sexta-feira, 6 de março de 2015

Bons hábitos alimentares

Estudantes bolivianos têm bons hábitos alimentares no desjejum


                                                                   por Franz Chávez, da IPS
Uma aluna da Unidade Educacional La Paz, na cidade que é sede do governo da Bolívia, bebe suco de fruta em embalagem distribuída pela Unidade de Alimentação Complementar Escolar do governo municipal, que diariamente entrega 26 toneladas de produtos naturais e próprios da cultura andina a cerca de 140 mil estudantes. Foto: Franz Chávez/IPS
Uma aluna da Unidade Educacional La Paz, na cidade que é sede do governo da Bolívia, bebe suco de fruta em embalagem distribuída pela Unidade de Alimentação Complementar Escolar do governo municipal, que diariamente entrega 26 toneladas de produtos naturais e próprios da cultura andina a cerca de 140 mil estudantes. Foto: Franz Chávez/IPS

La Paz, Bolívia, 6/3/2015 – Uma iniciativa de sucesso, que fornece desjejum e merendas com sabores andinos a 140 mil estudantes de La Paz, deu origem a uma nova lei destinada a impulsionar uma alimentação saudável e própria da cultura local nas escolas da Bolívia, e dessa forma combater a má nutrição e favorecer a soberania alimentar.
“Pedimos uma quarta-feira de frutas!”, gritaram em coro as alunas de uma sala de aula da Unidade Educacional La Paz, quando a IPS perguntou suas sugestões para melhorar a merenda que recebem dentro do programa nacional Alimentação Complementar Escolar (ACE). Uma demanda por comida saudável impensável há alguns anos.
O modelo do ACE foi um desjejum escolar que começou a ser fornecido no ano 2000 nesta cidade, sede do governo boliviano, e que evoluiu para uma inovadora dieta de alimentos naturais, autóctones e muito nutritivos para as crianças e adolescentes que estudam nas escolas públicas do principal município dos 327 que tem a Bolívia.
O Programa Mundial de Alimentos, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e outras instituições internacionais aplaudiram os resultados em diversos informes.
“Somos líderes na elaboração de rações escolares com alimentos andinos como amaranto, farinha de fava e de quinoa”, disse, entusiasmado, o diretor de Educação do governo autônomo municipal, Jorge Gómez, no austero escritório de onde coordena o plano para os estudantes de cinco a 15 anos nas escolas públicas. Os cereais de amaranto e quinoa formam a base alimentar das culturas pré-colombianas das zonas andinas da América do Sul e são altamente protéicos.
Entre os resultados positivos, Gómez destacou à IPS que, nos oito primeiros anos da implantação da alimentação andina no município, a anemia caiu 30% entre os estudantes, segundo estudos independentes da Universidade Mayor de San Andrés e da organização internacional Save the Children.
O ACE foi criado no sistema educacional estatal do primário ao secundário de todo o país em 2005, é manejado por unidades municipais especiais e em 2013 beneficiou dois milhões de estudantes, segundo o Ministério da Educação, responsável pelo programa. A iniciativa de La Paz não só melhorou os hábitos alimentares dos estudantes como impulsionou a pequena agricultura comunitária.
Seus princípios germinaram na Lei de Alimentação Escolar no Marco da Soberania Alimentar e da Economia Plural, promulgada no último dia de 2014, que começará a ser aplicada este ano e proíbe os alimentos transgênicos e industrializados, substituindo-os pelos próprios da cultura andina e produzidos em boa parte localmente.
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Gómez explicou que conversa com os pais para melhorar o cardápio e incluir uma variedade de produtos nas rações distribuídas nas 389 escolas de La Paz dependentes dos governos central e municipal, nos turnos da manhã, tarde e noite.
Em seus dois mil quilômetros quadrados, La Paz conta com 764.617 dos dez milhões de habitantes da Bolívia. Do total, 293 mil residentes no município são pobres, com renda que não chega a US$ 90 mensais, segundo dados de 2013 da Direção de Investigação Municipal.
Contexto latino-americano
Com a nova lei, a Bolívia se converte no terceiro país latino-americano a contar com uma norma específica sobre alimentação escolar, depois de Brasil e Paraguai, segundo a FAO, que também aponta avanço nessa direção de Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e República Dominicana.
“A lei da Bolívia se soma aos esforços regionais em favor de uma alimentação saudável nas escolas, que considera a diversidade cultural e produtiva dos países e valoriza os produtos provenientes da agricultura familiar. É um passo fundamental para que este tipo de programa passe a ser uma política de Estado”, destacou o oficial de Segurança Alimentar do órgão, Ricardo Rapallo.
Um estudo da FAO em oito países da região evidenciou que a alimentação escolar reduz a deserção escolar e melhora o aprendizado e seu êxito se baseia em envolver os poderes públicos, a comunidade educacional, as famílias, a sociedade civil organizada e os órgãos internacionais.
Enquanto consomem coloridos saquinhos de cereais e sucos naturais, as estudantes da unidade de ensino visitada pela IPS contam que entre suas preferências estão os palitos de cereais cobertos com chocolate. Esse alimento, produzido com cacau da região semitropical do departamento de La Paz, é muito popular e quando está disponível acaba rapidamente, porque alguns alunos pegam várias porções, contou à IPS a diretora da unidade, Marcela Fernández.
O cardápio escolar fornece um quarto dos nutrientes diários necessários para uma criança ou adolescente, e inclui leite, iogurte, sucos de frutas e chocolate, aos quais são acrescentados ferro, ácido fólico e vitaminas A, B e C.
Para as famílias também representa uma economia. “Ajuda muito na economia familiar”, explicou à IPS o presidente da Junta Escolar da Unidade Educacional La Paz, Fernando Aliaga. O professor de educação física, Hugo Quito, acrescentou que os estudantes têm mais energia na hora de se exercitar devido à alimentação saudável.
As rações saudáveis são resultado de um criativo manejo de alimentos com aroma andino, como os pães de milho e outros cereais autóctones, massas leves e assadas, combinadas com ovo, aveia, amêndoas e um pão amassado de quinoa chamado “k’ispiña”. Esse produto recupera uma tradição de antigos povos andinos que o usavam como alimento não perecível, adequado para caminhantes de longa distância e períodos de escassez de alimentos.
Cada combinação foi criada por nutricionistas municipais, aos quais anima a redução da anemia entre os estudantes, embora o caminho nem sempre seja fácil. Um exemplo foi uma empanada com recheio de acelga, que um grupo de pais rejeitou por confundirem com um vegetal embolorado.
A explosão da demanda por alimentos naturais que o programa ocasionou também teve um impacto colateral positivo: gerou-se uma revolução na produção de cereais andinos, bananas e frutas, que agora são cultivados de maneira organizada por agricultores agrupados em empresas e cooperativas.
Diariamente, desde a madrugada até o amanhecer, são distribuídas cerca de 26 toneladas de alimentos sólidos e líquidos, com centros de produção localizados em pleno altiplano, a mais de quatro mil metros de altitude, ou nos vales e nas zonas tropicais do departamento de La Paz, o que aumentou tanto o emprego como os negócios.
Os impactos positivos na saúde dos alunos e na recuperação dos alimentos andinos e naturais, junto com a dinamização da agricultura comunitária, serviram de guia para a lei nacional na hora de traçar as novas diretrizes do ACE para os alimentos distribuídos nas escolas públicas primárias e secundárias.
A nova lei também converge com objetivos do governo do presidente Evo Morales, no poder desde 2006, que promove o desenvolvimento integral do Bem Viver como um eixo de sua política social. A lei traça como objetivos o apoio aos alunos, para que permaneçam na escola, incentivo à produção destinada à alimentação escolar, com preferência por produtos de cada localidade, para garantir que sejam naturais e próximos de cada cultura, e promoção da agricultura social comunitária.
Entretanto, na Unidade de Alimentação Escolar de La Paz já entraram em outra fase pioneira, a de formação de líderes em nutrição com participação de professores, pais e mães de família e alunos aos quais entregam bonés e uniformes após o ciclo de capacitação.
Esses líderes gerarão consciência em suas escolas e entre a comunidade sobre os bons hábitos alimentares e a prevenção em temas de saúde e nutrição. “Trata-se do impulso à mudança a partir da família e até da escola”, enfatizou um técnico encarregado do programa.

