quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Pró Farofa

Hilde retira “pisada na bola” praiana. Menos mal, mas segregação ao sol não vem de ontem, não…

13 de janeiro de 2015 | 19:02 Autor: Fernando Brito
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A colunista social Hildegard Angel andou, com toda razão, levando uma chuva de críticas por ter sugerido mudar o itinerário dos ônibus e, se necessário, até cobrar ingresso nas praias do Rio para evitar que“hordas e hordas de jovens assaltantes e arruaceiros” invadam a orla.
Menos mal que “cansada de levar pedrada”, ela retirou o texto de seu blog.
Melhor faria se tivesse se retratado do que ela própria chamou, ao escrever, de medidas  ” antipáticas e discriminatórias”.
Mas é assim mesmo, todo mundo está sujeito a dizer besteiras num momento de irritação.
O problema, e não é só dela, é que algumas pessoas se acham com mais direito que os demais a algo que não pertence a ninguém: a praia.
E que, se pertencesse, nestes dias de calor de Saara no Rio de Janeiro, justificaria uma revolução.
Esta é uma história que vem de longe e que vivi de perto.
Até 1984, só uma linha de ônibus passava pelo Túnel Rebouças. uma obra caríssima projetada e iniciada por Carlos Lacerda e terminada por Negrão de Lima, em 1967.
Era o raríssimo 473, Penha-Jardim de Alá(embora seu ponto final fosse no final do Leblon).
Havia outros ônibus ligando a Zona Norte à Zona Sul, mas pelo Flamengo e alguns pelo Túnel Santa Bárbara, entre eles o 456, ou quatro-cinco- méier, porque era do subúrbio do Méier que ele partia e era assim que eu e outros adolescentes o chamávamos, inclusive alguns que se aventuravam a carregar dentro dele uma prancha de surfe, com a qual andavam até perto do Pier de Ipanema.
Pois o Brizola, inconformado que o túnel, construído com o dinheiro de todos, só servisse, quase, aos que tinham carro (e carro era quatro ou cinco vezes mais raro que hoje, naquele tempo), mandou a Companhia de Transportes Coletivos do Estado criar três linhas: a 460, 461 e 462, saindo da estação de trem de São Cristóvão e chegando a Ipanema, Copacabana e Leblon.
Um trajeto, se tanto,  de meia hora, metade do que levava por outras vias.
Foi o que bastou para, insuflada pelo Jornal do Brasil – O Globo ainda era um jornal algo chulé – começasse uma campanha de ataques ao povão que chegava, calorento, esbaforido e alegra à praia.
Joaquim Ferreira dos Santos traduziu este sentimento em uma antológica crônica, no mesmo jornal – que maravilha era o velho “Caderno B” – da qual mostro as primeiras linhas e o espírito,recomendando que seja lida aqui:
“Ipanema, essa senhora cada vez mais gorda e poluída, reclama de novas estrias e dentes cariados em seu corpanzil: agora é culpa dos ônibus Padron, a linha 461 que, há um mês, está trazendo suburbanos para seu “paraíso”, numa viagem de apenas 20 minutos, via Rebouças. É o que dizem seus moradores, inconformados. Ouçam só:
- Que gente feia, hein?! (Ronald Mocdes, artista plástico, morador da Garcia D`Ávila, bem em frente ao ponto do ônibus).
- No outro dia eu saí da loja com um vestido comprido, alinhado, e você precisava ver o que aconteceu. Me chamavam de urubu, um horror. (Débora Palmério Fraga, gerente da Gregorio Faganello).
- É chocante dizer, mas eles estão desacostumados com os costumes do bairro. Nem vou mais à praia aqui. É farofeiro para tudo quanto é lado, olhando a gente de um modo estranho. Ficam passando aquele bronzeador. A sensação é de que eles estão invadindo o nosso espaço. (Maria Luiza Nunes dos Santos, ex-freqüentadora da praia da Garcia D`Ávila e que agora só vai ao Pepino).”
Não foi o pior do JB, legítimo porta-voz da Zona Sul carioca e sua biodiversidade.
Meses depois, o jornal se superaria, com um editorial em que dizia estar Brizola asfaltando os acessos dos morros do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, para que os assaltantes tivessem mais facilidade em subir de volta à favela depois de, digamos, fazerem seus “ganhos”.
É curioso que o túnel da discórdia, que proibia e depois proporcionou, para horror da elite, o acesso dos pobres e pretos “feios” à praia chama-se Rebouças, em homenagem aos irmãos André e Antônio Rebouças, negros baianos que se tornaram engenheiros pelo único caminho que permitia ascensão dos pobres durante o século XIX e boa parte do XX, o Exército Brasileiro.
Um dia, talvez, as pessoas da elite brasileira entendam que a única maneira de “acabar com os pobres” não é lhes por grades, mas fazerem ascender, educarem-se e serem diferentes do que eram seus próprios bisavós ou trisavós: brutos, grosseiros, toscos e brancos.
E que alguém criado nesta sociedade não fique chocado, como eu fiquei, com a feiúra e a miséria das crianças de uma favela (que eles chamam “vila”) gaúcha em que passei, de jipe, nos arredores de Uruguaiana, com Brizola em 1989, perseguido por uma “horda” andrajosa de guris que chapinhavam na lama.
Todos eles louros e de cabelinhos claros, uma cena incompreensível para um carioca que achava que a pobreza era negra ou mulata.
Viva a diversidade humana! Viva a tolerância!
Fonte: TIJOLACO
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Não li o artigo de Hildegard, mas se é verdade o que falam sobre o que teria escrito , Hildegard deu uma termenda pisada na bola.

