segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A censura existe diante do seu nariz

Jaguar: 'Charlie Hebdo' e  o 'Pasquim'

Depois do que houve com o ‘Charlie Hebdo’ ,eu pretendo pegar mais pesado nas charges

O DIA
Rio - Fiquei sabendo por um telefonema do Chico Caruso: “E o ‘Charlie Hebdo’, hem?” Fiquei esperando o resto da piada. “Mataram o Wollinski, o Cabu e mais dez.” Quando caiu a ficha e me convenci de que era verdade, o impacto foi literalmente tão arrasa-quarteirão quanto o da explosão das Torres Gêmeas. Como disse o Ique no ‘Jornal da Globo’. Mas discordo quando acrescentou que “evidentemente” daqui pra frente os cartunistas irão se atemorizar e diminuir suas críticas ao Irã, sem trocadilho.
Os colegas de cartum, não sei, mas eu pretendo pegar mais pesado do que costumo. Para quem não viu a minha charge de quinta-feira passada, desenhei um suposto Alá com turbante e uma barba negra contrastando com a barba branca de um Deus ariano. Pela Lei do Corão, qualquer imagem do Profeta é um crime que deve ser punido com a morte. E agora? Os malucos extremistas que fuzilaram Wollinski e seus companheiros vão explodir também meus miolos? Façam suas apostas. Mas, voltando ao ‘Charlie Hebdo’, era mais interessante quando tinha colaboração do Siné (radical, achava que o jornal devia ser mais engajado politicamente; no auge das discussões xingava o pessoal de reacionário, um exagero, é claro).
Por causa disso de vez em quando brigava com Wollinski e sumia. Isso salvou sua vida: quando houve o atentado, estava longe do local do crime (em 2008, saiu definitivamente do quadro de colaboradores). Meu palpite é que agora vai voltar. A crônica está quase no fim e ainda não falei que tivemos um ‘Charlie Hebdo’ no Brasil, o ‘Pasquim’ . Os dois nasceram na mesma época (1969-70), eram semanários, no formato tabloide, feitos basicamente por cartunistas: Wollinski, Siné, Willen, Cabu, Reiser e outros no ‘Charlô’. Millôr, Ziraldo, Fortuna, Henfil, Claudius, Caulos, Redi e outros no ‘Pasca’. Em ambos, a tiragem era de cem mil, e a única fonte de renda vinha da venda em bancas ou assinatura (ou seja, estávamos sempre no vermelho).
Para os patrocinadores, éramos um bando de comunas. A diferença era que, na França, De Gaulle tinha sido eleito, e aqui estávamos no auge da ditadura, em pleno AI-5. Houve também um atentado a bomba (que não explodiu, deu chabu, um atentado subdesenvolvido). A mídia (acho que ainda não tinham inventado o nome) praticamente ignorou o fato. O importante é que, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Ainda bem que isso aqui é Terceiro Mundo.

Fonte: O DIA
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É a liberdade de expressão que foi atacada, não é ?

Liberdade de um jornalista expressar suas idéias, sobre os mais variados temas.

Liberdade que está inserida nos valores republicanos e que vale não apenas para um jornalista, mas para todos, como a liberdade de expressão artística, de uma obra de arte, por exemplo.

Agora mesmo um filme , A Entrevista, é objeto de polêmica e sua exibição tem sido alvo de ataques a produtora.

Os ataques, pelas informações que surgem na velha mídia, teriam sido proferidos por hackers da Coréia do Norte, inconformados com o conteúdo do filme que consideram ofensivo ao país da península coreana.

A resposta dos EUA, foi atacar através de hackers profissionais sistemas informatizados da Coréia do Norte.

Tudo isso aconteceu dias antes do ato terrorista na redação do jornal francês Charlie Hebdo.

Mexer de um lado e receber a resposta de outro , parece ser a regra no mundo civilizado e próspero que vivemos.

Se for assim, e parece que de fato as coisas funcionam desse jeito, é provável  que tenhamos um festival de ataques contra  países e organizações consideradas hostis pelo mundo ocidental, civilizado , próspero, de primeiro mundo.

De uma forma ou de outra, tudo passou, ou passa, pela liberdade expressão artística já que cinema e charges - que pode estar incluída no conceito de quadrinhos - são consideradas a 7ª e 14ª artes, respectivamente, mesmo considerando que as charges de Charlie fazem parte de um jornal.

