quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O que muitos já sabiam, agora todos sabem

Relatório da Comissão da Verdade denuncia a ativa participação dos jornais Folha, Globo e Estadão na organização, instigação e legitimação do golpe de 1964; em alguns casos, como o da Folha, documento detalha o apoio financeiro e logístico ao aparato de repressão e tortura.

Fonte: CARTA MAIOR
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COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE


Relatório coloca imprensa diante do espelho

Por Luciano Martins Costa em 11/12/2014 na edição 828
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 11/12/14

A apresentação do relatório final da Comissão da Verdade, em solenidade oficial, marca o momento histórico em que as instituições brasileiras são colocadas diante da escolha entre consolidar a democracia ou manter ao relento os fantasmas da ditadura.O destino do documento não é tão importante quanto as responsabilidades que ele coloca diante da sociedade, num contexto em que uma parcela da população, ainda que mínima, se sente encorajada a pedir a volta do regime de exceção.
Os três jornais de circulação nacional, que conduzem a agenda pública e ancoram os principais temas que circulam nas redes de comunicação, destacam o assunto em manchete e, em graus variados de sutileza, tratam de desencorajar o passo seguinte, que seria o processo de punição dos autores dos crimes de tortura, assassinato e desaparecimento de pessoas colocadas sob sua guarda.A leitura criteriosa de cada um deles revela que tanto o Globo quanto a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo prefeririam não ter que lidar com esse legado macabro.
Mas a História, como se sabe, se desenrola em conjuntos de espirais e de cada uma delas se pode confrontar, periodicamente, tudo aquilo que não foi resolvido em seu devido tempo.Assim como a corrupção de hoje reflete a impunidade de antigas falcatruas, a vergonha que agora atinge algumas entidades do Estado, principalmente as Forças Armadas, é um reflexo da tentativa inútil de abafar sob o pó do tempo aquilo que não pode ficar oculto.
Os 377 criminosos apontados pela Comissão da Verdade representam não apenas o lado mais obscuro do regime deletério, mas também fazem lembrar aqueles que colaboraram ativamente, passivamente, ou na sombra da omissão, para que os crimes fossem cometidos com tanta naturalidade ao ponto de se transformarem em processos quase burocráticos na rotina do aparato de repressão.Ativa, passiva ou na sombra da omissão, a imprensa tem sua parcela de responsabilidade, e nesta quinta-feira (11/12) pode-se observar como cada uma das grandes empresas de mídia reage diante do espelho.
Encarando o passado
Dos três principais diários do País, o único que evita abordar o assunto em editorial é a Folha de S. Paulo – que preferiu citar em nota curta o trecho do documento que se refere ao apoio que parte da imprensa deu ao golpe militar em 1964.
Também há referência ao trecho em que o relatório acusa a empresa Folha da Manhã de haver financiado a Oban (Operação Bandeirantes, nome que se deu a um dos grupos do sistema repressivo) e de ter cedido veículos para suas ações.O texto reconhece que "em 1964, a Folha apoiou o golpe, como quase toda a grande imprensa", mas nega que o jornal tenha dado suporte financeiro ao sistema repressivo ou emprestado carros de sua frota para as ações ilegais.
Não era necessário haver um esquema oficial: pelo menos dois dos jornais do grupo eram dirigidos por policiais e empregavam agentes ligados ao sistema, que faziam jornada dupla, servindo ao jornalismo e ao aparato do Estado e circulavam à vontade a bordo das peruas Veraneio pintadas de amarelo.
Estado de S. Paulo e o Globo encaram em editoriais o passado que, confessadamente, prefeririam ver esquecido. O jornal paulista propõe uma forma estranha de resolver pendências históricas, ao dizer que a Lei da Anistia cobre todos os atos daqueles tempos: "Não se tratava de perdoar crimes, mas de deixá-los no passado, no âmbito da história", diz o texto.O Globo alinha as virtudes do relatório, principalmente o fato de iluminar os porões da repressão e ajudar a "manter viva a memória dos horrores da ditadura", mas também se manifesta contra o julgamento dos acusados.
De modo geral, o conjunto das reportagens e trechos do documento citado e comentado pelos três diários contribui para dar ao leitor uma ideia do que foram aqueles tempos de horror.
Destaque-se o texto em que o Globo reproduz depoimentos de vítimas que sobreviveram às sevícias, cuja leitura ajuda a entender a extensão daqueles crimes.Observe-se também que o título escolhido pela Folha para a reportagem principal distorce o sentido de justiça, propósito original da Comissão da Verdade: "Acerto de contas", diz o jornal.
A linguagem jornalística tem dessas sutilezas.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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O que muitos já sabiam, agora todos sabem.