Tudo bem, nossa colunista social tem crédito aqui no PAPIRO.

Erros acontecem, aliás o calor está intenso e as vezes afeta o raciocínio.

Por outro lado , ela acerta quando diz que é preciso limitar ou acabar com a ação de bandidos que tocam o terror nas praias , com aqueles arrastões que somente as câmeras da TV globo conseguem  flagrar como furo de reportagem.

Errou nas medidas, quando propôs cobrar ingresso nas praias e mudar o itinerário das linhas dos busões que vão pra Ipanema.

A apropriação dos espaços públicos pela iniciativa privada já está chegando um ponto perigoso e ainda propor acabar com uma diversão gratuita da população é querer brincar com fogo.

Quanto as linhas de ônibus , recordo muito bem quando do surgimento da linha 461, Ipanema - São Cristóvão via túnel rebouças, que motivou uma série de críticas racistas  e preconceituosas por parte de alguns moradores de Ipanema.
Na época , morava em Ipanema e junto com alguns conhecidos do bairro, fomos contrários as críticas e ainda aprovamos a iniciativa de Brizola. 

Um de meus amigos, comerciante no bairro, ficou contente com as novas linhas já que duas funcionárias de seu estabelecimento comercial passaram a utilizar o ônibus e não mais se atrasavam para o trabalho, além de chegarem mais bem dispostas para o batente, pois ficavam menos tempo dentro do transporte coletivo.

Quanto as críticas racistas e preconceituosas, lançamos um movimento intitulado pró-farofa, que incluía levar comida para a praia e adotar  o comportamento dos frequentadores das linhas de ônibus, ou seja, deitar na areia como um bife a milanesa, dar um tibum na água no lugar de um mergulho padrão e outras coisas mais.
Tudo isso tinha por objetivo chocar as dondocas preconceituosas que frequentavam o pedaço comum que também frequentávamos.
Claro, não nos viam com bons olhos no pedaço.

E assim a linha 461, pelo menos no bairro, ficou conhecida como pró-farofa.

Cabe lembrar que outras iniciativas com a de Hildegard foram propostas, mas precisamente para a Barra da Tijuca, quando um Medina propôs criar grandes portais nas entradas do bairro para barrar "pessoas indesejáveis, diferenciadas"

Como não conseguiu colocar os portões, propôs separar a zona oeste da cidade, criando um novo município, onde certamente desejaria ser prefeito, já que no Rio não levava nada.

Quanto a crítica de Brito ao Jornal do Brasil, fiquei surpreso, já que foi o grupo JB através da rádio JB e do jornalista Procópio Mineiro - que depois foi secretário no governo de Brizola - que chamaram a atenção da opinião pública para a fraude em curso nas apurações das eleições para governador de 1982. 

Tal fraude, comandada por uma quadrilha composta pelos milicos, organizações globo e a empresa Proconsult - responsável pela compilação dos votos - tinha por objetivo impedir a vitória de Brizola.
Nenhuma outra mídia do Rio de Janeiro, saiu em defesa de Brizola como o JB, naquele ano de 1982.

Quanto ao fato de o JB ser elitista, como disse Brito, as opções na época eram globo , o dia com sangue de Chagas Freitas e praticamente nada mais.

Mesmo com sua linha editorial ao estilo Country Club de  Ipanema, o velho JB era o jornal que mais se aproximava de um jornalismo equilibrado de centro, e trazia informações relevantes, além de um bom conteúdo cultural.

Praia liberada pra todo mundo com isopor de bebidas e umas comidinhas  e, policias em bom número nos locais da praia em que existirem repórteres da globo de plantão.

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