segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dentro da caixa

Ary Fontoura e a arte do senso comum
Por Marco Piva

Não é de hoje que artistas mostram suas preferências políticas e, a partir de sua condição pública, dizem coisas mais sérias e ajudam, bem como podem escorregar e não passarem de ventríloquos do senso comum. Parece ser este o caso de Ary Fontoura que pediu, em postagem nas redes sociais, a renúncia de Dilma Roussef. Apesar de deixar claro a que tipo de renúncia se referia, o que faz no final do texto, o ator global desfia uma série de jargões que não fariam feio na boca do mais despolitizado dos brasileiros em conversa de botequim.

Como explicar, então, que uma pessoa com longa vida profissional e a vivência do teatro, local de excelência para o exercício da cultura, faça o papel de reprodutor inocente de frases comuns? Vejamos algumas delas.

Ao juntar alhos com bugalhos, em nome de uma suposta indignação que teria atingido “200 milhões de brasileiros” pelo quais diz falar, Ary Fontoura perde a grande chance de colocar os pingos nos “is”. O pedido de “renúncia” à falta de vergonha e aos salários elevados de parlamentares, bem como aos parasitas, ao nepotismo e à velha forma de governar, caberiam bem numa ampla e profunda reforma política, expressão que não sai da boca do ator em nenhum momento. 


Esse tipo de reclamação óbvia continua quando pede a “renúncia” aos juros altos, aos impostos elevados, à volta da CPMF, combinando com a “renúncia” à falta de planejamento, à economia estagnada. Mais uma vez, nenhuma palavra, sequer um miado, sobre a estrutura econômica vigente no Brasil há décadas, há séculos, e que para ser enfrentada exige exatamente um tipo de governo que ele não quer, embora nos anos de chumbo tenha flertado com a rebeldia de esquerda.

Merecem destaques as “renúncias” ao assistencialismo social eleitoreiro (bolsa-família, é claro), ao desemprego (onde ele vê isso, não sei), à miséria, à pobreza e à fome. Certamente seu olhar não passa do morro do Corcovado ou da ilha da fantasia Projac, onde aluga, como qualquer trabalhador, sua mais-valia às Organizações Globo, o maior conglomerado de comunicação brasileiro e que amealhou bilhões em verbas federais de publicidade entre 2000 e 2013. Cabe aqui, literalmente, a frase que se tornou popular nos discursos do ex-presidente Lula: nunca antes na história desse país se combateu tanto a miséria, a fome, a pobreza e o desemprego. Mas, isso não consta na indignação seletiva de Fontoura.

O “grand finale” vem do seu pedido à Dilma para que renuncie “aos companheiros políticos do passado, a velha forma de governar e, se necessário, renuncie ao PT” e “se permita que a sua história futura seja coerente com o seu passado”. Muito interessante. Dê banho na criança, jogue ela fora junto com a água suja e você terá um ser limpinho e cheiroso. Ou seja, passe uma esponja em tudo o que você acreditou e acredita que esta é a melhor forma de construir o futuro. Claro que ele se refere ao futuro na narrativa da mídia conservadora, da oposição golpista e dos interesses internacionais que não suportam uma soberania brasileira ativa e altiva.

O governo do PT é o pior governo que já passou pelo Brasil. Resta saber para quem. Essa é a pergunta que deixo para Ary Fontoura que, se preferir, pode até interpretar no palco a sua resposta. A liberdade de expressão está garantida na Constituição. Falta agora assegurar a pluralidade de informação. Uma carta com esse pedido especial o ator global poderia enviar para a família Marinho.

Fonte: Blog do Miro
____________________________________________________



O velho Ary segue a cultura midiota e também pensa 
dentro da caixa.

Suas observações reproduzem o discurso midiático que
domina o país nos últimos meses.

O discurso midiático é um fragmento de uma realidade, 
porém seu objetivo é o de se apropriar da realidade 
política do país.

Para isso, constrói, ou tenta construir, o pior dos cenários 
sobre a realidade, em um exercício constante, onde 
prevalece o pessimismo, o caos, a falta de esperança.

Esses aspectos estariam ligados a falta de competência e a 
falta de caráter dos governantes, sendo a política um mal 
que assola o país e todos os cidadãos bem intencionados .

Estimula um cansaço ( lembra do " Cansei " ?), uma total 
ausência de alternativas no status quo, uma necessidade 
de mudanças imediatas, onde a solução para "colocar o 
país nos trilhos" seria a volta de todos aqueles que um dia, 
durante muitos dias , durante anos e décadas tiraram não 
apenas o país dos trilhos, como todos os trilhos do país.

A indignação é um sentimento legítimo e deve ser 
cultivado  sempre que atos , processos extrapolem os 
direitos e impeçam que a população sonhe com um futuro 
próximo promissor. 

