sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Fatos , Fotos e Seletividade

Que tal a manchete da novilíngua da Folha, desta 6ª feira? 
'País cogita racionar energia; SP estuda subir tarifa de água'. 
Fatos: reservatórios de hidrelétricas mais baixos estão com 17% a 18% de capacidade; já a Cantareira tucana estrebucha abaixo de 6%.
Folha, uma credibilidade que secou'

Fonte: CARTA MAIOR
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A foto acima é de uma mãe carregando sua filha de 3 anos no colo, após sair de uma delegacia no centro do Rio de Janeiro, onde prestou depoimento.
A criança foi atingida por uma bala perdida , na perna, enquanto brincava, fruto de um tiroteio entre a polícia militar e supostos traficantes do local.
Como sempre acontece nesses casos , a versão apresentada pela polícia para a ação policial é contestada pela população.
A foto apareceu hoje nos jornais O Dia e Manchete online, na internet , e é provável que tenha aparecido em outros jornais impressos.
A mãe, com uma expressão que mistura revolta e alívio, protege sua filha, já medicada, certamente após o depoimento na delegacia.
Protege, com o carinho natural, do ferimento sofrido pela  pequena e também das lentes dos fotógrafos, já que com a mão esquerda tenta tapar o rosto da menina, preservar a criança de um exposição desnecessária.
Pobre e  moradora de uma comunidade da Cidade Nova, no centro do Rio de Janeiro, é o que pode fazer para que sua filha não sofra ainda mais, agora depois de ferida, com uma exposição irracional que só faz sentido para imprensa e sempre com pessoas pobres.
Se a cobertura que a imprensa faz de casos como esse servisse para mudar o quadro de violência de que são vítimas pessoas inocentes, se poderia afirmar que tem valido a pena.
No entanto, não é o que acontece, já que a imprensa se limita a divulgar a versão da polícia e a indignação dos moradores, repetindo a mesmo blá, blá blá sempre que alguém é vítima de uma bala perdida.
Nenhuma análise crítica e, depois de dois ou três dias o assunto some do noticiário, até que outra criança venha a ser atingida, para se tornar notícia por dois dias, onde jornalistas, fotógrafos da imprensa, estarão sempre de plantão na porta da delgacia para registrar a criança, ferida , ou mesmo morta.
Nenhuma foto dos policias responsáveis pela ação que resultou no ferimento de uma pessoas inocente, nenhuma crítica à ação da polícia, sempre violenta.quando se trata de ações em comunidades pobres.
Sim, somente com pobres, já que recentemente um programa de TV, da Rede TV, resolveu colocar uma grua para bisbilhotar a casa de uma artista - e era em andar alto -para registrar imagens da filha da artista global.
A artista moveu e ganhou uma ação na justiça contra a invasão.





Outra foto, também hoje nos jornais, também é notícia, no entanto com o aval do fotografado, talvez em uma de suas estratégias de marqueting.

Sim, é bem provável que assim seja, já que quando foi alvo de humor, com imitações por um programa de TV acionou a justiça para impedir a paródia que faziam com sua imagem de apresentador.

Comparando a paródia, com a foto acima, certamente a paródia poderia ser entendida como um elogio ao homem do Baú.

O homem do Baú, e agora das cores, não faz nada por acaso e sabe muito bem explorar sua imagem nos meios de comunicação.

Independente do estilo, algo de foro íntimo, a foto não surgiu por acaso.


Reprodução


















Outra foto que hoje é notícia em todos os jornais, é a foto acima da cantora Claúdia Leite.
Em todos os jornais em que aparece, o destaque é para o maiô cavado da cantora.
Quanto a sua arte, suas músicas, nada se comenta nos jornais.
Fico imaginando se cantores, quando estiverem por baixa, resolverem aparecer de sunguinha.
Já imaginou o Péricles ou Arlindo Cruz de sunguinha cavada ?



Saindo das fotos, ontem se teve notícia de que o Brasil estaria importando energia elétrica do Paraguai e da Argentina, por conta do " caos total que assola o país" segundo os veículos da velha mídia. A importação de energia foi manchete de destaque no jornal O Globo,sim , sempre ele.

Hoje, lendo um artigo em TIJOLAÇO, do sempre atento Brito, descubro que o Brasil de fato importa energia elétrica dos países citados. Leia o artigo de TIJOLAÇO:




O escândalo da importação de energia é de 0,12% do que o Brasil gasta!

