quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

HSBC

Amaury Ribeiro Jr. deixa o Comitê de Jornalistas Investigativos com a suspeita de que ele investiga só um lado

publicado em 19 de fevereiro de 2015 às 14:45
amaury
Da Redação
A troca de correspondência entre o jornalista Amaury Ribeiro Jr. e a vice-diretora do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), Marina Walker Guevara, nos foi enviada pelo repórter. O ICIJ recebeu do diário francês Le Monde os Swiss Leaks –vazamento de dados referentes às contas secretas do banco HSBC na Suiça.
Os vazamentos estão sendo investigados por autoridades de vários países, uma vez que podem indicar que o banco era usado para sonegação de impostos ou simplesmente esconder dinheiro sujo.
No Brasil, o ICIJ repassou a tarefa de investigar e divulgar as contas ao UOL, do Grupo Folha, representado pelo jornalista Fernando Rodrigues, integrante do ICIJ, do qual Amaury também fazia parte. O UOL e a mídia corporativa brasileira, por enquanto, só entraram no caso para denunciar contas no HSBC associadas ao escândalo da Petrobras:
Querida Ms Walker:
O seu nome me foi indicado pelo amigo Rosenthal Calmon. Meu nome é Amaury Ribeiro Jr, sou jornalista, escritor e membro do ICIJ desde a fundação da organização em 1997, na Universidade de Harvard. Estava lá na companhia de Calmon e outros amigos. Tenho me dedicado durante os 30 anos de traballho à publicação de livros, que ajudaram a elucidar vários casos de lavagem de dinheiro. Entre os meus livros públicados estão A Privataria Tucana (mais de duzentos mil cópias vendidas no Brasil) e O Lado Sujo do Futebol (compartilhado com amigos da TV Record e traduzido para o espanhol).
Desde que o ICIJ decidiu publicar as contas de políticos na Suiça, o meu telefona não pára de tocar. Ao me pedirem ajuda, os jornalistas de toda parte do Brasil dizem que o site UOL (escolhido pelo ICIJ para divulgar o caso), ao contrário do que vem ocorrendo em outros países, só tem divulgado o nome de políticos de esquerda, livrando os chamados políticos neoliberais apoiados pela grande mídia. Me comprometi, como membro do ICIJ, a tentar obter a lista.
Caso consiga com o ICIJ, me comprometi a divulgar somente as chamadas contas sujas e não declaradas ao Fisco, na íntegra, aos demais colegas da imprensa. O Brasil vive uma crise política sem precedentes, que poderá acabar para sempre com todo o esquema de corrupção que perdura há mais 50 anos. Mas, para que isso ocorra, a imprensa não deve colaborar com a manipulação de dados. Mando-lhe também, para a sede do ICIJ, os exemplares dos meus livros.
Grato,
Amaury Ribeiro Jr
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Amaury,
Bom ouvir de você. Tenho trabalhado para o ICIJ por quase 10 anos e penso que esta é a primeira vez que você entra em contato conosco em busca de uma reportagem.
Como você sabe, estamos trabalhando com o Fernando Rodrigues, que ainda está fazendo as reportagens. Ele vai publicar outras delas brevemente. Não sei no que você baseou sua afirmação de que Fernando está escondendo o nome de políticos neoliberais. Você viu os dados para fazer tal acusação tão séria contra seu colega e co-integrante do ICIJ?
Não estamos planejando abrir os dados para outras organizações de mídia do Brasil por agora. Se isso mudar, você será informado.
Obrigado,
Marina
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Marina,
Quem sabe talvez você, uma jornalista argentina, se interesse em conhecer o mínimo do que está acontecendo em seu país vizinho.
Não estou acusando o Fernando Rodrigues, colega há mais de 30 anos, e sim a empresa em que ele trabalha (UOL). Assim como todos os grandes grandes veículos de comunicação do Brasil, o UOL segue a cartilha neoliberal dos patrões.
A denúncia de que o UOL está escondendo as contas de políticos me foi feita por centenas de jornalistas. Eles viram meu nome na lista do ICIJ e passaram a me cobrar. Por isso eu te escrevi após conversar com o Rosenthal, que me indicou para o ICIJ.
A informação também me foi confirmada por fontes da Polícia Federal, que garantem que no HSBC está grande parte do dinheiro que foi desviado na época das privatizações. Te encaminhei a carta apenas para dar satisfação aos meus colegas do país.
Queria deixar bem claro que não estou escondendo nada de ninguém. Mas há uma maneira fácil de resolvermos o problema. Tire o meu nome da lista dos membros da ICIJ. A partir de hoje não faço mais parte da organização de jornalistas. Fico devendo a prova das contas dos ladrões neoliberais que vocês estão ajudando a esconder.
Nas contas offshores desses paraísos fiscais está amopitado o dinheiro que eles desviaram durante o processo de privatizações. Nós, jornalistas progressistas brasileiros, acostumados a tantos golpes da mídia patronal, não podiamos esperar nada de uma organização mantida pelo megassonegador George Soros.
Amaury Ribeiro Jr.
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Amaury,
Obrigado por compartilhar suas impressões. Não concordo com elas, mas respeito. Tal como você pediu, retiraremos sua biografia do site do ICIJ e aceitamos sua renúncia como membro.
Muito obrigado,
Marina Walker Guevara
ICIJ Deputy Director
mwalker@icij.org
PS do Viomundo: O fato de que existe um monopólio da informação sobre as mais de 8 mil contas de brasileiros significa que nunca saberemos se o UOL está divulgando os dados de forma manipulada ou não, pelo simples fato de que ninguém mais poderá se debruçar sobre as mesmas contas. Parece óbvio, não? Embora não comprovadas, as suspeitas de Amaury Ribeiro Jr. são absolutamente pertinentes. Pela cobertura que a mídia brasileira deu ao caso, até agora, sobram motivos para novas suspeitas: toda a ênfase é dada às contas no HSBC associadas ao escândalo da Petrobras, o “escândalo que interessa” ao baronato midiático.

