segunda-feira, 16 de março de 2015

Insanidade coletiva

Adilson Filho: 

Um clima de insanidade geral toma conta da Nação

publicado em 16 de março de 2015 às 12:40
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por Adilson Filho
Que boa parte da classe média se tornou reacionária nos últimos anos acredito que, a essa altura, ninguém mais discorde. Mas quando Paulo Freire, um dos educadores mais importantes da nossa história, é esculhambado nas ruas, acho que a coisa precisa ser investigada com mais profundidade.
Acho que se aquelas pessoas soubessem quem foi esse homem, a dimensão de sua pedagogia, a importância de suas ideias para a educação brasileira — naquilo que talvez seus próprios filhos hoje estejam se beneficiando para no futuro não repetir gestos lamentáveis como esses — jamais fariam isso.
Um fato como esse é muito preocupante, pois sinaliza (ainda que simbolicamente) para aniquilação do último bastião do maior dos valores civilizatórios, creio eu, que podem redimir essa nação: a educação crítica e humanista, proposta por Freire.
Nesse sentido, eu acho que se quisermos compreender com mais clareza o que está acontecendo com a nossa sociedade, acredito ser fundamental, nesse momento, recorrer a um velho clássico da Sociologia brasileira: “Casa Grande & Senzala”, do também pernambucano Gilberto Freyre.
Certamente encontraremos ali boas explicações sobre como construímos a nossa socialização, como olhamos e subjugamos os negros, os desfavorecidos sociais, ao mesmo tempo em que conseguímos, com criatividade ímpar, estabelecer uma maneira de nos relacionar baseada numa ‘cordialidade’ completamente falsa.
Um tipo de socialização na base do “tamo junto e misturado” que, jamais teve o sentido de inclusão, mas sim de diluir eventuais conflitos que poderiam emergir da violência absurda que se escondia nessas relações.
A partir da última década, um “pequeno” arranhão foi dado na estrutura social — mesmo sem alterar as suas bases — e isso já foi motivo para enorme desconforto e instabilidade. Dividir aeroporto ou filas de exposição no MAM com o porteiro, ver a empregada doméstica se empoderando em seus direitos trabalhistas, o gari se organizando e deixando de recolher o lixo, tudo isso é algo muito novo, totalmente inusitado que deu um sacolejo nessas relações baseadas no mandonismo, no tapinha nas costas e alegria geral — “o pobre é muito gente boa, divertido pra caramba, a gente se dá muito bem; eu, uma pessoa muito caridosa, inclusive ajudo a sua filha com material escolar todos os anos, desde que ela fique lá, e não venha querer dividir agora a universidade com os meus filhos, aí já é demais”.
Ainda assim, o nosso caso é tão complexo, tão singular, que analisar o que está acontecendo só observando a estrutura é pouco. E é aí que entra o segundo fator, acredito, decisivo: A influência nefasta e corrosiva da mídia hegemônica com seus valores e métodos de persuasão.
Durante quase uma década os principais veículos de comunicação se encarregaram de pegar o cidadão já assustado com essa “pequena revolução” e entupir-lhes as veias, artérias e até a sua alma de programas de péssima qualidade, bastante violência (que vai de um tapa no Big Brother até a forma como falam da inflação do tomate) e um pensamento único ultra-liberal, sempre o mais superficial possível, baseado em muita desinformação.
O resultado disso é o medo, o pânico, a confusão ideológica, tudo isso que foi penetrando em sua subjetividade até chegar a esse assustador estado de desespero que temos testemunhado por aí.
E não menosprezemos o que está acontecendo. Há um clima de insanidade geral tomando conta da nação. São pessoas agredindo as outras de todas as maneiras, gente chorando em videos, pedindo socorro aos militares, gente escrevendo carta pra embaixada americana intervir em nosso país, batendo panela e xingando palavrões sexistas ao lado dos filhos, tem relatos de mordida nas ruas, gente surtando em posto de gasolina, etc. Há muito sofrimento envolvido, as pessoas não estão teatralizando, essa dor existe, é da alma, é coletiva; talvez até sejam gritos de dor que carregam o peso da ancestralidade, a nossa história triste de dominação – um pouco do sofrimento e da morte dos índios, da escravidão do negro, das torturas, todos esses ‘demônios’ voltando agora e explodindo no inconsciente coletivo de uma parcela da população.
Enfim, vale a pena voltar a “Casa Grande & Senzala”. Um clássico obrigatório da nossa Sociologia e que certamente ajudará numa compreensão maior sobre o atual momento brasileiro que, mais a frente, quando tudo isso passar ( e vai passar) será também objeto de estudo, assim como são hoje essas outras páginas infelizes da nossa História.
Prefiro olhar pra esses gritos e ver neles a certeza de que o nosso corpo social está se renovando. O futuro do país finalmente começou a ser construído de uma outra maneira; alguns vícios ainda persistem e vamos combatê-los com pressão nas ruas pelas mudanças necessárias; mas com todos os problemas que ainda temos, essa reação de parte da sociedade sinaliza que estamos no caminho certo. Acho isso que nos dá força pra seguir.
Fonte: VIOMUNDO
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'Impeachment', 'intervenção militar', 'basta de Paulo Freire'... o que querem os manifestantes?