22 de janeiro de 2015 | 20:16 Autor: Fernando Brito
energia


A imprensa, com estardalhaço, anuncia que o Brasil está importando energia da Argentina e Paraguai.
Está.Exatos 90 megawatt, ontem.
O equivalente a estrondosos 0,12% dos 73.780 MW consumidos ontem no país.
Uma quantidade, como se vê, ridícula, embora, nesta seca, qualquer 10 mil réis sejam úteis.
Irrelevante, sob qualquer aspecto.
Mas o Brasil importava energia antes?
Sim, e muito mais.Peguei, ao acaso, um dia de 2002, na crise energética tucana.
Importamos 673 MW da Argentina e do Paraguai no mesmo dia 21 de janeiro de 2002.
Ou 1,89% da carga de 35.647 MW consumida pelo país, proporcionalmente 15 vezes mais.
(Sim, porque o consumo – e a produção – de energia mais que dobraram de Fernando Henrique para cá, embora a população tenha crescido pouco mais de 20%)
Não me recordo de qualquer escândalo por isso.
Até porque, de lá para cá, importamos ou exportamos energia ( e, aí, até 1.000 MW) conforme as disponibilidades da região sul do Brasil e dos países vizinhos.
Mas, agora, qualquer defeito local, a maioria das distribuidoras de energia, vai virar “prova” de que estamos na iminência de um baita apagão.
O jornalismo, no Brasil, é a política.


Ainda hoje, vários veículos da velha mídia apresentam dados sobre a violência  que jornalistas e profisssionais da imprensa e da mídia em geral, vem sofrendo nos últimos anos.
Segundo o estudo a violência vem aumentando contra a imprensa.
No entanto, as maiores vítimas da violência no campo das opiniões e do jornalismo, são os sites e blogues alternativos, já que vários jornalistas e/ou blogueiros tem sido processados e perseguidos justamente por  profissionais da grande imprensa e mesmo da mídia em geral.
Esse dado importante não tem sido citado pelos veículos da velha mídia. No entanto, imagem de um cinegrafista morto por disparo de um sinalizador em manifestação aqui no Rio de Janeiro, foram repetidas mais uma vez ontem, inclusive com direito a depoimento da viúva do cinegrafista e suposta expressão de dor no rosto da apresentadora do telejornal ao final do depoimento da viúva.
A respeito do caminho perigoso e caótico que a velha mídia e seu jornalismo resolveram trilhar nos últimos anos, vale a leitura do artigo publicado no Blog do Miro:

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015


Liberdade da mídia é seletiva e covarde

Por Paulo Pimenta, no blog Viomundo:

Toda a vez que o debate sobre os limites do humor emerge, a mídia – especialmente a brasileira – diz que é preciso “ir até o fim” para se garantir a liberdade de expressão. “Não podemos recuar”, afirmam uns. “Não vamos deixar nos intimidar”, dizem outros.

Mas dentro desse “limites do humor” é comum vermos por parte da mídia uma naturalização da violência, da cultura do machismo, da homofobia, do preconceito às minorias e intolerância às diferenças. Será mesmo que essas “gracinhas” fazem parte de um script tão inofensivo assim? Sabemos que não. O humor “apenas” por ser humor não está desprovido de um caráter ideológico em seu conteúdo.

O deboche e menosprezo ao negro só foi coibido a partir da lei que criminalizou o racismo no país. O que hoje se repudia com veemência, as piadas contra negros, antes era aceito como algo natural, que “fazia parte”.

Nesse mesmo contexto, está o PLC 122/2006 que criminaliza a homofobia. Enquanto o Congresso se omite, parte da mídia reforça em seus humorísticos uma cultura de que os gays são passíveis de serem ofendidos e humilhados, quando deveria promover uma cultura que negasse a discriminação e valorizasse o reconhecimento ao direito de sermos diferentes uns dos outros.

Daí, alguns questionamentos, qual o papel social da mídia com relação a esses temas? Não deve haver mesmo limites para o humor?

É claro perceber que os humorísticos da mídia brasileira, em grande parte, não buscam produzir uma consciência crítica da nossa população em relação às minorias. Pelo contrário, na medida em que eles reafirmam o preconceito, produzem um retrocesso no pensamento coletivo, contribuindo para um sistema de diferenciação, segregação e exclusão.

Mas, e quando a mídia passa a ser o alvo das críticas ou piadas, ela mantém o mesmo argumento de que o humor deve prevalecer a todo custo? Claro que não.

Ela reage de forma autoritária quando é zombada ou satirizada em razão de seus erros e, especialmente, suas grandes fantasias jornalísticas. Rapidamente, ela age, seja dentro do seu próprio campo ou indo até ao Poder Judiciário, para impedir qualquer prejuízo a sua, já abalada, credibilidade.

