segunda-feira, 30 de março de 2015

Equilibrados e Normais

Não vale a pena ver de novo

30 de março de 2015 | 10:42 Autor: Fernando Brito
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Karl Marx (que é  personagem central da filosofia dos séculos XIX e XX, mas agora entrou na relação do “podemos tirar, se achar melhor”, porque o jeito meio energúmeno de ser que tomou conta do pensamento de boa parte da soi-disant “inteligência brasileira” o coloca mais ou menos na mesma posição que o demônio) escreve nas primeiras linhas de “O 18 brumário de Luís Bonaparte“:
Hegel  (Georg Friedrich, filósofo alemão) observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
O meu caro amigo Fernando Molica, hoje, no jornal O Dia, produz uma maravilha de seleção de frases que, para não estragar, deixo que ele explique.
E que mesmo a quem não viu, mostra o estranho déjà-vu da política neste país.

Fonte: TIJOLAÇO
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Fernando Molica: Corrupção, crise, vaias e quartéis

A oposição tem o direito e o dever de gritar, mas é fundamental manter o juízo

O DIA

.“Ninguém ganha eleição com palmas, comícios e declarações de amor. É preciso organização, trabalho e dinheiro.”


. “Política é negócio — toma lá, dá cá — e até hoje não levei nada nesse negócio.”


“Apesar da vitória tão incontestável, (…) ameaçaram entrar na Justiça Eleitoral com um pedido de embargo da posse (…).”


. “(…) surpreendeu o país ao anunciar um ministério de perfil (…) conservador.”


. “(…) prometendo dar combate sem trégua à corrente inflacionária (…) ao lado do combate sistemático à corrupção.”


. “À maré de contratempos se somava o pífio desempenho da economia brasileira.”


. “Ante à soma de escândalos, a oposição se dizia estarrecida.”


. “(…) o governo caminhava para o isolamento político. Mostrava-se incapaz de estabelecer um controle efetivo sobre o voto dos aliados, ao mesmo tempo que testemunhava o acirramento progressivo da oposição. Como agravante, via os adversários se aproximarem a passos largos dos quartéis.”


. “Caso ficasse comprovado (…) crime de responsabilidade, (…) daria início a um processo automático de impeachment.”


. “ Ser apupado por uma plateia de senhores encasacados e madames com roupa de festa poderia significar até um elogio, pelo menos para um chefe de governo que fazia da classe trabalhadora o seu principal esteio político. (…). Contudo, (…) já devia saber que o episódio seria um deleite para os adversários.”

As frases estão na imperdível biografia de Getúlio Vargas escrita por Lira Neto. A trilogia chega a ser engraçada — comentários atuais sobre uma suposta “bolivarização” do Brasil são muito parecidos com editorais que acusavam Vargas de preparar um “golpe peronista”, numa referência ao presidente argentino Juan Domingo Perón. A crise terminou numa tragédia que serviria de preliminar para o Golpe de 1964.

A história nunca se repete, mas deve servir de alerta. A oposição tem o direito e o dever de gritar, mas é fundamental manter o juízo e repudiar quaisquer tentações golpistas. Que fiquem no passado bobagens como a pronunciada por Carlos Lacerda: “O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”

Em tempo. A primeira citação deste texto é de autoria de Alzira Vargas, filha de Getúlio; a segunda, de Ademar de Barros, aquele do “rouba mas faz”.


Fonte: O DIA
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Nunca se falou e se escreveu tanto sobre juízo como nos últimos dias.

O caro leitor já percebeu que todo mundo diz quem tem juízo e bom senso ?

Confesso, e que ninguém nos ouça, que estou ansioso e curioso para conhecer pessoas que , de formas conscientes, digam que jamais tiveram juízo algum e nem o mínimo de bom senso.

Devem ser pessoas bem interessantes, concorda, leitor ?

Até porque para se chegar de forma consciente e racional a conclusão de que não se tem juízo, se faz necessário um repertório de argumentos profundos e um auto conhecimento invejáveis, algo que somente as pessoas detentoras de grande inteligência e juízo possuem.

No entanto, o que tenho visto, e confesso com certa apreensão, são pessoas , aos montes, se dizendo equilibradas e racionais.

Isso é perigoso e até assustador.

Confesso que não vejo quaisquer resquícios de juízo em pessoas que brigam, discutem e até se matam por simpatias clubísticas, religiosas e mesmo políticas.

Sendo manifestações de escolhas pessoais com motivações de foro íntimo, argumentar superioridade , eficácia e correção para uma das partes, é o mesmo que não aceitar opiniões divergentes.

Esse comportamento talvez seja uma das maiores demonstrações de irracionalidade e total ausência do tão falado juízo, uma vez que todos levam ao mesmo lugar e se manifestam, prioritariamente, de tempos em tempos, e assim sendo deve-se respeitar os vencedores:

uma vitória na competição, uma forma de organização social e um caminho para o Altíssimo.

Imagine o caro leitor saindo de sua casa para ir ao supermercado do bairro e uma pessoa , cheia de juízo, exigir que o caro leitor faça o caminho que ela, a pessoa cheia de juízo, faz todos os dias para ir ao supermercado.