A imprensa e mesmo a maioria da mídia brasileira instigou o golpe de 1964, apoiou a ação golpista dos militares e ainda ajudou a criação e o funcionamento dos centros de tortura.

Outros empresários, de outros segmentos da economia, também deram apoio financeiro para a criação dos centros de tortura.

Cabe lembrar que o presidente deposto em 1964 - João Goulart - dias antes do golpe tinha aprovação de mais de 60% da população brasileira, segundo pesquisas de opinião da época.

Não havia o caos no país e nem mesmo perigo de uma virada ao comunismo por parte do governo brasileiro, como alardeava diariamente a velha mídia naqueles anos.

Havia, sim, problemas na economia que poderiam ser resolvidos dentro dos marcos legais e constitucionais.

A velha mídia aproveitou  e instigou no país um clima de caos , Brasil aos cacos, país sem rumo, crescimento insignificante, perigo de um avanço comunista, defesa dos valores da família e da religião frente ao suposto avanço comunista, governantes incompetentes e corruptos, democracia sendo ameaçada e outras teses mais que podem parecer atuais para o caro leitor, porém dizem respeito aos dias que antecederam o golpe de estado que derrubou João Goulart.

Claro que as teses da velha mídia eram em grande parte inverídicas mas faziam parte de uma estratégia maior com a participação de outras instituições - como as Forças Armadas - para destituir um presidente no exercício legal da presidência.

Com o golpe, jornais como O Globo, tiveram a cara de pau de estampar em seus editoriais  que " A democracia havia sido restaurada" e que "dias gloriosos virão pela frente " .

Tudo isso pode ser comprovado em pesquisas nos jornais da época.

Avessa à democracia e a liberdade de expressão, a velha mídia , no período pós-golpe escreveu o capítulo mais criminoso de sua história criminosa ao apoiar diretamente - com recursos materiais e financeiros - a formação, a criação e  o funcionamento de centros de tortura aos opositores da ditadura militar.

Opositores que faziam parte de organizações de combate ao regime, e, mesmo pessoas que fossem abertamente contrárias a ditadura, mas que não faziam parte da luta armada, eram denunciadas como inimigos e levadas para centros de tortura.

A velha mídia também exerceu esse papel de vigiar, seguir os passos  e denunciar, pessoas contrárias ao regime, que eram detidas e levadas para os porões do terror.

O que muitos já sabiam, agora todos sabem.

Não é de se estranhar que os jornais e mídias de hoje, tragam em suas páginas, telas e microfones, editorias ou mesmo opiniões de analistas,  de que a lei da anistia não deve ser revista e que os  criminosos do período da ditadura militar não sejam levados para julgamento.

São editoriais e opiniões de auto defesa de criminosos ,assombrados com suas realidades passadas, mesmo as  presentes, e provavelmente  as futuras.
  
Um julgamento dos militares criminosos certamente trará a tona mais informações sobre veículos de mídia , pessoas da imprensa e mesmo do empresariado nacional diretamente ligados aos crimes de tortura.

O país iniciou seu processo de democratização em 1985, com o fim dos governos militares.

Praticamente 30 anos se passaram e muita coisa voltou a normalidade, no entanto alguns setores e instituições do pais continuam com os mesmos valores, percepções e mesmo práticas do período de terror da ditadura militar.

As forças armadas e a imprensa - velha mídia - em grande parte continuam no passado e se faz urgente a democratização desses setores e instituições.

O relatório da Comissão Nacional da Verdade pode ser o passo para que o passado seja passado a limpo e que os criminosos sejam identificados, julgados e punidos.

O que muitos já sabiam, agora todos sabem.

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