Fonte: VIOMUNDO
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HSBC: Mídia sonega informações

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

Cara srta. Guevara [vice-diretora do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos],

Depois de ler sua troca de mensagens com o jornalista Amaury Ribeiro Jr., estou confuso.

O ICIJ escolheu apenas um investigador no Brasil, o muito respeitado jornalista Fernando Rodrigues, e apenas uma empresa de mídia, o UOL-Grupo Folha [para apurar e divulgar as contas do HSBC no casoSwissleaks].

Como estamos falando de mais de 8 mil clientes brasileiros do HSBC, qual será o critério para separar os “relevantes” dos “irrelevantes”?

Eles do UOL sabem antecipadamente quais nomes são de “laranjas” - como chamamos em português as pessoas que deixam usar seus nomes para esconder dinheiro sujo?

Quais são os critérios para priorizar este nome e não aquele outro? Fama?

Não faria mais sentido se o ICIJ tivesse escolhido parceiros múltiplos para a apuração no Brasil, de maneira a evitar os riscos sobre os quais Amaury Ribeiro Jr. alertou?

Por favor, siga a lógica: uma vez que o ICIJ nunca publicará a lista completa de clientes brasileiros do HSBC, como estaremos certos de que nomes não mencionados não escondem segredos sobre os quais a sociedade brasileira tem o direito de saber?

Tenha em mente que há muitos motivos para ceticismo em relação às corporações de mídia brasileiras.

Como o Repórteres Sem Fronteiras relatou, o Brasil é a “Terra dos 30 Berlusconis”. As famílias que controlam a mídia brasileira agem como um partido de oposição. Elas tem uma agenda política e a seguem em suas publicações, mesmo que isso implique em esconder informação.

Um exemplo?

Amaury Ribeiro Jr. escreveu um bestseller sobre as privatizações no Brasil chamado A Privataria Tucana.

