quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Os pobres colunistas de globo

Colunista de O Globo ensina aos leitores quem são “eles”, os pobres

publicado em 13 de janeiro de 2015 às 18:48
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É patológico, doutora?

O plano cobre

13.01.2015 12h27m
Todo pobre tem problema de pressão. Seja real ou imaginário. É uma coisa impressionante. E todos têm fascinação por aferir [verificar] a pressão constantemente. Pobre desmaia em velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não. Atualmente, com as facilidades que os planos de saúde oferecem, fazer exames tornou-se um programa sofisticado. Hemograma completo, chapa do pulmão, ressonância magnética, ultra de bexiga cheia. Acontece que o pobre – normalmente – alega que se não tomar café da manhã tem queda de pressão.
Como o hemograma completo exige jejum de 8 ou 12 horas, o pobre, sempre bem arrumado, chega bem cedo no laboratório, pega sua senha, já suando de emoção [uma mistura de medo e prazer, como se estivesse entrando pela primeira vez em um avião] e fica obcecado pelo lanchinho que o laboratório oferece gratuitamente depois da coleta. Deve ser o ambiente. Piso brilhante de porcelanato, ar condicionado, TV ligada na Globo, pessoas uniformizadas. O pobre provavelmente se sente em um cenário de novela.
Normalmente, se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios. É comum ver crianças e bebês com laçarotes enormes na cabeça e tênis da GAP sentados no colo de suas mães de cabelos lisos [porque atualmente, no Brasil, não existem mais pessoas de cabelos cacheados] e barriga marcada na camiseta agarrada.
O pobre quer ter uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda. É quase chique. Outro dia assisti a um programa da Globo, chamado Bem-Estar. Interessantíssimo. Parece um programa infantil. A apresentadora cola coisas em um painel, separando o que faz bem e o que faz mal dependendo do caso que esteja sendo discutido. O caso normalmente é a dúvida de algum pobre. Coisas do tipo “tenho cisto no ovário e quero saber se posso engravidar”. Porque a grande preocupação do pobre é procriar. O programa é educativo, chega a ser divertido.
Voltando ao exame de sangue, vale lembrar que todo pobre fica tonto depois de tirar o sangue. Evita trabalhar naquele dia. Faz drama, fica de cama.
Eu acho que o sonho de muitos pobres é ter nódulos. O avanço da medicina – que me amedronta a cada dia porque eu não quero viver 120 anos – conquistou o coração dos financeiramente prejudicados. É uma espécie de glamourização da doença. Faz o exame, espera o resultado, reza para que o nódulo não seja cancerígeno. Conta para a família inteira, mostra a cicatriz da cirurgia.
Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da ciática [nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol [colesterol alto] e alegam “estar com o sistema nervoso” quando o médico se atreve a dizer que o problema pode ser emocional.
O que me fascina é que o interesse deles é o diagnóstico.
O tratamento é secundário, apesar deles também apresentarem certo fascínio pelos genéricos.
Mesmo “com colesterol” continuam comendo pastel de camarão com catupiry [não existe um pobre na face da terra que não seja fascinado por camarão] e, no final de semana, todo mundo enche a cara no churrasco ao som de “deixar a vida me levar, vida leva eu” debaixo de um calor de 48 graus.
Pressão: 12 por 8
Como são felizes. Babo de inveja.
PS do Viomundo: É para isso que as Organizações Globo defendem a liberdade de expressão

Fonte: VIOMUNDO
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A mensagem de fundo do texto acima  é uma propaganda da indústria média, indústria dos  planos de saúde e indústria alimentícia.

Algo do tipo:
" se você é pobre, preste bem atenção que é chic ter doenças e frequentar os hospitais" 

De fato é assim que a maioria das doenças citadas pela autora, são doenças da civilização dita moderna, ou seja, doenças cardiovasculares, degenerativas, lesões por esforços repetitivos ( ciática da empregada ), doenças derivadas da alimentação hiperindustrializada e outras.

Uma maneira preconceituosa de fazer propaganda.

O fato de pessoas terem a preocupação de verificar a pressão arterial com frequência- algo que pode ser feito gratuitamente até mesmo em tendas pelas ruas  - é uma excelente ação preventiva e deve ser encarado como positivo e , ainda mais, deve ser incentivado  para todos independente se pobres ou ricos.

A questão do acúmulo de gorduras nas artérias, o colesterol alto, é fruto de uma alimentação irracional que atinge toda a população, independente se pobres e ricos. 
Adicione-se a isso os hábitos sedentários e a obesidade, como doenças que mais crescem em todo o mundo.

Curiosamente, são doenças que afetam as pessoas mais ricas.

