segunda-feira, 16 de março de 2015

Torcedores em rede











E pela décima rodada do campeonato estadual do Rio de Janeiro, o Fluminense perde o terceiro jogo, a segunda derrota para times de menor investimento.

Ao final do jogo de meio de semana, contra o Bonsucesso,  quando o tricolor fez três gols nos primeiros quinze minutos de jogo e depois tirou o pé e parou de jogar garantindo o placar até o término da partida, na saída do campo , um jogador quando entrevistado disse que o time tirou o pé já que domingo, ontem, teria um jogo difícil.

Parece que tirou o pé geral, já que a apatia de alguns jogadores ontem foi escandalosa, inclusive do mesmo que foi entrevistado e deu tal declaração.

O torcedor já viu esse filme.




No ano passado, 2014, ano em que o PT através da candidata Dilma conseguiu a quarta vitória consecutiva sobre o PSDB em eleição livre e democrática para a presidência da república, o time do Fluminense apresentou o mesmo comportamento que vem apresentando neste ano, até o momento. 

No campeonato brasileiro de 2014, o tricolor jogou oito vezes contra os times de São Paulo - times grandes, ricos e vencedores - e venceu sete jogos e empatou apenas um. Um aproveitamento excelente de 87,7%.
Por outro lado perdeu várias vezes e empatou outras tantas, contra times de menor investimento que estavam brigando na parte baixa da tabela de classificação, sendo que alguns foram rebaixados para série B. Todos jogavam bem fechadinhos, como diz o treinador tricolor.

Ganha dos ricos e dá aos pobres.


Como seria bom se tivéssemos um governo que resolvesse taxar a fortuna dos ricos em benefício dos pobres.


Esse comportamento do time do Fluminense se repete neste ano, mesmo  o time tendo reformulando metade do elenco.

O treinador, sempre que vem a público diz que o Fluminense é um time ofensivo e que sente dificuldades de jogar contra equipes que jogam bem fechadas.
Ora, se o time é ofensivo deve saber jogar contra qualquer equipe, o que não acontece.  
Logo o time tricolor é um time 50% ofensivo, pois só sabe jogar contra equipes que oferecem espaços.
É uma deficiência que deve ser corrigida com treinamento  e com variações e opções táticas eficazes, como , aliás, afirmou corretamente um jogador do Fluminense , ontem, ao término da partida.

Os jogadores, quando entrevistados, dizem que os torcedores são passionais e exageram.

Também não é 100% verdadeiro.
A grande maioria ,dos torcedores, quando analisa o desempenho de seus times em partidas , campeonatos  e a vida de seus clubes, o faz de forma extremamente racional e analítica. 
No entanto essa grande maioria quando se manifesta, inclusive com uma agenda sobre aquilo que percebe ,o faz de forma passional, irracional e descabida. 
Isso acontece tanto em períodos de vitórias, com elogios e endeusamentos de atletas como em derrotas , com xingamentos, brigas e até mesmo pedido de impeachment de presidente, como pode ser visto em faixa colocada por parte da torcida do Fluminense em jogos do clube.

O futebol, como tudo na vida de uma sociedade , acaba por ser contaminado pelo clima  e pelo estado de espirito dessa sociedade.


Lembro que no ano de 1984, quando o país  fervia em campanha por eleições diretas para presidente da república - era o final de uma ditadura militar sanguinária - um time de futebol, o Corinthians, implementou, com sucesso dentro e fora do campo de jogo,  a famosa democracia corintiana, onde uma abertura nas relações dos jogadores com a direção do clube e com os torcedores pode ser vista e vivenciada.

Sócrates e seus companheiros  de clube, contaminados pelo clima daqueles anos, estavam bem a frente de seu tempo.

Hoje, quando a democracia sofre restrições, contenções e ataques até mesmo em países com histórico democrático, o futebol , de certa forma, também se contamina, quando assistimos o presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, dizer, em alto e bom som, que irá punir e multar clubes que apenas  criticarem o campeonato de futebol do Rio de janeiro. 

Se isso não bastasse, o atual  presidente da CBF foi governador do estado de São Paulo nos anos de 1982 e 1983, no final da ditadura militar, pelo partido dos militares que estavam no poder.