Mas o livro foi considerado “não notícia” pela maior parte da mídia brasileira durante semanas. Depois que o livro se tornou um best seller, a mídia passou a dar atenção a ele, mas apenas para atacar o conteúdo.

Outro exemplo?

Foram blogueiros que noticiaram que as Organizações Globo, nosso grande conglomerado de mídia, haviam sido multadas em R$ 600 milhões por sonegar impostos na compra dos direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006.

De acordo com documentos oficiais, a operação foi feita com a criação de uma empresa fantasma nas ilhas Virgens Britânicas, notórias pela lavagem de dinheiro sujo.

Notícia, não? Não, de acordo com a maior parte da mídia brasileira. Outra vez, foram semanas até que a notícia saísse aqui ou ali.

Nos dois casos, o comportamento vergonhoso foi adotado pelos seus parceiros do UOL-Folha.

Nós, no Brasil, já não ficamos tão surpresos com tal comportamento.

As grandes empresas de mídia promoveram e se beneficiaram da ditadura militar que torturou, matou e “desapareceu” com brasileiros.

O Grupo Folha, aliás, teve alguns de seus veículos de distribuição usados por gente ligada à ditadura e emprestou um dos títulos, o da Folha da Tarde, para ser porta-voz da repressão.

Francamente, ficamos surpresos com a decisão do ICIJ de escolher um único parceiro para lidar com informação tão relevante para a sociedade brasileira, considerando o que acabamos de relatar.

Saudações,

Luiz Carlos Azenha

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Dear Ms. Guevara,

After reading your exchange with Mr. Ribeiro Jr., I’m confused.

ICIJ has chosen as it’s sole investigator in Brazil a very respected journalist, Fernando Rodrigues, and a sole media company, UOL-Grupo Folha.

Since we are talking about more than 8.000 HSBC client’s, how in the world will they find out which ones are “relevant”or “irrelevant”?

Do they know in advance, for example, which names might have been used as “laranjas” — in portuguese is how we call people that let their names be used to hide dirty money?

What are the criteria to prioritize this name here and not that one over there? Fame?

Wouldn’t make more sense to have multiple partners doing the work in Brazil, in order to avoid the risks that Amaury Ribeiro Jr. alerted you about?

Please, follow the logic: since ICIJ will never publish the full list of brazilian clients of HSBC, how will anyone be sure that the unpublished names don’t hide an important secret that Brazilian society has the right to know?

Bear in mind that there are plenty of motives to be sceptical about the brazilian media corporations.

As Reporters Without Borders has reported, Brazil is the land of the 30 Berlusconis. The families that control the Brazilian media act as an opposition party. They have a political agenda and follow that agenda on their publications even if it means hiding information.

Case in point?

Amaury Ribeiro Jr. wrote a best seller about the privatizations in Brazil, called A Privataria Tucana.

But it was considered NON NEWS by the brazilian media for weeks. AFTER it became hugely sucessful, it finally got coverage in the form of heavy criticism against it’s content.

One more example?

Bloggers broke the news that Globo Network, our huge media conglomerate, had been fined in over U$ 150 million for not paying taxes when it bought the rights for World Cup 2002-2006.

According to official documents, the operation was done with the set up of a fake company in the notorious money laundering British Virgin Islands.

Newsworthy? No, according to most of the Brazilian media. Again, it took weeks until it was mentioned here and there.

In both cases, the shameful behavior included your partners from UOL-Grupo Folha.

We, in Brazil, are not surprised by such behavior.

The big media companies are the same that promoted AND benefited from the military dictatorship that tortured, killed and “disappeared” Brazilians.

Grupo Folha, by the way, had some of its distribution vehicles used by people associated with the dictatorship. It gave one of it’s titles, Folha da Tarde, to be used by torturers to disseminate lies about political repression.

Frankly, it’s a surprise that ICIJ has chosen to embrace a sole Brazilian partner considering such History.

Best Regards,

Luiz Carlos Azenha

Fonte: Blog do Miro 
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