Já que a autora citou um programa da TV globo como referência, cabe lembrar que na mesma emissora é grande o número de funcionários, "famosos" que fizeram cirurgias para redução de estômago. 
O número de gordos e obesos, logo doentes,  é maior entre ricos.
Sem contar as diferentes dietas e regimes, que vez por outra surgem como modismos. 
E também as inúmeras plásticas , aplicação de botox, silicone e sabe-se lá o que mais, para pode parecer com algo diferente do que de fato são. 
Os ricos adoram as aparências.

Quanto ao churrasco com cerveja com uma samba de primeira, funcionam como uma terapia, um momento de descontração onde o objetivo maior não é a comida, mas sim a aproximação das pessoas, estar juntos ,festejar, cantar, dançar, algo positivo que herdamos e vivenciamos com orgulho da cultura africana. 
Apesar do churrasco e da cerveja, essa prática funciona como um excelente antídoto às preocupações do dia a dia, onde se relaxam tensões e vive-se de verdade.
Pode-se viver só, fazer todas refeições diárias sozinho, mas churrasco não se faz só.

Quanto aos hábitos alimentares, parece que a autora acertou quanto a algumas preferências dos chamados pobres. 
De fato, os  frutos do mar, especialmente o camarão, são iguarias de primeira, principalmente na cozinha considerada  como a mais apreciada e saudável no mundo, a mediterrânea.
Se pobres gostam de frutos do mar, camarão, é porque não são burros, ao contrário são  bem inteligentes.
A propósito, a doutora que não gosta de samba, deveria ouvir uma samba gravado pela Beth Carvalho, cuja letra fala de um encontro em um  final de semana, de uma turma, claro, em uma praia do município de Magé, na Baía da Guanabara, onde logo na chegada todo mundo pede pra fritar um montão de camarão.
O samba é uma delícia.
O pastel, ahhh  como é bom um pastel !! , é uma das delícias de nossa gastronomia popular e foi um dos grandes sucessos para os estrangeiros que visitaram o Brasil no período da copa do mundo. 
O pastel brasileiro ganhou o mundo.

Quanto a questão  de saúde, o maior interesse das pessoas, pobres ou ricas, é uma medicina preventiva, ou seja, atitudes e práticas saudáveis ao longo da vida que proporcionem saúde, em conjunto com um acompanhamento médico preventivo, como os médicos de família e as clínicas de família.

Essa medicina, que aos poucos o governo vai implantando, não interessa para a indústria médica e nem para os planos de saúde  privados, setores que lucram com a doença e com desinformação, a ponto de muitos médicos, hoje, fazerem parte de quadrilhas criminosas com diagnósticos falsos ,e inúmeras falcatruas que beneficiam os grandes laboratórios farmacêuticos.

Quanto aos medicamentos genéricos, citados pela autora como um fascínio dos pobres, é antes de mais nada uma vitória da sociedade na luta pela quebra de patentes nas mãos e nas garras das indústrias farmacêuticas .

O genérico, nada mais é que a substância principal -  princípio ativo -  de um medicamento conhecido de um laboratório através de uma marca .
A título de exemplo para o caro leitor, o ácido ascórbico - vitamina C - existe nos alimentos, principalmente nas frutas cítricas. 
Também se pode adquirir o ácido ascórbico - vitamina C -através de pastilhas ou em pó como marcas de laboratórios farmacêuticos que o leitor conhece.
O princípio ativo, no caso o ácido ascórbico, é o mesmo ,independente se oriundo das frutas ou se sintetizado em laboratórios farmacêuticos e vendido em pastilhas ou em pó.
Os medicamentos genéricos são princípios ativos sem marca de laboratório farmacêutico e , melhor ainda, são mais baratos.
Comprar genéricos é sinal de sabedoria.

Como  o leitor pode perceber, o texto publicado no globo, é uma propaganda da indústria médica e farmacêutica, de mau gosto, preconceituosa, elitista e mentirosa.

O maior absurdo do artigo dos absurdos, diz respeito ao fato de pobres desmaiarem em velórios, como sendo algo anormal.
Recordo que por ocasião do velório de Roberto Marinho, em 2003, o filho mais alto, mais gordo e careca - aliás os três são carecas - de Marinho desabou em prantos diante do caixão do pai. 
Isso em uma situação em que o defunto tinha 98 anos - já tinha passagem comprada - e já caminhava de mãos dadas com a morte, pois estava doente e fragilizado, algo que os parentes e amigos racionalmente já sabiam que a morte aconteceria em breve.  
Mesmo assim a razão e os bons modos não prevaleceram - na visão elitista - pois algo muito mais profundo falou mais alto, diante da inexorabilidade da morte ali presente. 
E o que dizer de uma artista de globo que depois de anos da morte do filho atropelado, ainda vive aos prantos, em desmaios e profundamente fragilizada ? 
Velórios e enterros em nossa cultura católica, são algo que inevitavelmente levam a algum tipo de desconforto e sofrimento. 
Passar horas ao lado de um corpo na horizontal sem som  e sem imagem  e seguir todo um ritual com etapas fortes e pesadas, não há razão que resista. 
Logo, sentir-se mal em situações como essa  independe de classe social e é perfeitamente normal. 
Aliás, é humano, e humano é algo que a medicina , principalmente a privada, ignora, haja visto o artigo da égua - que me perdoem os equinos - acima. 