E de fato foi assim que nesses dias pós atentado, proliferam charges de apoio ao Charlie em que o lápis é a imagem que mais se repete, ferramenta de um desenhista, chargista, artista.

Jornalista usa teclado.

A arte foi atacada, ou melhor a liberdade de expressão de um artista foi violentada, seja no Charlie, seja no filme A Entrevista.

Jaguar, em seu texto, diz que a partir de agora vai pegar ainda mais pesado no humor por conta do atentado na Charlie.

Penso que não é necessário, já que o humor pesado e idiota é  que mais existe na mídia brasileira - vide Gentile e outros - e domina a cena nacional.

O que Jaguar precisa , e acredito que tenha totais condições de fazê-lo, é pegar com inteligência e , se possível, dar uma olhadinha bem próximo do próprio nariz.

No Brasil, mais especificamente no Rio de janeiro, nossa maior manifestação popular, o carnaval,vem sofrendo com a censura que impede a liberdade de expressão artística, já por algumas décadas.

Quem não se lembra do Cristo de Joãozinho Trinta, em um desfile no final da  década de 1980, em que foi proibido pela igreja Católica ?

Já nesta década, o carnavalesco Paulo Barros , então na Unidos da Tijuca, teve que refazer um carro alegórico do desfile da escola, pois a arte que produziu retratando o holocausto dos judeus na segunda guerra mundial, foi proibida pela comunidade judaica do Rio de janeiro.

Nos dois casos não vi ninguém da imprensa , da velha mídia, gritando ou pegando pesado contra a censura e a liberdade expressão artística.

Será que é por causa do carnaval, uma manifestação cultural do povo ?

Ainda nesta década, meu caro Jaguar, seu coleguinha de blogs e colunas do jornal O DIA, o artista Milton Cunha,  causou uma tremenda polêmica quando em um ensaio técnico na passarela do Samba Darcy Ribeiro, apareceu fantasiado de uma divindade do candomblé.

Cunha alegou que se inspirou em uma tela de Caribé, mas não foi suficiente para que os candomblecistas presentes na passarela  não torcessem o nariz para a fantasia.

Já os católicos presentes, quando viram a fantasia  de Cunha fizeram o sinal da cruz umas cem vezes e rezaram uma ave maria, achando que aquilo era o diabo.

Os evangélicos não se manifestaram, já que não estavam na passarela, pois em muitas correntes evangélicas é´proibido participar das festas carnavalescas, coisa do diabo.

Independente da polêmica, que não foi destacada na velha mídia, os candomblecistas não impetraram nenhuma ação proibindo a  arte de Cunha, no entanto não faltaram críticas nas redes sociais.

Ainda sobre a liberdade expressão artística, recentemente, nesta década, um flime americano que tinha como tema o fim do mundo, apresentou uma imagem de uma onda gigantesca destruindo a imagem do Cristo Redentor, aqui no Rio de Janeiro.

A igreja não conseguiu proibir a execução da cena com a imagem da estátua, mas exigiu o pagamento de royalties.

Se não deu para proibir, pelo mesmo deu para arrumar um qualquer.

De uma maneira dissimulada e em silêncio, as escolas de samba vem sofrendo com a censura, com a violência na liberdade expressão.

E isso parece que vem aumentando e até intimidando os diretores das agremiações.

Na década passada, ou na década de 1990, Joãozinho Trinta, que era carnavalesco da escola Grande Rio, foi demitido do cargo pelo presidente da agremiação  sob a alegação que seus enredos suscitavam polêmicas com temas como religião e política e que , segundo o presidente da agremiação, isso poderia prejudicar a escola no desfile.

A censura funcionando e intimidando.

O fato é que estamos assistindo a era dos enredos caretas, onde assuntos polêmicos são tratados como politicamente incorretos e evitados pelas agremiações.

E ainda existe a interferência da TV globo, detentora dos direitos de transmissão, que "sugere' enredos para as escolas.

A caretice é tanta, que no ano passado até um  ex-diretor executivo  da Tv globo  se tornou enredo, fato que ao que  parece  despertou muitos sambistas para a realidade, tamanhas foram as críticas.

Por que uma grande escola não coloca o Pasquim como enredo de um desfile ?

Dizer que vai pegar mais pesado por conta do atentado terrorista em Paris e ignorar a censura à cultura popular diante do próprio nariz, é coisa  de colonizado de  terceiro mundo, ou comportamento jornalístico bovino, ou ambos.

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