A mídia é inteligente o suficiente para saber que a quebra do monopólio da informação e uma opinião naturalizada na sociedade de que ela combate a pluralidade de opiniões e engendra todos os esforços na direção de um pensamento único, atendendo a seus próprios interesses, ameaçaria também a hegemonia daqueles que a financiam.

Assim, a liberdade de expressão da mídia brasileira é seletiva e covarde. É uma concessão para poucos. A liberdade de expressão – não a que ela diz defender de maneira hipócrita, mas a que põe em prática – gira para impedir que haja qualquer retrocesso em um sistema arcaico de privilégios. Por isso, ela própria conhece, mais do que ninguém, os limites dessa liberdade de expressão, até onde pode ir e sobre o quê e quem falar.

A mídia brasileira sempre esteve preparada, aparelhada e unida para manter o status quo e abafar as vozes daqueles que discordam do projeto político e da agenda que ela própria tem para o Brasil. Entretanto, ao que parece, a mídia brasileira demonstra dificuldades para lidar com as críticas para além da sua seção de cartas do leitor, em que ela exerce o filtro, tampouco como protagonismo possível que as novas tecnologias têm permitido aos cidadãos e à sociedade civil de romper com lógica vertical da comunicação.

Um episódio que ocorreu em 2010 nos dá a clareza de quão longe a mídia brasileira está disposta a ir para calar os que fazem piadas com ela ou questionam sua hegemonia. Naquele ano, os irmãos Lino e Mário Bocchini criaram o blog Falha de S.Paulo, de análises e críticas satíricas a matérias e conteúdos veiculados no tradicional diário paulista.

Imediatamente, 17 dias depois, o jornal Folha de São Paulo obteve liminar e censurou o blog, que saiu do ar. Além disso, os autores estão sendo processados pela Folha de S. Paulo.

Segundo os irmãos e jornalistas Bochini, o blog Falha de S.Paulo está há mais de 4 anos censurado por uma decisão judicial, movida justamente por um dos veículos que se diz defensor da liberdade de expressão e que, ao lado de mais meia dúzia, forma o oligopólio da comunicação no país.

Pois bem, estranho é o fato desse oligopólio, que se autoproclama “guardião” e “defensor intransigente” da liberdade de expressão, e está sempre tão disposto a levar os limites do humor “às últimas conseqüências”, não enxergar o caso Folha versus Falha como censura, já que cada vez que um veículo jornalístico tem sua atuação limitada pela ação do Poder Judiciário fala-se em censura, e a grande mídia e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) bradam em favor da liberdade de expressão no país.

É curioso também observar que na época em que o caso Falha versus Folha ganhou repercussão, a MTV Brasil em um de seus programas utilizou logotipo idêntico ao usado pelo Falha que satirizava a Folha. Entretanto, nenhuma ação foi movida contra o Grupo Abril, antiga proprietária da MTV Brasil. “Lobo não como lobo”, já diz um velho ditado popular.

Recentemente, o recurso dos criadores do blog Falha de S.Paulo chegou ao STJ. A pergunta é: Folha vai manter sua posição de censura contra os irmãos Bochini, admitindo, então, que há limites para o humor; ou vai rever sua posição, mesmo que judicialmente desfavorável a si mesma? Talvez, para a Folha e para o oligopólio da mídia haja uma terceira via, algo como “não façam comigo o que faço com vocês”. É possível.

Está claro que a Folha de S.Paulo mira muito além dos irmãos Bochini. Insatisfeitos com a crescente audiência de blogs noticiosos na internet – que impõem uma nova agenda à Secom da Presidência da República com relação a “tal” mídia técnica – e decadentes em sua credibilidade e alcance, Folha é a porta-voz da hora do oligopólio da comunicação brasileira que busca intimidar e enfraquecer a blogosfera, jornalistas independentes, tuiteiros que ousam interpretar nas entrelinhas da imprensa e alertar, com posições críticas e contrárias, a insistente tentativa de imposição de uma agenda neoliberal que a mídia tem para o Brasil e a manutenção de um sistema de privilégios.

O recado está dado: “o monopólio da informação e da livre manifestação do pensamento é nosso, e qualquer tipo de crítica será censurado. E se possível, ainda queremos, buscar uma indenização daqueles que insistirem em nos desafiar”.

O jogo é o mesmo, mas as regras são diferentes. Nos editoriais impressos e eletrônicos continuaremos a assistir ao mise-en-scene da defesa intransigente da liberdade de expressão, mesmo que por trás das câmeras a pluralidade de ideias, que hoje transita, especialmente, pela blogosfera, continue a ser combatida.

* Paulo Pimenta é jornalista formado pela UFSM e deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul.

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