Quanto aos exames de sangue, algumas pessoas de fato sentem desconforto ao retirar sangue, no entanto isso independe da classe social, é uma questão do metabolismo de cada um. 
Cabe ainda lembrar, que são  as pessoas do povo, na maioria pobres, que doam sangue aos hemocentros e que ajudam a salvar muitas vidas. 
Rico não doa sangue, rico tira o sangue das pessoas.
A autora ainda afirma que os pobres ficam contentes, felizes, quando recebem o lanche após retirada de sangue.
Pobres e ricos ficam felizes com comidinhas, sendo que os ricos , quando em viagens aéreas, adoram as comidinhas insosas servidas nas aeronaves e ainda tem o hábito de furtar talheres, guardanapos, cobertores, travesseiros, coletes salva-vidas e sabe-se lá o que mais  desde que tenha a marca da companhia áerea.

Em alguns pontos a autora acertou, principalmente quando afirma  que os pobres são felizes e que ela sente inveja dessa felicidade.

Vai  uma branquinha de aperitivo e depois um franguinho ensopado  com quiabo, doutora ?

Ainda sobre o artigo, uma observação de VIOMUNDO  comenta que é para isso que as organizações globo defendem a liberdade de expressão.
Ora, não há nada de errado com a liberdade de expressão.
A doutora égua tem todo o direito de emitir suas opiniões e acredito que muitas pessoas concordam e aplaudem o que ela escreveu.
Assim como muitos, acredito que a maioria, discorde radicalmente do conteúdo equino.
Tentar sugerir que algo do tipo não poderia ser publicado, é o outro lado da mesma moeda que deseja cercear a liberdade de expressão de uma maneira geral, local onde globo se situa.
Ao publicar o artigo e não apresentar o contraditório, que acontece com globo e a velha mídia, revela, ou melhor, expõe os valores dominantes nessas organizações, assim como o pensamento dominante na classe médica.
A liberdade de expressão, e é bom que se entenda, não é absoluta, pois se assim fosse os conflitos seriam diários, com desdobramentos inimagináveis, já que as liberdades estariam sendo usurpadas ou atacadas diariamente. No entanto, esse é um assunto para a regulamentação dos meios de comunicação no Brasil, que certamente darão frutos e levarão a domesticação e a prática civilizada da imprensa.
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Jornal carioca não gosta de pobre

Rocinha e favelas repudiam declaração de colunista do 'O Globo'

Jornal do BrasilDavison Coutinho 
Em mais uma tarde verão,températura de quase35º,cariocas curtindo uma linda tarde de sol, me despeço dos alunos e retorno de mais uma aula para continuar minhas pesquisas. É então que recebo de um amigo um infeliz artigo escrito para o jornal o O Globo da colunista Silvia Pilz – Zona de desconforto. Um texto hediondo e preconceituoso, escrito por uma pessoa que não consegue aceitar que os menos favorecidos tenham acesso às “coisas de rico”, ou melhor, não consegue aceitar que pobre tenha acesso aos mesmos serviços e direitos que antes eram da elite.
O texto de Silvia apresenta diversos estereótipos negativos relacionados à pobreza. Segundo Silvia, todo pobre tem problema de pressão, é viciado em usar plano de saúde, gosta de hospitais e exames porque ganha lanchinho para tirar sangue, além de ir para os laboratórios para poder pisar no piso de porcelanato e usar o ar condicionado. Ainda segundo a colunista, o pobre é preguiçoso, pois quando tira sangue trata logo a não ir trabalhar e gosta e quer ter doença.
Davison Coutinho
Davison Coutinho
Se eu já li um texto tão preconceituoso antes, eu não me lembro. Envergonho-me em ter em nossa sociedade pessoas, (nem sei se podemos chamar de pessoas) que pensam de tal forma. E o pior: declaram como se estivessem com a razão. O que me envergonha, ainda mais, é um jornal de repercussão publicar um texto de tamanho preconceito, onde ela demonstra a raiva que tem das pessoas menos favorecidas e atribui vários estereótipos negativos relacionados à pobreza.
Essa senhora reprova e exclui o outro apenas por não ser da mesma classe social que ocupa e, por isso, faz declarações ignorantes. Em meio aos problemas de guerra que vivemos no mundo, precisamos de mais tolerância e amor e não perder tempo lendo ofensas intolerantes e discriminatórias. Não toleramos mais um país ou uma cidade partida por preconceitos.
Lamento, Silvia,  que você seja um ser que não consegue conviver com o outro enquanto humano, e é apenas um acaso informativo de má qualidade e que precisa de reconhecimento para poder aparecer na mídia.
* Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.
Fonte: JORNAL DO BRASIL

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