Alimentos orgânicos podem se tornar obrigatórios na merenda escolar em São Paulo


                                                      por Redação do EcoD
Até hoje, a lei 11.947/2009 obrigava as escolas a comprarem pelo menos 30% dos alimentos dentro da agricultura familiar. Foto: Fernando Pereira/Secom
Até hoje, a lei 11.947/2009 obrigava as escolas a comprarem pelo menos 30% dos alimentos dentro da agricultura familiar. Foto: Fernando Pereira/Secom

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou recentemente um Projeto de Lei (PL) que inclui, obrigatoriamente, alimentos orgânicos e integrais na merenda escolar.
De autoria dos vereadores Gilberto Natalini (PV), Ricardo Young (PPS) e Nabil Bonduki (PT), o PL 451/2013 estabelece que os alimentos venham prioritariamente da agricultura familiar, com o objetivo de uma merenda mais saudável e sem agrotóxicos, a fim de aumentar a qualidade de vida das crianças e ainda incrementar a renda de pequenos produtores.
Até hoje, a lei 11.947/2009 obrigava as escolas a comprarem pelo menos 30% dos alimentos dentro da agricultura familiar, ação cumprida pela Prefeitura a partir de 2013, somando 1,4 mil toneladas de alimentos adquiridos.
A nova lei, que ainda precisa ser sancionada pelo prefeito Fernando Haddad, vem em boa hora, uma vez que, no Brasil, a obesidade ou sobrepeso atinge cerca de 47,6% do público infantil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na sua opinião, a medida deveria ser replicada em todo o Brasil?
Fonte: ENVOLVERDE
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