terça-feira, 31 de março de 2015

Democracia é assim

Porque nunca entrei no PT e porque não chuto o PT na hora das dificuldades

30 de março de 2015 | 21:56 Autor: Fernando Brito e da clase média 
gelula
Na véspera da eleição de 1989, quando a juventude ainda me permitia entrar num bar após um dia inteiro de trabalho, encontrei uma mesa de amigos jornalistas, petistas, e tivemos todas as provocações que se possa imaginar sobre quem passaria ao segundo turno para enfrentar Collor.A certa altura, peguei a mão de um dos mais fortemente petistas, meu amigo Fernando Paulino, e lhe disse: “sabe qual é a diferença entre nós? É que metade do PT não irá com Brizola, se ele passar ao segundo turno e a metade que virá, virá rebolando, de salto alto.” E apertei-lhe a mão, prossegui: agora se o Lula passar, nós vamos segurar na mão dele nem que seja para irmos juntos para o inferno”.

Os fatos mostraram que foi assim e Brizola nunca faltou a Lula no momentos dos embates eleitorais decisivos. E, 2002, inclusive, isto foi causa de uma incompreensão amarga com Ciro Gomes, ao final do primeiro turno.

O PT, quase todo, não compreendeu o trabalhismo para além do discurso de turma do pré-vestibular, com aquela história de “Carta del Lavoro”.

A História, a porretadas práticas, abriu a cabeça de alguns, melhor assim. Aprenderam que a política se faz tanto com intenções quanto com concessões. Com muitos erros no varejo e um grande acerto no atacado do processo histórico.

E tudo o que criticavam no velho Getúlio se desfez na imensa vontade que têm agora, de cantar para Lula a marchinha do Francisco Alves: “Bota o retrato do velho outra vez/ Bota no mesmo lugar/ O sorriso do velhinho faz a gente se animar” (Aliás, a patrulha era tanta que só transcreviam uma das estrofes, que dizia “trabalhar”, em lugar de “se animar”.)

Podemos e devemos discutir erros do PT, a sua natureza essencialmente udenista – que como todo udenismo se acaba como Greta Garbo no Irajá – mas não podemos deixar de ver que foi com Lula que, pela primeira vez em décadas – talvez com um pequeno momento de intervalo, na campanha das Diretas-já, que convenientemente se abortou por uma solução pessedista, com Tancredo – o povo brasileiro se viu como coletividade e ao país como uma esperança.

Igualmente, também não fecho os olhos à natureza do PT – não a de Lula – de expressão da classe média à qual o movimento social, mais pela figura de seu líder operário, aderiu. Isso não é, em si, nem mau nem desinteressante, porque a esquerda no Brasil sempre teve – ainda bem! – uma adesão da classe média e dos intelectuais à imensa massa popular, expressa em seus escritores, seus músicos, seus poetas, que maravilha!

Virou moda, agora, descer a lenha no PT, inclusive por parte de gente que, com ele, viveu sua experiência de ser governo.

O PT merece, claro, boas pauladas ideológicas, a começar por sua “vocação civilizatória” neobandeirante, que crê (ou cria) que iria “civilizar” o Brasil com sua “modernidade inclusiva”.

Mas não vou fazer coro com a direita, no momento de dificuldades do partido, que não sabe para onde se volta e nem sabe o que vai fazer.

Se eu tivesse de dizer algo ao PT, diria: “beba história”.

É amargo, dói na garganta, nos deixa, paradoxalmente, sóbrios para agir com lucidez e loucos para sonhar .

E, como há 26 anos, há gente que vai segurar firme a mão de quem fizer isso e ficar firme.

Para desespero dos petistas “neoliberais”, dizer que é preciso recolocar uma referência aos olhos do povo brasileiro.

O que está em jogo é ele mesmo: o retrato do velho, outra vez.

É o que querem destruir.

É o que temos de defender.

Fonte: TIJOLAÇO
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Uma briguinha nas esquerdas. Esquerdas ?

O caro Brito não está de todo errado nem de todo correto, ainda bem.

Fico a vontade, pois conheço a história, pelos livros e pela vivencia.

Jamais fiz parte de um partido político, no entanto estive ao lado do MDB, do PDT, do PT (Convergência Socialista ), do PCB, do PCdo B e do PV.

Nunca estive ao lado da direita e a esquerda continua sendo o melhor caminho, o mais justo.