Um milhão virou 210 mil, com uma pauta onde não se via a luta pelos menos privilegiados




Nos protestos de domingo (15) contra a presidenta Dilma Rousseff, na Avenida Paulista, os 1 milhão de participantes que, segundo a PM, estavam nas ruas, num passe de mágica se transformaram em 210 mil, segundo o Datafolha.

Levando em consideração de que havia muitas famílias na passeata, com pais, mães e filhos, podemos chegar à conclusão de que havia em torno de 140 mil pessoas com idade para votar. Ora, em São Paulo Aécio Neves contou com 4,1 milhões de votos na capital e com 15 milhões de votos em todo o estado.

Podemos chegar à conclusão de que boa parte das pessoas que votaram em Aécio não aderiu aos protestos. Aliás, nem Aécio foi para as ruas. Assistiu pela janela, em Ipanema.


Capa da 'Folha' desmente números oficiais, que afirmavam haver 1 milhão nas ruas, em SP
Capa da 'Folha' desmente números oficiais, que afirmavam haver 1 milhão nas ruas, em SP

Com relação às manifestações, ficam perguntas no ar: havia faixas pedindo aumento do salário mínimo? Defendendo o direito das mulheres? Dos negros? Havia cartazes defendendo os direitos humanos?

Não. O que se viu foi "fora Dilma", "fora PT", "intervenção militar, já", e "Impeachment". E os pedidos de impeachment durante o protesto se sucederam mesmo após os mais renomados juristas, a CNBB e a própria adversária de Dilma nas eleições, Marina Silva, terem afirmado exaustivamente que, além de não ter base jurídica e constitucional, o impeachment só seria mais prejudicial ao país.

O que se viu nas ruas foi um processo radical contra o PT e Dilma. E o governo, ao reagir, passou o recibo que, a juízo de especialistas, não tinha a necessidade de passar. Acusou o golpe que era contra o governo e contra as instituições, por razões individuais, em função das recentes eleições.

Os cerca de 20 criminosos flagrados armados - se realmente estavam armados - que supostamente tinham o objetivo de causar confrontos na passeata, são a comprovação triste de que tais fatos podem se repetir, talvez em maiores proporções, em novos protestos, com uma população mais raivosa.


No cartaz durante protesto de domingo, em Brasília, 'Basta de Paulo Freire'
No cartaz durante protesto de domingo, em Brasília, 'Basta de Paulo Freire'

Num dos flagrantes do protesto, manifestantes, em Brasília, mostravam cartaz onde de lia "Basta de Paulo Freire", um dos mais brilhantes educadores, pedagogos e filósofos da história do Brasil, sendo considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial. Basta, não é de Paulo Freire. Basta é com as provocações em que só perdem os que tem o que perder.


Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Um clima de insanidade e de irracionalidade toma conta do país, graças, principalmente, a campanha sistemática promovida pelos veículos de mídia do grupo Globo.

Pessoas em surto pedem impeachment da presidenta, sem qualquer embasamento jurídico ou político para tal demanda, apenas repetindo o que dizem e escrevem os principais colunistas de jornais e telejornais.

Pessoas pedem intervenção militar em um país que vive em pleno regime democrático, a ponto de permitir que pessoas possam até mesmo surtar em suas demandas.

No meio dessa geléia que foi a manifestação de ontem, nenhum pedido dos manifestantes tem base legal, política e racional, o que revela uma insanidade coletiva.

Cabe agora ao governo federal tomar as medidas necessárias para implementar uma terapia coletiva, e , para isso , é de extrema importância trazer à tona o debate sobre a regulamentação dos meios de comunicação e, até mesmo, cassar os sinais das emissoras de TV do grupo Globo, mesmo que apenas por um determinado período, para que a população possa ser atendida e a democracia no espectro informacional reestabelecida.

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