A luz  e a esperança trazem a inteligência, enquanto o obscurantismo e o autoritarismo trazem a ignorância.


Enquanto a seleção de futebol  alemã ficava quarenta dias no Brasil durante a copa de 2014, hospedada em uma localidade paradisíaca e ensolarada em um vilarejo no sul do estado da Bahia, a seleção brasileira ficou o mesmo período em um local gelado, chuvoso e cinzento.


O torcedor do Fluminense assiste o filme do ano passado se repetir em 2015, no entanto, quando protesta o faz de forma irracional e passional, como  a totalidade de torcedores de outros clubes.

Isso acontece, em grande parte, pelo desconhecimento  devido a falta de transparência na gestão dos clubes.

Na era da sociedade em rede e do sócio torcedor, um empoderamento natural acontece, tanto para o cidadão quanto para o torcedor.

No entanto, as estruturas hierarquizadas e pouco transparentes de governos, corporações e clubes, criam um choque entre a organização social em redes e as organizações hierárquicas dos Poderes. 
E isso sempre tem uma conta a ser paga.

Lembro que em um passado, lá pelos anos da década de 1990, quando a internete era apenas um embrião e a sociedade em rede um exercício de futurologia, o PT - Partido dos Trabalhadores - implementou com sucesso por mais de dez anos um modelo de gestão participativa na prefeitura de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul. 

Em rede, em uma sociedade em rede que ainda engatinhava, o povo participou horizontalmente nas decisões da prefeitura, definindo prioridades com total transparência.

Assim como Sócrates, o PT estava a frente de seu tempo.


Atualmente,  mesmo com o obscurantismo querendo avançar, ouvidorias e ombusdmam começam a ficar obsoletas, tendo em vista a possibilidade  de torcedores e cidadãos terem diálogos, debates, fóruns e contatos em  tempo real com governos, corporações e clubes de futebol.

No entanto,  na maioria  das estruturas hierarquizadas e obsoletas, nem mesmo uma ouvidoria existe e a concentração do poder midiático é mais uma ameaça a democracia.

Veja o que diz CARTA MAIOR :

 O direitaço deste domingo foi além do que estava precificado porque a mídia foi além do se supunha. O que se supunha é que associaria a simpatia pela 'causa' à cobertura favorável. Mas ela convocou, orientou e deu organicidade às redes sociais da mobilização.Por fim, repercutiu como quis. Ao governo: precisa desenhar ou ficou claro?

Na política, o drama do choque de realidades se fez de forma clara em alguns países europeus, ao longo dos últimos oito anos.
Depois de meses e anos de protestos sucessivos  nas ruas - fruto da organização horizontal das sociedades em redes -  as populações grega e espanhola - assim como outras sociedades - entenderam que para mudar as estruturas obsoletas apenas os protestos não eram suficientes. 
Entenderam, corretamente,  que  deveriam competir de acordo com as regras vigentes em tais democracias e, com isso, criaram organizações ou coligações partidárias para disputar o Poder.
Aquilo que antes era movimento se transforma em partido político, e tem sido bem sucedidos nas eleições. 
Cabe ressaltar que hoje, no jornal o globo, o colunista Merval Pereira, em artigo passional assim como um torcedor  de futebol que protesta,  afirma que se o Brasil fosse um regime parlamentarista, a presidenta teria que ser mudada por conta dos protestos de ontem. Só para lembrar, Grécia e Espanha, tem chefes de governo em regime parlamentaristas e tiveram inúmeras manifestações gigantescas ao longo desses últimos  anos e nenhum primeiro ministro saiu do cargo por conta das manifestações naqueles países.



Na política como no futebol, os torcedores, de clubes e partidos políticos avaliam  bem a situação, no entanto são completamente irracionais e descabidos no momento em que se manifestam, favoráveis ou contrários.


O sócio torcedor nos clubes de futebol e a sociedade organizada em redes - ambas formas de empoderamento das pessoas - em um futuro bem próximo ainda irão cobrar a conta, caso as estruturas não se modernizem.

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