Em 1982, já ligado ao PT, apoiei e participei da campanha do PDT, por Brizola.

Em 1989, Brizola não engoliu a derrota para Lula no primeiro turno, tanto que em um momento de união das esquerdas para enfrentar Collor no segundo turno, saiu com aquela de sapo barbudo, em referência ao Lula. No entanto, Brizola, e não o seu PDT, conseguiu transferir todos os seus votos, majoritariamente no Rio de Janeiro e no Rio grande do Sul, para Lula no segundo turno.

Não transferiu os votos de esquerda, ou os votos do PDT, transferiu os votos dele, Brizola, para Lula no segundo turno, pois o PDT, enquanto Brizola viveu, girava em torno de seu presidente que decidia tudo, que o digam César Maia e Garotinho. Garotinho, aliás, saiu do PDT pois desejava se candidatar ao governo do estado do Rio de Janeiro e Brizola alegava que era ainda muito cedo, pois Garotinho era muito jovem, esquecendo-se, ou omitindo, que ele mesmo, Brizola, foi Governador bem jovem do Rio Grande do Sul. No PDT os holofotes tinham dono , um único dono.

No PDT a democracia era o próprio Brizola que tudo decidia, um pouco diferente do PT, que como dizem as pessoas em tom de crítica ouve todo mundo, as bases , os diretórios, todas as opiniões, etc..

Democracia é assim mesmo, difícil, lenta, muitas opiniões, debates e para os poucos acostumados a garganta pode doer um pouco.

No entanto, concordo que uma parcela de eleitores do PT, iria aderir a Brizola - caso Brizola passasse para o segundo turno em 1989 - de salto alto e até mesmo com certo desdém, porém, não concordo que outra parte não iria votar na esquerda, em Brizola. Todos votariam em Brizola, porém, afirmo com conhecimento que o PT não iria fazer parte de um suposto governo de Brizola , caso Brizola vencesse aquelas eleições.

O exílio de 15 anos que Brizola viveu, e o surgimento do PT ao final das manifestações do movimento sindical no final da década de 1970, propiciaram o surgimento de uma geração , na esquerda, que contribuiu para minimizar a influência política de Brizola. Isso é fato.

O retorno de Brizola, reciclado, forçou uma compreensão de um socialismo democrático como bandeira ideológica ao PDT , isso por conta do surgimento do PT e da adesão de uma parcela da intelectualidade e da classe média brasileira ao partido dos trabalhadores grupo esse que ainda no início dos anos da década de 1980 tinha forte orientação marxista de esquerda, e que, curiosamente, não era a orientação de Lula e do movimento sindical.

O movimento sindical com Lula a frente e em seguida a criação do PT, não tinham necessariamente uma inclinação marxista, isso dito pelo próprio Lula, no entanto, os intelectuais de esquerda do pais adeririam ao PT, a classe de trabalhadores - inicialmente os trabalhadores formais -

Brizola também não engoliu essa , e além de perder a sigla do velho PTB para Ivete Vargas, atribuiu o surgimento do PT e sua derrota na sigla a manobras do ministro milico Golbery do Couto e Silva, o que em parte é verdadeiro.

O PT, desde a sua fundação e contra todas as expectativas cresceu muito e naturalmente com muitos grupos internos, alguns ainda existentes e outros que se desligaram para formar outros partidos como o PSTU e o PSol, por exemplo.

Chegou ao Poder e governa por doze anos , vencendo quatro eleições seguidas. Não é pouca coisa.

Apesar dos inúmeros problemas que agora enfrenta, sendo o cerco conservador de direita que deseja acabar com o partido o maior desfio, o PT saberá se reestruturar onde for necessário e continuará em seu projeto de transformação positiva do país, algo que para ser plenamente realizado serão necessários mais de duas décadas de governo , algo em torno de 25 anos, ou seja, depois desse governo Dilma, mais dois governos de Lula.

Conhecedor do partido, e sempre militando a esquerda, fico a vontade em criticar o PT sempre que julgar necessário.

Democracia é assim mesmo, muitas opiniões, criticas, debates, discussões, elogios. Não existe holofote em uma só pessoa e os candidatos, principalmente para cargos majoritários, são escolhidos em função da competência e  da conjuntura política, ou seja, não existe fila, tempo de casa ou hierarquia.


Não é , Marta ?

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