A indignação proposta pelo discurso midiático não toca e 
não tocará a maioria da população brasileira, pois a 
realidade  ( país próximo do pleno emprego, redução da 
pobreza e da miséria, grande obras de investimento em 
infraestrutura ) fala bem mais alto  e, sem a necessidade 
de fazer barulho.

Por outro lado, o velho Ary não deixa de ter alguma razão 
quando fica indignado com o assistencialismo do governo.

De fato, as verbas de publicidade do governo federal que 
são destinadas  às empresas de comunicação,e que em 
grande parte pagam  os salários do ator, não se justificam, 
já que em muitas empresas de comunicação e jornalismo , 
tais verbas são a principal fonte de receita dessas 
empresas, ou seja, o que ainda as mantêm de pé em um 
ambiente onde proliferam novas mídias em meio as novas 
tecnologias de informação e comunicação.

Curiosamente, as novas mídias que proliferam, não 
recebem nenhuma verba de publicidade do governo 
federal, porém praticam  aquilo que a velha  mídia
defende e exige ( o empreendedorismo vitorioso na livre 
concorrência ) mas que não pratica , já que usando uma 
expressão do  ator, os velhos meios  de comunicação 
constituem-se em  parasitas da informação e do 
entretenimento, desatualizados, desacreditados e, 
conforme atestam os institutos de pesquisa de opinião, em 
queda , lenta, gradual e irreversível nos índices de 
audiência.

Também vejo com indignação os baixos, quase 
nulos, índices de crescimento, não apenas do Brasil, como 
da maioria dos países pelo mundo. 

Fruto de uma a arquitetura política e financeira mundial, 
a maioria dos países patina, o desemprego é crescente e a 
falta de perspectivas para o futuro leva ao aumento do índice de suicídios. 

Felizmente, por aqui, vivemos quase em pleno emprego e sem recessão. 

No entanto concordo que poderíamos estar em situação melhor.

Na nossa vizinha Bolívia, o crescimento é da ordem de 5 % 
ao ano. 

Talvez você não saiba disso, já que informações como essa são obtidas fora da caixa. 

Na Bolívia, um país plurinacional,  vive-se em um regime que é um misto de cultura indígena com o socialismo democrático - o que de certa forma os Zapatistas da região de Chiapas no México desejam implantar naquele país - que aos poucos vai se descolando do rígido e improdutivo modelo mundial.

Mas essa não é uma opção para quem vive e pensa  dentro da caixa,logo sua indignação traria um situação pior para o Brasil atual, já que no espectro a direita do governo, as soluções iriam aprofundar ainda mais os baixos índices de crescimento.

Também concordo que corrupção é um mal que tem que ser atacado e, para isso, o governo federal propôs, corretamente, uma reforma política que acabe com o financiamento privado de campanhas e proporcione a população uma participação direta na discussão e fiscalização da aplicação dos recursos públicos. 

Você sabe, todos os partidos políticos do espectro a direita do governo foram contrários, assim como também seus patrões da TV globo, que não poupam críticas virulentas a proposta, que por sua vez tais críticas são repetidas por aqueles dentro da caixa. 

Por outro lado, os governos do PT foram , e tem sido, os governos que mais tem combatido a corrupção .

No tocante ao nepotismo, é algo também que deploro.

Obter empregos e cargos por linhagens hereditárias, seja no governo ou na iniciativa privada, não me parece democrático. 

Por outro lado, concordo que um ambiente familiar facilita o encaminhamento para profissões semelhantes a dos parentes mais próximos, constituindo-se, até mesmo, como uma espécie de formação para a profissão a ser seguida.  

E é comum ver filhos e parentes próximos, seja no jornalismo ou nas artes, por exemplo, com grandes talentos e carreiras promissoras, no entanto, outras milhares de pessoas  que não desfrutam do DNA familiar,   tem também grandes talentos para exercer as mesmas profissões. 

Chegamos, então ao ponto. 

As oportunidades devem ser oferecidas à todos, para que os talentos possam desabrochar, em todas as classes sociais, em todas as etnias. 

Assim sendo, os governos do PT abriram as portas para milhares de pessoas com os programas de cotas nas universidades, na produção cultural, na formação de carreiras  técnicas e outras.

Assim sendo, Boninhos, não teriam vez em uma disputa por cargos. 

O mesmo se aplica em cargos de órgãos do governo, com o acesso  garantido por concursos públicos, algo que ganhou impulso a partir do primeiro governo do PT em 2003, já que anteriormente somente se contratava para órgãos do governo através de empresas prestadoras de serviço de mão de obra,uma febre nos governos do PSDB, onde as garantias trabalhistas foram precarizadas e as contratações se  faziam por indicações ou algo semelhante.

Realmente muita coisa precisa mudar.

Que tal se começássemos pela democratização dos meios de comunicação, que hoje constituem-se como um cartel, contrário a maioria dos interesses e das necessidades do povo brasileiro ?

Nenhum comentário:

Postar um comentário