uma rotina diária e divertida  do PAPIRO.

Que o PT volte a ser PT em chão firme, com o apoio de sua militância aguerrida, e que parta pra cima dos golpistas.

O jogo não é tão difícil quanto parece ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário