sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O silicone chegou ao cérebro



SFEVEREIRO 27, 201

Raul bebia pra não saber que tava nessa merda toda'



Raul internado: morte precoce aos 44 anos
Depois que instalaram uma TV que acessa oYoutube (sem merchan, por favor) lá em casa, desisti de vez de assistir os canais abertos ou pagos e mergulhei nos milhões de vídeos postados por internautas. Numa dessas, trombei com uma entrevista do Plínio, irmão único - e mais novo - do finado Raul Seixas. Ao ser questionado sobre o que teria levado o "Maluco Beleza" a tal ponto de alcoolismo, que o matou aos 44 anos, Plínio resume (o grifo é meu): "Raul tinha uma mágoa enorme com o ridículo, com a mesmice, com a idiotice que tá por aí - e que ainda tá, e que tá até pior. É bom que ele nem esteja mais [aqui]. Porque piorou bastante de lá pra cá, né. (...) Eu não quero falar muito, não, porque eu sou um pouco do lado dele nessas coisas. Mas Raul bebeu também porque... ele era meio tedioso, já, com isso. Isso aqui já não tava mais legal pra ele. Como ele disse: 'Enquanto vocês tão com as cercas do quintal, assento a sombra sonora de um disco voador'. Ele tava além disso tudo, das fronteiras, dos países, das cercas que separam quintais. [A música] 'Ouro de tolo' diz bastante a ideia da cabeça dele. Ele tá muito além disso tudo. Ele não era pra tá aqui. Ele bebia pra esquecer, pra não saber que tava aqui nessa merda toda."


Raul com o vaidoso conterrâneo Caetano
Em outro trecho da mesma entrevista, Plínio afirma que a música "Meu amigo Pedro", um dos maiores "hinos" do raulseixismo, foi feita pra ele - embora haja a especulação de que o "mago" Paulo Coelho, co-autor da canção, tenha direcionado a letra para seu pai, Pedro Queima Coelho. De qualquer forma, registrei acima a opinião de Plínio Seixas sobre o motivo do alcoolismo de Raul porque coincide com um depoimento do Chico Buarque ao jornal espanhol La Vanguardia, de 2005, que recuperei aqui no blog outro dia (o grifo é meu): "Eu nunca vi um movimento geral de idiotice como o de hoje. Já vivemos quase duas décadas de idiotice globalizada. A idiotice nos rodeia, eu mesmo tenho medo de ficar idiota". Pois é. Difícil imaginar Raul Seixas num mundo de Big Brother, Luciano Huck, carnaxé, funk ostentação, sertanejo universitário, coxinhas, anonymous, redes (anti)sociais etc etc etc. Nesse mundo em que todo mundo se leva muito a sério, que "se acha". Como vovó já dizia, em "As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor", "Acredite que eu não tenho nada a ver/ Com a linha evolutiva da Música Popular Brasileira" - tirando um sarro do conterrâneo baiano Caetano Veloso, que sempre se levou MUITO a sério - tanto que deu o título de "VERDADE tropical" para sua autobiografia, quando mais parece uma"VAIDADE tropical"...

Enquanto Caetano olha para o próprio umbigo, Raul preferia fazer careta no espelho
E como "É fim do mês", termino esse post com os versos de outra obra-prima raulseixista que tem esse título, e que tem tudo a ver com a tal idiotice ressaltada pelo Plínio e pelo Chico (os grifos são meus): "Mas não achei!/ Eu procurei!/ Pra você ver que procurei/ Eu procurei fumar cigarro Hollywood/ Que a televisão me diz que é o cigarro do sucesso/ Eu sou sucesso!/ Eu sou sucesso!/ (...)/ Eu consultei e acreditei no velho papo do tal psiquiatra/ Que te ensina como é que você vive alegremente/ Acomodado e conformado de pagar tudo calado/ Ser bancário ou empregado sem jamais se aborrecer". Um brinde ao grande Raul. Porque eu também já não quero mais nem saber que tô aqui, nessa merda toda...

Fonte: FUTEPOCA
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De fato, aguentar essa realidade idiota em que vivemos atualmente não é fácil.

Muitos não suportam, no entanto o melhor caminho não é  se destruir, mesmo que muitos  que o procuram acreditem que estejam fazendo a melhor escolha.

Um suicida, ao tomar a decisão de se suicidar acredita que está se preservando e fazendo o melhor para ele.

Que de fato a idiotice dominante transformou o mundo em uma grande merda, isso é fato incontestável.

No início dos anos da década de 1990, quando o grupo O Tchan, foi um fenômeno nacional, conclui que algo estva errado, não com os artistas do Tchan - eles são artistas e estavam ocupando um espaço disponível - mas com o mundo.

No início cheguei a ficar preocupado, pensando que o erro estava em mim, mas logo fui percebendo através de conversas com as pessoas que não estava errado, ao contrário, com as crescentes críticas a cultura iniciada pelo Tchan vejo que estava certo.

Raul Seixas, esteve a frente de seu tempo , e sofreu muito devido a isso.

O futuro previsto por Raul em suas canções e idéias, ainda não chegou.

A vaidade exacerbada aliada a idiotice profunda são a marca do nosso tempo, que se manifestam através de conteúdos  de extensa supercialidade.

O mundo raso dos reality shows, novelas, programas de auditírio, sambanejo, sertanejo juvenil universitário, com um comportamento carregado de vulgaridade, é o mundo da moda.

O silicone chegou ao cérebro.

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