Pois é assim o mundo atual.

Todo mundo, todas as pessoas são repletas de razão e de juízo, e ai de você se discordar.

Não acho normal nem uma manifestação de juízo, que as pessoas passem a maior parte de seus dias, todos os dias, olhando e se emocionando com uma tela colorida, com mensagens, imagens e textos, salvo aqueles que tem a tela em suas profissões.

Isso me faz lembrar de uma família que residia aqui no Rio de Janeiro em um lugar do bairro de Botafogo com uma vista perfeita do Morro do Corcovado e da estátua do Cristo redentor. Certo dia aconteceu a inauguração da nova iluminação da estátua do Cristo, evento que foi mostrado ao vivo pelo Jornal Nacional, de globo. A família em êxtase, reunida no grande sofá da sala - de oito lugares - vibrava com as imagens da TV que mostrava a nova iluminação do Cristo. Em um lapso de consciência e de recuperação do juízo, o marido avisou a todos no sofá da sala , que seria melhor olhar pela janela, sem enquadramentos e pelo tempo que quisessem apreciar a nova iluminação.

Se o leitor sente falta de uma janela, isso já e um bom sinal para um recomeço e recuperação do juízo.

Todo mundo diz que tem juízo, o seu próprio juízo e qualquer diferença deve ser rejeitada.

Prefiro os estrambelhados conscientes que se dizem sem juízo.

Todo mundo condena a corrupção e diz que jamais cometeu qualquer ato , mas certamente já tentou , ou mesmo já levou vantagem sobre os demais.

Todo mundo diz que não ingere bebida alcoólica quando vai conduzir um automóvel, mas se for parado na blitz da Lei Seca se recusa a fazer o teste de teor etílico no sangue.

Todo mundo se diz preocupado com as alterações climáticas, porém não vê tais alterações como um problema seu.

Quanta contradição, não é caro leitor ?

Mas é aí que as coisas se resolvem, pois as contradições fazem parte da natureza humana, e devem ser encaradas como algo normal, normalidade que os códigos sociais não permitem.

Caso cometa ou deixe que seja percebida uma contradição, o caro leitor será acusado de contraditório, algo menor, irracional e confuso, e até mesmo será rotulado como uma pessoa não confiável.

Como não é socialmente permitido, todo mundo se esforça para ser "normal e ter juízo" e , como resultado temos isso que a gente vê todos os dias, um espetáculo assustador e horroroso de irracionalidades.

A natureza humana é assim mesmo, de opostos, que se tensionam constantemente e o equilíbrio é apenas uma ilusão, no entanto, persegui-lo é um ótimo caminho.

Para isso ,exercitar a tolerância é algo fundamental.

Confesso que quando consegui , certo dia, ouvir um falatório proferido pelo jornalista Pedro Bial sobre democracia, liberdade de expressão e direitos humanos, cheguei a conclusão que já estava em um estágio avançado de tolerância, tamanhas foram as asneiras e mentiras que ouvi com naturalidade, sem ficar irritado.

No momento atual do Brasil, as irracionalidades e a intolerância praticadas por todos nós normais equilibrados chega em um estágio de conflitos declarados, onde qualquer coisa que possa significar juízo passa batido.

No entanto, todo mundo está cheio de razões.

O jornalista , Fernando Molica, do jornal O DIA, com frequência vem alertando corretamente para esse mergulho na irracionalidade por parte de uma significativa parcela da população brasileira.

Cita, em seu ótimo texto, frases históricas da história do país que refletem, de alguma forma, o momento atual.

A história se repete, caro Molica, não necessariamente no mesmo contexto e circunstância, mas quase sempre com os mesmo elementos que a compõe.

Assim, tentativas de golpe estado, perseguições políticas, desaparecimento por morte de presidentes, se repetem, em circunstâncias e contextos diferentes.

Os místicos e esotéricos, sempre acusados pelos normais como pessoas que difundem crendices e bobagens - e as vezes isso também é verdadeiro - costumam dizer que grandes momentos da história se repetem em períodos de mais ou menos trinta anos.

Gosto dos místicos pois dizem que eles não tem juízo.

Seguindo o conteúdo de seu artigo que tem Vargas como foco, cabe lembrar que Vargas suicidou-se em 1954, Tancredo Neves morreu em 1985 e Eduardo Campos veio a falecer em 2014, todos , de alguma forma, ligados a presidência da República.

A economia logo após o suicídio de Vargas passou por uma crise, o mesmo com o plano Cruzado em 1986, que teve o ministro da fazenda responsável pelo plano, morto logo em poucos anos.

Abra o olho Levy, você que sempre quando fala gosta de humilhar a presidenta.

Como todo mundo tem certeza que tem juízo e bom senso, não vou pedir juízo as pessoas, claro.


Vou então apelar aos loucos, porras loucas e estrambelhados, que com suas ideias, discursos e textos, iluminem as frágeis e confusas consciências das pessoas de bom senso e de juízo desse país.

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